Vicente da Fontoura: diferenças entre revisões

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[[File:AVF1807.jpg|225px|left|thumb|Certidão de batismo de Antônio Vicente da Fontoura (Rio Pardo, 1807)]]
 
Filho do [[agrimensor]] [[português]] Eusébio Manuel Antônio Gonçalves e de Vicência Cândida da Fontoura, Antônio Vicente nasceu em [[Rio Pardo]] em 16 de junho de 1807.<ref>[http://avfontoura.blogspot.com/ Fac-símile do registro de batismo de Antônio Vicente da Fontoura.]</ref> Em(em seu diário, no entanto, Fontoura diz ter nascido em 8 de janeiro de 1807).<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. "Diário". Porto Alegre, Martins Livreiro, 1985.</ref> Sem condições financeiras de dedicar-seingressar aem suasuniversidade pretensõesou de acadêmicasseguir ecarreira literáriasliterária, empregou-se ainda adolescente numa casa comercial de [[Rio Pardo]].<ref name=cons_trs>SPALDING, Walter. Construtores do Rio Grande. Livraria Sulina, Porto Alegre, 1969.</ref>
 
Em 1826, Fontoura mudou-se para [[Cachoeira do Sul]], onde continuou a trabalhar como empregado do comérciocomerciário. Aos 22 anos de idade, abriu seu próprio negócio, que se transformaria em poucos anos no maior estabelecimento varejista do [[vale do Jacuí]].<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. ''Op.cit''.</ref>
 
Fontoura iniciou sua carreira política em 18301829, elegendo-se [[vereador]] de Cachoeira do Sul pelo [[Partido Liberal (Brasil Império)|Partido Liberal]]. Em 1831, foi nomeado [[procurador]] fiscal da Câmara Municipal. Em 1832, recebeu a patente de capitão da recém-criada [[Guarda Nacional (Brasil)|Guarda Nacional]], sendo promovido pouco depois a major. Reeleito vereador, exerceu também as funções de juiz de paz e de juiz ordinário em Cachoeira, cargo que ocupava quando da eclosão da [[Revolução Farroupilha]] em 1835.<ref>FLORES, Moacyr. "Dicionário de História do Brasil". Porto Alegre, EDIPUCRS, 2008.</ref>
 
== Líder farroupilha ==
 
[[File:MuseuJulio11.jpg|225px|left|thumb|Carga do Exército Rio-Grandense (''Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre'')]]
Como negocianteNegociante ligado aos interesses pecuáriosagropecuários do Rio Grande do Sul, Fontoura estava entre os maiores críticos da política comercialeconômica do então governo central brasileiro, que favorecia as zonas exportadoras de [[commodities]] tropicais em detrimento do modelo econômico gaúcho de produção, voltado quase que exclusivamente às necessidades do mercado doméstico.<ref>PESAVENTO, Sandra . "História do Rio Grande do Sul". Porto Alegre, Mercado Aberto, 1992.</ref> Além disso, na condição de [[maçom]] e de admirador de [[Jean-Jacques Rousseau]] e [[Voltaire]], nutria forte antipatia pelo regime monárquico brasileiro.<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. ''Op.cit.''.</ref>
 
Com a deflagração da [[Guerra dos Farrapos]], em 20 de setembro de 1835, aderiu imediatamente às forças farroupilhas, e assumiu o comando das milícias revolucionárias de Rio Pardo e Cachoeira do Sul.<ref>FLORES, Moacyr. ''Op.cit.''</ref> Em 1838,29 foide nomeadosetembro coletor-geralde 1835, à frente de impostos200 homens da Guarda Nacional, funçãoparticipou quedo cerco de Rio Pardo, acumulouforçando a partircapitulação do comandante legalista [[José Joaquim de 1839Andrade comNeves]]. oEm comando3 dade regiãonovembro dasde Missões1835, tornou-se correspondente do recém-criado jornal farroupilha "O Mensageiro".<ref>"[http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=xx0303&PagFis=1 O Povo"Mensageiro, PiratiniPorto Alegre, 243 de outubronovembro de 18381835.</ref>
 
Proclamada a [[República Rio-Grandense]] em 11 de setembro de 1836, Fontoura continuou a participar da campanha militar, incluindo ações nos municípios de [[Piratini]], [[Caçapava do Sul]] e [[São Gabriel]].<ref>PARANHOS, Antunes. "Antônio Vicente da Fontoura: o Embaixador dos Farrapos". Porto Alegre, Livraria do Globo, 1956</ref> Em 1838, foi nomeado chefe de polícia da comarca de Rio Pardo e coletor-geral de impostos.<ref>"O Povo", Piratini, 24 de outubro de 1838</ref> Em 1839, assumiu o comando-geral da região das Missões, com sede em [[Cruz Alta]].<ref>PARANHOS, Antunes. ''Op.Cit.''</ref>
No início de 1841, Fontoura chefiou a missão diplomática da República Rio-Grandense a [[Montevidéu]], ocasião em que selou aliança entre os farroupilhas e o líder uruguaio [[Fructuoso Rivera]], de quem se tornaria amigo pessoal. Nomeado Ministro da Fazenda em dezembro de 1841, promoveu o saneamento das contas da República e concentrou verbas no esforço de guerra -- em contraste com a política fiscal menos pragmática de seu antecessor, [[Domingos José de Almeida]].<ref>FLORES, Moacyr. ''Op.cit.''</ref>
 
No início de 1841, Fontoura chefiou a missão diplomática da República Rio-Grandense a [[Montevidéu]], ocasião em que selou aliança entre os farroupilhas e o líder uruguaio [[Fructuoso Rivera]], de quem se tornaria amigo pessoal. Nomeado Ministro da Fazenda em dezembrosetembro de 1841, promoveu o saneamento das contas da República e concentrou verbas no esforço de guerra -- em contraste com a política fiscalorçamentária menos pragmática de seu antecessor, [[Domingos José de Almeida]].<ref>FLORESPARANHOS, MoacyrAntunes. ''Op.citCit.''</ref>
Fontoura foi eleito deputado à Assembleia Constituinte do [[Alegrete]] (1842-43) com 2.474 votos. No parlamento, tornou-se líder do bloco de oposição ao núcleo militar da revolução, encabeçado por [[Bento Gonçalves]] e [[Antônio de Sousa Neto]].<ref>SPALDING, Walter. "A Revolução Farroupilha". Brasília, Editora UnB, 1982.</ref>
 
Em 1842, Fontoura foi eleito deputado à Assembleia Constituinte do [[Alegrete]] com 2.474 votos. No parlamento rio-grandese, tornou-se líder do bloco de oposição ao núcleo militar da revolução, encabeçado por [[Bento Gonçalves]] e [[Antônio de Sousa Neto]].<ref>SPALDING, Walter. "A Revolução Farroupilha". Brasília, Editora UnB, 1982.</ref> Apesar de suas convicções republicanas, Fontoura não era defensor da manutenção da guerra e da independência do Rio Grande do Sul a qualquer custo. Convenceu-se de que esforço diplomático seria preferível à escalada militar do conflito, o que poderia agravar ainda mais o frágil quadro econômico gaúcho.<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. ''Op.cit.''</ref>
 
== Negociador da Paz de Ponche Verde ==
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[[File:Assinatura Antonio Vicente da Fontoura 1855.jpg|300px|right|thumb|Assinatura de Antônio Vicente da Fontoura (c.1855)]]
 
Em fins de 1844, depois de ver prevalecer seu ponto de vista favorável à pacificação, Fontoura foi escolhido pelo governo rio-grandense para conduzir as negociações de um tratado de paz com o governo central brasileiro.<ref>SPALDING, Walter. ''Op.cit.''</ref> Enviado ao [[Rio de Janeiro]], conseguiu negociar as cláusulas que permitiriam a reintegração pacífica e honrosa do Rio Grande do Sul ao Brasil.<ref>URBIM, Carlos. "Os Farrapos". Porto Alegre, ZH Publicações, 2003.</ref> Durante sua permanência na então capital imperial, de 12 a 20 de dezembro de 1844, Fontoura -- não obstante os objetivos conciliadores da missão que chefiava -- fez questão de recusar participação em cerimônia de [[beija-mão]] ao Imperador [[Pedro II]].<ref>LOPEZ, Luiz Roberto. "Revolução Farroupilha". Porto Alegre, Movimento, 1992.</ref> Em seu diário, Fontoura observa que "ele [Pedro II] veio hoje [15 de dezembro de 1844] à corte para dar-me beija-mão; recusei e continuarei a recusar enquanto não for brasileiro".<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. ''Op.cit.''</ref>
 
De regresso ao Rio Grande, Fontoura empreendeu périplo pelos territórios sob controle farroupilha a fim de convencer as lideranças locais e militares a aceitar os termos da paz.<ref>URBIM, Carlos. ''Op.cit.''</ref> Concluída em 1º de março de 1845, a [[Paz de Ponche Verde]] proibiu punições ou retaliações aos líderes republicanos rio-grandenses, concedeu compensações financeiras para o Rio Grande do Sul e garantiu a emancipação de todos os escravos que serviram no Exército Rio-Grandense.<ref>LAYTANO, Dante de. "História da República Rio-Grandense". Livraria Sulina, Porto Alegre, 1983.</ref> Fontoura presidiu a comissão responsável pelo pagamento das reparações aos farroupilhas entre 1845 e 1847.<ref>PARANHOS, Antunes. ''Op.Cit.''</ref>
Durante sua permanência na então capital imperial, de 12 a 20 de dezembro de 1844, Fontoura -- não obstante os objetivos conciliadores da missão que chefiava -- fez questão de recusar participação em cerimônia de [[beija-mão]] ao Imperador [[Pedro II]].<ref>LOPEZ, Luiz Roberto. "Revolução Farroupilha". Porto Alegre, Movimento, 1992.</ref> Em seu diário, Fontoura observa que "ele [Pedro II] veio hoje [15 de dezembro de 1844] à corte para dar-me beija-mão; recusei e continuarei a recusar enquanto não for brasileiro".<ref>FONTOURA, Antônio Vicente da. ''Op.cit.''</ref>
 
De regresso ao Rio Grande, Fontoura empreendeu périplo pelos territórios sob controle farroupilha a fim de convencer as lideranças locais e militares a aceitar os termos da paz.<ref>URBIM, Carlos. ''Op.cit.''</ref> Concluída em 1º de março de 1845, a [[Paz de Ponche Verde]] proibiu punições ou retaliações aos líderes republicanos rio-grandenses, concedeu compensações financeiras para o Rio Grande do Sul e garantiu a emancipação de todos os escravos que serviram no Exército Rio-Grandense.<ref>LAYTANO, Dante de. "História da República Rio-Grandense". Livraria Sulina, Porto Alegre, 1983.</ref>
 
== Últimos anos ==
 
Terminada a revolução, Fontoura voltou a dedicar-se ao comércio e à política em Cachoeira do Sul. Chefe local do [[Partido Liberal (Brasil Império)|Partido Liberal]], foi vítimareeleito vereador e presidiu a Câmara Municipal entre 1853 e 1856. Nesse período, foi condecorado pelo governo imperial com a [[Imperial Ordem de atentadoNosso Senhor Jesus Cristo|ordem de Cristo]] no grau de comendador. Embora não tenha recusado a condecoração, jamais a utilizou.<ref>PARANHOS, Antunes. durante''Op.Cit.''</ref>

Durante as eleições municipais de [[8 de setembro]] de [[1860]], foi vítima de atentado , em plena Igreja, hoje Catedral, de Nossa Senhora da Conceição, falecendo algumas semanas mais tarde em decorrência dos ferimentos sofridos.<ref>[http://www.google.com/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=8&ved=0CEIQFjAH&url=http%3A%2F%2Fwww.labhstc.ufsc.br%2Fivencontro%2Fpdfs%2Fcomunicacoes%2FDaniellaVallandrodeCarvalho.pdf&ei=aQgBTN76O5mXOKvo6NYE&usg=AFQjCNFuheP2P7484F4Upt4lUlXcruYyNA&sig2=sULGbZgbj5VjOOpatfY9mg CARVALHO, Daniela Vallandro de. “Nunca o inimigo havia visto as costas destes filhos da liberdade”: Experiências negras na guerra (Brasil Meridional, 1835-1845).4 Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, 13 a 15 de maio de 2009, Curitiba, Brasil]</ref> Os mandantes do crime, lideranças locais do [[Partido Conservador (Brasil Império)|Partido Conservador]], não chegaram a ser julgados, e apenas o executor, o escravo liberto Manuel Pequeno, foi condenado.
 
== Família e legado ==
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at:1844 text: É enviado ao Rio de Janeiro para negociar a paz com o Império do Brasil.
at:1845 text: Termina seu diário da fase final da Guerra dos Farrapos.
fromat:18451847 till:1860 text: LideraVolta a liderar o Partido Liberal em Cachoeira do Sul.
atfrom:18601853 till:1856 text: Preside a Câmara Municipal text: Morre emde Cachoeira do Sul aos 53 anos de idade.
at:1860 text: Morre em Cachoeira do Sul aos 53 anos de idade.
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