Recuo dos glaciares desde 1850: diferenças entre revisões

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Crucial para a sobrevivência de um glaciar é o seu balanço de massa, isto é, a diferença entre a acumulação e a ablação (a perda de gelo por derretimento e [[sublimação]]) num glaciar. As [[alteração climática|alterações climáticas]] podem provocar variações na temperatura e na queda de neve, levando a mudanças no balanço de massa. Um glaciar com um balanço negativo continuado não está em equilíbrio e retrocederá. Um glaciar com um balanço positivo está também fora de equilíbrio, e avançará para restabelecê-lo. Actualmente há alguns glaciares em crescimento, apesar de os seus modestos ritmos de crescimento sugerirem que não se encontram muito longe do ponto de equilíbrio.<ref>Trabant, D.C., R.S. March, and D.S. Thomas, [http://pubs.usgs.gov/fs/fs-001-03/fs-001.03.pdf Hubbard Glacier, Alaska: Growing and Advancing in Spite of Global Climate Change and the 1986 and 2002 Russell Lake Outburst Floods].</ref>
 
O recuo de um glaciar resulta na perda da sua região menos elevada. Uma vez que nas elevações maiores as temperaturas são mais baixas, o desaparecimento da porção mais baixa de um glaciar reduz a perda total, aumentando assim o balanço de massa e potencialmente reestabelecendorestabelecendo o equilíbrio. Porém, se o balanço de massa de uma porção significativa da zona de acumulação é negativo, o glaciar encontra-se em desequilíbrio com o clima e derreterá se este não se tornar mais frio e/ou se não ocorrer um aumento na quantidade de precipitação gelada.
 
O sintoma chave de um glaciar em desequilíbrio é o seu adelgaçamento ao longo de toda a sua extensão.<ref>Mauri S. Pelto (Nichols College), [http://www.nichols.edu/departments/glacier/diseqilibrium.html The Disequilibrium of North Cascade, Washington Glaciers 1984–2004] In "Hydrologic Processes".</ref><ref>Pelto, M.S. and Hartzell, P.L., [http://www.nichols.edu/departments/glacier/Longitudinal%20Profile.pdf Change in longitudinal profile on three North Cascades glaciers during the last 100 years] In "Hydrologic Processes".</ref> Por exemplo, o [[glaciar Easton]] (ver abaixo) provavelmente diminuirá a sua extensão para metade, mas com um ritmo de redução decrescente. No entanto, o [[glaciar Grinnell]], verá a sua extensão diminuída a um ritmo crescente, até desaparecer totalmente. A diferença entre estes dois casos é que a secção superior do glaciar Easton mantém-se em bom estado e coberta de neve, enquanto que mesmo na sua secção mais elevada o glaciar Grinnell se encontra sem cobertura de neve, derretendo-se e diminuindo a sua espessura. Pequenos glaciares com pequena variação da altitude ao longo da sua extensão entram mais facilmente em desequilíbrio com o clima.
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Tão recentemente como em 1975, muitos glaciares de North Cascades encontravam-se em avanço devido ao tempo mais frio e precipitação superior ao normal que se verificaram entre [[1944]] e [[1976]]. No entanto, em [[1987]] todos os glaciares de North Cascades encontravam-se em recuo e a sua velocidade de recuo tem aumentado em cada década relativamente à década precedente, desde meados da [[década de 1970]]. Entre [[1984]] e [[2005]], os glaciares de North Cascades perderam, em média, mais de 12.5 m da sua espessura e entre 20 e 40% do seu volume.<ref>Mauri S. Pelto (Nichols College), [http://www.nichols.edu/departments/glacier/diseqilibrium.html The Disequilibrium of North Cascade, Washington Glaciers 1984–2004] In "Hydrologic Processes"</ref>
 
Os glaciólogos que estudam os glaciares de North Cascades concluíram que todos os 47 glaciares monitorizados encontram-se em recuo e que quatro deles - os glaciares Spider, Lewis (na imagem), Milk Lake e David - desapareceram totalmente desde 1985. O glaciar de White Chuck é um exemplo particularmente dramático. Este glaciar encolheu de 3.1&nbsp;km² de área em 1958 para 0.9&nbsp;km² em 2002. De igual modo, o [[glaciar Boulder]] no flanco sudeste do [[Monte Baker]] recuou 450 m entre 1987 e 2005. Este recuo ocorreu durante um período de reduzida queda de neve no inverno e com temperatura mais alta que o normal durante o verão. Nesta região das Cascatas, a acumulação de neve durante o inverno decresceu 25% desde [[1946]], enquanto a temperatura de verão subiu 0.7 °C durante este mesmo período. A redução na acumulação de neve aconteceu apesar de um pequeno aumento da precipitação no inverno, o que reflecte temperaturas mais altas no inverno com a consequente queda de chuva e derretimento dos glaciares mesmo durante o inverno. Em 2005, 67% dos glaciares de North Cascades que foram objecto de observação encontravam-se em desequilíbrio e não suportarão a continuação das condições climáticas actuais. Estes glaciares acabarão por desaparecer, a menos que as temperaturas baixem e que a quantidade de precipitação gelada aumente. Os restantes glaciares deverão estabilizar, desde que o clima não se torne mais quente, mas encontrar-se-ão muito reduzidos no seu tamanho.<ref> Mauri S. Pelto; Cliff Hedlund, [http://www.nichols.edu/departments/glacier/terminus_behavior_and_response_t.htm Terminus behavior and response time of North Cascade glaciers, Washington, U.S.A.] In "Journal of Glaciology" 47 (158) 497-506.</ref><ref>Mauri S. Pelto (Nichols College), [http://www.nichols.edu/departments/glacier/north%20cascade%20glacier%20retreat.htm North Cascade Glacier Terminus Behavior]</ref>
 
Nas encostas abrigadas dos picos mais altos do [[Parque Nacional Glacier (Estados Unidos da América)|Parque Nacional Glacier]] (GNP), em [[Montana]], os glaciares estão rapidamente a diminuir a sua extensão. A área de cada glaciar tem sido cartografada ao longo de décadas pelos [[National Park Service]] e [[U.S. Geological Survey]]. A comparação de fotografias obtidas em meados do [[século XIX]] com imagens actuais, fornece evidências claras de que os glaciares deste parque recuaram muito desde [[1850]]. Os glaciares maiores apresentam actualmente um terço do tamanho que tinham em 1850, e muitos glaciares mais pequenos pura e simplesmente desapareceram. Apenas 27% dos 99&nbsp;km² de superfície do parque cobertos por glaciares em 1850 assim permaneciam em 1993.<ref>U.S. Geological Survey [http://www.nrmsc.usgs.gov/research/glaciers.htm Glacier Monitoring in Glacier National Park ]</ref> Os investigadores acreditam que pelo ano [[2030]], grande parte do gelo glaciar do Parque Nacional Glacier terá desaparecido a não ser que os padrões climáticos actuais invertam o seu curso.<ref>U.S. Geological Survey, U.S.Department of the Interior [http://nrmsc.usgs.gov/research/glacier_retreat.htm Glacier Retreat in Glacier National Park, Montana ]</ref> O [[glaciar Grinnell]] é apenas um dos muitos glaciares do Parque Nacional Glacier bem documentados fotograficamente ao longo de décadas. As fotografias abaixo mostram claramente o recuo deste glaciar desde 1938.
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=== Europa do Norte ===
As ilhas árticas ao norte da [[Noruega]], [[Finlândia]] e [[Rússia]] mostram, todas elas, evidências de recuo dos glaciares. No arquipélago de [[Svalbard]], a ilha de [[Spitsbergen]] possui numerosos glaciares. Estudos indicam que o glaciar Hansbreen em Spitsbergen recuou 1.4&nbsp;km entre 1936 e 1982 e outros 400 m no período entre 1982 e 1999.<ref>Glowacki, Piotr, [http://hornsund.igf.edu.pl/srodowisko_en.html Glaciology and environmental monitoring] Research in Hornsund</ref> O Blomstrandbreen, um outro glaciar de Spitsbergen, recuou aproximadamente 2&nbsp;km nos últimos 80 anos. Desde 1960 o recuo anual médio do Blomstrandbreen foi igual a 35 m, e esta média foi influenciada pela aceleração do recuo desde 1995.<ref> David Rippin, Ian Willis, Neil Arnold, Andrew Hodson, John Moore, Jack Kohler and Helgi Bjornsson, [http://www.ulapland.fi/home/hkunta/jmoore/pdfs/Rippin_et_al_2003.pdf Changes in Geometry and Subglacial Drainage of Midre Lovenbreen, Svalbard, Determined from Digitial Elevation Models] Earth Surface Processes and Landforms, vol. 28 pp. 273-298</ref> No arquipélago de [[Nova Zembla]], a norte da Rússia, os estudos efectuados indicam que em 1952 existiam 208&nbsp;km de linha de costa gelada. Em 1993 este valor havia diminuído 8% para 198&nbsp;km..<ref>Aleksey I. Sharov, [http://dib.joanneum.at/integral/publications%5CGML_Sharov.pdf Studying changes of ice coasts in the European Arctic] Geo-Marine Letters, vol. 25, pp. 153-166</ref>
 
=== Gronelândia ===
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Na [[Gronelândia]], o recuo dos glaciares tem sido observado nos glaciares de descarga, resultando num aumento da velocidade do gelo e desestabilização do balanço de massa do [[manto de gelo]] que lhes dá origem. O período desde 2000 viu aparecer o recuo em alguns grandes glaciares que há muito se encontravam estáveis. Três dos glaciares estudados - Helheim, Kangerdlugssuaq e [[Jakobshavn Isbræ]] - drenam conjuntamente mais de 16% do [[manto de gelo da Gronelândia]]. No caso do glaciar Helheim, os investigadores utilizaram imagens de satélite para determinar o movimento e recuo do glaciar. Imagens de satélite e fotografias áreas das décadas de 1950 e 1970 mostram que a frente do glaciar se havia mantido imóvel durante décadas. Em 2001 o glaciar entrou em recuo rápido, e em 2005 havia recuado um total de 7.5&nbsp;km, acelerando de 21,33 m/dia para 33.5 m/dia durante aquele período.<ref>Ian Howat, [http://currents.ucsc.edu/05-06/11-14/glacier.asp Rapidly accelerating glaciers may increase how fast the sea level rises] UC Santa Cruz, November 14–27, 2005 Vol. 10, No. 14</ref>
 
Jakobshavn Isbræ no oeste da Gronelândia, é um dos principais glaciares de descarga do manto de gelo da Gronelândia, bem como o glaciar mais rápido do mundo ao longo do último meio século. Pelo menos desde 1950 que se move a velocidades superiores a 24 m/dia com um ponto terminal estável. Em 2002, a sua ponta terminal flutuante com 12&nbsp;km de extensão entrou em recuo acelerado, com a frente de gelo e ponta teminal a desintegrarem-se, acelerando para uma velocidade de recuo superior a 30 m/dia. Numa escala temporal mais curta, porções do tronco principal do glaciar Kangerdlugssuaq que se moviam a 15 m/dia entre 1998 e 2001, foram observadas a mover-se 40 m/dia no verão de 2005. Este glaciar não só recuou, como perdeu mais de 100 m da sua espessura.<ref>M Truffer, University of Alaska Fairbanks; M Fahnestock, University of New Hampshire, [http://www.agu.org/meetings/fm05/fm05-sessions/fm05_C41A.html The Dynamics of Glacier System Response: Tidewater Glaciers and the Ice Streams and Outlet Glaciers of Greenland and Antarctica] </ref>
 
O adelgaçamento acelerado, aceleração e recuo dos glaciares Helheim, Jakobshavns e Kangerdlugssuaq na Gronelândia, ocorridos quase simultaneamente, sugerem um mecanismo desencadeante comum, como o derretimento superficial aumentado devido ao aquecimento do clima regional. As actuais velocidades de fluxo são demasiado elevadas para serem causadas unicamente pela deformação interna do gelo, implicando que um aumento da força de escorregamento basal devido ao aumento de produção de água por degelo é a causa provável dos aumentos de velocidade. Este fenómeno foi designado como "efeito Jakobshavns" por Terence Hughes da [[Universidade do Maine]] em 1986.<ref>T. Hughes, [http://adsabs.harvard.edu/cgi-bin/nph-bib_query?bibcode=1986GeoRL..13…46H&amp;db_key=PHY&amp;data_type=HTML&amp;format= The Jakobshavns effect] Geophysical Research Letters Vol. 13, No. 1, pp. 46-48</ref>
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* [[Subida do nível do mar]]
 
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