Francisco Félix de Sousa: diferenças entre revisões

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Por volta de [[1806]], seu irmão morreu e ele assumiu, sem autorização do governo português, o cargo de 19.º Governador Interino da [[Fortaleza de São João Baptista de Ajudá]].<ref name="desouza"/><ref name="law"/> Depois de algum tempo abandonou a função, pois obteve autorização real para comerciar, incluindo traficar escravos que eram comprados diretamente do rei de [[Daomé]], [[Adandozan]]. Os escravos eram pagos com búzios (uma forma de moeda local) ou, como ficou comum depois de certa época, com mercadorias importadas da Europa (tecidos de algodão, veludos, damascos, lãs e sedas, armas de fogo, pólvora, contaria, facas, catanas, manilhas, vasilhame de cobre e latão) ou das Américas (tabaco baiano, cachaça, rum).<ref name="silva"/> Mesmo depois da [[Independência do Brasil]], os produtos manufaturados europeus eram contrabandeados do Brasil, uma vez que a Coroa portuguesa não permitia que tais itens fossem transportados em navios brasileiros.
 
Quando já estava muito rico, Francisco Félix afrontou o rei [[Adandozan]] por não ter recebido os escravos pelos quais pagara adiantadamente com mercadorias. Caiu em desgraça perante o rei e foi preso quando visitava a cidade de [[Daomé|Abomei]], capital de [[Daomé]]. O poder do rei de [[Daomé]] sobre os súditos era total: era comum a morte em sacrifícios humanos, a execução de centenas de prisioneiros de guerra ou a venda de milhares como escravos para as [[Américas]]. Entretanto, a tradição de sua família conta que o branco era a cor da morte e matar um branco, mesmo um mulato, era tabu. O rei [[Adandozan]] ordenou então que Francisco Félix fosse imergido em tonéis de índigo para que ficasse azul-escuro e nunca mais usasse a cor da pele para afrontar o rei.<ref name="silva"/>
 
Nesta época, conheceu [[Guezô|Guapê]], um meio-irmão do rei [[Adandozan]], tornou-se seu amigo e, com sua influência, conseguiu ser libertado ou fugiu de [[Daomé|Abomei]] para Popó Pequeno,<ref name="law"/> terra de seu primeiro sogro, Comalangã. Francisco Félix e [[Guezô|Guapê]] fizeram um pacto ''vodu'' de sangue<ref name="silva"/> e começaram a conspirar para depor o rei [[Adandozan]]. Francisco Félix contrabandeou armas e munições para [[Guezô|Guapê]] que, em [[1820]],<ref name="desouza"/> derrubou [[Adandozan]] do poder e tornou-se rei de [[Daomé]], assumindo o nome de [[Guezô]]. Em 1817 voltou a ser o 21.º Governador da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá.
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A [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá]] tinha sido abandonada pelos portugueses. Francisco Félix continuou a comandá-la e, por extensão, governava a cidade de [[Ouidah|Uidá]] que se desenvolveu nos seus arredores. A cidade transformou-se em um dos mais ativos entrepostos de embarque de escravos de toda a [[África]] para as [[Américas]], principalmente para o Brasil e [[Cuba]].
 
O rei [[Guezô]] concedeu-lhe também o total controle do comércio exterior do reino de [[Abomé]].<ref name="retornados"/> Atuava como agente do rei, gozando do privilégio real da primeira opção: "os outros comerciantes só podiam transacionar com aquilo que ele não desejava".<ref name="law"/> Devido ao grande crescimento do tráfico de escravos para o Brasil que ocorria na época, Francisco Félix acumulou uma fortuna gigantesca. Além do virtual monopólio do comércio de escravos sediado em [[Ouidah|Uidá]], também exportava azeite de dendê, noz-cola e outros produtos do reino. Importava tecidos, tabaco, aguardentesaguardente, armas de fogo, pólvora e utensílios de metal, produtos utilizados no escambo para aquisição de escravos.<ref name="silva"/> Teve vários sócios no Brasil como o banqueiro Pereira Marinho, que recebeu os seus filhos que viajaram para estudar. O [[conde de Joinville]] considerava-o um dos três homens mais ricos de seu tempo.<ref name="desouza"/>
 
Depois da [[Independência do Brasil]], ofereceu, em nome do rei [[Guezô]], o protetorado do reino de [[Daomé]] e a posse da [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá]] ao imperador [[D. Pedro I]] do Brasil<ref name="silva2">{{citar web |url=http://www.javeriana.edu.co/Genetica/Libros%20America%20Negra/AmericaNegra9.pdf |publicado=Javeriana.edu.co |formato=PDF |autor=SILVA, Alberto da Costa e |título=Brasil, Africa y el Atlántico en el Siglo XIX |língua= |obra=America Negra, Bogotá: Pontifícia Universidad Javeariana |data=Junho de 1995 |página=151 |acessodata=30 de agosto de 2008}}</ref> O acordo não prosperou e, a partir de então, Francisco Félix vai passar a dizer-se cidadão português, talvez porque isto lhe conferia vantagens jurídicas, oriundas de acordos internacionais, quando seus navios eram apresados pela frota britânica.<ref name="law"/>