Classe gramatical: diferenças entre revisões

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A '''classe gramatical''' das palavras está dentro da [[morfologia (lingüística)|morfologia]], a classificação da [[palavra]] segundo a sua distribuição [[Sintaxe|sintática]] e [[Morfologia (lingüística)|morfológica]].
 
==História==
As classes gramaticais variam para cada língua. A [[língua inglesa]] é considerada tradicionalmente composta por oito classes apenas. Ainda existem classes em outras línguas que não têm paralelo no português, como o caso das [[posposição|posposições]] e das [[circumposição|circumposições]]. Na língua portuguesa, existem dez classes. Destas, seis são variáveis e quatro, invariáveis. A saber, as ''variáveis'' se flexionam em [[número gramatical|número]], [[gênero gramatical|gênero]], grau, pessoa, tempo, voz, modo e/ou aspecto; as ''invariáveis'' não se flexionam. São elas:
 
A classificação gramatical das línguas europeias deriva principalmente da gramática grega. No diálogo ''[[Crátilo (diálogo)|Crátilo]]'', [[Platão]] discute se as palavras (''lógos'') são arbitrárias ou intrínsecas à natureza das coisas, tratando de assuntos que se tornariam objeto da [[etimologia]] e da [[linguística]]. No texto, ele separa o discurso em duas partes distintas: '''ónoma''' ([[nome]]) e '''rhema''' ([[verbo]]).<ref>Segundo o diálogo de Teeto com o Estrangeiro: "Com efeito, para expressar vocalmente o ser, temos algo assim como duas espécies de signo. / Se os denominas nome e verbo. /Aos que expressam as ações chamaos de verbo./Enquanto aos sujeitos que realizam essas ações, o signo vocal que aplicamos a eles é um nome." Retirado de {{citar web|autor=Mariluze Ferreira de Andrade e Silva|título=Platão e os fundamentos da linguagem|publicado=PUC-Rio|acessodata=2013-09-16|url=http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/24-mariluze.pdf}}</ref> No texto, Platão estava interessado na natureza das palavras e não em sua forma, razão pela qual sua divisão é tanto [[morfologia (linguística)|morfológica]] (nomes vs. verbos, adjetivos, etc.) quanto [[sintaxe|sintática]] (sujeito vs. predicado).<ref>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), pp. 405-408}}</ref>
;Variáveis
* [[Substantivo]]:
::(Varia em gênero [homem-mulher], número [1homem-2homens] e grau [homem-homenzinho-homenzarrão]);
* [[Artigo (gramática)|Artigo]]:
::(Varia em gênero [o-a] e número [o-os]);
* [[Adjetivo]]:
::(Varia em grau [belo-mais/menos belo que-belíssimo], número [belo-belos] e, não necessariamente, em gênero [belo-bela])da as qualidades (descreve a pessoa falada);
* [[Numeral]]:
::(Varia em gênero[dois-duas]);
* [[Pronome]]:
::(Varia em pessoa [ele-eu], e não necessariamente, em gênero [ele-ela], e número [ele-eles]);
* [[Verbo]]:
::(Varia em pessoa [desgosto-desgostas], número [desgosto-desgostamos], tempo [desgosto-desgostava-desgostarei], voz [amo, sou amado], modo [desgostais-desgosteis-desgostai], e aspecto [comecei a trabalhar, começarei a trabalhar]).
 
O principal discípulo de Platão, [[Aristóteles]], escreveu também reflexões sobre gramática e os tipos de palavra. Para ele, as palavras são signos, sinais falados ou escritos, com que designamos as coisas, pela nossa incapacidade de apreender as coisas em si mesmas – uma noção retomada pela linguística moderna com o conceito de [[signo linguístico]] de [[Saussure]].<ref name=Bagno410>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), p. 410}}</ref> Quanto às palavras, além de aceitar as classes platônicas de ''onoma'' e ''rhema'', ele adiciona uma terceira classe: '''sýndesmos''' ("coesivos"): as palavras que ao contrário das duas primeiras classes, não tem significado próprio, mas servem para conectar e articular entre si as diferentes partes do discurso.<ref name=Bagno410/>
;Invariáveis
 
* [[Advérbio]];
Os [[estóico]]s deram diversas contribuições à classificação das palavras ao longo dos séculos, entre elas:<ref>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), pp. 415, 416}}</ref>
* [[Preposição]];
* A separação entre ''sýndesmos'' propriamente dito (conjunções e preposições) e ''árthron'' ("articuladores"), as classes que articulam as partes do discurso (incluídos pronomes e artigos);
* [[Conjunção]];
* A distribuição dos ''sýndesmos'' em onze tipos, similares aos que usamos hoje: prepositivos, disjuntivos, sudisjuntivos, comparativos, causais, continuativos, subcontinuativos, ilativos, copulativos, conclusivos e expletivos;
* [[Interjeição]].
* A introdução da classe dos '''metokhé''' (μετοχή), ou [[formas nominais do verbo]];
* A introdução da classe dos '''epirrhema''' (literalmente, ad-vérbio), que faria aos verbos o mesmo que fazem aos substantivos os ''epitheton'' (ad-jetivo).
 
Todas essas classificações foram sintetizadas no tratado ''[[A Arte da Gramática]]'' (Τέχνη Γραμματική) de [[Dionísio, o Trácio]], escrita no século II a. E. C. A obra de Dionísio classificava as palavras em oito classes, que foram passadas ao latim e à maioria das línguas modernas:<ref>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), p. 421}}</ref>
 
# '''Onoma''' | ''Nōmen'' | [[Nome]]
# '''Rhema''' | ''Verbum'' | [[Verbo]]
# '''Metokhé''' | ''Participium'' | [[Verbinominal]]
# '''Antonymía''' |''Pronomen''| [[Pronome]]
# '''Árthron''' | ''Articulum'' | [[Artigo (gramática)|Artigo]]
# '''Epírrema''' | ''Adverbum'' | [[Advérbio]]
# '''Próthesis''' | ''Praepositio'' | [[Preposição]]
# '''Sýndesmos''' |''Coniunctio'' | [[Conjunção]]
 
O gramático latino [[Prisciano]], no ano 500 AD, manteve oito classes, trocando os artigos pelas [[interjeições]]: palavras que serviam para expressar emoções no texto. Os [[adjetivo]]s só formaram uma classe distinta dos substantivos no século XVIII; considera-se que a primeira gramática a fazer essa distinção foi a de Nicolas Beauzée para o [[língua francesa|francês]].<ref>{{citar livro|sobrenome=Beauzée|nome=Nicolas|lingua=francês|titulo=Grammaire générale, ou exposition raisonnée des éléments nécessaires du langage|local=Paris|ano=1767}}</ref>
 
==No português==
 
Na gramática da língua portuguesa, a classificação mais tradicional divide as palavras em dez classes, divididas em ''variáveis'' (1-6) e ''invariáveis'' (7-10):
 
*# [[Substantivo]]:
*# [[Artigo (gramática)|Artigo]]:
*# [[Adjetivo]]:
*# [[Numeral]]:
*# [[Pronome]]:
*# [[Verbo]]:
*# [[Advérbio]];
*# [[Preposição]];
*# [[Conjunção]];
*# [[Interjeição]].
 
Contudo, essa classficação é apontada por linguistas como sendo inconsistente ou inadequada para o português de hoje (e para a maior parte das línguas a que é aplicada). Bagno, por exemplo, aponta o fato de a classe dos pronomes ser formada por palavras que se comportam de modo sintaticamente diverso e deixar de incluir outras com comportamento parecido ao de alguns de seus subgrupos.<ref>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), pp. 462-466}} Seção 10.8: Pronome não é classe, é função</ref> O próprio autor propõe as seguintes classes para o português:<ref>{{ref|bagno(2011)|Bagno (2011), p. 504}}</ref>
 
# [[Nome]]
# Verbo
# [[Verbinominal]]
# [[Índice de pessoa]]
# [[Mostrativo]]
# [[Quantificador]]
# Advérbio
# Preposição
# Conjunção
 
{{Referências}}
 
== Bibliografia ==
 
{{nota|bagno(2011)}}{{citar livro|sobrenome=[[Marcos Bagno|Bagno]]|nome=Marcos|título=Gramática Pedagógica do Português Brasileiro|editora=Parábola Editorial|ano=2011|local=São Paulo|isbn=8579340373}}
 
{{esboço-linguística}}