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'''Saul Aaron Kripke''', nascido em 1940 em Omaha, Nebraska, é amplamente reconhecido como um dos [[filosofia|filósofos]] vivos mais importantes. Sua obra é muito influente em diversas áreas da filosofia, desde a [[lógica]] até a [[filosofia da mente]], passando pela [[filosofia da linguagem]]. Ele é professor emérito em [[Princeton]] e professor de filosofia na [[City University of New York]] ([http://web.gc.cuny.edu/Philosophy/newfaculty03.htm CUNY]). Boa parte da sua obra é inédita, e circula na forma de gravações de áudio e cópias de manuscritos. Em 2001 ele recebeu o [[Prêmio Schock]] em Lógica e Filosofia.
 
== Contribuições filosóficas ==
 
Kripke é conhecido principalmente por quatro contribuições para a filosofia:
 
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* sua teoria da [[verdade]]
 
=== Lógica modal ===
 
Dois dos primeiros trabalhos de Kripke (''A Completeness Theorem in Modal Logic'' e ''Considerations on Modal Logic'') influenciaram amplamente a lógica modal. As lógicas modais mais familiares são construídas de uma lógica fraca chamada K, em homenagem a Kripke.
 
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A resposta de Kripke a essa dificuldade foi a eliminar termos. Ele deu um exemplo de uma interpretação relativa a um mundo que preserva as regras clássicas. Todavia, o custo para a solução do problema foi caro. Primeiro, sua linguagem foi empobrecida artificialmente. Segundo, as regras para a lógica modal proposicional devem ser enfraquecidas.
 
=== Naming and Necessity ===
 
As conferências ''Naming and Necessity'' foram e continuam sendo muito influentes na filosofia. As principais contribuições das mesmas são:
 
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* Uma teoria antimaterialista do dualismo mente-corpo
 
==== Teoria da referência ====
 
As duas primeiras conferências de *Naming and Necessity* atacam as teorias descritivistas dos nomes próprios (naturais) defendidas, p.e., por algumas leituras possíveis de [[Gottlob Frege]] e [[Bertrand Russell]] -- nas palavras de Kripke, à "concepção de Frege-Russell". Segundo tais teorias, nomes próprios referem-se a um objeto em virtude de esse objeto satisfazer uma descrição definida (teoria de [[Russell]] de que alguns - mas nem todos - nomes próprios são descrições abreviadas) ou um conjunto de descrições definidas (teorias como a de [[Searle]] e [[Strawson]]) associadas ao nome próprio por falantes. Kripke apresenta alguns argumentos que, segundo ele, provariam a impossibilidade dessa tese. Um deles, conhecido como argumento modal, pode ser assim apresentado: a referência de um nome próprio se conserva ainda que descrições associadas ao nome se tornem falsas. p.e., ainda que descrições como "o autor da *Metafísica*", normalmente associada ao nome "Aristóteles", se revelassem falsas a respeito de Aristóteles (caso descobríssemos, p.e., que o autor da *Metafísica* foi um aluno brilhante de Aristóteles), ainda assim o nome "Aristóteles" se referiria a Aristóteles e não a quem quer que tenha escrito a *Metafísica*. No jargão de Kripke, "Aristóteles" é um [[designador rígido]], isto é, um designador que designa o mesmo objeto em todos os mundos possíveis. Isso provaria, para Kripke, que, ainda que nomes próprios sejam associados por falantes a descrições, essas não tem nenhum papel a desempenhar na contribuição do nome à proposição expressa pela frase em que o nome figura.
 
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Em 1973, Kripke apresentou as conferências filosóficas John Locke (John Locke Lectures) na Universidade de Oxford. Intituladas ''Referência e Existência'', elas são, em muitos aspectos, uma continuação de ''Naming and Necessity''. Seus tópicos principais são os nomes fictícios e o erro perceptual. Elas nunca foram publicadas. A transcrição está oficialmente disponível apenas como cópia de leitura na biblioteca da universidade, a qual não pode ser copiada ou citada sem a permissão de Kripke. Todavia, várias cópias circularam informalmente entre alguns filósofos. Sua influência, embora considerável, é difícil de ser mensurada. Dentre os filósofos que as leram, [[Gareth Evans]] foi talvez o mais visivelmente influenciado.
 
==== O necessário a posteriori ====
 
Na contramão de posições defendidas ao menos desde a ''[[Crítica da Razão Pura]]'' (primeira edição de 1781, segunda edição de 1787) de [[Immanuel Kant]], Kripke mostra que nem toda proposição [[necessidade|necessária]] é [[a priori]], pois há proposições ''necessárias a posteriori''.
 
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Em resumo, afirmações de identidade apoiadas em descobertas empíricas são necessárias a posteriori. A fórmula da água, H<sub>2</sub>O, é outro exemplo de necessário a posteriori.
 
==== O contingente a priori ====
 
Novamente, Kripke está contrariando uma tese de [[Immanuel Kant]]. Podemos dizer, da barra de metal que está em Paris e que antigamente servia de padrão para o [[metro]]:
 
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Trata-se de um conhecimento a priori, mas contingente. Como a barra define o metro, ela tem um metro, e isso pode ser sabido pela mera definição da barra em questão como padrão para o metro. Mas isso é contingente. As coisas poderiam ter sido diferentes, e a barra em questão poderia não ter sido o padrão do metro.
 
==== O dualismo mente-corpo ====
 
Kripke argumenta contra o [[materialismo]] acerca da identidade da [[mente]], isto é, contra a tese que todo fato mental é idêntico a algum fato físico. Kripke diz que a única maneira de defender tal identidade é como uma identidade necessária a posteriori. Por exemplo, a identidade entre certa sensação e a enervação de certa fibra cerebral. Todavia, é possível que tal sensação ocorra sem que ocorra tal enervação. Logo, não se trata de uma identidade.
 
Mais recentemente, argumentos similares são defendidos por [[David Chalmers]]. Parte do debate recente suscitado pelo argumento de Kripke concentra-se no exame das relações entre o concebível e o possível, em particular, da estrutura de argumentos como o de Kripke -- ''conceivability arguments'', como são chamados entre os filósofos de língua inglesa. Um padrão que por vezes é reconhecido é o seguinte. Sejam dois itens ''a'' e ''b'' (p.ex., mente e corpo). O primeiro passo do argumento seria alegar que é ''concebível'' que ''a'' tenha alguma propriedade que ''b'' não tenha. Seguir-se-ia daí que existe uma ''diferença modal'' entre ''a'' e ''b'', em outras palavras, que é ''possível'' que ''a'' tenha uma propriedade e que é possível que ''b'' não tenha essa propriedade. O segundo passo, talvez o mais intrigante, é que dessa diferença modal os defensores de tais argumentos -- em todo caso, alguns defensores -- pretendem extrair uma ''diferença metafísica'' entre ''a'' e ''b''. (O primeiro passo do argumento, do concebível para o possível, entretanto, não é aceito por muitos filósofos, p.ex, por Brian Loar (1999),em "David Chalmers's ''The Conscious Mind'' " , ''Philosophical and Phenomenological Research'', 59(2): 465-72; e por Stephen Yablo (2002), em "Coulda, Woulda, Shoulda" , Gendler, T. S. and Hawthorne, J. (eds.), ''Conceivability and Possibility'', Oxford: Clarendon Press. )
 
==== Outros desenvolvimentos oriundos da obra ====
 
As idéias de ''Naming and Necessity'' também estão na origem do [[externalismo]], um dos principais objetos de estudo da [[filosofia analítica]] dos dias de hoje.
 
=== Wittgenstein ===
 
No livro ''Wittgenstein on Rules and Private Language'', Kripke apresenta uma contribuição original ao estudo da obra daquele filósofo. O trabalho foi severamente criticado por não ser fiel à letra do texto de Wittgenstein. Todavia, Kripke não atribui a Wittgenstein, nem a si mesmo, as controversas teses inspiradas em Wittgenstein. Como não são nem de Wittgenstein, nem de Kripke, tais teses costumam ser atribuídas a ''[[Kripkenstein]]''.
 
=== Teoria da verdade ===
 
Em seu artigo "Outline of a Theory of Truth", de 1975, Kripke mostrou que uma [[linguagem]] pode consistentemente conter seu próprio [[predicado]] da [[verdade]], o que foi considerado impossível por [[Alfred Tarski]], um dos pioneiros na área de teorias formais da verdade. O truque envolve deixar a verdade ser uma propriedade parcialmente definida sobre o conjunto de frases ou sentenças gramaticalmente bem formadas da linguagem. Kripke mostrou como se fazer isso recursivamente partindo de um conjunto de expressões em uma linguagem a qual não contém o predicado da verdade, definindo o predicado da verdade apenas sobre este segmento inicial. Isso adiciona novas frases à linguagem, e a verdade é, por sua vez, definida para todas as expressões do conjunto.
 
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Recebem condições de verdade. Ela são, nas palavras de Kripke, 'infundadas'.
 
== Recursos na rede ==
 
[http://web.gc.cuny.edu/philosophy/events/kripke_conference.html "The First Person"]: Vídeo da conferência proferida por Kripke na CUNY em 25 de janeiro de 2006.
 
== {{Ver também }}==
* [[Mundo Possível]]
* [[Lógica Modal]]
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{{Laureados com o Prêmio Schock}}
 
[[categoria{{DEFAULTSORT:filósofos analíticos|Kripke, Saul]]}}
[[Categoria:Filósofos analíticos]]
[[categoria:metafísicos|Kripke, Saul]]
[[Categoria:Metafísicos]]
 
[[bg:Сол Крипке]]