Contrainformação: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
MerlIwBot (discussão | contribs)
m Robô: A adicionar: it:Disinformazione
Fiz ligações internas.
Linha 1:
{{Ver desambig|prefixo=Se procura|a série de televisão|Contra Informação}}
A {{AO-pAO|contrainformação|contra-informação}} (ou '''desinformação''') é o acto de silenciar ou manipular a [[verdade]], habitualmente nos [[meios de comunicação de massasmassa]].
 
==Procedimentos==
A contra-informação pode operar-se através da [[publicidade]] pública de um [[regime político]], da publicidade privada ou por meio de [[boato]]s ou rumores, "sondagens", estatísticas ou estudos supostamente científicos e imparciais, mas pagos por empresas ou instituições económicas interessadas, por afirmações não autorizadas para inspeccionar os argumentos[[argumento]]s adversos que possam suscitar uma medida e anticipar respostas e uso de meios não independentes ou financiados em parte por quem divulga a notícia ou com jornalistas[[jornalista]]s sem contrato fixo.
 
A contra-informação serve-se de diversos procedimentos retóricos como a [[demonização]], o [[esoterismo]], a [[pressuposição]], o uso de [[falácia]]s, [[mentira]]s, [[omissão]], [[Sobrecarga informativa|sobreinformação]], [[descontextualização]], [[negativismo]], [[generalização]], [[especificação]], [[analogia]], [[metáfora]], [[eufemismo]], desorganização do conteúdo, uso de [[adjetivo]] dissuasivo, reserva da última palavra ou ordenação da informação preconizada sobre a oposta (ordem nestoriana).
 
A [[demonização]] ou satanização consiste em identificar a opinião contrária com o [[mal]], de forma a que a própria opinião fique enobrecida ou glorificada. Falar do vizinho como de um [[demónio]] converte-nos em anjos[[anjo]]s e as "[[Guerra santa|guerras santas]]" sempre serão menos injustas que as outras guerras[[guerra]]s. Trata-se antes de mais de convencer as pessoas com sentimentos e não com razões objectivas. Habitualmente emprega-se em defesa de interesses económicos, ou, por exemplo, quando se demoniza a [[Internet]] chamando-lhe refúgio de pederastas[[pederasta]]s e [[Pirataria moderna|piratas]], encobrindo a intenção económica a que obedece esse ponto de vista aparentemente bem-intencionado de a regular.
 
Algumas palavras e expressões não admitem réplica nem razoabilidade [[lógica]]: são os chamados '''adjetivos dissuasivos,''' contundentes e [[Negativismo|negativistas]] que obrigam a submeter-se a essas palavras e excluem o teor e qualquer forma de trâmite inteligente. A sua contundência emocional, o [[pathos]] emotivo da mensagem, eclipsa toda qualquer possível [[dúvida]] ou [[ignorância]], os princípios de qualquer forma razoável de pensamento: a constituição ou a integração europeia é ''irreversível''.
 
A mesma aplicação têm os [[adjetivo]]s ''inquestionável, inquebrável, inexequível, insuspeitável, indeclinável'' e ''substancial.'' O seu maximalismo serve para rebaixar qualquer [[discurso]] no sentido oposto e criar uma atmosfera irrespirável de [[monologia]]. Segundo [[Noam Chomsky]], muitas destas palavras costuma atrair outros elementos em cadeia formando [[lexia]]s: ''adesão inquebrável'', ''dever incontornável'', ''legítimas aspirações'', ''absolutamente imprescindível''. Ou com lexias redundantes como ''totalmente cheio'' ou ''absolutamente indiscutível, inaceitável'' ou ''inadmissível.''
 
==Retórica da contra-informação==
*'''[[Apelo ao medo]]''' - Um público que tenha medo está em situação de receptividade passiva e admite mais facilmente qualquer tipo de indoutrinação ou a ideia que se lhe quer incutir; recorre-se a sentimentos instalados na [[psicologia]] do cidadão por preconceitos[[preconceito]]s escolares e de educação, mas sem razões nem provas.
 
*'''[[Apelo à autoridade]]''' - Citar [[personalidade]]s importantes para sustentar uma idéia, um argumento ou uma linha de conduta e negligenciar outras opiniões.
 
*'''Testemunho''' - Mencionar dentro ou fora de contexto casos particulares em vez de situações gerais para sustentar uma opção política.
Linha 22:
*'''Efeito acumulativo''' - Persuasão do auditório para adoptar uma idéia insinuando que um movimento de massas irresistível e implacável está já comprometido no seu apoio, embora tal seja falso.
 
*'''Redefinição e [[revisionismo]]''' - Consiste em redefinir as palavras ou falsificar a história de forma parcial para criar uma ilusão de coerência.
 
*'''Procura de desaprovação''' ou '''pôr palavras na boca de alguém''' - Relacionada com o anterior, consiste em sugerir ou apresentar uma ideia ou acção que seja adoptada por um grupo adverso sem a estudar verdadeiramente. Afirmar que um grupo tem uma opinião e que os indivíduos indesejáveis, subversivos ou reprováveis a têm também. Isto predispõe os demais a mudar a sua opinião.
 
*'''Uso de generalidades e palavras virtuosas''' - As generalidades podem provocar [[emoção]] intensa no auditório. O [[Patriotismo|amor à patria]] e o desejo de [[paz]], de [[liberdade]], de glória, de [[justiça]], de [[honra]] e de pureza permitem assassinar o espírito crítico do auditório, pois o significado destas palavras varia segundo a interpretação de cada indivíduo, mas o seu significado conotativo general é positivo e por associação os conceitos e os programas do propagandista serão percebidos como grandiosos, bons, desejáveis e virtuosos.
 
*'''Imprecisão intencional''' - Referir factos deformando-os ou citar estatísticas sem indicar as fontes ou todos os dados. A intenção é dar ao discurso um conteúdo de aparência científica sem permitir analisar a sua validade ou a sua aplicabilidade.
 
*'''Transferência''' - Esta técnica serve para projectar qualidades positivas ou negativas de uma pessoa, entidade, objecto ou valor (indivíduo, grupo, organização, [[nação]], [[raça]], etc...) sobre algo para fazer isto mais (ou menos) aceitável mediante cargas emotivas.
 
*'''Simplificação exagerada''' - Generalidades usadas para contextualizar problemas sociais, políticos, económicos ou militares complexos.
Linha 36:
*'''Quidam''' - Para ganhar a confiança do auditório, o propagandista emprega o nível de linguagem e as maneiras e aparências de uma pessoa comum. Pelo mecanismo psicológico de [[Projeção (psicologia)|projecção]], o auditório encontra-se mais inclinado a aceitar as ideias que se apresentam deste modo, já que quem as presenta parece-lhe semelhante.
 
*'''Estereotipagem''' ou '''etiquetagem''' Esta técnica utiliza os preconceitos e os estereótipos[[estereótipo]]s do auditório para conseguir a adesão a algo.
 
*'''Bode expiatório''' - Lançando anátemas[[anátema]]s de [[demonização]] sobre um individuo ou um grupo de individuos, acusado de ser responsável por um problema real ou suposto, o propagandista pode evitar falar dos verdadeiros responsáveis e aprofundar o problema.
 
*'''Uso de [[Clichê|chavões]] (slogans[[slogan]]s)''' - Frases breves e curtas, fáceis de memorizar e reconhecer e que permitem deixar um traço em todos os espíritos, de forma positiva, ou de forma [[ironia|irónica]]: "[[Décimo Júnio Bruto Albino|Bruto]] é um homem honrado", por exemplo.
 
*'''[[Eufemismo]]''' ou '''deslize semântico''' - Substituição de uma expressão por outra retirando-lhe todo o conteúdo emocional e esvaziá-la do seu sentido: "interrupção voluntária da gravidez" em vez de [[aborto|aborto induzido]], "solução habitacional" em vez de habitação, "limpeza étnica" por matança racista. Outros exemplos, "danos colaterais" em vez de vítimas civis, "[[liberalismo]]" em vez de [[capitalismo]], "lei da selva" em vez de [[liberalismo]], "reajuste laboral" em vez de [[despedimento]], "solidaridade" em vez de [[imposto]], "pessoas com preferências sexuais diferentes" em lugar de homossexuais, "pessoas com capacidades diferentes" em lugar de deficientes e "relações impróprias" em vez de [[adultério]].
 
*'''Adulação''' - Uso de qualificativos agradáveis, por vezes sem moderação, com a intenção de convencer o receptor: "Você é muito inteligente, deveria estar de acordo com o que lhe digo".
 
==Exemplos de situações de contra-informação==
Na [[história de Portugal]], um dos primeiros exemplos de contra-informação foi o caso da [[Padeira de Aljubarrota]].
 
Um exemplo mais recente, datado da [[Segunda Guerra Mundial]], precedeu os desembarques do [[Dia D]], no que ficaria conhecido como [[Operação Fortitude]]: os serviços secretos britânicos convenceram as forças armadas da [[Alemanha Nazi]] de que dispunham de uma força invasora muito maior do que a que de facto passou pelo [[Canal da Mancha]] a partir de [[Kent]].
Linha 53:
A contra-informação era especialmente frequente durante a [[Guerra Fria]]. Alguns exemplos de alegada contra-informação soviética contra os [[Estados Unidos]] incluiam <ref name="Mitrokhin">Christopher Andrew, Vasili Mitrokhin (2000). The Mitrokhin Archive: The KGB in Europe and the West. Gardners Books. ISBN 0-14-028487-7.</ref>:
*Divulgação de [[teoria da conspiração|teorias da conspiração]] sobre o [[Assassinato de Kennedy]] pelo escritor [[Mark Lane]] que teria mantido contactos com vários agentes soviéticos. Lane negou estas acusações.
*Desacreditação da [[CIA]], através do [[historiador]] [[Philip Agee]] (com o nome de código PONT).
*Tentativas de desacreditar [[Martin Luther King, Jr.]] através de publicações que o retratavam como um "[[Uncle Tom]]" que recebia secretamente subsídios governamentais. À época a campanha de King pelos [[direitos civis]] era elogiada pela União Soviética, e ele foi alvo de esforços de contra-informação pela Comissão [[Cointelpro]] do FBI.<ref>[http://www.stanford.edu/group/King/about_king/encyclopedia/hoover_jedgar.htm From Civil Rights to Human Rights: Martin Luther King Jr. and the Struggle for Economic Justice. Por Thomas F. Jackson]</ref>
*Agitação das tensões raciais nos Estados Unidos endereçando cartas falsas do [[Ku Klux Klan]], com um explosivo na "the Negro section of New York" (operação PANDORA), e divulgação de teorias da conspiração que o assassinato de [[Martin Luther King, Jr.]] teria sido planeado pelo governo dos EUA.
*Fabrico de histórias de que o [[vírus]] do [[síndrome da imunodeficiência adquirida]] seria fabricado por cientistas americanos em [[Fort Detrick]]; a história foi divulgada pelo biólogo de origem russa [[Jakob Segal]].
 
Em [[1957]] a CIA sabia que tinha havido um acidente na [[central nuclear]] de [[Mayak]] mas a informação não foi divulgada publicamente por causa da " (...) relutância da CIA em destacar um acidente nuclear na URSS, que poderia causar preocupação às pessoas que viviam perto de instalações nucleares nos Estados Unidos. (...) ".<ref name="Mayak">[[Arjun Makhijani]], [http://www.armscontrol.org/act/2005_07-08/Makhijani A Readiness to Harm: The Health Effects of Nuclear Weapons Complexes]</ref>
Linha 63:
 
==Ver também==
*[[Agente provocador]]
*[[Censura]]
*[[Coerção]]
Linha 70 ⟶ 71:
*[[Indoutrinação]]
*[[Lavagem cerebral]]
* [[Medo, incerteza e dúvida]]
*[[Operação de bandeira falsa]]
*[[Preconceito cognitivo]]
*[[Propaganda]]