Samba: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Incluí referências de Lira Neto sobre o assunto.
Linha 36:
[[Imagem:Hilário Jovino Ferreira.jpg|miniatura|[[Hilário Jovino Ferreira|Hilário Jovino]] fundou o primeiro rancho do carnaval carioca.|alt=]]
===Tradição rural===
Durante a Missão de Pesquisas Folclóricas no Nordeste de 1938, o escritor [[Mário de Andrade]] notou que, em [[Zona rural|meio rural]], o termo “samba” associava-se ao evento onde a dança se realizava, à forma de se dançar o samba e à música executada para a dança.{{sfn|Carneiro|2005|p=329}} O samba urbano carioca foi influenciado por diversas tradições associadas ao universo de comunidades rurais pelo Brasil.{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=253}} A folclorista [[Oneida Alvarenga]] foi a primeira estudiosa a listar danças populares primitivas do tipo: o [[Coco (dança)|coco]], o [[tambor de crioula]], o [[Embolada|lundu]], a [[Chula (Bahia)|chula]] ou o [[fandango]], o [[Baiano (dança)|baiano]], o [[cateretê]], o quimbere, o mbeque, o [[Caxambu (tambor)|caxambu]] e a xiba.{{sfn|Alvarenga|1960|pp=130-171}} A essa lista, Jorge Sabino e Raul Lody acrescentaram: o samba de coco e a sambada (chamados também de coco de roda), o samba de matuto, o samba de caboclo e o [[jongo]].{{sfn|Sabino|Lody|2011|p=54}}. Como afirma Lira Neto{{Sfn|NETO, Lira. Uma história do samba: volume 1 (as origens). 1ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2017.|2017|p=38, 39}}, seja o [[Jongo]] da [[Região Sudeste do Brasil]], seja a [[Embolada]] nordestina, do [[Tambor de crioula]] às chulas do [[Recôncavo Baiano]], todos esses ritmos parecem ter origem nos ritmos e danças dos escravos, rotulado genericamente pelos colonizadores de batuques.
 
Uma das formas de dança mais importantes na constituição da coreografia do samba urbano carioca,{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=263}} o [[samba de roda]] praticado no [[Recôncavo baiano]] era tipicamente dançado ao ar livre por dançante solista, enquanto outros participantes da roda se encarregavam do canto – alternados em partes solo e coro{{sfn|Marcondes|1977|p=684}} – e da execução dos instrumentos da dança.{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=263}} Os três passos básicos do samba de roda baiano eram o corta-a-jaca, o separa-o-visgo e o apanha-o-bago, além também do miudinho dançado exclusivamente por mulheres.{{sfn|Marcondes|1977|p=684}} Em suas pesquisas sobre o samba baiano, [[Roberto Mendes]] e Waldomiro Junior examinaram que alguns elementos de outras culturas, como o [[Pandeiro|pandeiro árabe]] e a [[Violas portuguesas|viola portuguesa]], foram aos poucos incorporados ao canto e ao ritmo dos batuques africanos, cujas variantes mais conhecidas eram o [[Samba-corrido|samba corrido]] e o [[Samba-chulado|samba chulado]].{{sfn|Mendes|Junior|2008|p=54}}
Linha 45:
 
===Raízes do carnaval carioca===
Durante o [[Brasil colonial]], as festas públicas [[Igreja Católica|católicas]] costumavam atrair todos os segmentos sociais, inclusive negros e escravos, que aproveitavam as celebrações para fazer suas próprias manifestações, como os [[folguedo]]s de coroação dos reis congos e os [[Cucumbi carnavalesco|cucumbis]] (folguedo banto) no [[Rio de Janeiro]].{{sfn|Abreu|1994|p=184-185}} Aos poucos, essas celebrações exclusivas do povo negro foram sendo desvinculadas das cerimônias do catolicismo e mudadas para o período do [[carnaval]].{{sfn|Lopes|2019|p=110}} Esse era, inclusive, um dos objetivos declarados de [[Heitor Villa-Lobos]], o qual, conforme Lira Neto{{Sfn|NETO, Lira. Uma história do samba: volume 1 (as origens). 1ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2017.|2017|p=18}}, desejava mostrar que o Carnaval não era uma festa de loucos, mas sim umas manifestação popular sadia. Importante ressaltar o papel de [[Heitor Villa-Lobos]] no projeto nacionalista do [[Estado Novo (Brasil)]], com a pretensão de forjar uma suposta identidade nacional.
 
A partir dos cucumbis, surgiram os [[Cordão carnavalesco|cordões]] cariocas, que apresentavam elementos de brasilidade – como negros fantasiados de [[Povos indígenas do Brasil|indígenas]].{{sfn|Lopes|2019|p=110}} No final do [[século XIX]], por iniciativa do pernambucano [[Hilário Jovino Ferreira|Hilário Jovino]], nasceram os ranchos de reis (posteriormente conhecidos como [[Rancho carnavalesco|ranchos carnavalescos]]).{{sfn|Lopes|2019|p=110-111}} UmLira dosNeto{{Sfn|NETO, ranchosLira. maisUma importanteshistória do [[Carnavalsamba: dovolume Rio1 de(as Janeiro|carnavalorigens). carioca]] foiedição, oSão [[AmenoPaulo: Resedá]]Companhia das Letras, 2017.{{sfn|Lopes|20192017|p=11129}} Criadoafirma emque 1907os ranchos de reis, oenquanto autointituladolegado “rancho-escola”ibérico, eram associações que organizavam festas e tornou-seintegravam um modelovariado paraconjunto apresentaçõesde carnavalescasrepresentações empastoris, cortejoreunidas esob paraa asdesignação futurascomum [[Escolade reisados. Segundo ele, no dia 5 de samba|escolasjaneiro de sambatodo ano, na véspera do [[Dia de Reis]] nascidasos nosranchos morrosperegrinavam pelas ruas entoando suas canções e subúrbiostocando doseus Rioinstrumentos como violões, cavaquinhos, flautas e castanholas, fazendo sempre paradas estratégias à porta de amigos para pedir contribuições, louvar e saudar alguém específico através da música.{{sfn|Lopes|2019|p=111}}
 
Um dos ranchos mais importantes do [[Carnaval do Rio de Janeiro|carnaval carioca]], conforme Lira Neto foi o Rei de Ouro, um dos vários ranchos fundados por [[Hilário Jovino Ferreira]]. Foi ele quem, segundo Lira Neto{{Sfn|NETO, Lira. Uma história do samba: volume 1 (as origens). 1ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2017.|2017|p=33, 34, 35}}, fundiu a instrumentação costumeira dos ranchos com instrumentos de percussão com a sonoridade mais próxima dos instrumentos africanos, como o [[Pandeiro]], [[Tantã]] e [[Ganzá]]. Da mesma forma, foi precursor na inclusão da porta estandarte e do baliza (percussores do casal de [[Mestre-sala e porta-bandeira]]. O bloco detinha a devida autorização policial, segundo Lira Neto, uma vez que vinham sendo combatidos pela polícia os entrudos, um dos ancestrais do [[Carnaval do Rio de Janeiro]], em que os brincantes guerreavam entre si com farinha e banhos de esguicho. O Rei de Ouro instituiu uma nova forma de folia, nas palavras de Lira Neto, mais disciplinada e ordeira, utilizando-se de cordões de isolamento, por exemplo, o que calhava com os interesses civilizatórios da época. O Rei de Ouro, portanto, forneceu o modelo para que posteriormente outros grupos similares brotassem no [[Carnaval]], tendo chegado a ser comparado pelos jornais da época como a versão popular dos bailes das grandes sociedades carnavalescas do Rio de Janeiro, como por exemplo o [[Clube dos Fenianos]], o [[Clube dos Democráticos]] e os [[Tenentes do Diabo]], que promoviam desfiles suntuosos ao som de valsa e óperas, com carros alegóricos e fantasias suntuosas inspiradas no [[Carnaval de Veneza]].
 
Além dele, o [[Ameno Resedá]].{{sfn|Lopes|2019|p=111}} Criado em 1907, o autointitulado “rancho-escola” tornou-se um modelo para apresentações carnavalescas em cortejo e para as futuras [[Escola de samba|escolas de samba]] nascidas nos morros e subúrbios do Rio.{{sfn|Lopes|2019|p=111}}
 
==O samba urbano carioca ==