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===Extremo Oriente===
A história militar da [[China]] relata uma longa troca de experiências entre as forças de infantaria chinesas do Sul e os "[[bárbaro]]s" montados do Norte. Em [[307 a.C.]], o rei Wuling de [[Zhao (estado)|Zhao]], ordenou aos seus comandantes militares e às suas tropas, que adotassem [[calças]] como os nômadesnómadas, bem como que praticassem o seu sistema de tiro com arco a cavalo. Depressa, as táticas de cavalaria adotadas pelo reino de Zhao forçaram os seus inimigos dos outros [[período dos reinos combatentes|reinos combatentes]] a adotar as mesmas técnicas.
 
A adoção da cavalaria de massas na China, também quebrou a tradição do uso em combate, do [[biga|carro puxado a cavalos]] pela aristocracia chinesa, que existia desde cerca de [[1600 a.C.]], durante a [[dinastia Shang]]. Por esta altura os grandes exércitos chineses com de 100 000 a 200 000 soldados de infantaria, passaram a ser apoiados por várias centenas de soldados a cavalo.
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===Europa medieval===
{{AP|[[Cavalaria medieval]]}}
Apesar da cavalaria romana não usar estribos, as selas usadas permitiam boas estabilidade e flexibilidade. No entanto a adoção dos estribos e de selas mais aperfeiçoadas permitiram uma maior eficiência no combate a cavalo, durante a [[Idade Média]]. Os estribos e as novas selas permitiam que mais peso, tanto do homem como da sua sua armadura, pudessem ser suportados em cima do cavalo. Em particular, uma carga com a lança presa nas axilas já não se iria transformar num "[[salto com vara]]", permitindo um enorme aumento do impacto da carga a cavalo. Por último, mas não menos importante, a introdução das [[espora]]s veio permitir um melhor controlecontrolo da montada durante a carga de cavalaria a todo o galope. Na [[Europa Ocidental]] emergiu o que é considerado o expoente máximo da [[cavalaria pesada]]: o cavaleiro ou homem-de-armas medieval. Os cavaleiros carregavam em formação cerrada, trocando a flexibilidade por uma primeira carga massiva e irresistível.
 
Os homens-de-armas a cavalo, depressa, se tornaram numa importante força nas táticas da Europa Ocidental, devendo, no entanto, observar-se que a doutrina militar medieval definia que os mesmos deveriam ser empregues como parte de uma força de armas combinadas, juntamente com os vários tipos de tropas a pé. No entanto, os cronistas medievais tendiam a dar uma indevida atenção aos nobres cavaleiros, em detrimento da infantaria (forças apeadas), compostas por membros das classes mais baixas. Isto poder dar a impressão que a cavalaria era a única força a ter em conta nas batalhas medievais europeias, o que está longe da realidade.
 
Formações massivas de arqueiros ingleses venceram a cavalaria francesa nas batalhas de [[batalha de Crécy|Crécy]], [[Batalha de Poitiers (1356)|Poitiers]] e de [[Batalha de Agincourt|Agincourt]]. Nas batalhas de [[Batalha de Bannockburn|Bannockburn]], de Lupen e de [[Batalha de Aljubarrota|Aljubarrota]], os soldados a pé escoceses, suíços e portugueses, respetivamente, provaram ser quase invulneráveis às cargas de cavalaria, desde que mantivessem a formação. No entanto, a ascensão da infantaria como a principal arma teria que esperar até aos [[Suíça|Suíços]] transformarem seus quadrados de piques, numa formação ofensiva, em vez de, apenas, defensiva. Esta nova doutrina agressiva deu, à [[Suíça]], vitórias sobre uma série de adversários, levando os seus inimigos a descobrir que a única maneira de os derrotar seria através do uso de uma doutrina de armas combinadas ainda mais abrangente, como veio a acontecer na [[Batalha de Marignano]], onde os Franceses e [[República de Veneza|Venezianos]] conseguiram derrotar os Suíços. O desenvolvimento de armas de projeção, mais potentes, como o [[arco longo]], a [[besta (arma)|besta]] e os [[canhão de mão|canhões de mão]], também ajudaram a mudar a focalização nas elites de cavalaria para as massas de infantaria econômicaeconómica, equipada com armas operáveis com uma fácil aprendizagem. Estas armas tiveram bastante sucesso nas [[Guerras Hussitas]], em conjunto com a utilização dos [[forte de carroças|fortes de carroças]].
 
A ascensão gradual do domínio da infantaria levou à adopção de táticas de combate desmontado. Desde os tempos mais remotos, que os homens-de-armas a cavalo, tinham, frequentemente, que desmontar para lidar com inimigos com os quais não podiam lidar em cima do cavalo. A partir da segunda metade do [[século XVI]] essa tática tornou-se bastante mais importante, com os homens-de-armas a desmontarem e a combaterem como uma infantaria super-pesada, usando [[montante]]s e [[acha|achas-de-armas]], seguras com as duas mãos. De qualquer modo, a guerra, na Idade Média, tendia a ser dominada mais por incursões e cercos do que por batalhas campais, não aos homens-de-armas outra escolha que não a desmontar para assaltar fortificações.
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===Europa dos séculos XVIII e XIX===
A cavalaria manteve um papel importante, durante esta época, que viu a regularização e a uniformização dos exércitos de toda a Europa. Em primeiro lugar, continuou a ser a escolha primária para confrontar a cavalaria inimiga. Por outro lado os ataques da cavalaria contra a vanguarda contínua de uma força de infantaria resultavam, normalmente, em fracasso, mas o ataque aos flancos e à retaguarda das extensas linhas da infantaria resultava, frequentemente, em sucesso. A cavalaria foi importante nas batalhas de [[batalha de Blenheim|Blenheim]], de Rossbch e de [[Batalha de Friedlândia|Friedlândia]], mantendo-se como um factor significativo durante as [[guerras napoleônicasnapoleónicas]]. A infantaria em massa era mortal para a cavalaria, mas tornava-se num excelente alvo para a [[artilharia]]. A partir do momento em que um bombardeamento criava uma desordem na formação de infantaria, a cavalaria era capaz de pôr em debandada e de perseguir os soldados de infantaria dispersos. Só quando as armas de fogo individuais atingiram precisão e [[cadência de tiro]] elevadas é que a importância da cavalaria diminuiu até nesta função. Mesmo assim, a cavalaria ligeira continuou como um instrumento indispensável para a exploração e observação até ser suplantada nesta função, pela aviação, durante a [[Primeira Guerra Mundial]].
 
Em meados do [[século XIX]], genericamente, a cavalaria dos exércitos europeus podia dividir-se em:
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===Segunda Guerra Mundial===
[[File:10th Mountain Division-advancing in April 1945.jpeg|esquerda|thumb|Durante a II Guerra, ambos os lados se valeram tanto das unidades de cavalaria com tração animal, quanto das mecanizadas.]]
No início da [[Segunda Guerra Mundial]], praticamente só os exércitos britânico e norte-americano estavam, quase totalmente, motorizados. Os restantes exércitos (inclusive, e ao contrário do mito, o Exército Alemão) ainda utilizavam o cavalo, em grande escala, para as mais variadas funções, desde as de transporte logístico às de combate. No entanto, apesar da maioria dos exércitos manter ainda unidades de cavalaria, as grandes ações a cavalo restringiram-se, essencialmente, às campanhas da PolôniaPolónia e da União Soviética.
 
Um mito que se tornou popular é o de que os lanceiros polacos carregaram, a cavalo com as suas lanças, sobre os carros de combate alemães durante as operações de setembro de [[1939]]. Este mito nasceu da má interpretação de um único combate, ocorrido a [[1 de setembro]] perto de Krojanty, quando dois [[esquadrão|esquadrões]] do 18º Regimento polaco de Lanceiros tentava atacar a infantaria alemã, quando foi apanhada em campo aberto, pelos carros de combate inimigos. As duas razões principais para o desenvolvimento deste mito, foram a falta de veículos motorizados no Exército Polaco, que o obrigava a usar cavalos nas mais diversas funções - inclusive no reboque de armas anticarro - e o fato da cavalaria polaca, por diversas vezes, ter ficado encurralada pelos carros de combate alemães, não lhe restando outra alternativa senão tentar lutar com eles, para escapar - essa luta seria, portanto, não uma ação intencional, mas uma ação de desespero.
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Algumas guerras de [[guerrilha]] na segunda metade do [[século XX]] e no [[século XXI]] levaram ao reaparecimento de unidades de combate a cavalo, mesmo nos exércitos mais modernos. Esse reaparecimento deveu-se à eficácia das tropas a cavalo no combate contra os guerrilheiros em terrenos difíceis e com poucas estradas. Os principais exemplos de emprego desse tipo de tropas - sobretudo, como infantaria montada - ocorreram no [[Afeganistão]], na [[Rodésia]] e em [[Angola]]. O [[Exército Português]] criou, experimentalmente, um pelotão a cavalo, para operar no Leste de Angola, em [[1966]], que obteve tanto sucesso que foi expandido para uma força de quatro esquadrões, conhecida por os "Dragões de Angola". Os Dragões de Angola operavam como infantaria montada em patrulhas e em perseguição de guerrilheiros, muitas vezes em cooperação com forças transportadas por helicóptero que eram lançadas na retaguarda do inimigo, que ficava assim cercado entre os dragões e aquelas. Cada dragão estava armado com um fuzil de assalto - para combate desmontado - e com uma pistola - para combate a cavalo. Um sistema semelhante foi adoptado pelos Rodesianos, com a criação da sua unidade de elite a cavalo [[Grey's Scouts]], em [[1975]]. As tropas especiais dos Estados Unidos têm usado unidades a cavalo no Afeganistão.
 
Unidades a cavalo, essencialmente cerimoniais, são, atualmente, mantidas pelos exércitos ou forças militarizadas da Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, França, Índia, Itália, Jordânica, Marrocos, Nigéria, Suécia, Países Baixos, Paquistão, Paraguai, Peru, PolôniaPolónia, Portugal, Reino Unido, Senegal e Venezuela. A Federação Russa reintroduziu, recentemente, um esquadrão a cavalo cerimonial, fardado com uniformes históricos.
 
Hoje em dia, o 61º Regimento de Cavalaria do [[Exército Indiano]], é a última unidade permanente a cavalo, não cerimonial, do mundo.
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* Salema, Vasco da Costa (2000), ''Achegas para a História da Cavalaria Portuguesa''. Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
* Freitas, Jorge Penim de (2008), ''A Cavalaria na Guerra da Restauração''. Lisboa: Prefácio.
* Sousa, Luís Costa e (2008), ''A Arte na Guerra - A ArquiteturaArquitectura dos Campos de Batalha no Portugal de Quinhentos''. Lisboa: Tribuna da História.
* Ebrey, Walthall, Palais (2006). ''East Asia: A Cultural, Social, and Political History''. Boston: Houghton Mifflin Company.
* Ebrey, Patricia Buckley (1999). ''The Cambridge Illustrated History of China''. Cambridge: Cambridge University Press.