Pré-história da Península Ibérica: diferenças entre revisões

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{{História PT-ES|imagem=[[Ficheiro:Rock Art Foz Coa 01.jpg|300px|center]]|legenda=Representação rupestre de gado (cavalo e cabras) na [[Sítios de arte rupestre do Vale do Côa|complexo de gravuras rupestres]] de [[Vila Nova de Foz Côa]]}}
A '''pré-História da Península Ibérica''' iniciou-se com a chegada dos primeiros [[hominídeos]] à [[Península Ibérica]] há cerca de 1.2 milhões de anos atrás e durou até ao início das [[guerras Púnicas]], quando o território entrou no domínio da história escrita. Neste longo período alguns dos marcos notáveis são:
 
* Ter sido o último reduto do homem [[neandertal]] antes da sua extinção;
A '''pré-História da Península Ibérica''' iniciou-se com a chegada dos primeiros [[hominídeos]] à [[Península Ibérica]] há cerca de 1.2 milhões de anos atrás e durou até ao início das [[guerras Púnicas]], quando o território entrou no domínio da história escrita. Neste longo período alguns dos marcos notáveis são:
* Registar alguns dos mais impressionantes exemplos de [[arte paleolítica]] a par da França;
* Ter sido o último reduto do homem [[neandertal]] antes da sua extinção;
* Registar alguns dos mais impressionantes exemplos de [[arte paleolítica]] a par da França;
* Acolher as mais antigas civilizações da [[Europa ocidental]], sendo um apetecível território a que afluiram vários povos, pela posição estratégica e as muitas riquezas minerais.
 
No estudo da [[pré-história]] existe o problema fundamental que dificulta sua investigação: estabelecer a cronologia exata, principalmente das datas referentes aos primeiros habitantes, sua procedência, relacão étnica com os diferentes tipos pré-históricos e sua localização.
 
== Condicionantes: geografia e clima ==
O carácter penínsular, limitado pelo Atlântico a oeste e pela barreira natural dos [[Pirinéus]] criou um isolamento em relação à restante [[Europa|Europa Continental]], que em algumas ocasiões contribuiu para originar uma relativa separação entre a evolução da [[Península Ibérica]] e da restante [[Europa]]. A localização geográfica constituiu porém a ponte que une a Europa ao norte da [[África]], formando uma conexão entre os continentes africano e europeu. Outro condicionador foi a influência dupla do mar, com a ligação tanto ao [[oceano Atlântico]] como ao [[mar Mediterrâneo]].
 
No interior a acção dos rios, mais caudalosos que actualmente, produziu planícies fluviais que propiciaram um ambiente favorável para o homem. Também está provado que existiu uma actividade vulcânica, sobretudo nas zonas da atual [[província de Ciudad Real]] e de [[província de Gerunda|Gerunda]].
 
O clima deixou de mudar à medida que se desenrolaram alternadamente as quatro [[era glacial|eras glaciais]] e as [[era interglacial|eras interglaciais]]. Apesar das glaciações terem sido diferentes entre si, em geral pode dizer-se que na Meseta havia um clima mais extremo e chuvoso que agora, comparável ao existente na [[Polônia]] ou [[Rússia]] atuais. A costa [[Cantábria|cantábrica]] era muito mais fria e húmida, similar ao atual norte da [[Escócia]], e a população da [[Andaluzia]] gozaria de um clima mais frio que o do sul da [[França]]. Durante os períodos interglaciais, este último seria o clima da costa cantábrica, enquanto [[Andaluzia]] seria muito ensolarada e a região levantina teria um clima semi-árido.
 
Tendo em conta que a maior atividade dos habitantes da Ibéria consistia em caça, cabe mencionar as mudanças que a fauna ibérica teve com as mudanças climáticas. Nos períodos glaciais os animais característicos foram o [[mamute]], o [[rinoceronte peludo]] e a [[Rena]], espécies vindas do centro e norte da Europa que buscavam o clima relativamente ameno da península. Durante os períodos interglaciais, o [[elefante]] meridional, o elefante antigo e o rinoceronte de Merk foram os animais mais comuns. Indiferentes a todas as mudanças climáticas, também haviam outros animais como [[urso]]s, [[lobo]]s, [[cavalo]]s, [[bisão|bisontes]], [[javali]]s e [[cabra]]s,
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[[Ficheiro:Carte Neandertaliens.jpg|thumb|350px|Presença do homem [[Neandertal]] (''Homo Neanderthalensis'') na Europa. Há cerca de 200.000 anos, no [[paleolítico inferior]], os neandertais chegaram à península, presença que perdurou até 28.000 a.C., quando o homem do neandertal se extinguiu, sendo o seu último refúgio o território do actual Portugal.]]
 
A ocupação por hominídeos data do [[paleolítico]], registando-se diversos vestígios em Portugal e Espanha. A península Ibérica é rica em vestígios pré-históricos. Muitos dos mais bem preservados estão na região de [[Atapuerca]], em Espanha, rica em grutas calcárias que preservaram os registos de um milhão de anos de evolução humana. Entre estes locais está a cave de Gran Dolina onde se encontraram seis ossadas de hominídeos datados de 780.000 a 1,2 milhões de anos, estando entre os mais antigos da Europa. Os peritos debatem se estes pertencerão às espécies ''[[Homo erectus]]'', ''[[Homo heidelbergensis]]'', ou uma nova espécie, o ''[[Homo antecessor]]''. Na Gran Dolina encontrou-se também prova do uso de [[ferramentas]] e de fogo.
[[Ficheiro:Bifaz de Atapuerca (TG10).jpg|thumb|leftesquerda|[[Biface]] de quartzite, 350.000 a.C., [[Atapuerca]], Espanha.]]
Também em Atapuerca, está a estação de Sima de los Huesos, onde se encontraram os vestígios de 30 hominídeos datados de há cerca de 400.000 anos, possivelmente de ''[[Homo heidelbergensis]]'' e possivelmente antecessores de neandertais. Sem vestígios de habitação, excepto um machado, o que sugere que este poderá ter sido um monumento funerário, o que seria o primeiro exemplo encontrado entre hominídeos.
vestígios de 30 hominídeos datados de há cerca de 400.000 anos, possivelmente de ''[[Homo heidelbergensis]]'' e possivelmente antecessores de neandertais. Sem vestígios de habitação, excepto um machado, o que sugere que este poderá ter sido um monumento funerário, o que seria o primeiro exemplo encontrado entre hominídeos.
 
Há provas de uma vasta ocupação pelo ''[[Neandertal|Homo Neanderthalensis]]'' desde 200.000 a.C. O ''[[homo sapiens]]'' terá entrado na península posteriormente, no fim do paleolítico. Durante algum tempo neandertais e o homem moderno (homo sapiens) coexistiram, até à extinção do primeiro, sendo o seu último refúgio do homem do neandertal o território do actual Portugal.
 
Há cerca de 200.000 anos, durante o [[paleolítico inferior]], os neandertais chegaram à península. Cerca de 70.000 a.C, no Paleolítico Médio, iniciou-se a última glaciação e a cultura mousteriana neandertal estabeleceu-se. Cerca de 35.000 a.C., durante o Paleolítico Superior, a cultura neandertal Châtelperroniana vinda do sul de França estendeu-se ao norte da península Ibérica. Esta cultura perdurou até 28.000 a.C., quando o homem do neandertal se extinguiu, sendo o seu último refúgio o território do actual Portugal. O ''homo sapiens'' continuaria a ocupar a península ao longo dos períodos Mesolítico e Neolítico.
 
[[Ficheiro:Rock Art Foz Coa 01.jpg|thumb|Gravura rupestre, Penascosa, [[Sítios de arte rupestre do Vale do Côa|Vila Nova de Foz Côa]].]]
 
Foi sobretudo no [[Paleolítico Superior]] que se desenvolveram as primeiras expressões artísticas em solo português devido a um rigoroso período de glaciação que se verificou nesta época.
 
Em [[1994]] foi achado em Portugal do maior complexo de [[arte rupestre]] paleolítico ao ar livre conhecido até hoje: Há 20 000 anos, o homem gravou milhares de desenhos representando cavalos e bovídeos nas rochas xistosas do vale do Côa, afluente do [[rio Douro]], no nordeste de Portugal. os [[Sítios de arte rupestre do Vale do Côa]] situam-se ao longo das margens do [[rio Côa]], sobretudo no município de [[Vila Nova de Foz Côa]]. Formam uma rara concentração de [[arte rupestre]] composta por [[petróglifo|gravuras em pedra]] datadas do [[Paleolítico Superior]] (22000 - 10000 a.C.), constituindo o mais antigo registo de actividade humana de gravação existente no mundo.
[[Ficheiro:Techo de Altamira (replica)-Museo Arqueológico Nacional.jpg|thumb|Réplica do tecto com pinturas policromas da [[Caverna de Altamira|Gruta de Altamira]] na [[Cantábria]].]]
 
Entre os achados mais importantes está a [[Caverna de Altamira|gruta de Altamira]], na [[Cantábria]] (Espanha), na qual se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes de toda a Pré-História. Pertence aos chamados períodos [[Magdaleniano]] (entre 16.500 e 14.000 anos atrás) e Solutreano (18.500 anos atrás), dentro do Paleolítico Superior, e o seu estilo artístico constitui a denominada "escola franco-cantábrica" (de que faz parte a notável gruta de [[Lascaux]]), caracterizada pelo realismo das figuras representadas.
 
À parte destes existem outros locais onde a arte das cavernas e ao ar livre se destacam, concentrando-se, na sua maioria, na Estremadura, mais precisamente na Península de [[Lisboa]], tais como a [[gruta do Escoural]], Montemor-o-Novo, Mazouco. A temática da pintura foca sobretudo episódios do dia-a-dia, como por exemplo uma caçada ou uma batalha com uma tribo inimiga. As gravuras são muito simples, zoomórficas e monocromáticas. Durante este período não existem quaisquer vestígios arquitectónicos devido à natureza nómada das tribos.
 
=== Mesolítico ===
O [[Mesolítico]] (''pedra intermediária'') é um período intermediário entre o Paleolítico e o Neolítico presente (ou pelo menos, com duração razoável) apenas em algumas regiões do mundo.
 
As regiões que sofreram maiores efeitos das [[glaciação|glaciações]] tiveram Mesolíticos mais evidentes. Na península Ibérica, menos afectada pelas glaciações, não se fez sentir com intensidade.
 
O final do Paleolítico dá lugar ao aparecimento da cultura ''azilense'' na zona [[Pirenéus|pirenaica]], com extensão pela zona [[Cantábria|cantábrica]] da [[Península Ibérica]], cultura de transição sem grandes novidades e que continua as antigas técnicas paleolíticas. Maior importância adquirem os [[concheiros]] portugueses das margens do [[Rio Tejo|Tejo]], como os [[Concheiros de Muge]] onde está assente uma população que vai evoluindo lentamente e na qual aparecem já muitos elementos raciais mistos. Os principais jazigos são Cabeço da Amoreira, Cova da Onça e Fonte do Padre Pedro. A este ciclo cultural pertencem também as oficinas de trabalho manual de [[sílex]], ao ar livre, que existem na região [[tarraconense]].
 
== Neolítico ==
; ~ 7000 AC - 3000 AC
[[Ficheiro:Cromeleque dos Almendres1341.JPG|thumb|leftesquerda|[[Cromeleque dos Almendres]], Évora.]]
 
[[Ficheiro:Cromeleque dos Almendres1341.JPG|thumb|left|[[Cromeleque dos Almendres]], Évora.]]
[[Ficheiro:Anta São Geraldo.JPEG.jpeg|thumb|Anta de S. Geraldo, [[Portugal]].]]
[[Ficheiro:Cerámica cardial-La Sarsa (España).jpg|thumb|<center>[[Cultura da cerâmica cardial|Cerâmica cardial]] da caverna de ''La Sarsa'', [[província de Valência|Valência]].]]
[[Ficheiro:Anta Cerqueira em Couto Esteves.JPG|thumb|[[Anta da Cerqueira]], terá sido edificada entre 4000-3500AC, Aveiro.]]
[[Ficheiro:Baci-4s.jpg|thumb|Cervo [[arte esquemática na península Ibérica|esquemático]] de ''[[Tajo de las Figuras]]''. A representação caracteriza-se pelo uso de traços simplificados e convencionais que não pretendem ser realistas.]]
 
A chamada [[Revolução Neolítica]], com a passagem do Homem de simples recolector para a agricultura, levou as populações a fixar-se definitivamente, tendo por base uma economia produtora e proporcionando um maior controle das fontes de alimentação.
 
Embora a península tenha desenvolvido tardiamente a agricultura, o [[Neolítico]] trouxe mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há 7 mil anos, com o desenvolvimento da [[agricultura]] e o início da [[cultura megalítica da Europa]], que viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte do Norte de África. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal.
 
Persistem numerosos registos, como [[dólmen|dolmens]], [[anta]]s e [[cromeleque]]s e [[menir]]es, como o [[Cromeleque dos Almendres]], um monumento megalítico situado na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, concelho de [[Évora]], Distrito de Évora. Trata-se do monumento megalítico mais importante de toda a Península Ibérica, não só devido à sua dimensão, mas também, devido ao seu estado de conservação. É também considerado um dos mais importantes da Europa.
 
Na primeira fase do Neolítico, 7000 a.C., desenvolveu-se na península a cultura da [[cerâmica cardial]], caracterizada pela decoração impressa com conchas de berbigão (cardium edule). Desta cultura encontram-se jazidas na Catalunha, Levante e Andaluzia. Nelas há mostras de práticas agrícolas.
 
Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, da [[cultura da cerâmica cardial]], associada igualmente a processos migratórios.
 
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== Calcolítico ou Idade do Cobre ==
; ~ 3000AC - 1900AC
[[Ficheiro:Cuenco de Los Millares.png|thumb|Tigela da [[Cultura de Los Millares]], Espanha.]]
[[Ficheiro:Vaso Campaniforme Ciempozuelos.jpg|thumb|Vaso campaniforme da [[Cultura de Los Millares]], Espanha.]]
[[Ficheiro:Idolo de Granja de Céspedes.png|thumb|[[Ídolo]], Granja de Céspedes.]]
O [[Idade do Cobre|Calcolítico ou Idade do Cobre]] marca o início da [[metalurgia]]. Esta fase caracteriza-se pelo aumento da [[Estratificação social|complexidade e estratificação sociais]], bem como, no caso ibérico, pelo aparecimento das primeiras [[civilizações]] e de extensas [[Rede social|redes]] de [[Escambo|troca]] e [[comércio]] que vão do [[Norte de África]] até ao [[Mar Báltico]], com relevo para as [[Ilhas Britânicas]].<ref name="F. Jordá Cerdá 1986">F. Jordá Cerdá et al. (1986), ''Historia de España I: Prehistoria''.</ref>
 
No sudoeste ibérico afloram os chapéus-de-ferro, formações [[geologia|geológicas]] ricas em [[cobre]], [[ouro]] e [[prata]], facilmente exploráveis por uma tecnologia metalúrgica primitiva. Estes metais começaram então a ser [[mineração|minerados]] e trabalhados, embora fossem demasiado macios para substituir a maioria das ferramentas de pedra.
A data convencional para o início do Calcolítico ibérico é de cerca de [[Terceiro milénio a.C.|3000 AC]]. Nos séculos que se seguiram, particularmente no sul da Península, bens metálicos, geralmente com fins decorativos e rituais, tornaram-se cada vez mais comuns.
 
A data convencional para o início do Calcolítico ibérico é de cerca de [[Terceiro milénio a.C.|3000 AC]]. Nos séculos que se seguiram, particularmente no sul da Península, bens metálicos, geralmente com fins decorativos e rituais, tornaram-se cada vez mais comuns.
Este é igualmente o período de grande expansão do [[Cultura megalítica da Europa|Megalitismo]], com as práticas funerárias associadas, que se expande ao longo das regiões Atlânticas e pelo sul da península (além de pelo resto da [[Europa atlântica]]). Em contraste, a maioria das regiões do interior peninsular e do mediterrâneo permaneceram refractárias a este fenómeno.
 
Este é igualmente o período de grande expansão do [[Cultura megalítica da Europa|Megalitismo]], com as práticas funerárias associadas, que se expande ao longo das regiões Atlânticas e pelo sul da península (além de pelo resto da [[Europa atlântica]]). Em contraste, a maioria das regiões do interior peninsular e do mediterrâneo permaneceram refractárias a este fenómeno.
 
Outro fenómeno do início da Idade do Cobre é o desenvolvimento de monumentos funerários de tipo ''[[Tholos|tholoi]]'' e cavernas artificiais, que se encontram no sul ibérico, desde o [[Mar da Palha|Estuário do Tejo]] até [[Almeria]] (em [[Espanha]]) e ao sudeste [[França|francês]]. Todos estes fenómenos se inscrevem na que foi a grande linha de demarcação cultural e démica (em menor grau) ibérica em geral e portuguesa em particular - mais mediterrânica a sul e leste, mais europeia continental a norte e oeste.
 
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== Idade do Bronze ==
; ~1800AC - 700AC
[[Ficheiro:Palstave one ring.jpg|thumb|leftesquerda|100px|Machado de bronze (Bronze atlântico 1 100-800AC), Museo Arqueológico de Valladolid.]]
 
[[Ficheiro:Iberia Bronze.gif|thumb|Mapa da idade do Bronze média Ibérica c. 1500AC, mostrando as principais culturas, as duas cidades principais e a localização da minas estratégicas de estanho.]]
 
[[Ficheiro:Iberia Late Bronze.gif|thumb|Mapa da idade do Bronze final Ibérica a partir de c. 1300&nbsp;<small>BC</small>, mostrando as principais culturas.]]
 
A [[Idade do Bronze]] foi o período no qual ocorreu o desenvolvimento desta [[liga metálica]], resultante da mistura de [[cobre]] com [[estanho]], permitindo o fabrico de ferramentas capazes de substituir os artefactos em pedra. A data de adopção do [[bronze]] variou segundo as diferentes culturas.
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O centro tecnológico da Idade do Bronze na península Ibérica foi o sudoeste a partir de c.[[1800 a.C.|1800AC]].<ref name="F. Jordá Cerdá 1986"/> Aí, nas regiões de Almeria, Granada e Múrcia, a [[Cultura de Los Millares]] foi substituída pela de [[El Argar]] com o aparecimento gradual de ferramentas de bronze e de povoados fortificados de grande dimensão. Afirma-se o poder político acima dos clãs e famílias primordiais, e muda bruscamente a organização social, nascendo uma vida urbana mais próxima da actual. Deste centro a tecnologia do bronze estendeu-se a outras regiões, constituindo o substrato onde viria a desenvolver-se a cultura [[Iberos|Ibera]] e mais tarde os [[Tartessos]]. A rede de relações e comunicações criada por estes povos entre si viria a permanecer quase intacta até à chegada dos romanos à península.
 
Além de El Algar as mais notáveis culturas do bronze inicial da península são:
* o Bronze de Levante, na região de Valência, com povoados menores mas uma intensa interacção com os vizinhos de El Argar.
* O Bronze Ibérico do Sudoeste, no sul de Portugal e extremadura Espanhola, assinalado pela presença de adagas de bronze, expandindo-se para norte, que veio substituir a cultura megalítica existente na mesma região durante o calcolítico. caracteriza-se pelos tumulos individuais em [[cista]]s acompanhados por uma adaga de bronze.
* As culturas pastoricias de Cogotas I são unificadas pela primeira vez, como testemunha a cerâmica troncocónica característica. Algumas áreas, como a [[Castro de Vila Nova de São Pedro|civilização de Vila Nova]] mantiveram-se isoladas da expansão da tecnologia de bronze, permanecendo tecnicamente no calcolítico por séculos.
 
No Bronze intermédio, o norte de Portugal e a Galiza, regiões possuidoras das maiores reservas de estanho da Europa, indispensável à fabricação de bronze, tornaram-se um centro mineiro aderindo então à tecnologia do bronze, como testemunham os seus machados em bronze característicos (Grupo de Montelavar).
 
No bronze final, cerca de 1300AC deram-se várias grandes mudanças na península. A cultura calcolítica de Vila Nova desaparece, possivelmente devido ao açoreamento do canal que ligava a cidade de Zambujal ao mar.<ref>[http://www.dainst.org/index.php?id=595 Deutsches Archälogisches Institut: Zambujal, Torres Vedras] (em Inglês){{en}}</ref> A cultura unificada de El Argar também desaparece, restando diversas cidades fortificadas dispersas. Os primeiros [[celtas]], da [[Cultura dos Campos de Urnas]] surgem a partir de noroeste, conquistando toda a Catalunha e algumas áreas vizinhas. O vale do Guadalquivir assiste ao nascimento da sua primeira cultura diferenciada que poderá estar relacionada com os míticos [[Tartessos]].
 
As culturas do bronze do ocidente da península mostram alguma interacção, não só entre si, mas também com culturas atlânticas distantes, no que foi chamada a [[Idade do bronze atlântica]].<ref name="F. Jordá Cerdá 1986"/> Este complexo cultural, compreendido no período entre [[1300 a.C.|1300 AC]]-[[700 a.C.|700 AC]] aproximadamente, incluía diferentes culturas [[Península Ibérica|Ibéricas]], das [[Ilhas Britânicas]] e do [[França|Atlântico Francês]]. Foi marcada em especial pelas trocas culturais e económicas das culturas locais sobreviventes que acabaram por ser absorvidas pelos [[Indo-Europeus]] da [[Idade do Ferro]], maioritariamente [[Celtas]]. Os seus principais centros aparentam ser [[Portugal]], [[Andalusia]] ([[Tartessos]]), [[Galiza]] e [[Grã-Bretanha]]. Os seus contactos comerciais estendiam-se até a locais como a [[Dinamarca]] e o [[Mediterrâneo]].
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== Idade do Ferro ==
; ~700AC - 218AC
{{ver artigoArtigo principal|[[Povos ibéricos pré-romanos]]}}
 
A [[Idade do Ferro]] refere-se ao período em que se iniciou a [[metalurgia]] do [[ferro]], metal com vantagens face ao [[bronze]], dada a maior [[dureza]] e abundância de [[jazida]]s. Caracteriza-se pela utilização do ferro como [[metal]], utilização importada do [[Oriente]] através da emigração de [[indo-europeus|tribos indo-europeias]] ([[celta]]s), que a partir de [[segundo milénio a.C.|1.200 a.C.]] começaram a chegar à [[Europa Ocidental]], e o seu período alcança até a [[Império Romano|época romana]]. A Idade do Ferro na península Ibérica tem dois focos: a influencia da [[cultura de Hallstatt]] no nordeste e a colonização [[fenícios|fenícia]] a sul.
 
=== Expansão dos povos indo-europeus (celtas) ===
[[Ficheiro:Celts 800-400BC.PNG|thumb|leftesquerda|Expansão dos [[Celtas]], c.400 AC.]]
 
Desde finais do século VIII antes de Cristo, a [[cultura dos Campos de Urnas]] do nordeste da península começa a incorporar a metalurgia do ferro e, por fim, elementos da cultura de Hallstatt. Neste período verifica-se uma clara expansão orientada para montante do rio Ebro, chegando à Rioja e a Alava, com algumas ramificações nos montes do sistema ibérico, que podem ter sido o prelúdio da formação dos [[Celtiberos]].
 
Neste período há uma visível diferenciação social com testemunhos da existência de chefias locais e uma elite de cavaleiros.
 
[[Ficheiro:Galice castro.jpg|thumb|250px|Castro em [[Castro de Baroña]], [[Galiza]], [[Espanha]].]]
 
Destas estações no Ebro e sistema ibérico, a cultura celta expandiu-se na [[Meseta Central]] e na costa atlântica, em vários agrupamentos.
 
* O agrupamento de Bernorio-Miraveche (a norte das regiões de [[Burgos]] e [[Palencia]], que influenciaria os povos do extremo norte.
* O grupo do Duero, provavel percursor dos [[Vaccei]].
* A cultura dos Cogotas II, provavel percursor dos [[Vetões]], dedicada à pastorícia e que gradualmente se expandiria para sul, até à Extremadura.
* A cultura castreja lusitana, no centro de Portugal, precursora dos [[Lusitanos]].
* A cultura castreja do norte de Portugal e da Galiza, relacionada com a anterior, mas com um carácter próprio bem vincado devido à forte persistência do bronze atlântico.
 
Todos estes grupos indo-europeus têm elementos em comum, como a cerâmica e o armamento.
 
A partir de cerca de [[600 AC]] a cultura do campo das urnas é substituída pela cultura Ibera, num processo que só terminaria no século IV AC. A separação física dos celta ibéricos dos seus semelhantes continentais faria com que os celtas da península Ibérica nunca recebessem a influência da [[Cultura de La Tène]].
 
=== Influência Fenícia ===
Fenícios, gregos e cartagineses, todos colonizaram partes da península Ibérica, estabelecendo postos comerciais.
 
No século X AC estabeleceram-se os primeiros contactos fenícios na Ibéria, ao longo da costa mediterrânica, com a emergência de diversas cidades e povoados no litural sul.
 
Os fenícios fundaram a colónia de Gadir (actual Cádiz), próximo de Tartessos, o que fez desta a mais antiga cidade com uma ocupação contínua da europa ocidental, tradicionalmente datada de [[1104 a. C.|1104 AC]]. Ao longo de séculos os fenícios fizeram da cidade o posto comercial, deixando uma vasta herança de artefactos, como notáveis sarcófagos. ao contrário do que por vezes se afirma, não há registo de colónias fenícias a oeste do Algarve ( nomedamente Tavira), embora possam ter havido viagens de exploração fenícia, e a influência que estes tiveram no território do actual Portugal foi feita a partir de trocas comerciais e culturais com Tartessos.
 
No século IX AC os fenícios da [[cidade-estado]] de [[Tiro]](Líbano) fundaram Cartago. Neste século os fenícios teriam uma grande influência na península com a introdução da metalurgia e uso do ferro, da [[roda de oleiro]], a produção de [[azeite]] e [[vinho]]. Foram também responsáveis pelas primeiras formas de [[Escritas paleohispânicas|escrita ibérica]], influenciaram a religião e aceleraram o desenvolvimento urbano. Há contudo falta de provas da fundação fenícia de Lisboa em 1300 AC, sob o nome Alis Ubo ( porto seguro), embora neste período datem assentamentos em Olissipona com claras influências mediterrânicas.
 
Houve uma forte influência e presença fenícia na cidade de [[Balsa]] (actual Tavira) no século VIII AC, que seria violentamente destruída no século VI. Com o declinar da colonização fenícia na costa mediterrânica muitas das colónias foram abandonadas, sendo substituídos pelo domínio da poderosa Cartago.
 
{{ref-sectionReferências|Notas}}
 
== {{Ver também}} ==
Linha 161 ⟶ 167:
* Alberro, Manuel and Arnold, Bettina (eds.), ''[http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/ e-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies], [http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/index.html Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula]'', University of Wisconsin - Milwaukee, Center for Celtic Studies, 2005.
* Cerdá, F. Jordá ''et al.'', ''History of Spain 1: Prehistory'', Gredos, 1986. ISBN 84-249-1015-X
* [[:pt:José Mattoso|Mattoso, José]] (dir.), ''História de Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal'', Lisboa, Círculo de Leitores, 1992. (em português){{pt}}
* [{{Link||2=http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/TA/folder/10/014.pdf |3=The concept of Atlantic Bronze Age in the framework of 20th century archeological thinking - em português, inglês e francês]}}
* ''El Mundo Ibérico. Una nueva visión en los albores del año 2000'', Manuel Bendala Galán, Revista de Estúdios Ibéricos, 2, [[1996]].
* ''Los celtíberos'', Alberto Lorrio Alvarado, Madrid, Universidad de Alicante, [[1997]]. ISBN 84-7908-335-2
Linha 175 ⟶ 181:
* ''El poblamiento paleolítico de Europa'', C. Gamble, Ed. Crítica, Barcelona, [[1990]].
* ''Las unidades organizativas indígenas del área indoeuropea de Hispania'', M.C. González, Instituto de las Ciências de la Antigüedad, Anejo nº 2 de Veleia, Vitória, [[1986]].
* [{{Link||2=http://lfx4.ist.utl.pt/arquideia/Sitios/calcoliticonovo.html |3= ARQUIDEIA! - Calcolítico]}}
* [{{Link||2=http://www.arqa.pt/periodos/neocalc.htm |3= ARQA - Neolítico e Calcolítico]}}
* [{{Link||2=http://es.wikipedia.org/wiki/Edad_del_Cobre |3= Edad del Cobre - Wikipedia]}}
 
== {{Ligações externas}} ==
{{commonscat|Prehistoric Iberia}}
* [{{Link||2=http://www.atapuerca.com/ |3=Atapuerca, página oficial]}}
* [{{Link||2=http://www.hombredeorce.com |3=Projeto Orce]}}
* [{{Link||2=http://museudomar.com.sapo.pt/prehistoria.htm |3=Pré-história na Península Ibérica] |4=em [http://museudomar.info Museu do Mar]}}
* [{{Link||2=http://museodealtamira.mcu.es |3=Museu Nacional e Centro de Investigação de Altamira]}}
* [[Rochas de Carnac]]
* [{{Link||2=http://dolmenes.blogspot.com |3=Dólmenes y megalitos del mundo Dolmenes y megalitos de todo el mundo.]}}
* [{{Link||2=http://elquiscom.blogspot.com |3=Descubrimiento de megalitos realizado en El Quisco]}}
* [{{Link|en|2=http://www.megalithic.co.uk/ |3=Portal Megalítico] (Em Inglês)}}
{{commonscat|Schematic rock-art from Iberian peninsula|Arte esquemática ibérica}}
* [{{Link||2=http://grupos.unican.es/acanto/cuevas-pal-arte/Arte/esquematico/esquematico-abstracto.htm |3=A arte esquemática-abstrata em Cantábria]}}
* [{{Link||2=http://www.geocities.com/fuencalientecr/arupestre.htm |3=Pinturas rupestres esquemáticas de Fuencaliente]}}
* [{{Link||2=http://www.mundofree.com/origenes/biblio/aproximacion_arte_levantino.doc |3=Aproximação à Arte Levantina e Esquemática]}}
* [{{Link||2=http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG105_10.pdf |3=A arte rupestre do noroeste espanhol e as correntes culturais entre o Atlântico, a Meseta e o Mediterrâneo] |4=, por Antonio Beltrán Martínez}}
* [{{Link||2=http://www.arterupestre.es |3=Arte Rupestre do Arco Mediterrâneo da [[península Ibérica]]].}}
 
{{DEFAULTSORT:Pre-historia Historia Peninsula Iberica}}
[[Categoria:Ibéria]]
[[Categoria:História da Espanha]]