Guerra de independência da Grécia: diferenças entre revisões

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== Contexto ==
A [[Queda de Constantinopla]] em 1453 e a subseqüentesubsequente queda de [[Trebizonda]] (Grego: Trapezous ou Trapezounda) e [[Mistra]] em 1461 marcaram o fim da soberania grega por praticamente quatro séculos. O [[Império Otomano]] passou a controlar toda a Grécia, com a exceção das [[Ilhas Jónicas]] e a {{NT2|Mani peninsula|[[península de Mani]]}}, após as conquistas dos territórios remanescentes do [[Império Bizantino]] com o passar dos séculos [[século XIV|XIV]] e [[Século XV|XV]]. Apesar de os gregos terem preservado a cultura e as tradições, principalmente por meio da [[Igreja Ortodoxa Grega]], eles foram um povo submisso e sem direitos políticos básicos. Entretanto, nos séculos [[século XVIII|XVIII]] e [[Século XIX|XIX]], com o crescimento do nacionalismo revolucionário por toda a Europa, inclusive na Grécia (em larga medida, devido à influência da [[Revolução Francesa]]), o poder do Império Otomano estava declinando e o [[nacionalismo]] grego começou a afirmar-se afirmar. A causa grega começava a obter suporteapoio não apenas dos [[filelenismo|filelenos]] ocidentais europeus, mas também dos muitos mercadores gregos espalhados pela [[Europa Ocidental]] e pela [[Rússia]], que prosperaram com a [[guerra russo-turca de 1768–1774]] e o [[Tratado de Küçük Kaynarca]], que permitiu a navegação dos mercadores gregos sob bandeira russa.
 
=== Os gregos durante a dominação otomana ===
{{Ver artigo principal|[[Grécia otomana]]}}
{{História da Grécia}}
A Revolução Grega não foi um evento isolado. Houve numerosas tentativas de recuperar a independência durante o período de ocupação otomana da Grécia. Em 1603, houve uma tentativa na [[Moreia (região)|Moreia]] ([[Peloponeso]]) de restaurar o Império Bizantino. Durante o século XVII, houve grande resistência contra os turcos no Peloponeso e outros lugares, como fica evidenciado nas revoltas lideradas por [[Dionísius o Filósofo|Dionísius]] em 1600 e 1611 no [[Épiro]].<ref>Kassis, "Mani's History", p.29</ref> O controlecontrolo otomano sobre a [[Moreia (região)|Moreia]] foi interrompido durante o período em que [[República de Veneza|Veneza]] tomou o controlepoder da península, entre a [[década de 1680]] e a reconquista otomana em 1714-1715. A província permaneceu em agitação desde então, pois com o decorrer do século XVII, os bandos de [[kleftes]] se multiplicaram-se. A primeira grande revolta foi a [[revolta de Orlov]] nos anos 1770, que, apesar apoio russo, foi esmagada pelos otomanos. A [[península de Mani]], na região sul do Peloponeso resistiu continuamente ao domínio turco, gozando de algum grau de autonomia e derrotando muitas incursões turcas na região. A mais famosa delas foi a [[invasão otomana de Mani (1780)|invasão otomana de Mani]].
 
No mesmo período, alguns gregos usufruíram de posição privilegiada no Estado Otomano como membros da burocracia otomana. Gregos controlavam as questões da Igreja Ortodoxa e do [[Patriarca EcumênicoEcuménico de Constantinopla|Patriarcado EcumênicoEcuménico]], baseado em [[Constantinopla]], e o alto clero da Igreja Ortodoxa sempre foi dominado pelos gregos. Desta maneira, com o [[Millet (Império Otomano)|Millet]] otomano, a hierarquia predominantemente grega na Igreja possibilitou-lhe possibilitou o controlecontrolo sobre os assuntos relativos à ortodoxia. Do século XVIII em diante, [[fanariotas]] gregos assumiram cargos cada vez mais prestigiados no governo do Império Otomano.
 
[[Ficheiro:Ρήγας.jpg|left|thumb|180px|Rigas Feraios, doutrinador da revolução grega]]
 
Uma forte tradição marítima nas ilhas do Egeu, somada ao surgimento de uma influente classe mercante durante o Século XVIII, trouxe riqueza suficiente para fundar escolas e bibliotecas e pagar os jovens gregos para seus estudos em universidades da Europa Ocidental. Ali entraram em contato com idéiasideias radicais do [[Iluminismo]] e da [[Revolução Francesa]]. Personagens bem educados e influentes da diáspora grega, como [[Adamantios Korais]], tentaram difundir tais idéiasideias no retorno à Grécia com o objetivo de firmar a identidade nacional. Isso foi alcançado com a disseminação de livros e panfletos em [[língua grega]]; um processo que pode ser descrito como o "iluminismo grego".
 
O mais influente desses escritores e intelectuais, que ajudou a moldar a opinião pública dos Grécia, tanto interna quanto externamente ao Império Otomano, foi [[Rigas Feraios]]. Nascido na [[Tessália]] e educado em [[Constantinopla]], Feraios publicou um jornal em idioma grego, o ''Efimeris'', em [[Viena]] na [[década de 1790]]. Fortemente influenciado pela Revolução Francesa, publicou uma série de panfletos revolucionários e propôs uma [[constituição]] republicana para os gregos; posteriormente, também para nações balcânicas. Preso por oficiais [[Império Austríaco|austríacos]] em [[Trieste]] no ano de 1797, foi entregue a oficiais otomanos e transportado para [[Belgrado]], junto com colegas conspiradores. Foram todos estrangulados até a morte e seus corpos atirados no [[Rio Danúbio]] (junho de 1798). A morte de Feraios insuflou o nacionalismo grego. Seu poema nacionalista, o ''[[thourios]]'' (em grego: canção de guerra), foi traduzido em diversos idiomas da Europa Ocidental, posteriormente, em línguas balcânicas. Serviu como um cântico nacionalista aos gregos frente ao domínio otomano. Um dos trechos do poema é:
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[[Ficheiro:BoningtonArmatolos.jpg|right|thumb|170px|Armatolos]]
Os kleftes (Κλέφτες) e os armatolos (Αρματολοί) tiveram uma importância crucial para a revolução grega. Após a conquista da Grécia pelos otomanos no século XV, muitas das tropas gregas restantes (forças bizantinas regulares, milícias locais ou mercenárias) precisaram de se integrar ao exército otomano na forma de [[janízaro]]s, ou servir a exércitos privados de notáveis locais otomanos ou trabalhar por conta própria. Sob tais circunstâncias, muitos gregos, com o desejo de preservar suas identidades culturais, de manter a religião cristãocristã-ortodoxa e a independência, escolheram o caminho do [[banditismo]]. Muitos dos que escaparam partiram para as montanhas e formaram milícias independentes, passando a ser chamados de kleftes. Já os que preferiram servir aosos otomanos ficaram conhecidos por armatolos, mas havia muita alternância entre os dois grupos.
 
Com o tempo, os otomanos passaram a ter muita dificuldade de distinguir os armatolos dos kleftes. Tais grupos começaram a estreitar as relações e a criar uma identidade étnica comum. Essa empatia se fundamentava-se nos sentimentos mútuos de repulsa à ocupação estrangeira. Muitos armatolos pegaram em armas contra os turcos no deflagrar da revolução. Entre eles, estavam: [[Odisseas Androútsos]], [[Georgios Karaiskakis]], [[Atánasios Diakos]] e [[Markos Bótsaris]].
 
=== Preparos para a revolta ===
Em 1814, três mercadores gregos, [[Nikolaos Skoufas]], Manolis Xantos, e Atanásios Tsakalov, inspirados pelas idéiasideias de Feraios e influenciados pela [[Carbonária]] italiana, fundaram uma organização secreta, a ''[[Filiki Eteria]]'' ("Sociedade dos Amigos"), em [[Odessa]], um centro importante de mercadores da diáspora grega. Com o suporte de exilados gregos na Grã-Bretanha e Estados Unidos e com a ajuda de simpatizantes da Europa Ocidental, eles planejaramplanearam a rebelião. O objetivo básico da sociedade foi de reviver o Império Bizantino, com Constantinopla como capital, em vez da formação de um Estado nacional.<ref name="Jelavich_Balkan">{{cite book|last=Jelavich |primeira=Barbara |title=History of the Balkans, 18th e 19th Centuries|publisher=Cambridge University Press | pages=204-205| location=New York |date=1983 |id=ISBN 0-521 27458-3}}</ref> No início dos anos 1820, [[Ioánnis Kapodístrias]], um oficial das [[Ilhas Jónicas]] que se tornou [[Ministro das Relações Exteriores da Rússia]], foi indicado para ser líder da Sociedade, mas recusou a oferta. Os ''filikos'' (membros da Filiki Eteria) então recorreram a [[Alexandros Ipsilantis]], um fanariota que serviu aoo exército russo como general e assistente do tsarczar [[Alexandre I da Rússia|Alexandre I]], que aceitou.
 
A sociedade cresceu rapidamente, aliciando membros em diversas regiões povoadas por gregos. Entre eles estavam personagens que assumiriam papéis importantes durante a guerra, como [[Teodoros Kolokotronis]], [[Odisseas Androútsos]] e [[Papaflessas]]. Em 1821, o Império Otomano estava ocupado numa guerra contra a [[Dinastia Qājār|Pérsia]] e com a revolta promovida por [[Ali Paxá de Tepelene|Ali Paxá]] no [[Épiro|noroeste da Grécia]]. Enquanto isso, as Grandes potências, aliadas sob o "[[Concerto da Europa]]", em oposição às revoluções decorrentes do período de [[Napoleão Bonaparte]], estavam preocupadas com revoltas na Itália e na Espanha. Foi sob este contexto que os gregos decidiram se mobilizar-se para uma revolta.<ref name="Sowards_Balkan">{{cite book | author = Sowards, Steven W. | title = Twenty-five Lectures on Modern Balkan History (The Balkans in the Age of Nationalism) | date = 1996 | url =http://www.lib.msu.edu/sowards/balkan/ | accessdate = 2007-02-14 }}</ref> As revoltas foram promovidas em três lugares primeiramente: o Peloponeso, os [[Principados do Danúbio]] e Constantinopla.<ref name="Sowards_Balkan">{{cite paper | author = Sowards, Steven W. | title = Twenty-five Lectures on Modern Balkan History (The Bálcãs in o Age de Nacionalismo) | date = 1996 | url =http://www.lib.msu.edu/sowards/balkan/ | accessdate = 2007-02-14 }}</ref> Em [[22 de Fevereiro]] de 1821, Alexandros Ipsilantis e muitos outros oficiais gregos do exército russo cruzaram o rio [[Rio Prut|Prut]] na [[Moldávia]]. Considera-se essa data como representativa do início da insurreição.
 
== Filelenismo ==