Traje académico: diferenças entre revisões

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Durante muito tempo o uso da capa e batina foi obrigatório para o estudante, tal como, aliás, para o lente, ainda que este usasse uma batina comprida até aos pés.
Entre 1718 e 1834, esta obrigatoriedade estendia-se a toda a cidade.
De 1834 até à implantação da República, em 1910, a capa e batina era apenas obrigatória dentro do perímetro da Universidade, estendendo-se o seu uso, a partir de segunda metade do séc. XIX a todos os liceus do país (que pediam licença ao governo para poderem usar o traje).
 
== O Actual Traje ==
 
 
O actual traje é resultante da imposição de uma nova configuração nas roupagens estudantis, motivadas por um forte anticlericalismo.��Esse
Esse antagonismo para com a Igreja tem raízes já no Marquês de Pombal que quis acabar com o traje, porventura demasiado “Jesuístico” para o seu gosto, aquando da reforma que fez da Universidade, em 1772.
 
Na 2ª metade do séc. XIX, empurrado pelo vento do Liberalismo e ideais republicanos (anticlericais) o hábito talar tradicional dá lugar a um traje burguês citadino, singelo em tecido e figurino, figura de progressismo Europeu. A capa só fica porque os estudantes nunca dela se quiseram desfazer (o romantismo estético reservou-lhe lugar especial no imaginário masculino das vivências anónimas e do heroísmo individualizado, o ideário das gestas de capa e espada.), pois estava prevista a sua abolição.
 
Expoente máximo dessa luta contra a afinidade eclesiástica do traje foi o odiado reitor Basílio que, em 1859, ordenou aos estudantes que usassem a batina aberta por detrás, abotoada pelas costas e cosida adiante com uma ordem de pequenos botões de cima abaixo e determinou que os archeiros metessem na prisão os estudantes que andassem com a batina aberta e indecente.
 
Em 1888, um profundo especialista da cultura e dos trajes populares, José Ramalho Ortigão, duvidou da pertinência do discurso. A partir do momento em que o traje académico se transformava num produto esteticamente inferior à maior parte das peças usadas pelos camponeses portugueses, como traje domingueiro, para se nivelar com o chamado traje ou fato de trabalho, tornara-se difícil descortinar-lhe traços de progressismo.
 
É tardiamente, em 1889(?), que os alunos do 3ºano da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, se lançam no uso capa e batina, que já era envergado pelos escolares do Liceu. A formação da Tuna Académica do Porto, por 1888-90, com alunos do liceu, da Politécnica e da Médico-Cirúrgica, o nacionalismo gerado pelo Ultimatum, e requentado pelo 31 de Janeiro de 1891, e o debutar de festividades carnavalescas e de fim de ano (Enterro da Farpa, Festa da Pasta) , terão ajudado a sedimentar a capa e batina na cidade do Porto.
 
Em Lisboa a capa e batina está em uso nas escolas superiores desde pelo menos 1890 inequívocos que são os relatos sobre a digressão a Espanha da Estudantina da Escola Médico-Cirúrgica (1890) e formação da Tuna Académica de Lisboa (1895), seguindo-se as Tunas do Liceu e EscolaPolotécnicaEscola Polotécnica (escolas onde já se usaria capa e batina de forma menso expressiva).
 
 
Em 15 de Outubro de 1898, o periódico "O Conimbricense" informava que “a calça nem sempre é preta. A gravata, umas vezes encarnada outras branca, e, só por esquecimento, é que ela é preta… A capa é usada com frequência dobrada e deitada sobre um dos ombros, trazendo-a muitas vezes na mão. E aqueles que querem usar bengala fazem-no…”.
 
O traje estudantil é mal-amado pelos estudantes da época que olham para o mesmo como símbolo retrógrado numa sociedade progressista e moderna.�Há
um relaxar dos costumes , também movidos por ímpetos irreverentes de contestação.
 
É costume verem-se alguns estudantes de cartola, embora a irreverência seja, até, andar em cabelo, e os coletes, por exemplo, ostentam vários feitios e cores.
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Em Março de 1907, em pleno eclodir da greve académica que viria a alastrar a todo o país, um lente propôs, no Conselho de Decanos, “que se tratasse de obter, no mais curto prazo possível, a abolição da capa e batina, visto ser esse trajo uma das causas das irregularidades dos estudantes, havendo tanto mais razão para a abolir, quanto já não é usada a rigor. “
 
== Cronologia da Capa e Batina (Traje Nacional) no séc. XX ==
 
 
 
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Fixando um ponto de referência, podemos dizer que na segunda metade do séc. XIX apenas os estudantes Quintanistas, usavam Pasta – Pasta de Luxo.
Já utilizadas em 1850, estas eram de qualquer cor (mas normalmente da faculdade), em tudo similares às pastas vendidas nas livrarias da especialidade: duas talas de cartão dobradas, fechando com o auxílio de 3 ordens de pequenas fitinhas de cada lado, ou seja, cada Pasta tinha 6 pequenas fitas que serviam para atar a mesma com nós e laçarotes.
Mais tarde, com a magnificência das Récitas dos Quintanistas é que se definiram as famosas Pastas de Luxo nas Faculdades de Direito e Teologia, já de Fitas Largas, caídas para fora, presas às telas forradas de rico cetim bordado, veludos com embutidos de prata, ouro e mármore.
As Pastas de couro ou cabedal, embora menos vistosas, mas bem mais baratas, generalizam-se na primeira década do séc. XX, introduzidas nomeadamente pelos estudantes militares (e também em voga nos geógrafos, arqueólogos e outros especialistas nos seus trabalhos de campo, contrastando com o luxo ostensivo das pastas dos quintanistas e podendo ser usadas pelos demais estudantes no seu quotidiano, então sim, para transportar sebentas (as de luxo serviam apenas para a festividade de fim de curso).
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== Pasta da Praxe e Fitas de Finalista ==
 
As Fitas dos Finalistas têm origem nas fitas que usualmente se utilizavam para “abotoar” a Pasta da Praxe.�Tornaram
Tornaram-se mais largas e compridas com o intuito de serem assinadas.A tradição manda que sejam 8, simples e lisas, na cor da faculdade/curso, não se sabendo exactamente porque passaram das originais 6 fitas para 8, mas poderá ser por uma questão de um equilíbrio, havendo, assim, um par por cada ponto cardeal.
Não é, pois, da Praxe, usarem-se mais que 8 fitas visíveis na Pasta da Praxe.
Diz-se “Queima das Fitas”, mas o que na verdade se queima é o grelo (fita mais estreita e comprida) e não as fitas dos finalistas.Inicialmente num buraco no meio do chão, depois num penico de esmalte e, mais tarde, em caldeirões de barro (em razão do nº elevado de estudantes).
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== Emblemas/Escudos na Capa ==
 
O uso de emblema na capa remonta aos anos 30/40, mas restringia-se quase só ao monograma da Briosa (datado de 1929) que os jogadores usavam no equipamento. Sendo eles quase todos alunos da UC, passaram a cosê-lo também nas suas capas.�RapidamenteRapidamente os adeptos e simpatizantes fizeram igual.
 
Na década de 1940 ,os orfeonistas também o começam a coser na capa o emblema do Orfeão, por dentro da capa. �NosNos anos 50 aparecem o Coro Misto e o Coral das Letras, que replicam as práticas anotadas para os anos 30 e 40.
 
Será essencialmente com a influência das Tunas espanholas (por contágio da “moda mochilera” e dos inter-rails) que, a partir dos anos 80 do séc. XX (boom das tunas e das tradições académicas), se generaliza o uso de emblemas nas capas.
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A partir da década de 1990, assistiu-se a um movimento de "emancipação" que visava, por parte dos estudantes da emergentes instituições de Ensino Superior, demarcarem-se de Coimbra e primar por tudo o que pudesse criar uma identidade e distinção.
Nesse movimento algo irreflectido e baseado em equívocos, alegava-se que o Traje Nacional (Capa e Batina) era de Coimbra e que, por isso, deviam ter um próprio, identificativo da sua instituição e região, para isso repescando peças da indumentária etnográfica/folclórica e, assim, criando trajes "académicos".
 
Como hoje se percebe, esse movimento assentou num erro crasso, pois a "Capa e Batina" não era (nem é) traje de Coimbra (para isso é preciso ir ao folclore, aos ranchos locais), nem um traje académico existe para identifica ro local ou instituição em que se estuda.
O Traje Nacional é, com efeito, um traje estudantil e não a expressão de uma geografia; um traje corporativista (uniforme estudantil), e não pano identitário de uma localidade ou de classe social.
Por outro lado, a quase totalidade (senão mesmo todos) esses novos trajes assentam num outro enorme e falacioso erro: pretenderem ser trajes estudantis (expressivos do foro académico), mas usando peças e roupagens do povo.
Ora se o traje estudantil foi criado para distinguir o estudante, é um contrasenso e paradoxo usarem-se peças do folclore e etnografia regional onde a figura do estudante é inexistente.
Com efeito, o Traje Académico é um traje corporativista (uniforme estudantil), e não pano identitário de uma localidade ou de uma actividade agrícola, piscatória ou outra que não a estritamente expressiva da condição de estudante (figura inexistente na etnografia e folclore).
 
Para lá disso, são, depois, os argumentos de índole histórica e etnográfica que pecam por defeito (incompetência, diríamos), e pretendem passar a ficção por verdade.
De todos eles o "Tricórnio" é dos poucos trajes que pretende ser a reabilitação de antigas vestes estudantis locais (Braga), contudo também ele um erro histórico e um embuste (Vd. o "[http://notasemelodias.blogspot.pt/2013/09/notas-ao-tricornio-ficcionado.html Notas ao Tricórnio Ficcionado]").
Assim, o único traje que, de facto, é historica e socialmente identificativo do estudante português é o Traje Nacional, vulgo "Capa e Batina", intimamente ligado e expressão de uma cultura e Tradição Académica portuguesa.
 
Encontramos, assim, a título de exemplo, trajes estudantis locais em Aveiro, Viseu, Braga, Covilhã, Faro ....... muitas vezes a par do próprio Traje Nacional (quando numa mesma cidade nem todos usam o mesmo traje).
== {{Ver também}} ==
 
* [[Praxe académica]]
* [[Universidade]]
 
== Referências ==