Semiarianismo: diferenças entre revisões

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O arianismo foi o ponto de vista de [[Ário]] e seus seguidores - chamados arianos - de que o Filho ([[Jesus]]) teria uma posição subordinada ao Pai, sendo inclusive de uma substância (''ousia'') diferente. Os arianos contrariaram o ponto de vista [[ortodoxia doutrinária|ortodoxo]] de que as três partes da [[Santíssima Trindade|Trindade]] seriam da mesma substância. Após o [[Primeiro Concílio de Niceia]] ter condenado o arianismo como [[heresia]], muitos cristãos adotaram posições intermediárias que lhes permitiram se manter em comunhão com os arianos sem que fosse necessário adotar o arianismo. Várias fórmulas diferentes foram propostas como alternativas intermediárias entre os ensinamentos de Ário (''[[heteroousia]]'') e a doutrina da [[consubstancialidade]] (''[[homoousia]]'') pregada pelo [[credo de Niceia]].
 
Após o concílio em Niceia em 325 dC ter derrotado o arianismo, a maior parte das igrejas orientais, que tinham concordado com a deposição de [[Atanásio de Alexandria]] no [[Concílio de Tiro]] em 335 dC e receberam os arianos em comunhão em [[Jerusalém]] quando eles se arrependeram, não eram arianos, ainda que estivessem bem longe de serem ortodoxos também. O [[Concílio de Antioquia]] em 341 dC propôs um credo que nada tinha de excepcional, exceto por sua omissão da fórmula [[credo de Niceia|niceana]] "da mesma substância que o Pai" (''Génitum, non factum, consubstantiálem Patri''). Mesmo alguns dos discípulos de Ário, como [[Jorge de Laodiceia]] (335 - 347 dC) e [[Eustátio de Sebaste]] ([[circa|ca.]] 356 - 380 dC), se juntaram ao partido moderado (''[[Homoiousianos]]''), e, após a morte de [[Eusébio de Nicomedia]], os líderes como [[Ursácio de Singidunum]], [[Valente de Mursa]] e [[Germínio de Sirmium]] não se prenderam à nenhuma fórmula em especial (conhecidos como ''[[Homoianos]]''), uma vez que o [[imperador romano|imperador]] [[Constâncio II]] odiava o arianismo, mas odiava [[Atanásio de Alexandria|Atanásio]] ainda mais. Quando [[Marcelo de Ancira]] foi deposto em 336 dC, ele foi sucedido por [[Basílio de Ancira]]. Marcelo foi depois reconduzido à função pelo [[Concílio de Sardica]] pelo [[Papa Júlio I]] em 343 dC. Em 350 dC, Basílio voltou ao cargo por ordem do imperador Constâncio, sobre quem ele tinha ganho considerável influência. Ele foi então o líder do [[Concílio de Sirmium]] em 351 dC, convocado para condenar [[Fotino]], que tinha sido um [[diácono]] em [[Ancira]], e os [[lei canônica|cânones]] deste [[sínodo]] começam condenando o arianismo, ainda que terminem sem concordar completamente com o padrão niceano. Basílio depois entrou em conflito com os [[anomoeanos]] liderados por [[Aécio de Antioquia]].
 
Após a derrota do [[:wikt:usurpador|usurpador]] [[Magnêncio]] em [[Mursa]] em 351 dC, [[Valente de Mursa|Valente]], bispo da cidade, se tornou o conselheiro espiritual de Constâncio. Em 355 dC, Valente e Ursácio conseguiram aprovar o [[:wikt:exílio|exílio]] de alguns dos que professavam o ponto de vista ocidental ([[Eusébio de Cesareia|Eusébio]], [[Lúcifer de Cagliari|Lúcifer]], [[Papa Libério|Libério]] e, logo em seguida, de [[Hilário de Poitiers|Hilário]]. Em 357 dC, eles propuseram o segundo [[credo de Sirmium]], ou "Fórmula de [[Ósio de Córdoba|Ósio]]", em que tanto o termo ''homoousios'' quanto ''homoiousios'' foram rejeitados. [[Eudóxio de Antioquia|Eudóxio]], um ariano fervoroso, tomou a [[sé episcopal|sé]] de [[Antioquia]] e passou a apoiar tanto Aécio quanto seu discípulo, [[Eunômio de Cízico]], também arianos.
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== O relato dos autores patrísticos ==
Na metade do século IV dC, Epifânio disse:
{{Citação2|Semi-arianos...mantém o verdadeiro ponto de vista ortodoxo sobre o Filho, que ele esteve sempre com o Pai...mas foi criado sem começo e fora do tempo... Mas todos eles [[blasfêmia|blasfemam]] contra o [[Espírito Santo]] e não o contam na Divindade com o Pai e o Filho."|[[Panarion]]|[[Epifânio de Salamis]]<ref>[[Epifânio de Salamis|Epifânio de Salamis (Epif)]].  ''[[Panarion]]'', livros II e III (seções 47 - 80)</ref>}}
 
De acordo com [[Sozomeno]], neste ponto o [[Papa Libério]] já havia sido liberado do exílio ao assinar três fórmulas combinadas por Basílio. Basílio persuadiu Constâncio a convocar um concílio geral, com propostas de sede em [[Ancira]] e, depois, [[Nicomedia]] (ambas na [[Ásia menor]]), mas como esta última acabou sendo destruída num terremoto, Basílio acabou novamente em [[Sirmium]] em 359 dC, onde os arianistas já tinham reconquistado seu espaço. Juntamente com Germínio, [[Jorge de Alexandria]], Ursácio, Valente e um bispo (depois santo) [[Marcos de Aretusa]], ele realizou a conferência, que se estendeu até à noite. Uma confissão de fé, ridicularizada sob o apelido de "credo obsoleto", foi proposta por Marcos em 22 de maio<ref>[[Hilário de Poitiers|Hilário]], ''Fragmentos'', XV</ref>. O arianismo foi rejeitado, mas a forma ''homoios kata ten ousian'' (substância similar) não foi admitida e a expressão ''kata panta homoios'' (similar em tudo) foi substituída. Basílio ficou desapontado e assinou a explicação de que as palavras "em tudo" significavam não apenas a vontade, mas também a existência e a realidade (''kata ten hyparxin kai kata to einai''). Ainda insatisfeito, Basílio, Jorge de Laodiceia e outros publicaram uma explicação conjunta<ref>[[Epifânio de Salamis|Epifânio de Salamis (Epif)]].  ''[[Panarion]]'', lxxiii, 12-22</ref> onde "em tudo" deveria incluir "substância".
 
O partido contrário fez o possível para que dois concílios fossem convocados em [[Concílio de Ariminum|Ariminum]] e em [[Concílio de Selêucia|Selêucia]]. Em Selêucia, em 359 dC, os semi-arianos estavam em maioria, sendo apoiados por personalidades como [[Cirilo de Jerusalém]], seu amigo [[Silvano de Tarso]] e até mesmo por Hilário de Poitiers, mas eles foram incapazes de atingir seus objetivos. Basílio, Silvano, Elêusio, portanto, compareceram como enviados à Constantinopla, onde [[Concílio de Constantinopla (360)|um concílio]] se realizou em 360 dC, e que seguiu as diretrizes de ''Ariminum'' em condenar ''homoiousios'' juntamente com ''homoousios'', permitindo apenas a forma ''homoios'', sem nenhuma adição. Esta nova frase fora invenção de [[Acácio de Cesareia]], que agora havia deposto e desterrado os arianos extremados e se tornado líder dos novos ''[[homoianos]]''. Ele tentou exilar Macedônio, Elêusio, Basílio, Eustátio, Silvano, Cirilo e muitos outros.