A Loucura sob Novo Prisma: diferenças entre revisões

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Lombroso publicou em sua época primeiramente livros contra <ref>LOMBROSO, Cesare "Studi sul l'ipnotismo" (Turim, 1882)</ref> e depois a favor das crenças espíritas <ref>LOMBROSO, César. Hipnotismo e mediunidade. Rio de Janeiro: FEB,</ref>. As primeiras experiências espíritas realizadas por ele, segundo consta, a convite do conde Ercole Chiaia, foram [[Rito|sessões]] com a [[Mediunidade|médium]] italiana Eusápia Palladino descritas no seu livro ''Hipnotismo e Mediunidade'', e podem ser consideradas uma influência intelectual à obra aqui analisada.
 
Finalmente no '''terceiro capítulo''', intitulado ''Obsessão'', Menezes refere-se à concepção de [[Jean-Étienne Esquirol|Esquirol]] (1772 - 1840) quanto ao problema da integridade ou lesão cerebral dos portadores de transtorno mental bem como na busca e explicação dos [[surto]]s, remissão de sintomas e analisa o fenômeno da [[anestesia]], recorrendo também, para surpresa de alguns teóricos da época, a um depoimento do espírito de [[Samuel Hahnemann]] (1755 - 1843) (Menezes, o.c. p.&nbsp;170) embora não sejam conhecidas referências a prática do espiritismo por Hahnemann em sua vida na [[Saxônia]] ou [[Paris]]. Observe-se a concordância da obra com o mundo e questões intelectuais ([[zeitgeist]]) do final do séc. XIX.
 
Neste capítulo apresenta uma estratégia para a difícil tarefa de distinção entre a "loucura moral" ou mais apropriadamente denominada de "loucura psicológica" enquanto perturbação da faculdade anímica e não do instrumento da manifestação, o [[cérebro]]. Observando que nas lesões cerebrais, sendo possível, a reparação do dano teríamos as funções mentais restauradas e nos casos onde não se identificam alterações orgânicas. No primeiro grupo é onde se insere o que o espiritismo chama de obsessão, com suas fases de "desfalecimento" e "arrastamento" onde se rompe a harmonia entre o "ser pensante" e órgão de manifestação do pensamento (cérebro). Segundo ele o espírito permanece "lúcido" em ambos os casos e o mal consiste na irregularidade da transmissão (no caso da obsessão) ou manifestação do pensamento (nas lesões orgânicas). Reconhece a utilidade da [[hipnose]] como forma de distinção diagnóstica e intervenção em ambos casos, contudo adverte sobre os refratários à esse método, citando os experimentos de [[Jean-Martin Charcot]] (1825 - 1893) e afirma se "a cura pelos meios morais, a melhor prova de exatidão do diagnóstico" (o.c. p. 178). Observe-se a concordância da obra com o mundo e questões intelectuais ([[zeitgeist]]) do final do séc. XIX.
 
[[Ficheiro:Le Livre des Médiums.jpg|thumb|"[[O Livro dos Médiuns]]" de [[Allan Kardec]] (1861) também trata do tema [[obsessão]], embora sem referência direta aos [[Doença mental|distúrbios mentais]]]]
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Segundo Monteiro <ref>MONTEIRO, E. Carvalho, 2005 o.c. p.53 </ref>um de seus importantes biógrafos, no livro “A loucura sob novo prisma” o Dr. Bezerra de Menezes reafirma a harmonia possível entre a religião e o progresso científico (ver carta a seu irmão sobre sua conversão ao Espiritismo), <ref>MENEZES, Adolfo Bezerra de. A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica" ou "Uma carta de Bezerra de Menezes" (réplica ). Publicada postumamente pela FEB em 1946 [http://bvespirita.com/Uma%20Carta%20de%20Bezerra%20de%20Menezes%20(Bezerra%20de%20Menezes).pdf PDF, Set. 2013] </ref> uma constante preocupação de sua época e ambiente intelectual das suas relações sociais (jornalistas, administradores, políticos, profissionais liberais, etc.) que não se conformavam com o seu compromisso com a doutrina espírita. De acordo com esse autor a tese central deste livro é a de que a loucura não pode ser considerada sob um único prisma, tendo em vista o grande número de casos em que não se apresenta qualquer lesão cerebral e que a ciência não pode ignorar a outra causa da loucura, proveniente de [[Obsessão (espiritismo)|obsessão espiritual]], exigindo, por isso mesmo, tratamento específico.
 
Como vimos, é também inquestionável a sua atenção aos problemas relativos à doenças nervosas, além deste livro, face ao artigo de sua autoria, publicado no [[Reformador]] de 15 de abril de 1890 onde descreve uma [[Obsessão (espiritismo)|obsessão]] em um rapaz de 22 anos, “há tempos sofrendo de perturbação mental” e “verdadeira [[Ira|fúria]]” onde deixa evidente sua proposição de trabalho em casos identificados como de obsessão com atuação mediúnica em grupo espírita.<ref>SOUZA, Juvanir B.. (Ed.) Bezerra de Menezes ontem e hoje. RJ, FEB, 2008</ref> <ref>MONTEIRO, Eduardo C,, 2005 o.c.</ref>
 
Outra referência histórica ao tema da loucura e obsessão encontra-se no artigo publicado na sua coluna no jornal "O Paiz", intitulado "Loucura e Obsessão" onde, não só apresenta sucintamente as contribuições do já citado psiquiatra francês Jean-Étienne Dominique Esquirol sobre o "cérebro perfeito" dos "loucos incuráveis" condenados a reclusão, o "grande passivo da ciência psiquiátrica", segundo ele, como também anuncia "o tratado, que está a escrever há dois anos, sobre esse importante assunto" e que, um dia publicará. Não há dúvidas que se trata do livro "A loucura sob novo prisma", onde inclusive, como vimos anteriormente, retoma críticas às contribuições de Esquirol e estudos da época sobre [[memória]] (orgânica, inconsciente) e força motora, segundo ele não conclusivos. Afirmando, explicitamente, os resultados positivos da aplicação de [[Ectoplasma (parapsicologia)|fluidos]] por [[médium|médiuns]] devidamente preparados para tal. Na caracterização dessa preparação cita ''[[Erasto]]'' em texto publicado na Revista Espírita de Paris ainda sob a direção de [[Allan Kardec]] (1804 - 1869). <ref>MENEZES, Adolfo Bezerra de (Max). Loucura e Obsessão art. 62, p.267-270, in:. Espiritismo, estudos filosóficos. (3 V.) vol. 3 SP, FAE - Fraternidade Assistencial Esperança, 2001</ref>
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No filme sobre sua vida, [[Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito]] assiste-se a uma cena onde apresenta um estudo, em sala de aula, sobre as propriedades medicinais das [[Passiflora]]s reconhecidas por sua ação [[Depressante|sedativa]] e consta também entre suas publicações um estudo sobre o [[Curare]] <ref>MENEZES, Adolfo Bezerra de. Curare. Anais Bras. de Medicina v. 1859 - 1860 p.121-129</ref> Contudo a relevância desse autor e sua importância para a cultura brasileira estão no reconhecimento das relações entre religião e saúde mental para compreensão da mente humana, onde, um estudo contextualizado e referenciado de sua produção ainda está por ser realizado, apesar da considerável produção teórica explorando a relação entre psicologia (psicanálise) e religião. O mesmo pode ser dito quanto a estudos de reconhecimento consensual que mostrem a eficácia da medicação homeopática (e [[Fitoterapia|fitoterápica]]) com os distúrbios mentais.
 
Observe-se que apesar de consideráveis estudos sobre [[Possessão demoníaca|possessão]], interpretadas no final do século XIX e início do século XX (ver [[Nina Rodrigues]] e [[Jean-Martin Charcot]] (1825 - 1893) por exemplo) como uma manifestação [[Epilepsia|epiléptica]], [[Histeria|histérica]], ou de [[Sugestão|sugestão hipnótica]], o Dr Bezerra de Menezes, '''após revisão dos principais autores médicos de sua época''' como vimos acima, adotou uma posição contrária a essa postura intelectual imposta pelo paradigma materialista instituído.
 
A análise do contexto institucional e proposições deste livro sobre as inter-relações entre a doutrina espírita, homeopatia e a psiquiatria, seja escrito nos finais do século XIX ou início do século XX, podem trazer novas contribuições à identificação da sucessão de contribuições históricas sobre psicose e religiosidade ou espiritualidade. Menezes Jr & Moreira-Almeida <ref>MENEZES JR Adair; MOREIRA-ALMEIDA, Alexander. Religion, Spirituality, and Psychosis. Curr Psychiatry Rep (2010) 12:174–179 [http://www.springerlink.com/content/m67323331t886r8g/ SpringerLink]</ref> comentam a atual produção sobre essa relação, distinguindo entre as pesquisas atuais disponíveis dois grandes grupos: religiosidade e seu impacto sobre a pacientes psicóticos e o tema do diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos psicóticos, onde identificam desde generalizações simplificadoras até as aproximações impossíveis, ressaltando porém os vazios teóricos da área e possibilidades de desenvolvimento de uma melhor compreensão da experiência humana. Além da promoção de meios mais eficazes de cuidados clínicos, humanitário e sensível no campo da saúde mental.
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==Ligações externas==
* '''MENEZES, Adolfo Bezerra de, (Max)''' [http://pt.scribd.com/doc/55477746/A-Loucura-Sob-Novo-Prisma-Bezerra-de-Menezes '''A Loucura sob Novo Prisma'''] E-Book: FEESP - Federação Espírita do Estado São Paulo Set. 2013
* ALMEIDA, ANGELICA A. S. '''Uma fabrica de loucos: psiquiatria x espiritismo no Brasil (1900-1950)'''. SP, UNICAMP - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Tese (doutorado) 2007 / Programa de Pós-Graduação em História. [http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000404162 Biblioteca Digital da UNICAMP]
* ISAIA, ARTUR CESAR. '''Espiritismo, modernidade e discurso médico-psiquiátrico: a tese de Brasílio Marcondes Machado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro''' Comunicação apresentada na 26ª Reunião da SBPH - Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, 2006 [http://sbph.org/reuniao/26/trabalhos/Artur%20Cesar%20Isaia.pdf Disponível em .pdf]