Quilombo do Ambrósio: diferenças entre revisões

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{{História do Brasil}}
 
Durante muitos anos se pensou que o '''Quilombo do Ambrósio''' fosse apenas aquele localizado na divisa de Ibiá-MG com Campos Altos-MG. Em 1995, em seu livro [[Quilombo do Campo Grande]] – A História de Minas Roubada do Povo, o pesquisador [[Tarcísio José Martins]] demonstrou que o “Quilombo do Ambrósio” atacado em 1746, quando teria sido morto o Rei Ambrósio<ref>O futuro do pretérito "teria" sempre indicou que só a Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha, de 1793, fonte secundária, deu notícia da morte de Ambrósio em 1746. A localização do documento nº 82129 de 16.12.1759 no "site" do Centro de Memória Digital da UnB, citado no item "O Segundo Quilombo do Ambrósio" desta página, é fonte primária e dá notícia da morte do Rei do Quilombo do Ambrósio somente em 1759.</ref>, ficava em Cristais-MG. O de Ibiá-MG foi o segundo Quilombo do Ambrósio, atacado somente em 1759. Na verdade, o Rei Ambrósio só veio a ser contado entre os mortos em 1759, porém sua morte teria se dado no Quilombo da Pernaíba, em território da atual cidade de Patrocínio-MG.
 
==O Mapa do Campo Grande, feito pelo Capitão França==
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O pesquisador Tarcísio José Martins concluiu – comparando o Mapa do Campo Grande com sucessivas cartas topográficas da região e outros documentos - que a Primeira Povoação do Ambrósio foi destruída em 1746 a mando de Gomes Freire de Andrade pelo capitão Antonio João de Oliveira, e que ela ficava a norte do atual território do município de [[Cristais]]-MG. Isto, porque:
 
a) Tendo precisado nos mapas e no Google Earth a localização do Sítio dos Curtumes, onde se acantonaram as tropas do capitão Oliveira, o primeiro indício para se excluir o Ambrósio de Ibiá está na carta de 8 de agosto de 1746, ao rei, onde Gomes Freire se refere a que “se fazia preciso que a tropa marchasse mais de cinqüenta léguas até fim de setembro”, visto que só de ida, a distância do Sítio dos Curtumes àquele Sítio Histórico de Ibiá-MG, ultrapassaria mais de setenta e cinco léguas.
 
b) O nome Campo Grande, dado à Confederação de Quilombos, foi-se deslocando de leste para oeste na medida em que também se deslocavam os quilombos, restando provado documentalmente que “Campo Grande”, em 1746, abrangia apenas a região que vai do rio do Peixe ao Piumhi, não ultrapassando o São Francisco, não chegando, pois, aos Goiases, onde ficava o Ambrósio de Ibiá.
 
c) Há claras evidências de que Gomes Freire proibiu, na correspondência oficial, qualquer referência aos ataques de 1746. Na sua ausência, seu irmão José Antonio cometeu em suas cartas, duas inconfidências: 1ª) – Em 1757 escreveu “ser preciso dar-se em o Quilombo Grande, junto ao do Ambrósio, que da outra vez foi destruído”. 2ª) Em 1758, “escreveu à Câmara de São João Del Rei comunicando o pedido de 20 canoas feito por Diogo Bueno que estava organizando uma expedição ao Campo Grande”. O uso de canoas seria inviável para atacar o Ambrósio de Ibiá. Diogo Bueno, realmente, nunca atacou o Ambrósio de Ibiá.
 
d) Em fins de 1758 ou começo de 1759, Diogo Bueno, segundo a Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha (1793), recebeu ordens para atacar as “Relíquias do Quilombo do Ambrósio, que ia principiando a engrossar e a fazer-se temido”. Essas relíquias ficariam, segundo denuncia a antiqüíssima toponímia, em território da atual Aguanil-MG, sudeste de [[Cristais]]-MG. Não há notícias desse ataque. Mas, em 1760, Diogo Bueno usou essas mesmas 20 canoas para ir, pelo rio Grande, de Lavras até a Serra das Esperanças, também chamada de [[Serra da Boa Esperança]] região dos atuais municípios de Aguanil-MG, Cristais-MG e Guapé-MG, onde ficava realmente a Primeira Povoação dos Ambrósio.
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Sobre o nome “Valadão”, Leopoldo Corrêa registrou que “Encontramos nos livros paroquiais de Tamanduá (Itapecerica), na Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, o testamento de Francisco Valadão. O referido documento é de 1814 feito na Fazenda do Quilombo do Ambrósio da Aplicação de Senhora da Ajuda dos Cristais, termo da Vila de S. Bento de Tamanduá”.
 
h) O capitão Oliveira além de ter recebido a sesmaria do Camapuã no local onde acantonou e treinou as tropas de 1746, ganhou outra sesmaria em 20 de março de 1747, no local chamado “Lagoa, para cá da serra da Boa Esperança”, exatamente no lugar indicado como Primeira Povoação do Ambrósio no mapa do capitão França, hoje, cidade [[Cristais]]-MG.Tendo falecido o capitão Oliveira em 1759, Bartolomeu Bueno do Prado obteve outra carta de sesmaria sobre a mesma terra em 18 de dezembro de 1760. Constantino Barbosa da Cunha, que esteve com Bartolomeu Bueno do Prado na destruição do Quilombo do Cascalho nesse mesmo ano, passando, ambos a morar no Jacuí, passou a ocupar, em 1763, estas mesmas terras que teria adquirido de Bartolomeu, obteve carta de sesmaria datada de 19 de abril de 1765, a qual foi demarcada pelo juiz das sesmarias, cuja sentença final do Processo de Medição e Demarcação homologou a posse datando-a de “Sítio do Quilombo do Ambrósio, 02 de julho de 1766”<ref>[http://www.mgquilombo.com.br/images/DSC09232b.JPG Documento do Processo de Demarcação de Sesmaria no Quilombo do Ambrósio de Cristais-MG, in MGQUILOMBO]</ref>. Fonte documentada: mesmo autor, matéria “Primeiro Quilombo do ambrósio”, no site MGQUILOMBO.
 
i – A Tradição quase Destruída:
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===O Segundo Quilombo do Ambrósio – Atacado em 1759===
 
 
Ao contrário das abundantes provas documentais da existência do Primeiro Quilombo do Ambrósio, atacado em 1746 em território da atual Cristais-MG, nenhum documento primário atestou que o Quilombo Grande, o da atual Ibiá-MG, atacado somente em 1759, se chamasse mesmo Quilombo do Ambrósio. Apenas a documentação cartográfica (mapas), fontes secundárias, trouxeram esta informação: 1) mapa-roteiro e um croqui que Inácio Correia Pamplona anexou ao polêmico relatório que fez ao governador conde de Valadares sobre sua suposta entrada do ano de 1769; 2) Mapa do Campo Grande, mandado fazer pelo capitão Antônio Francisco França, encarregado do trem bélico da Guerra de 1759 e companheiro de Bartolomeu Bueno do Prado e Diogo Bueno da Fonseca na Guerra de 1760, feita ao Quilombo do Cascalho.
 
Concluiu, o pesquisador Tarcísio José Martins que o sítio quilombola indicado por [[Inácio Correia Pamplona]] em 1769, trazido também pelo livro de Álvaro da Silveira em 1924, na verdade se localiza entre Ibiá-MG e Campos Altos-MG, mas indica apenas onde ficava o Paiol ou Quipaca (trincheiras) do Segundo Quilombo do Ambrósio. Já o Segundo Quilombo do Ambrósio propriamente dito, se localizava ao norte e nordeste desse local, no vértice das nascentes do Córrego do Quilombo, como indicam o mapa do capitão França, de 1763, e os mapas dos Municípios de Ibiá-MG e São Gotardo-MG, assinados pelo chefe do Serviço Geográfico do Estado de Minas Gerais, Engenheiro Benedito Quintino dos Santos <ref>[http://www.ihgmg.art.br/presidentes.htm Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais - IHGMG, no período de 1943 a 1949]</ref> e os respectivos prefeitos destas cidades no ano de 1939<ref>[http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/ Documentos Cartográficos do Arquivo Público Mineiro]</ref>.
 
O Ministério da Cultura do Governo Fernando Henrique, induzido por vaidosos historiadores da UFMG<ref>[http://www.fiocruz.br/morrodaqueimada/pdf/11_sitio.pdf A Arqueologia de Carlos Magno Guimarães, procurar em "Find" por "1746", sem aspas.]</ref> e do IPHAN,se equivocou grosseiramente ao tombar o sítio indicado por Inácio Correia Pamplona em 1769. O então Ministro da Cultura foi alertado pelo pesquisador Tarcísio José Martins (com um trabalho de mais de 200 páginas enviado ao IPHAN)<ref>[http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/Bens-Quilombolas-Materias-e-Imateriais/Quilombo-do-Ambrosio.html Quilombo do Ambrósio - Onde ficava?]</ref>, mas a arrogância e o preconceito contra a pesquisa produzida fora da universidade, não o deixaram enxegar os seguintes equívocos de seus doutos assessores:
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3ª) Apontou apenas o pequeno território onde ficava o Paiol ou Quipaca do Segundo Quilombo do Ambrósio, quando o todo do Sítio Histórico atacado por [[Bartolomeu Bueno do Prado]] em 1759 abrange, segundo o pesquisador Tarcísio José Martins, um território muito maior. Cruzando documentos e mapas antigos da região, o pesquisador delimitou o Sítio do Ambrósio de Ibiá-MG e Campos Altos-MG, destacando na segunda edição de seu livro de agosto/2008:
1) Alto do Quilombo, onde ficam a capela de Santa Rosa de Lima e a atual Escola Municipal Quilombo do Ambrósio. Ao sul, margem oposta da MG-235, ficava um morro de espia alternativo, já que aquele “que servia de gorita” para o Quilombo fica a sudeste.
 
2) Sudoeste do ponto acima, fazenda Samambaia, nascentes do córrego de mesmo nome, onde se localizaria o Quilombo Samambaia, atacado a mando de Pamplona que, depois, na seqüência acima, o visitou. Seu escrivão desenhou um croqui deste quilombo.
 
3) Ao sul do Alto do Quilombo, a fazenda do Quilombo I, margem direita do ribeirão do Quilombo, esta em Ibiá;
 
4) Fazenda do Quilombo II, dentro da forquilha, à margem direita do córrego do Quilombo do Ambrósio, onde ficava o segundo Quilombo do Ambrósio apontado no Mapa do Capitão França, desenhado em 1763.
 
5) Fazenda do Quilombo III, margem esquerda do córrego do Quilombo do Ambrósio, em Campos Altos (?);
 
6) sítio indicado por Álvaro da Silveira, ou seja, o mesmo (Paiol) indicado no mapa-roteiro desenhado pelo escrivão de [[Inácio Correia Pamplona]] em 1769, margem esquerda das nascentes do córrego do Quilombo do Ambrósio, vertentes do córrego do Chumbado;
 
7) Morro da Espia da cartografia atual, sul da fazenda do Quilombo III sudeste do Sítio indicado por Pamplona em 1769, divergindo do Croqui do mesmo Pamplona que apontou seu morro da Espia a nordesde do "quilombo".
 
8) foz do córrego das Guaritas no Misericórdia, divisa de Ibiá e Campos Altos, cujas nascentes vêm da Fazenda das Guaritas, entre os municípios de Rio Paranaíba e São Gotardo;
 
9) a oeste de Tobati, local chamado Fazenda de Santo Antônio do Quilombo, margem direita de um outro córrego do Quilombo, que deságua no córrego do Ourives, depois córrego Fundo que deságua no Quebra-Anzol ao sul de Ibiá. Este seria, na verdade, o São Gonçalo II.
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b) Na carta que, de São João Del Rei, escreveu, o mesmo governador, ao capitão-mor Antônio Ramos dos Reis em 23 de outubro de 1759: “Pelas partes do Paroupeba tem saído para o Quilombo Grande um grande número de negros que dos ditos quilombos saíram antes de se dar neles como a Vossa Mercê fez ciente o capitão Antônio Francisco França e, como um dos guias que se prendeu se acha na cadeia desta vila com os mais que com ele se apanharam declara que para esta vila e cidade de Mariana foram outros na diligência de conduzir outros, digo, de conduzir para os ditos quilombos maior número de negros, Vossa Mercê mandará, sem interpelação de tempo, continuar rondas pelos capitães-do-mato e pessoas acostumadas dele, para ver se podem apanhar estes negros que andam apanhando outros e me dará parte do que for sucedendo neste particular e caso se prenda algum (não) serão soltos com pretexto de algum sem se me dar parte”.
 
Como foi documentado por Waldemar de Almeida Barbosa,Bartolomeu Bueno do Prado, em 1759, encontrou o Quilombo do Ambrósio despovoado, mas com os paióis cheios. Deixou guardas no local e acabou prendendo negros que vieram buscar mantimentos. Depois mandou incendiar tudo. Assim, pela lógica cronológica, estes teriam sido os restos encontrados por Pamplona em 1769<ref>[http://www.mgquilombo.com.br/site/Imagens-Quilombolas/ilustraes-da-viagem-de-pamplona-/croqui-do-quilombo-do-ambrosio-feito-pelo-escrivao-6.html Croqui ou Planta atribuída por Inácio Correia Pamplona ao Quilombo do Ambrósio de Ibiá-MG,em 1769]</ref> (e não em 1765 como se propaga), concluiu o pesquisador Tarcísio<ref>[http://www.mgquilombo.com.br/site/Imagens-Quilombolas/o-croqui-do-ambrosio-de-pamplona-e-muito-maior-que-a-ferradura.html Quipaca ou Paiol do Ambrósio em Ibiá-MG, indicado por Pamplona como Quilombo do Ambrósio em 1769]</ref>. Porém, nem isto se comprova, pois, se o mapa-roteiro de Pamplona apontou em 1769 o local da vala em forma de ferradura coincidente com a nossa geografia atual, o croqui que juntou como se fosse do Quilombo do Ambrósio, além de indicar erradamente o morro da Espia a nordeste, é negado pela sua forma retangular e pela documentação que comprova não ter havido batalha contra o Ambrósio de Ibiá-MG em 1759, bem como, que só na batalha de Formiga-MG e Cristais-MG de 1746 é que houve confronto com trincheiras fortificadas, fato que Pamplona passou a vida toda tentando adulterar e transferir para dentro do Triângulo Goiano.
 
Tudo o que está acima registrado foi extraído, com autorização do autor Tarcísio José Martins para Wikipédia, da segunda edição de seu livro Quilombo do Campo Grande, agora com o subtítulo “A História de Minas que se devolve ao povo”, Santa Clara Editora e Produção de Livros, Contagem-MG, agosto de 2008.
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O “Caminho de Goiás”, ou seja, a Picada de Goiás, foi oficialmente reaberto em 1736-1737. O [[Quilombo do Campo Grande]], atravessado pela Picada de Goiás, deve ser dividido em duas partes: 1ª) até 1746, quando os limites da Comarca de São João Del Rei chegavam oficialmente apenas até a Capela da Laje, hoje, Resende Costa-MG. Daí para frente, como confirmou o próprio [[Inácio Correia Pamplona]] <ref>APM SC 229, fls. 5v a 7v. de 19.02.1781</ref>, tudo era “Campo Grande e Picadas de Goiases”, nome que os novos entrantes foram levando até o Piuhi, hoje, Piumhi-MG. 2ª) Daí para frente, após 1750-1759, é que a expressão Campo Grande, sempre atravessado pela Picada de Goiás, foi estendida para dar nome geral também à margem esquerda do São Francisco, adentrando o Triângulo Goiano, hoje, Mineiro.
 
Quanto à violência atribuída aos quilombolas, o assunto também deve ter como marco divisor o ano de 1750. O imposto da [[Capitação]], implantado em 1735, provocou o esvaziamento das vilas e arraiais oficiais, com a fuga dos brancos pobres e pretos forros com seus respectivos escravos para os sertões do Campo Grande, frustrando os planos arrecadadores de Portugal<ref> Relatório do desembargador Tomé Gomes Moreira, 1749, sobre a capitação, in Códice Costa Matoso, p. 482, 492 e 493-495</ref>.
 
Gomes Freire de Andrade articulou e obteve a legislação de 1741, simplificando o conceito de quilombo (qualquer povoação poderia ser chamada de quilombo), criminalizando o simples fato de se estar em um quilombo, passando a pagar duas tomadias por quilombola preso nesses quilombos e ampliando a competência dos capitães-do-mato para que pudessem também cobrar a [[Capitação]] e confiscar bens e escravos pelos atrasos no pagamento. Fez isto para confundir os devedores do imposto da Capitação com os quilombolas comuns<ref>APM SC 69, fls. 52v a 53 de 24 de maio de 1746</ref>. A partir daí, esse governador procurou demonizar a presença quilombola nessa região, cuja violência apregoada só é noticiada em suas correspondências e nas de seus subordinados, quase inexistindo em outras fontes da época.
 
Enquanto a correspondência oficial demonizava a violência quilombola, as reclamações das câmaras das vilas (eleitas pelos homens bons) comunicavam sem cessar as violências do imposto da [[Capitação]] que, cobrado de seis em seis meses a força de armas pelos capitães-do-mato, estava esvaziando as vilas e levando a Capitania à última pobreza<ref>Comentários do desembargador Tomé Gomes Moreira, 1749, sobre a capitação, in Códice Costa Matoso, p. 499 </ref>.
 
As batalhas mais conhecidas de ataques a supostos quilombolas foram as dos anos de 1741, 1742, 1743 e 1746, sendo que nesta última, comandada pelo capitão Antônio João de Oliveira, teria ocorrido o embate contra a Primeira Povoação do Quilombo Ambrósio (Cristais-MG), sobre a qual há vários indícios de que as tropas de Gomes Freire de Andrade não saíram vitoriosas e que, ao contrário, podem ter sido derrotadas. Mais de 3.500 escravos capitados em 1746, sumiram definitivamente das listas a partir capitação de 1747<ref>Relato do desembargador frei Sebastião Pereira de Castro em 12 de dezembro de 1747, Códice Costa Matoso, v. 1, p. 455</ref> .
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Em relatório de 1769 ao Conde de Valadares, falando de um anterior ataque que o tenente José da Serra Caldeira fizera a um negro que encontrou e prendeu no extinto Quilombo de São Gonçalo, foi informado que os quilombolas daquele quilombo se “ocupavam em fazer farinha para os mais, as quais o mesmo comandante confiscou junto com vários trastes e panos de algodão feitos ricamente pelos mesmos negros”, razão porque resolveu registrar o fato que lhe fora relatado por José Serra e juntar o croqui do quilombo, “para admiração do muito que eles trabalham para si”<ref>Revista ABN, 1988, p. 101-102.</ref>.
 
Como conciliar o informe oficial de uma cruel violência quilombola, com o fato concreto também sempre constatado e relatado pelos próprios atacantes oficiais desses quilombos de que os encontraram, invariavelmente, com grandes paióis cheios de mantimentos, com hortas e roças plantadas para o futuro, as quais sempre gastaram dias e dias para queimar e destruir? Onde esses quilombolas arrumariam tanto tempo para ficarem roubando e matando pelas estradas?
 
Aliás, o próprio Pamplona deixou escrito no seu relatório de 1769 ao Conde de Valadares, que o Quilombo do Ambrósio era “não afamado nestas minas como prejudicial aos moradores delas, (...)”<ref>Anais da Biblioteca Nacional, v. 108, 1988, p. 101. Palavra NÃO, confirmada por Tarso Tavares, historiador da FBN</ref>. As Cartas Chilenas, em 1788, se referiram ao “afamado quilombo em que viveu o Pai Ambrósio”, sem qualquer conotação com violências.
 
Portanto, as informações bibliográficas antigas, assim como suas citações e cópias, sobre as exageradas maldade e violência atribuídas aos quilombolas mineiros do século XVIII padecem, em geral, do preconceito e da unilateralidade de suas fontes, geralmente apenas as oficiais, como tem comprovado o pesquisador Tarcísio José Martins, em seus livros e sites de informações históricas sobre a Confederação Quilombola do Campo Grande<ref> Quilombo do Campo Grande – a História de Minas que se Devolve ao Povo</ref>.
 
==Conclusão sobre o Mistério dos Quilombos do Ambrósio==
 
Como se viu, na verdade, há muito mais provas documentais sobre a localização da Primeira Povoação do Ambrósio e suas “relíquias” em Cristais-MG e Aguanil-MG do que sobre o Segundo Quilombo do Ambrósio de Ibiá-MG e Campos Altos<ref>[http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/Pesquisas-Escolares/Quilombo-do-Ambrosio.html DOIS Quilombos do Ambrósio. Um em Cristais-MG outro em Ibiá-MG]</ref>.
O poder constituído de então quis fazer sumir as lembranças da verdadeira localização da Primeira Povoação do Ambrósio, atacada em 1746, deslocando-a indevidamente para dentro do atual Triângulo Mineiro e alegando falsamente que o próprio Ambrósio teria sido morto nessa batalha. [[Gomes Freire de Andrade, 1.º Conde de Bobadela]] não incluiu este ataque ao Ambrósio na lista de seus feitos. Seus bajuladores (Cláudio Manoel da Costa e Basílio da Gama) também não lhe creditaram este "feito". No entanto, as [[Cartas Chilenas]] <ref>[http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000293.pdf As Cartas Chilenas.]</ref> falam do "afamado Quilombo em que viveu o Pai Ambrósio". Os feitos da guerra de 1759-1760 foram atribuídos somente a José Antonio, irmão de Gomes Freire, seu substituto no governo das Minas. Na verdade, José Antonio foi sempre comandado pelo irmão. Nunca governou com vontade própria.
Sobre o Ambrósio de Ibiá, o escrivão de Pamplona registrou que aquele Quilombo era "não afamado nestas minas como prejudicial aos moradores delas". A palavra "NÃO" foi confirmada pelo pesquisador.
A Carta da Câmara de Tamanduá, escrita à Rainha em 1793, deu um suporte maior a toda esta confusão, então, com o fim claro de manter o projeto antigo de Gomes Freire e de [[Alexandre de Gusmão]] e esbulhar também o Triângulo Goiano, hoje, Mineiro. A falsa historiografia, a exemplo do conto “Quilombolas – Lenda Mineira Inédita” publicado pela Revista do APM em 1904, como se fosse história, também contribuiu muito para matar a própria tradição que havia desta verdade que permanecia na memória do povo.
 
{{ref-sectionreferências|Notas e referências}}
 
=={{Ligações Externas}}==
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* [http://tvbrasil.ebc.com.br/docespecial/episodio/quilombo-do-campo-grande-aos-martins Filme Quilombo, do Campo Grande aos Martins.]
* [http://www.historiabrasileira.com/escravidao-no-brasil/quilombo-de-ambrosio/ História Brasileira - Quilombo do Ambrósio]
* [http://www.tjmar.adv.br/qcgnova/dep4.html Reportagem Diário da Manhã - Goiânia-GO]]
* [http://www.mgquilombo.com.br/site/Noticias-Quilombolas/novidades-mgquilombo/lancamento-de-livro-historia-de-cristais-da-primeira-povoacao-do-ambrosio-a-saga-lindeira-do-municipio.html Livro "História de Cristais: da Primeira Povoação do Ambrósio à Saga Lindeira do Município"]
* [http://www.cristais.mg.gov.br/novo_site/index.php?exibir=secoes&ID=44 - Site Oficial]
 
 
[[Categoria:Quilombos extintos]]