Lamentação de Cristo: diferenças entre revisões

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Conforme as representações sobre a [[Paixão de Cristo]] foram aumentando de complexidade com a aproximação do fim do primeiro milênio, diversas novas cenas foram criadas cobrindo o período entre a morte de Jesus na cruz e seu sepultamento. Os relatos nos [[evangelhos canônicos]] se concentram nos papéis de [[José de Arimateia]] e [[Nicodemos]], mas mencionam também a presença de Maria e [[Maria Madalena]]. As cenas mostrando José negociando com [[Pôncio Pilatos]] a permissão para poder enterrar o corpo de Cristo são mais raras<ref>Schiller, 164 lista exemplos</ref>. A "[[Deposição de Cristo]]", cena na qual o corpo é retirado da cruz, moastrada quase sempre na vertical ou já tombada, na diagonal e ainda fora do chão, foi a primeira a se desenvolver, aparecendo na [[arte bizantina]] no final do século IX e, logo depois, em [[iluminura]]s [[arte otoniana|otonianas]]<ref>Schiller, 164-5</ref>. O "Carregamento do Corpo", que mostra o corpo de Jesus sendo carregado por José, Nicodemos e - às vezes - outros, era inicialmente a única cena que cobria todo o período entre a Deposição e o Sepultamento, e era bastante comum no mundo bizantino. A colocação do corpo de Jesus numa plataforma de pedra ({{lang-el|''epitaphios''}}) ganhou importância na arte bizantina com a criação dos [[ícone]]s em tecido dos tipos ''[[epitaphios (liturgia)|epitaphios]]'' e [[antimension]]''; os equivalentes ocidentais, na pintura, são chamados de "Unção de Cristo"<ref>Schiller 168-72</ref>. O "[[Sepultamento de Cristo]]", mostrando a colocação do corpo de Cristo no túmulo, foi uma inovação ocidental no final do século X; como túmulos escavados horizontalmente numa fachada rochosa eram desconhecidos na [[Europa Ocidental]], geralmente as imagens mostram um [[sarcófago]] em pedra ou um túmulo escavado numa superfície plana de rocha (como uma "cova").
 
A partir destas imagens iniciais nasceu a cena da "Lamentação" no final do século XI, já inicialmente guardando para Maria uma posição proeminente, seja segurando o corpo ou, posteriormente, tendo-o deitado sobre o colo, ou ainda, às vezes, desfalecendo enquanto José e outros seguram o corpo. Numa das primeiras representações bizantinas do século XI<ref>Schiller, 174</ref>, uma cena deste tipo acontece do lado de fora da entrada do túmulo, mas já nesta época outras imagens representam a cena aos pés da cruz vazia - de fato realocando a cena tanto no tempo (para antes do "Carregamento" e da "Unção") quanto no espaço. Esta forma é a que se tornaria padrão na [[arte gótica]] ocidental e, mesmo quando a cruz passou a aparecer com menos frequência, a paisagem ao fundo continuou sendo representada. NaNos [[pinturaPintura holandesaflamenga (séculos XV e XVI)|primeiros anos da pintura inicialflamenga]] do século XV, as três cruzes geralmente aparecem no fundo da pinturalpintura, a uma curta distância da cena.
 
As Lamentações não apareceram na arte ao norte dos [[Alpes]] antes do século XIV, mas então se tornaram muito populares na região, com as versões setentrionais reforçando a centralidade de Maria na composição<ref>Schiller, 176</ref>. A posição típica do corpo de Cristo muda, de deitado numa plataforma de pedra ou no chão, geralmente visto de perfil ao longo do centro da obra, para a parte superior do [[torso]] sendo levantada por Maria ou outras pessoas, para, finalmente, uma posição quase vertical - visto de frente - ou atravessado no colo de Maria. Maria Madalena geralmente aparece aos pés de Jesus e José, geralmente um homem mais velho e barbado, aparece vestido ricamente. Nas Lamentações com vários personagens, as figuras mostradas junto ao corpo de Cristo são as [[Três Marias]], [[João Evangelista|João]], José e Nicodemos, vários outras figuras de ambos os sexos, além de [[anjo]]s e os [[retrato de doador|doadores]]<ref>Schiller, 174-9</ref>. O famoso [[afresco]] de [[Giotto]] na [[Capela Scrovegni]] inclui ainda dez outras figuras femininas que não se pretendia que fossem reconhecidas, uma vez que não tem a [[auréola]] dos [[santo]]s. O tema se tornou rapidamente uma imagem devocional distinta, concentrada no sofrimento de Maria em relação à morte de seu filho, com menor ênfase narrativa; o resultado lógico desta tendência é a ''[[Pietà]]'', que mostra apenas mãe e filho e é um tema particularmente adequado para a [[escultura]].