Richard Cantillon: diferenças entre revisões

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Teoria monetária
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Uma metodologia causa e efeito levou a uma abordagem à ciência econômica relativamente livre de valores, na qual Cantillon não estava interessado no mérito de qualquer ação ou fenômeno econômico particular, focando mas na explicação das relações.<ref>Hayek 1991, p. 260</ref> Isto levou Cantillon a separar a ciência econômica da política e da ética para um nível mais alto do que os escritores mercantilistas anteriores.<ref name="Rothbard1995348" /> Isto levou a disputas sobre se Cantillon pode ser considerado com justiça um mercantilista ou um dos primeiros anti-mercantilistas,<ref>Brewer 1988; Thornton {{Nowrap|Dezembro de 2007}}; Thornton 2007</ref> dado que Cantillon muitas vezes citou os [[Balanço comercial|excedentes comerciais]] e a acumulação de [[moeda commodity|moeda]] como um estímulo econômico positivo.<ref>Brewer 1988, p. 447</ref> Outros argumentam que pena-se que nos casos em que Cantillon apoiou certas políticas mercantilistas, ele na verdade forneceu uma análise mais neutra ao explicitamente definir limitações possíveis nas políticas mercantilistas.<ref>Thornton 2007, p. 4; Mark Thornton escreve que "Quando esse punhado de frases selecionadas é colocada no contexto histórico e textual apropriado, elas podem até mesmo assumir a possibilidade de serem argumentos contra o mercantilismo e e favor de uma economia de ''laissez faire''".</ref>
 
===Teoria monetária===
As diferenças entre os mercantilistas anteriores e Cantillon surgem cedo no ''Essai'', a respeito das origens da riqueza e a formação de preços no mercado.<ref>Finegold {{Nowrap|Setembro de 2010}}; Finegold escreve que "As visões de Cantillon sobre a origem da riqueza econômica também o colocaram a parte dos mercantilistas típicos que vieram antes dele".</ref> Cantillon distingue a riqueza do dinheiro, considerando a riqueza ela própria "nada além da comida, conveniências e prazeres da vida".<ref>Cantillon 2010, p. 21; Os editores Mark Thornton e Chantal Saucier fornecem um sumário, afirmando que "Cantillon define a riqueza como os bens de consumo produzidos pela terra e trabalho. Isto contrastava com os mercantilistas que pensavam o dinheiro como riqueza".</ref> Embora Cantillon defendesse uma teoria "intrínseca" do valor, baseada nos insumos da terra e trabalho (custo de produção),<ref>Rothbard 1995, pp. 349–350; Cantillon 2010, pp. 53–56</ref> considera-se que ele tratou de uma teoria subjetiva do valor.<ref>Rothbard 1995, pp. 349–350; Cantillon 2010, pp. 55; Cantillon escreve que "Mas muitas vezes ocorre que muitas coisas, que na verdade têm um certo valor intrínseco, não são vendidas no mercado de acordo com aquele valor; isto dependerá dos desejos e das tendências do homem, e de seu consumo".</ref> Cantillon defendia que os preços de mercado não são decididos imediatamente pelo valor intrínseco, mas são derivadas da oferta e demanda.<ref>Cantillon 2010, p. 119; "O preço da carne será determinado após alguma barganha, e um punhado de bife será valorado em prata [i.e., moeda] aproximadamente da mesma forma que todo bife oferecido à venda no mercado [i.e., oferta] está para toda a prata necessária para comprar o bufe [i.e., demanda]".</ref> Acreditando que os preços de mercados tendem ao valor intrínseco de um bem, Cantillon pode ter originado o princípio da uniformidade-de-lucro - mudanças no preço de mercado de um bem podem levar a mudanças na oferta, refletindo um aumento ou queda no lucro.<ref>Cantillon 2010, p. 119; Finegold {{Nowrap|Setembro de 2010}}; Tarascio 1985, p. 252</ref>
 
[[File:CantillonCircularFlow.png|right|thumb|Modelo do fluxo circular de Cantillon<ref>Cantillon 2010, p. 66</ref>]]
 
No ''Essai'', Richard Cantillon forneceu uma versão melhorada da [[teoria quantitativa da moeda]] de John Locke, focando na inflação relativa e na [[velocidade da moeda]].<ref>Cantillon 2010, p. 148; "O Sr. Locke estabelece como máxima fundamental que a quantidade de bens em proporção à quantidade de moeda é um regulador dos preços de mercado. Eu tentei elucidar esta ideia nos capítulos anteriores: ele viu claramente que a abundância de moeda torna tudo mais caro, mas ele não explicou como isto acontece. A grande dificuldade desta questão consiste em saber de que maneira e em que proporção o crescimento da moeda aumenta os preços das coisas".</ref> Cantillon sugeriu que a inflação ocorria gradativamente e que a nova oferta de moeda tinha um efeito localizado na inflação, efetivamente originando o conceito de [[neutralidade da meda|moeda não-neutra]].<ref>Rothbard 1995, p. 355</ref> Além disso, ele afirmou que os destinatários originais da nova moeda gozam de padrões de vida mais altos à custa dos indivíduos posteriores.<ref>Rothbard 1995, p. 356</ref> O conceito de inflação relativa, ou um aumento desproporcional nos preços dos diferentes bens em uma economia, é hoje conhecida como Efeito Cantillon.<ref>Cantillon 2010, p. 155; Bordo 1983, p. 242</ref> Cantillon também considerou que as mudanças na velocidade da moeda (quantidade de trocas feitas durante um período específico de tempo) influenciam os preços, embora não no mesmo nível que as mudanças na quantidade de moeda.<ref>Cantillon 2010, pp. 147–148</ref> Como ele acreditava que a oferta de moeda consistia apenas de dinheiro em espécie, ele admitiu que os aumentos nos substitutivos da moeda - ou notas bancárias - poderiam afetar os preços ao efetivamente aumentar a velocidade de circulação do dinheiro depositado.<ref>Bordo 1983, p. 237</ref> Além de distinguir a moeda dos substitutos de moeda, ele também distinguiu as notas bancárias oferecidas como representativas dos depósitos em espécie das notas bancárias circulando além da quantidade em espécie - ou meio fiduciário - sugerindo que o volume de meio fiduciário é estritamente limitado pela confiança das pessoas em seu resgate.<ref>Spengler {{Nowrap|Outubro de 1954}}, pp. 414–415</ref> Ele considerou o meio fiduciário uma ferramenta útil para diminuir a pressão negativa que a acumulação do dinheiro em espécie tem sobre a velocidade da moeda.<ref>Cantillon 2010, pp. 227–230</ref>
 
Abordando a crença mercantilista de que a intervenção monetária poderia causar uma balança comercial perpetuamente favorável, Cantillon desenvolveu um mecanismo de fluxo de espécie, antecipando as futuras teorias de equilíbrio monetário internacional.<ref name="Rothbard1995359">Rothbard 1995, p. 359</ref> Ele sugeriu que em países com uma grande quantidade de moeda em circulação, os preços irão aumentar e então tornar-se-ão menos competitivos em relação aos países onde há uma relativa escassez de moeda.<ref>Spengler, p. 418; Rothbard 1995, pp. 358–359</ref> Assim, Cantillon também defendia que aumentos na oferta de moeda, independente da fonte, causam aumentos no nível de preços e então reduzem a competitividade da indústria de uma nação em particular em relação a uma nação com preços menores.<ref>Bordo 1983, p. 244</ref> Entretanto, Cantillon não acreditava que os mercados internacionais tendiam ao equilíbrio e, ao invés disso, sugeriu o governo acumula moeda em espécie para evitar o aumento de preços e a queda da competitividade.<ref name="Rothbard1995359" /> Além disso, ele sugeriu que um balanço comercial favorável pode ser mantido oferecendo um melhor produto e mantendo a competitividade qualitativa.<ref>Brewer 1992, p. 114</ref> A preferência de Cantillon por uma balança comercial favorável possivelmente se originou da crença mercantilista de o comércio ser um jogo de [[soma-zero]], no qual uma parte ganha às custas de outra.<ref>Brewer 1992, pp. 117–118</ref>
 
Uma teoria relativamente avançada sobre juros também é apresentada.<ref>Hayek 1991, p. 265; Hayek nota que a teoria sobre juros de Cantillon foi negligenciada por [[Eugen von Böhm-Bawerk]], que escreveu ''Capital and Interest'' como uma crítica das teorias de juros existentes a fim de criar a introdução para sua própria teoria da preferência-tempo dos juros. Isso ilustra a obscuridade do ''Essai'' de Cantillon para a economia antes de sua "redescoberta" por Jevons.</ref> Cantillon acreditava que os juros originam da necessidade dos tomadores de capital e do medo de perda dos emprestadores, o que significa que os tomadores têm de recompensar os emprestadores pelo risco da possível insolvência do devedor.<ref>Cantillon 2010, pp. 169–170</ref> Por sua vez, os juros são pagos pelos lucros obtidos do retorno do capital investido.<ref>Cantillon 2010, pp. 170–171</ref> Embora anteriormente acreditava-se que a taxa de juros variava inversamente à quantidade de moeda, Cantillon afirmou que a taxa de juros era determinada pela oferta e demanda no mercado de fundos emprestáveis<ref>Bordo 1983, p. 247; Brewer 1992, p. 91</ref> - uma visão normalmente atribuída ao filósofo [[Escócia|escocês]] [[David Hume]].<ref>Hayek 1991, pp. 265–266</ref> Assim, embora o dinheiro economizado impactasse a taxa de juros, a nova moeda que é usada para o consumo não impacta. A teoria sobre os juros de Cantillon é, então, semelhante à teoria da [[preferência pela liquidez]] de [[John Maynard Keynes]].<ref>Bordo 1983, pp. 247–248, 253</ref>
 
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