Alexandre de Serpa Pinto: diferenças entre revisões

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Serpa Pinto viajou pela primeira vez até à [[África oriental]] em [[1869]] numa expedição ao [[rio Zambeze]]. Integrava uma coluna de quase mercenários, cujo objectivo conhecido era o de enfrentar as milícias do Bonga, que já infligira nas tropas portuguesas várias e humilhantes derrotas. Mas Serpa Pinto integra a coluna como técnico, avaliando a rede hidrográfica e a topografia local, pelo que podemos inferir ou suspeitar dos intuitos não apenas bélicos, mas de interesse estratégico no reconhecimento e posterior controle da região.
 
Em [[1877]] Serpa Pinto é nomeado por Decreto de 11 de Maio do mesmo ano, para participar numa expedição científica à África Central da qual também faziam parte os oficiais da marinha [[Hermenegildo Capelo ]] e [[Roberto Ivens]]. Segundo o decreto foram nomeados «para comporem e dirigirem a expedição que há-de explorar, no interesse da ciência e da civilização', os territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique, e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze… » {{sfn|Mendes|1982|p=18}} Este objectivo constituía uma vitória de [[José Júlio de Bettencourt Rodrigues|José Júlio Rodrigues]] sobre [[Luciano Cordeiro]] dado que este último tinha lutado por uma travessia de costa a costa, passando pela região dos grandes lagos da África Central.{{sfn|Mendes|1982|p=18}}. Feito o trajecto [[Benguela]]-[[Bié]], divergências entre Serpa Pinto e Brito Capelo levam a expedição a dividir-se, com Serpa Pinto, por sua iniciativa a tentar a travessia até Moçambique. Na verdade Luciano Cordeiro que nunca se tinha conformado com o facto da expedição não ser de costa a costa veio a encontrar em Serpa Pinto um irmão do mesmo sonho, já que Serpa Pinto sonhava desde longa data com uma empresa grandiosa em África.{{sfn|Mendes|1982|pp=18-23}}Desde o princípio da viagem Serpa Pinto tenta desviar os objectivos da expedição. Capelo e Ivens recusam-se ao que consideram ser “os desvarios de Serpa Pinto” e cognominando-o de falsário participam a separação.{{sfn|Mendes|1982|p=25}} Serpa Pinto acabou por falhar o seu objectivo, pois não o conseguiu como pretendia, atingir qualquer ponto da costa moçambicana, como foi sua declarada intenção. Chegou, no entanto, a [[Pretória]], e posteriormente a [[Durban]].{{sfn|Mendes|1982|p=25}}Brito Capelo e Roberto Ivens mantiveram-se fiéis ao projecto inicial concentrando as atenção na missão para que haviam sido nomeados, ou seja nas relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Mais tarde, Capelo e Ivens explicaram que não tinham "o direito de divagar nos sertões, por onde quiséssemos, dirigindo o nosso itinerário para leste ou norte"
Em [[1877]] explorou a zona da [[costa (geografia)|costa]] [[oeste]] de Angola , integrando uma expedição que partiu de [[Benguela]] ([[Angola]]) e que contava com a participação de Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo. Por alturas do [[Bié]] houve uma cisão no grupo e Serpa Pinto assumiu, por sua conta e risco, a travessia solitária que contrariava o intuito inicial da expedição científica. A sua jornada terminou em [[1879]] e atravessou as [[bacia hidrográfica|bacia]] do [[rio Congo]] e do [[rio Zambeze|Zambeze]], Angola e partes das actuais [[Zâmbia]], [[Zimbabwe]] e [[África do Sul]].
 
A expedição de Serpa Pinto tinha como objectivo fazer o reconhecimento do território e efectuar o [[mapa|mapeamento]] do interior do continente africano, para preparar a entrada de Portugal na discussão pela ocupação dos territórios africanos que até então apenas utilizara como entrepostos comerciais ou destino de degredados. A «ocupação efectiva», sobre a ocupação histórica, determinada pelas actas da [[Conferência de Berlim]] (1884-1885) obrigou o Estado Português a agir no sentido de reclamar para si uma vasta região do continente africano que uniria as provincias de Angola e Moçambique (então embrionárias) através do chamado "[[mapa cor-de-rosa]]"; esta intenção falhou após o [[ultimato]] [[Reino Unido|britânico]] de [[1890]], o «incidente Serpa Pinto», já que nela interveio o explorador, ao arrear as bandeiras inglesas, num espaço cobiçado e monitorizado pela rede de espionagem do Reino Unido, junto ao lago do Niassa.
 
A aventura de Serpa Pinto, travessia solitária e arriscada, moldaram a imagem de um homem intrépido que concedeu ao militar uma aura de heroicidade necessária às liturgias cívicas e às celebrações dos feitos passados, quando Portugal atravessava uma grave crise política e moral. Nesse sentido a sua figura foi explorada como o novo herói, das novas descobertas que já não passavam por sulcar os mares, mas rasgar as selvas e savanas de África como forma de manutenção do prestígio internacional na arena diplomática europeia.