Guerra da Restauração: diferenças entre revisões
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{{Guerras Luso-Espanholas}}
A '''Guerra de Restauração''' foi um conjunto de confrontos armados travados entre o [[Reino de Portugal]] e a [[Coroa de Castela]], desencadeados após o início da [[Guerra dos Segadores]] (ou Sublevação da [[Catalunha]]), e que se estenderam por um período de 28 anos, entre [[1640]] e [[1668]].<ref>{{Citar web|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/Restauracao/RI.htm|titulo=Efemérides {{!}} A Restauração (1640)|acessodata=2018-11-27|obra=hemerotecadigital.cm-lisboa.pt}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://arqhist.exercito.pt/DetailsForm.aspx?id=99138|titulo=Campanhas da Guerra da Restauração (1640 - 1668).|acessodata=2018-11-27|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=RTP|primeiro=RTP, Rádio e Televisão de Portugal - Christopher Marques -|titulo=1640-2017. Guerras, estatutos, crise. Como a Catalunha chegou até aqui|url=https://www.rtp.pt/noticias/mundo/1640-2017-guerras-estatutos-crise-como-a-catalunha-chegou-ate-aqui_es1028949|lingua=pt}}</ref><ref>{{Citar periódico|titulo=Portugueses nas revoltas da Catalunha|url=https://www.sabado.pt/mundo/europa/detalhe/portugueses-nas-revoltas-da-catalunha|lingua=pt-pt}}</ref> Os confrontos tiveram início no [[golpe de estado]] da [[Restauração da Independência|Restauração da Monarquia Portuguesa]] de [[1 de dezembro]] de [[1640]] — que pôs fim à [[União pessoal|monarquia dualista]] da [[Dinastia Filipina]] iniciada em 1580 — e terminaram com o [[Tratado de Lisboa (1668)|Tratado de Lisboa de 1668]], assinado em nome de [[Afonso VI de Portugal]] e [[Carlos II de Espanha]], pelo qual ficou definitivamente reconhecida a independência do reino de [[Portugal]].
O período de 1640 a 1668 caracterizou-se por confrontos periódicos entre Portugal e Espanha, tanto com pequenos enfrentamentos como graves conflitos armados, dos quais muitos deles foram ocasionados por conflitos de Espanha e Portugal com potências não ibéricas. A Espanha participou na [[Guerra dos Trinta Anos]] até 1648 e na [[Guerra Franco-Espanhola (1635-1659)|Guerra Franco-Espanhola]] até 1659, enquanto Portugal participou na [[Guerra Luso-Holandesa]] até 1663. A frente manteve-se estática, pois a Espanha esteve fundamentalmente à defensiva até 1659, dada a prioridade que a corte madrilena outorgou a sufocar a [[Guerra dos Segadores|Sublevação da Catalunha]].{{harvnp|White|2003|p=61}}
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== Antecedentes ==
[[Ficheiro:Philip II, King of Spain from NPG.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Filipe II de Espanha|Filipe II da Espanha]] e I de Portugal]]
Depois da morte sem herdeiros do rei [[Sebastião I de Portugal]] em [[1578]] e de seu sucessor [[Henrique I de Portugal]] em janeiro de [[1580]], instaurou-se um vazio de poder no trono de [[Portugal]] que provocaria uma crise dinástica.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=107}} A crise deveu-se em grande parte pela ausência de normas que regulassem adequadamente a situação e se produziu num momento de decadência nacional, pelas derrotas no norte de África, a redução do comércio e os embates com os piratas ingleses e franceses.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=107}} As Cortes deviam decidir quem dentre vários reclamantes deveria ocupar o trono português, mas antes de que a eleição fosse feita, [[Filipe II de Espanha]] antecipou-se à decisão e ordenou a invasão militar do país, amparado
Esse seria o começo de um período em que [[União Ibérica|Portugal junto com os demais reinos hispânicos]] foi governado por [[Vice-rei|vice-reis]] ou governadores dos [[Lista de monarcas de Espanha|reis de Espanha]], vivendo debaixo do domínio do ramo espanhol da [[casa de Habsburgo]], partilhando o mesmo monarca numa [[União dinástica|monarquia dual]] ''[[aeque principaliter]]'', que se iria prolongar até [[1640]].{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=20}} Em
[[Ficheiro:Retrato_equestre_do_Conde-Duque_de_Olivares.jpg|alt=|miniaturadaimagem|[[Retrato equestre]] do [[Gaspar de Guzmán, Conde-Duque de Olivares|Conde-Duque de Olivares.]] Olivares tentou unificar os vários reinos que compunham a monarquia hispânica, já que após séculos de guerras e o esgotamento dos metais preciosos vindos da América, a [[Coroa de Castela]] estava esgotada militarmente e economicamente]]
A ilusão inicial das duas partes, que esperavam prosperar com a união, durou aproximadamente até a assinatura da [[Trégua dos doze anos|Trégua dos Doze Anos]] com as [[República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos|Províncias Unidas dos Países Baixos]] em 1609.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=20}} A partir de então cresceu a tensão, afundada pelas incursões holandesas no [[Colonização do Brasil|Brasil]].{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=20}} A partir de 1630, estendeu-se o espírito da sublevação que se desatou finalmente em [[1640]].{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=20}} A principal causa do descontentamento eram os prejuízos portugueses ocasionados pelo conflito entre a Coroa e os holandeses.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=109}} A isso uniu-se, a princípios do reinado de [[Filipe IV de Espanha|Filipe IV]], quando o ''[[Favorito|valido]]'' [[Gaspar de Guzmán, Conde-Duque de Olivares|conde-duque de Olivares]] submeteu o comércio luso.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=20}} Outra das razões do descontentamento era a incapacidade real para defender as colónias de outras potências como França e Inglaterra.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|pp=21-22}} Um quarto motivo de queixa, a ausência do soberano, em realidade era hipócrita, pois a nobreza aproveitou-a para aumentar seu poder no território mediante a participação em juntas de administração que tratavam de rivalizar com o poder do vice-rei.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|pp=21-22}} Relacionada com essa achava-se o empenho real em recuperar as rendas que lhe correspondiam,
Os partidários da união, os que tinham saído favorecidos por ela (os membros da Administração, o alto clero e a alta nobreza) defendiam em general a interpretação da Coroa do pacto das Cortes de Tomar: uma graça real que o rei podia mudar quando desejasse.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=109}} Os preteridos, fundamentalmente a baixa nobreza,{{harvnp|Bouza|1991|p=217}} temiam perder as suas mordomias, ser vítimas das revoltas populares cada vez mais frequentes ou ser prejudicados pelos assaltos de ingleses e holandeses.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=109}}
A política fiscal da Coroa em prejuízo dos privilegiados, tanto laicos como eclesiásticos, teve um papel fundamental em originar a conjura de 1640.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=109}} O
Nesse mesmo ano de 1638 convocou-se em
O fracasso das expedições para recuperar Pernambuco em 1638 e 1639 alimentaram a tensão.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|pp=28-29}} Os portugueses temiam que os holandeses ameaçassem também [[Angola]] e [[São Tomé e Príncipe|São Tomé]], de onde procediam os escravos que levavam ao Brasil.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}} Essa situação fez com que as colónias portuguesas do Atlântico estivessem cada vez mais descontentes com o governo madrileno.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|pp=28-29}}
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=== Primeiras revoltas ===
[[Ficheiro:Pourbus, Frans II - Marguerite of Savoy - Hermitage (cropped).jpg|miniaturadaimagem|265x265px|[[Margarida de Saboia, Duquesa de Mântua|Margarida de Saboia]], vice-rainha de Portugal, por [[Frans Pourbus, o Jovem|Frans Pourbus]]]]
O
Existia o claro peso da pressão fiscal que deviam suportar os portugueses e o povo começava a manifestar-se nas ruas.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=130}} As revoltas contra a dominação espanhola tiveram como antecedentes, entre outros, o [[Motim das Maçarocas]], que
Esses movimentos propagaram-se por outras regiões do [[Monarquia|reino]], com a intenção de depor a [[dinastia filipina]] e entronizar novamente uma portuguesa. Desse modo
=== Portugal e a política de Olivares ===
O [[Gaspar de Guzmán, Conde-Duque de Olivares|conde-duque de Olivares]], [[Favorito|''valido'']] do rei [[Filipe IV de Espanha]], alegando desejar constituir uma junta de pessoas notáveis, chama a
As reformas reais foram mal vistas pela nobreza média — a alta nobreza, assim como o alto clero, achava-se assimilada à dinastia —, que não sabia se iria se submeter a elas ou rebelar-se.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=29}} A Coroa esperava que ela optasse por se adaptar à nova situação que pretendia implantar com as novas medidas, mas a eliminação da vantagem militar espanhola no final da década de 1630 pela derrota das [[Batalha das Dunas|Dunas]] e o surgimento da [[Guerra dos Segadores|Insurreição da Catalunha]] levou ao caminho do levantamento.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}} A perda dos barcos necessários para bloquear a costa no combate com os holandeses uniu-se a falta de tropas de terra para sujeitar Portugal, pois as forças disponíveis na península estavam tentando sufocar o levantamento catalão.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}}
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=== Os conjurados ===
[[Ficheiro:Joao IV.jpg|miniaturadaimagem|O duque de Bragança, futuro [[João IV de Portugal]]]]
O [[Restauração da Independência|levantamento de 1640]] foi planejado em Lisboa pelos fidalgos D. [[Antão de Almada (7º Conde de Avranches)|Antão de Almada]], D. [[Miguel de Almeida, 4.º conde de Abrantes|Miguel de Almeida]] e pelo Dr. [[João Pinto Ribeiro]] e outros 40 homens da [[nobreza]], do [[clero]] e [[Militar|militares]], para considerar os males de que sofria então Portugal. Pertenciam fundamentalmente àqueles que se consideravam postergados na obtenção de graças, fundamentalmente os setores médios.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=112}} O
O eleito pelos conjurados, João, oitavo duque de Bragança,{{harvnp|Bouza|1991|p=206}} achava-se retirado em seu palácio de Villa Viçosa, dedicado a sua paixão: a música.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=29}} Era um dos nobres assimilados à dinastia reinante, da qual não só tinha obtido a confirmação de suas mordomias, senão que as tinha aumentado.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=114}} Estava aparentado ademais com várias linhagens de Castela e sua [[Luísa de Gusmão|esposa]] era irmã do duque de [[Ducado de Medina-Sidonia|Medina-Sidonia]].{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=114}} Apesar das sugestões e ameaças dos conjurados e as esperanças de libertação que o povo depositava nele, o duque não parecia disposto a participar da rebelião.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}} No princípio, negou-se a isso.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=114}} Sua participação era importante para justificar o levantamento como restauração da [[Casa de Bragança]], nativa, em frente aos estrangeiros Habsburgos.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}} Apesar das justificativas vagamente nacionalistas, os conjurados pretendiam em realidade implantar uma nova dinastia mais favorável a seus interesses.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|pp=29-30}} Apresentavam seu ideário nacional para ganhar o apoio do povo, farto do aumento da pressão fiscal.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=30}}
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O duque aceitou o trono somente em 1640, após a perda da armada espanhola na [[Batalha das Dunas]] e o envio das tropas para sufocar a [[Guerra dos Segadores|Revolta Catalã]] desvanecessem o perigo do rápido sufocamento da revolução.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=29}} Ante sua negativa inicial, os conjurados trataram em vão de oferecer o trono a seu irmão [[Duarte de Bragança, senhor de Vila do Conde|Duarte]], que evitou se comprometer.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|pp=115-116}} Em 1639, a rede de conjurados cresceu, mas não o bastante para que o duque aceitasse unir-se a eles: voltou a recusar fazê-lo.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|pp=115-116}} O número seguiu crescendo em 1640 e de novo trataram ganhar ao duque, que novamente se recusou a participar.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=116}} Incapazes de convencer o duque, os conspiradores ameaçaram-no com proclamá-lo rei sem seu consentimento em agosto ou setembro ou inclusive com instaurar uma república; a ameaça mostrou-se infrutífera e João continuou recusando as propostas dos conjurados.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=116}} O apelo de [[Filipe IV de Espanha|Filipe IV]] para que fossem com seus vassalos combater na Catalunha desagradou os nobres, favorecendo assim aos conspiradores, que se mostraram por fim mais dispostos a sustentar o duque, que acabou por aceitar unir-se ao plano.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=117}} João aceitaria a coroa quando a revolução triunfasse: enquanto isso, permaneceria em [[Vila Viçosa|Villa Viçosa]].{{HarvRef|Bouza|1991|p=206}}
Para evitar no último momento o levantamento, Olivares convocou o duque a
Aproveitando a concentração das tropas espanholas na [[Guerra dos Segadores|Catalunha]], os conjurados proclamaram a independência o 1 de dezembro de 1640.{{HarvRef|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=232}} A iniciativa não partiu do povo, mas da classe dirigente portuguesa.{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=232}}
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Aclamaram ao Duque de Bragança como rei, com o título de [[João IV de Portugal]], dando início à quarta dinastia, a [[Casa de Bragança|Dinastia de Bragança]]. O novo governante autorizou a [[Margarida de Saboia, Duquesa de Mântua|Margarida de Saboia]] que partisse para Espanha nos primeiros dias de dezembro desse mesmo ano. O momento foi oportunamente escolhido, já que a casa de Habsburgo enfrentava nessa época os problemas derivados da [[Guerra dos Trinta Anos|Guerra dos trinta anos]] e a [[Guerra dos Segadores|Revolta Catalã.]]
A confirmação do triunfo do levantamento chegou a
== Extensão do levantamento: os territórios do ultramar ==
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Após ganhar várias pequenas vitórias, João tratou de fazer as pazes com rapidez. No entanto, sua exigência de que Filipe reconhecesse a nova dinastia reinante em Portugal não se cumpriu até o reinado de seu filho, [[Afonso VI de Portugal|Afonso VI]], durante a regência de Pedro de Bragança, outro de seus filhos, que mais tarde se converteu no rei [[Pedro II de Portugal]]. Os confrontos com Espanha duraram vinte e oito anos.
Tanto
== Situação internacional: as relações entre as potências europeias ==
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''Ver também: [[Guerra Franco-Espanhola (1635-1659)|Guerra Franco-Espanhola]], [[Guerra dos Trinta Anos]]''
Em [[1640]], o [[Cardeal de Richelieu]], então primeiro ministro de [[Luís XIII de França]], era plenamente consciente do facto de que a [[França]] estava a lutar sob difíceis circunstâncias. Nessa altura, estava em [[Guerra Franco-Espanhola (1635-1659)|guerra com Espanha]] e ao mesmo tempo tinha de controlar as [[Rebelião|rebeliões]] que se estavam a ocorrer em França, as quais foram apoiadas e financiadas por [[Madrid
A Espanha tinha desfrutado da reputação de ter a [[Forças armadas|força militar]] mais formidável da [[Europa]], uma reputação que tinha ganhado com a introdução do [[arcabuz]] e a chamada Escola Espanhola. No entanto, esta reputação e táctica tinha diminuído com a [[guerra dos Trinta Anos]]. Richelieu, obrigou Filipe IV a lutar contra seus próprios problemas internos. Com o fim de desviar as [[Exército da Espanha|tropas espanholas]] que [[Cerco|sitiavam]] a França, [[Luís XIII de França|Luís XIII]], seguindo o conselho de Richelieu, apoiou as reivindicações de [[João IV de Portugal]] durante a guerra. Isto ocorreu pois a França queria dispersar as forças espanholas para outras frentes de batalha.
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''Ver também: [[Tratado dos Pirenéus]]''
Para o cumprimento dos interesses comuns da política estrangeira de Portugal e França, uma [[Tratado|aliança]] entre os dois países foi assinada em [[Paris]] no dia [[1 de junho]] de 1641,{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=232}} obrigando Portugal a continuar e manter uma guerra contra Espanha, procurando invadir os domínios de Castela e atacando às frotas das Índias. Esse tratado durou dezoito anos até que o sucessor de Richelieu, um ministro de Assuntos Exteriores, o [[Jules Mazarin|cardeal Mazarin]], rompesse o tratado abandonando a seus aliados portugueses e catalães para assinar uma paz por separado com [[Madrid
Em 1647, João propôs a Mazarin entregar o território peninsular português ao [[Gastão, Duque d'Orleães|duque de Orleães]], que ficaria como regente enquanto a corte retirar-se-ia a um novo reino que formaria com o Brasil e os [[Açores]], dividindo assim o reino.{{harvnp|Valladares Ramírez|1995|p=129}} O duque teria de casar a sua filha com o príncipe [[Teodósio, Príncipe do Brasil|Teodósio]], que herdaria depois o trono do Portugal peninsular.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=129}} A desesperada proposta surgia do temor português em perder a aliança francesa quando as [[República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos|Províncias Unidas]] começavam a tratar a paz com Espanha.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=63}} [[Jules Mazarin|Mazarino]] recusou a oferta.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1995|p=129}}
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=== As relações entre Portugal e Inglaterra ===
[[Ficheiro:Catherine of Braganza, Queen of England.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Catarina de Bragança]], rainha da Inglaterra. Por [[Peter Lely]]]]
[[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] estava, nesse momento, envolvida em sua própria [[Guerra Civil Inglesa|guerra civil]]. Apesar disso, assinou um acordo com Portugal no final de janeiro de 1642.{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=232}}{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=60}} Os portugueses reconheciam as possessões ingleses na Guiné, obtinham dois anos de prazo para decidir se concediam mordomias comerciais a Londres no Brasil e prorrogavam a trégua vigente na Índia.{{HarvRef|Valladares Ramírez|1998|p=60}} Na realidade, o acordo demonstrou a habilidade diplomática portuguesa, que obteve a ajuda dos [[Casa de Stuart|Stuarts]] sem conceder nada que estes já tivessem.{{harvnp|Valladares Ramírez|1998|p=60}} O
Depois da restauração da [[Casa de Stuart|dinastia Stuart]], foi possível a Portugal compensar a perda do limitado apoio da [[França]] com a renovação de sua tradicional aliança com Inglaterra. A eficaz ajuda dos ingleses na guerra contra Espanha derivou-se, em [[1654]], num tratado que concedia mordomias aos comerciantes ingleses de Portugal, como a [[liberdade religiosa]], [[Direito civil|justiça civil]] própria e [[Livre-comércio|liberdade de comércio]] com diminuição de [[taxa]]s. Assim mesmo, Inglaterra reteve os territórios coloniais adquiridos anteriormente a Portugal.<ref name="SXVII">[http://books.google.co.il/books?id=TFfZvPzgx8sC&pg=PA49&dq=tratado+de+lisboa+1668&hl=es&sa=X&ei=dZUOUeKpCsj74QSxm4DQCQ&ved=0CEAQ6AEwBA#v=onepage&q=tratado%20de%20lisboa%201668&f=false El siglo XVII - De la contrarreforma a las luces]</ref>
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Para recuperar Portugal, os espanhóis organizaram dois exércitos: um principal na [[Estremadura (Espanha)|Extremadura]] e outro na [[Galiza]].{{harvnp|Rodríguez Hernández|2007|p=308}} Na Galiza recrutaram-se dezasseis mil homens, sendo que menos serviram na frente, em más condições e mal pagos, situação que fomentou a propagação de epidemias e as deserções.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=309}} Para melhorar a situação, decidiu-se reduzir o número de soldados, para contar com um contingente pseudo profissional melhor pago e tratado.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=309}} A primeira redução feita para permitir que parte dos soldados pudessem retomar as tarefas agrícolas, se realizou em 1644.{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=238}} Em 1649, serviam na frente [[Galiza|galega]] quatro mil infantes e oitocentos ginetes.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=308}}
Os portugueses fixaram seu quartel geral em [[Elvas]], enquanto os espanhóis faziam-no na vizinha Badajoz, transladando-o desde [[Mérida (Espanha)|Mérida]], onde tinha estado nos primeiros meses de guerra.{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=196}} A zona, intensamente militarizada depois da aclamação de João IV em Lisboa, foi o teatro principal da guerra.{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=196}} Em 1641, dada a falta de capacidade dos adversários, os dois abstiveram de acometer-se.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=196}} Os dois bandos concentraram-se em melhorar as defesas de seus territórios.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=201}} Os choques, determinados pelas ordens de
O exército real destinado em Extremadura, privado das melhores tropas e escasso de financiamento, teve de completar sua força com soldados novatos e iniciantes na carreira militar.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=194}} A falta de costume marcial favoreceu a indisciplina, à que se uniu a péssima qualidade dos oficiais.{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=195}} A falta de fundos para financiar as despesas do exército fizeram que este tivesse que viver das populações locais.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=195}} A população civil sofria com os ataques portugueses e com abuso de soldados espanhóis.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=195}} Como consequência, se formaram unidades de voluntários estremenhos, dedicados tanto à defesa de suas terras como a saques por Portugal e ao contrabando, de longa tradição na zona fronteiriça.{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=210}} Apesar das atividades ilegais destes bandos armados, eles eram fundamentais para a defesa fronteiriça, dada a ineficácia do exército regular.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=210}}
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=== Alcance da guerra ===
A guerra deu-se em três teatros diferentes ao longo do primeiro período, mas a atividade bélica centrou-se no frente norte, para perto de [[Galiza]], e na fronteira central, entre a região portuguesa do [[Alentejo (NUTSII)|Alentejo]] e a espanhola de [[Estremadura (Espanha)|Extremadura]]. O frente sul, onde a região meridional portuguesa do [[Algarve]] fazia fronteira com a Andaluzia na Espanha, era um
=== Desgaste e corrupção ===
Espanha, em princípio, fez uma guerra defensiva. Portugal, por sua vez, não sentia nenhuma necessidade de tomar território espanhol com o fim de ganhar, e também estava disposto a fazer da guerra uma competição defensiva. As campanhas normalmente consistiam em ''correrias'' (incursões de cavalaria) para [[Terra queimada|queimar os campos]], [[Pilhagem|saquear]] as populações e roubar grandes rebanhos de gado e de outros animais do inimigo. Os soldados e oficiais, muitos deles [[Mercenário|mercenários]], estavam principalmente interessados no despojo e propensos à deserção. Durante longos períodos, sem homens nem dinheiro, nenhum dos lados montou campanhas formais, e quando as ações foram tomadas, eram conduzidas com frequência tanto por considerações políticas, como pela necessidade de Portugal de impressionar a potenciais aliados, bem como por claros
A guerra instalou-se num padrão de destruição mútua. Já em dezembro de 1641, era comum escutar dos espanhóis de todo o país que "Extremadura está acabada". Os arrecadadores de impostos, agentes de recrutamento, os soldados acantonados, e as depredações por parte das tropas espanholas e estrangeiras eram odiados e temidos pela população espanhola, tanto como as incursões do inimigo. Em Extremadura, as milícias locais levaram o peso da luta até 1659, e a ausência destes soldados a tempo parcial era sumamente prejudicial para a agricultura e as finanças locais. Dado que com frequência não se tinha dinheiro para pagar ou apoiar às tropas (ou para recompensar a seus comandantes), a coroa espanhola pouco fez para combater o contrabando, a especulação, e a destruição que se tinha convertido em algo endêmico na fronteira. Condições similares também existiam entre os portugueses.
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Nos anos 1650 foram indecisos militarmente, mas importantes nas frentes políticas e diplomáticas. A morte do rei [[João IV de Portugal]] em 1656 marcou o começo da regência de sua esposa, que seguiu uma crise pela sucessão e o [[golpe palaciano]] de [[1662]].{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=221}}Parte da nobreza lusa impugnou a sucessão.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=221}} Apesar destes problemas internos, a [[Batalha dos Guararapes|expulsão dos holandeses do Brasil]] (1654) e a assinatura de um tratado com Inglaterra (também em [[1656|1654]]) melhorou a posição diplomática e financeira de Portugal temporariamente e lhe deu a proteção necessária contra um ataque naval sobre [[Lisboa]].
No entanto, Portugal seguiu sem conseguir o
A partir de 1658, a frente galega adquiriu importância.{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=234}} Os galegos conquistaram [[Lapela]] nesse ano e ao seguinte [[Salvatierra]].{{HarvRef|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=234}} Os espanhóis podiam por fim promover a recuperação de Portugal, que, por sua vez, solicitou o aumento da ajuda exterior para o evitar.{{HarvRef|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=234}}
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Depois da assinatura do [[Tratado dos Pirenéus]] de [[1659]], a [[independência de Portugal]] estava ameaçada pela Espanha. O alto comando espanhol planejava usar parte do exército de Flandres na frente portuguesa para contar com forças veteranas que pudessem pôr fim à longa guerra mediante uma invasão.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=84}} Para combater o risco, em 1661, os portugueses contrataram os serviços de um [[Nobreza|nobre]] militar [[Alemanha|alemão]], [[Frederico Armando de Schomberg]], como conselheiro militar de [[Lisboa]], por recomendação do militar francês [[Henrique de La Tour de Auvérnia, Visconde de Turenne|Turenne]], junto com outros oficiais estrangeiros e mais de dois mil soldados ingleses para reforçar as forças portuguesas. [[Luís XIV de França|Luís XIV]] de da França, para não infringir o tratado assinado com Espanha, privou a Von Schönberg de seus oficiais franceses.
Os espanhóis, por sua vez, tiveram problemas para enviar tropas de Flandres à Península Ibéria: os soldados eram no geral pouco inclinados em marchar aos duros combates de Portugal.{{harvnp|Rodríguez Hernández|2007|p=86}} A primeira remessa de soldados, quatro mil de infantaria e mil quatrocentos ginetes sem os seus arreios além de certos especialistas, partiu desde [[Oostende|Ostende]] à península em fevereiro de 1662.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=86}} O contingente embarcou-se numa frota de dezoito navios, quatro deles de guerra que escoltavam aos demais; entre os de transporte achavam-se várias fragatas corsárias, que depois ficaram nas águas peninsulares para estorvar o comércio português.{{harvnp|Rodríguez Hernández|2007|p=88}} Apesar das dificuldades financeiras do exército de Flandres, dependentes do sustento financeiro externo, cada vez mais escasso,
Na Espanha um dos problemas principais o constituía a dificuldade para conservar as unidades.{{harvnp|Rodríguez Hernández|2007|p=111}} As penúrias que passavam os soldados, como a falta de financiamento por parte da coroa de Castela fomentavam as deserções para tentar fugir da miséria.{{HarvRef|Rodríguez Hernández|2007|p=111}}
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Nesse mesmo ano de 1665, os portugueses desencadearam uma ofensiva na Galiza, com o fim de apoderar do porto de [[Vigo]], que os franceses desejavam obter.{{harvnp|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=235}} Esta acometida acabou com a série de vitórias galegas no frente norte e permitiu aos portugueses ocupar o vale do Ronsal e sitiar [[Guarda (Galiza)|Guarda]].{{HarvRef|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=235}} Depois deste ataque não houve combates do importância na frente galega, que se manteve paralisada.{{HarvRef|Castilla Soto|Cuba Regueira|1996|p=235}}
Com falecimento de Filipe IV em 1665, apesar falta de meios para empreender novas ofensivas e o começo em 1667 da [[guerra de Devolução]] que, apesar dos avisos do governo flamenco, surpreendeu à corte de
Ambas partes voltaram a campanhas de escaramuças. Portugal, com a interseção de seu aliado inglês, tinha solicitado uma trégua, mas a decisiva vitória portuguesa em Montes Claros e a assinatura do Tratado de Lisboa de 1667 entre França e Portugal precipitaram o fim do conflito: os Habsburgos espanhóis finalmente acederam a reconhecer a [[Independência de Portugal|independência]] portuguesa{{harvnp|Caro del Corral|2012|p=226}} e à [[Casa de Bragança]] como a nova dinastia reinante de Portugal em [[13 de fevereiro]] de [[1668]].{{harvnp|Rodríguez Hernández|2007|p=216}} A paz assinou-se nesse dia no Convento de Santo Elói de Lisboa.{{HarvRef|Caro del Corral|2012|p=226}}
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