Música tonal: diferenças entre revisões

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Para entender o sistema tonal, é preciso entender o que são ''[[escalas musicais]]'' . Pode-se fazer uma analogia com a [[física atômica]] e com a [[mecânica quântica]]: assim como um [[elétron]] num [[átomo]] de [[hidrogênio]] não pode ocupar qualquer posição ao redor do núcleo, mas apenas aquelas permitidas pelas equações da mecânica quântica, na música tonal não se utiliza o contínuo do espectro audível, mas apenas recortes de frequências definidas nesse espectro, que formam a escala cromática, matéria prima utilizada nesse tipo de música.
 
O teclado de um piano é um exemplo claro de que que apenas determinadas freqüências são utilizadas na música tonal. Assim como, no átomo de hidrogênio, o elétron pode saltar de um nível quântico para outro, mas não pode ficar entre dois níveis quânticos consecutivos permitidos pela teoria, no teclado do piano o menor salto que podemos dar (o menor [[intervalo]] possível) é o de um [[semitom]] (meio tom). Entre qualquer tecla do piano e a tecla adjacente, para cima ou para baixo, há uma infinidade de outras frequências que são descartadas pela música tonal em função de um tipo de organização e hierarquização. Por exemplo, há uma tecla preta entre o dó e o ré, que é a tecla dó sustenido ou ré bemol. Também que não há nenhuma tecla ente o mi e o fá, nem enteentre o dó e o si que começa a escala seguinte. Na verdade, dó sustenido e ré bemol ''não são'' a mesma nota para um violinista, por exemplo, ou para um cantor. O que acontece é que, nos instrumentos de teclado que vêm sendo construidos desde a era de [[Johann Sebastian Bach]], adota-se uma afinação chamada de '''temperada''', em que todas as teclas estão ligeiramente desafinadas (exceto o lá fundamental), para fazer o dó sustenido coincidir com o ré bemol. Assim, a oitava fica subdividida em 12 notas, formando aquilo que nós chamamos de '''[[escala cromática]]'''.
 
Na música tonal não são usados aleatoriamente todos os sons da escala cromática. Algumas dessas notas, dependendo da escala, serão usadas de forma estratégica, de acordo com uma hierarquia interna à tonalidade. As notas não pertencentes à escala também serão usadas, mas como "tempero" ou "colorido" na música. De fato essas notas são chamadas notas ''cromáticas'' (do grego ''croma'', que significa cor). Note-se que, na escala de dó maior, a distância entre uma nota e a seguinte é de um tom, exceto entre o mi e o fá, e entre o si e o dó da oitava seguinte, que é de meio tom. Para construir uma escala que soe melodicamente igual à escala de dó maior, mas começando na nota ré, usausam-se as notas ré-mi-fá#-sol-lá-si-dó# - é necessário acrescentar sustenidos, dode contrário a escala não soará melodicamente igual à escala de dó maior. Repare que na escala de ré maior, a distância entre a terça e a quarta (fá#-sol), bem como a sétima e a prima (dó#-ré), a distância é novamente de meio tom.
 
Cada grau da escala recebe um nome especial:
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Toda escala maior tem sua '''relativa menor'''. A tônica da relativa menor está uma terça menor abaixo da tônica da escala maior. Uma terça menor abaixo do dó está o lá; portanto, a relativa de dó maior é lá menor. Assim, a relativa de ré maior é si menor, a relativa de mi maior é dó sustenido menor, etc.
 
A escala menor pode assumir diversas formas, de acordo com as necessidades compositivas, daí, surgem nomes como escala menor ''natural''', ''harmônica'', ''melódica'' ou ''bachiana''. A escala menor natural natural tem as mesmas notas da escala seusua relativorelativa maior (por exemplo, temos do maior: do-re-mi-fa-sol-la-si-do e la menor; la-si-do-re-mi-fa-sol-la). A escala menor '''melódica''' nasce da necessidade de se aplicar as [[Função (música)|funções]] tonais na escala menor natural, para isso, utiliza-se o primeiro tetracorde da escala menor (tom-semitom-tom) e o segundo tetracorde da escala homônima maior (tom-tom-semitom), quando em escala ascendente, e a escala menor natural quando em escala descendente (daí temos, por exemplo, Mi menor melódica: mi-fa#-sol-la-si-do#-re#-mi-re-do-si-la-sol-fa#-mi). A escala '''bachiana''' também utiliza o princípio da escala menor melódica, mas aplica o tetracorde maior também na escala descendente (Mi menor bachiana: mi-fa#-sol-la-si-do#-re#-mi-re#-do#-si-la-sol-fa#-mi). Já a escala menor '''harmônica''' constitui apenas na elevação do sétimo grau da escala natural (o que é válido tanto para a escala ascendente quanto para a descendente), o que leva à presença de uma ''segunda aumentada'' entre o sexto e o sétimo graus, gerando uma estranheza na escuta.
 
Para determinar a tonalidade de um trecho musical, verifica-se a ''[[armadura de clave]]'', que é uma sequência de sustenidos ou bemóis logo após a clave no início de uma partitura. Por exemplo: se logo após a clave estão os bemóis para as notas: si-mi-lá-ré, sabe-se que a música é da tonalidade de lá bemol maior, ou de fá menor. Numa tonalidade com bemóis, é o ''penúltimo bemol'' que determina a tonalidade caso seja maior, e no caso dos sustenidos a tonalidade maior é sempre um semitom acima do último sustenido. Uma armadura sem acidentes designa tonalidade de dó maior (ou lá menor), e com um bemol designa tonalidade de fá maior (ou ré menor).
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É preciso deixar bem claro que a tonalidade sozinha não determina o caráter de um trecho musical. Assim, por exemplo, a Quinta Sinfonia de [[Beethoven]] tem um caráter dramático e violento, assim como a [[Sonata Patética]], o Concerto para Piano no. 3 e outras peças de Beethoven e [[Mozart]] escritas nessa mesma tonalidade (dó menor). No entanto, o Concerto para piano no. 2 de [[Rachmaninoff]] é uma peça romântica clara e luminosa, onde não há o menor sinal de angústia ou qualquer sentimento opressivo - e está escrito em dó menor, a mesma tonalidade da Quinta Sinfonia de Beethoven.
 
A tonalidade de ré menor tinha um significado dramático especial para Mozart, que escreveu nesta tonalidade a ária da Rainha da noiteNoite no segundo ato de [[A Flauta Mágica]], ''Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen'' (A vingança do inferno coze no meu coração) e a ária de Electra em [[Idomeneo]], ''Tutte nel cor vi sento, furie del crudo averno'' (Eu sinto no peito todas as Fúrias do inferno), nas quais predomina o ódio e o desejo de vingança. A tonalidade de ré menor também está intimamente associada à ópera [[Don Giovanni]], em que ela aparece logo no começo da abertura, e na cena final, em que o espírito do comendador aparece para arrastar a alma de Don Giovanni para o inferno. Por fim, ré menor é a tonalidade da última obra de Mozart, a Missa de Requiem.
 
A tonalidade de ré menor mostra também seu caráter lúgubre, por exemplo, no quarteto "A Morte e a Donzela" (''Der Tod und das Mädchen'') de [[Schubert]] (D. 810)