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A '''vontade de poder''' é o que fundamenta e em si é a própria essência de tudo.
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== Vontade de Poder ==''']]
 
Em [[Nietzsche]], o seu mais importante [[conceito]] permeia as mais altas e baixas esferas da existência, estando como conceito cosmogônico e mesmo [[história|histórico]] ou [[psicologia|psicológico]]. A vontade de poder não é somente a essência, mas uma necessidade.
O ser é devir porque sempre está se fazendo, sempre está por fazer. Este sentido do ser como devir tem a ver com a idéia de ser como “processo”; mas infinito, eterno, sem possibilidade de fim. Desse modo, a ontologia nietzschiana combate a ontologia “estática”. Os argumentos de Nietzsche são contrários aos da razão do platonismo. Contra o uno opõe Nietzsche o múltiplo, isto é, a pluralidade do ser em suas manifestações, que são as perspectivas (múltiplas) mediante as quais o homem aborda o mundo, assim, o homem é uma pluralidade de vontade de potência, cada uma com uma multiplicidade de configurações e meios de aparecimento.É nessa visão que ele introduz a noção da vontade de potência como um princípio metodológico da tarefa de reavaliação dos valores, isto é, a transvalorização dos valores e finalmente a multiplicidade dos mesmos.
 
Ao coroar-se enquanto destruidor de ídolos e filosofar a golpes de [[martelo]], fazendo de toda filosofia apenas perspectivas, Nietzsche tem também o martelo sobre seu pensamento. Pois afinal o que faz de seu pensamento mais que apenas uma perspectiva? A resposta dada pelo [[filosofia|filósofo]] será a fundamentação de seu pensamento no devir, na realidade, e não no ideal, a vontade de potência.
 
A apreensão do conceito exige seguir de perto a senda do pensamento de Nietzsche, recolhendo os fragmentos como quem toma um imbricado quebra-cabeça, e que somente ao fim há de revelar sua figura, seu sentido último.
 
A argumentação que se segue encontra-se em sua forma original em “[[Eterno retorno]]” (textos de [[1881]]).
 
Primeira proposição: o total da força que existe no universo é determinada, não infinita. Deduz-se que o número de situações, combinações dessa força é mensurável, ou seja também determinada e finita.
 
Segunda proposição: o tempo é infinito, e antes deste momento houve uma infinidade de tempo.
 
Estas preposições e suas conclusões partem de um raciocínio simples até seu mais alto grau de complexidade, só atingido em Nietzsche. Veja bem, se não admito a existência de Deus, do criador, devo admitir que a matéria, a energia da qual é constituída o universo não pode ter sido criada. Logo ela tem de existir originalmente e sempre, ou então terei que retornar a teoria da criação do nada. Se ela existe não-criada ela tem de ter estado aqui desde sempre. Já que ela existe desde sempre, se houvesse tendência ou estado a ser atingido, a eternidade é certamente tempo o bastante para que a tivesse atingido.
 
 
A força que hoje existe tem de ter estado eternamente ativa e igual, ou então teria extinguido.
 
Todos os desenvolvimentos possíveis têm de já ter acontecido, e todos os instantes são eternas repetições.
 
Ainda, que não existe estado de repouso, pois se as forças estão um tempo infinito para trás em atividade, se este estado (de repouso) fosse possível já teria sido alcançado e duraria.
 
Este mundo das forças é circular na medida em que retorna, e sem nenhuma tendência, senão já a teria alcançado.
 
Da noção então de algo originário, nunca em repouso, mas em constante devir, da consideração de que o mundo das forças não é passível de cessação, ou equilíbrio, ou repouso, de sua grandeza de força e movimento em cada tempo e de sua extensão ao todo começamos a divisar a vontade de poder.
 
Vejamos o que diz o próprio Nietzsche ainda nos textos de 1881:
 
“E sabeis... o que é pra mim “o mundo”?...
Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força... uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,... mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,... eternamente mudando, eternamente recorrentes... partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez... esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade... Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!”
 
Usando a própria terminologia de Nietzsche a Vontade de Poder é uma lei originária, sem exceção nem transgressão. Ao falar assim o filósofo quer dizer que a Vontade de potência não é algo criado, ou que dependa de condições especiais, como na religião ou em teorias precedentes, mas ela advém da própria realidade das coisas.
 
Pensando a partir das preposições chegamos inevitavelmente a esta conclusão. Sendo as preposições (matéria finita, constante e sem tendência e tempo infinito) um fato e do mesmo modo o devir, a certeza de que há este fluxo, a força que alavanca e mantém esta economia tem uma natureza particular, que é a vontade de poder. Por isso é dito “Esse mundo é a vontade de potência.
 
Da não aceitação da criação a possibilidade para a existência é esta. E da necessidade de que tudo seja como é. Esta força que hoje existe só pode ser afirmada através de sua natureza. Vontade de Potência, não é nada de teológico, de fim, ou fundamento verdadeiro. É o modo como se comporta aquilo que não pode ter finalidade ou sentido e que vive a expensas de si mesmo. Nietzsche mesmo adverte que “ a vontade de poder não é nem um ser, nem um devir, é um pathos”.
 
Pathos está aqui no seu sentido que emprega Descartes, de que "tudo o que se faz ou acontece de novo é geralmente chamado (pelos filósofos) de pathos. E se o conceito está ligado a padecer, pois o que é passivo de um acontecimento, padece deste mesmo. Portanto, não existe pathos senão na mobilidade, na imperfeição.
 
Vontade de Poder não está desta forma relacionada a nenhum tipo de força física, dinâmica ou outra, mas é a lei originária que regem estas forças secundárias na economia deste sistema chamado universo, ou mundo. As definições e formas são secundárias a ela, por isso Nietzsche diz tentando aclarar ao extremo: “o mundo é a vontade de potência — e nada além disso!” E por isso ainda insiste e acrescenta: “E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!”
 
A vontade de poder portanto é esta lei originária, sem exceção nem transgressão que em si anima e é a própria essência de toda a realidade. É a essência e a própria “luta das forças” que formam a economia universal, impulso que reage e resiste no interior das forças, uma multiplicidade de forças que em suas gradações se manifesta na sua forma última em fenômenos políticos, culturais, astronômicos, permeando a natureza e o próprio homem.
 
É importante notar que a partir desta reflexão a vontade de poder não é um enaltecimento da vida, está é apenas uma manifestação e gradação da primeira. O que exime por fim a Vontade de Poder de qualquer verdade ou tendência.
 
Espero que esta exposição possa esclarecer, se bem que em alguns pontos exija compenetração e profundidade para que não acabe por realizar o contrário.
 
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