Política de boa vizinhança: diferenças entre revisões

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[[File:Vargas e Roosevelt.jpg|thumb| Getúlio Vargas (sentado à esquerda) e [[Franklin D. Roosevelt]] (sentado à direita), Rio de Janeiro, 1936.]]
A '''Política de boa vizinhança''' (ou '''Good Neighbor Policy''', em [[língua inglesa]]) foi uma iniciativa política criada e apresentada pelo governo dos [[Estados Unidos]] presidido por [[Franklin D. Roosevelt]] durante a Conferência Panamericana de [[Montevideo]], em dezembro de 1933. Ela se referiu ao período das relações [[política externa|políticas]] estadunidenses com os países da [[América Latina]] entre 1933 até 1945 - ao final da [[Segunda Guerra Mundial]] e [[Harry Truman]] assumindo a presidência do país.<ref>[{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca |titulo=Anos de Incerteza (1930 - 1937) >a Política de boa vizinhança|autor=|data=|publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]]|acessodata=27 de junho de 2014}}</ref>
 
== Antecedentes ==
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dessas zonas de interesse era a [[América Latina]]. Em relação aos países ao sul de sua fronteira meridional, havia o entendimento de que o crescente “expansionismo alemão ameaçava o hemisfério e o equilíbrio montado pelos Estados Unidos”.
Para dificultar a situação dos Estados Unidos, na América Latina, nos anos que antecederam e iniciaram a década de [[1940]], verificou-se uma simpatia de alguns de seus governantes às políticas adotadas pelos países de políticas fascista.<ref>[{{citar web|url=http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/brasil_estados_unidos_e_a_politica_da_boa_vizinhanca_atraves_da_revista_em_guarda_1940_1945.pdf |titulo=BRASIL, ESTADOS UNIDOS E A POLÍTICA DA BOA VIZINHANÇA, ATRAVÉS DA REVISTA "EM GUARDA" (1940-1945)]|autor=Aline Vanessa Locastre |data=|publicado=Universidade Estadual de Londrina|acessodata=27 de junho de 2014}}</ref>
 
=== Sobre a política ===
[[File:Gangs all here trailer.jpg|thumb|[[Carmen Miranda]] foi considerada a Musamusa da PoliticaPolítica de Boaboa Vizinhançavizinhança.]]
Oficialmente essa política consistia em investimentos e venda de tecnologia norte-americana para os países latino-americanos, mas em troca, esses deviam dar apoio à política norte-americana. Ela consistia, no entanto, de um esforço para aproximação cultural entre EUA e América Latina, cujas relações vinham se deteriorando devido ao forte intervencionismo norte-americano durante a política do "[[Big Stick]]", lançada por [[Theodore Roosevelt]] em 1901.
 
Foi uma época em que gradativamente o american way of life foi ganhando espaço na sociedade brasileira, graças a um cuidadoso plano de conquista. Esse plano fazia parte da estratégia dos Estados Unidos de promover a cooperação interamericana e a solidariedade hemisférica, enfrentar o desafio do Eixo e consolidar-se como grande potência. A campanha teve início com a propagação dos "valores pan-americanos" durante as conferências interamericanas.
 
O passo seguinte foi a criação, em agosto de 1940, de uma superagência de coordenação dos negócios interamericanos, sob a chefia de [[Nelson Rockefeller]], chamada [[Office for Inter-American Affairs |Office of the Coordinator of Inter-American Affairs]] (OCIAA). Essa iniciativa diferia dos programas de colaboração já em funcionamento por estar diretamente vinculada ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos. Na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentários desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos. Na produção dos primeiros, o OCIAA contou com a colaboração das indústrias cinematográficas de [[Hollywood]].
 
Procurava-se evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos [[Estúdios Disney]], o papagaio [[Zé Carioca]].<ref>{{citar web|url=http://books.google.com.br/books?id=CUxkkyig6fQC&pg=PA31&dq=carmen+miranda+Walt+Disney&hl=pt-BR&sa=X&ei=umKtU5n2OsrnsAS5h4GACQ&ved=0CFAQ6AEwCA#v=onepage&q=carmen%20miranda%20Walt%20Disney&f=false|titulo=Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial|autor=Francisco César Alves Ferraz|data=|publicado=|acessodata=}}</ref> O filme [[Saludos Amigos]], que apresentou esse personagem ao mundo como amigo do [[Pato Donald]], enfatizava a política de boa vizinhança. Durante todo o seu tempo de vida, o OCIAA contou com ativa colaboração do [[Departamento de Imprensa e Propaganda |DIP]], quer na condução de projetos conjuntos, quer como órgão de apoio à sua ação no Brasil.
Na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentários desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos. Na produção dos primeiros, o OCIAA contou com a colaboração das indústrias cinematográficas de [[Hollywood]].
 
Foi nessa época que [[Carmem Miranda]] se tornou símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos, porém quando Carmen chegou aos [[EUA]], o programa de "latinização" envolvendo as novidades musicais estava em andamento pelo trabalho de outros músicos representando o vasto universo da [[Música da América Latina |musica latino-americana]], especialmente o [[Bolero |bolero]], através do catalão disfarçado de cubano [[Xavier Cugat]] e sua orquestra, no cinema brilhavam [[Dolores Del Rio]] e [[Lupe Velez]], [[Fred Astaire]] e [[:es:Ginger Rodgers |Ginger Rodgers]] dançavam rumba em filmes supostamente rodados no Rio, os ritmos latinos estavam na moda, os Estados Unidos precisavam da América Latina e dos bons vizinhos para o apoiar e ajudar no grande conflito que chegava para abalar seu isolamento.<ref>[{{citar web|url=http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/livro-sobre-a-jornada-americana-de-carmen-mirandaLivro |titulo=Sobre a jornada americana de Carmen Miranda]|autor=|data=|publicado=Jornal GGN|acessodata=}}</ref>
Procurava-se evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos [[Estúdios Disney]], o papagaio [[Zé Carioca]]. O filme [[Saludos Amigos]], que apresentou esse personagem ao mundo como amigo do [[Pato Donald]], enfatizava a política de boa vizinhança. Durante todo o seu tempo de vida, o OCIAA contou com ativa colaboração do [[Departamento de Imprensa e Propaganda |DIP]], quer na condução de projetos conjuntos, quer como órgão de apoio à sua ação no Brasil.
 
Já no plano econômico, a política de boa vizinhança convinha aos esforços dos Estados Unidos para se recuperar dos efeitos da [[Grande Depressão |crise de 1929]] sobre sua economia. A retórica da solidariedade e os métodos cooperativos no relacionamento com os países latino-americanos facilitavam a formação de mercados externos para os produtos e investimentos norte-americanos, além de garantir o suprimento de matérias-primas para suas indústrias. A implantação dessa nova estratégia de relacionamento com a América Latina representou a vitória da corrente política do governo norte-americano que advogava o livre-cambismo como solução para a recuperação econômica dos Estados Unidos no plano internacional.<ref>[{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca |titulo=Anos de Incerteza (1930 - 1937) a Política de boa vizinhança|autor=|data=|publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]]|acessodata=27 de junho de 2014}}</ref>
Foi nessa época que [[Carmem Miranda]] se tornou símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos, porém quando Carmen chegou aos [[EUA]], o programa de "latinização" envolvendo as novidades musicais estava em andamento pelo trabalho de outros músicos representando o vasto universo da [[Música da América Latina |musica latino-americana]], especialmente o [[Bolero |bolero]], através do catalão disfarçado de cubano [[Xavier Cugat]] e sua orquestra, no cinema brilhavam [[Dolores Del Rio]] e [[Lupe Velez]], [[Fred Astaire]] e [[:es:Ginger Rodgers |Ginger Rodgers]] dançavam rumba em filmes supostamente rodados no Rio, os ritmos latinos estavam na moda, os Estados Unidos precisavam da América Latina e dos bons vizinhos para o apoiar e ajudar no grande conflito que chegava para abalar seu isolamento.<ref>[http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/livro-sobre-a-jornada-americana-de-carmen-mirandaLivro Sobre a jornada americana de Carmen Miranda]</ref>
 
Terminada a guerra, o governo dos [[Estados Unidos]] encerrou as atividades da agência, deixando a cargo embaixada americana no Brasil a condução de algumas de suas atividades.<ref>[{{citar web|url=http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/um_pouco_de_malandragem.html |titulo=Um pouco de malandragem|autor=|data=|publicado=[[Uol]]|acessodata=}}</ref> Porém, ela nunca foi simétrica: enquanto na América Latina propagavam-se as qualidades da cultura norte-americana, como os valores democráticos e o industrialismo, nos EUA caracterizava-se a cultura Latina pelas belezas naturais e o exotismo.<ref>[{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/AGuerraNoBrasil/TioSam# |titulo=Tio Sam chega ao Brasil|autor=|data=|publicado=[[Fundação Getúlio Vargas]]|acessodata=27 de junho de 2014}}</ref> A campanha de propaganda iniciada aí, junto com as alianças estratégicas firmadas durante a [[Segunda Guerra Mundial]] - como a que deu ao [[Brasil]] a [[CSN]] -, garantiu o domínio norte-americano nas Américas, permitindo que os EUA partissem para disputar a influência sobre a Europa com a União Soviética durante a Guerra-Fria.
Já no plano econômico, a política de boa vizinhança convinha aos esforços dos Estados Unidos para se recuperar dos efeitos da [[Grande Depressão |crise de 1929]] sobre sua economia. A retórica da solidariedade e os métodos cooperativos no relacionamento com os países latino-americanos facilitavam a formação de mercados externos para os produtos e investimentos norte-americanos, além de garantir o suprimento de matérias-primas para suas indústrias. A implantação dessa nova estratégia de relacionamento com a América Latina representou a vitória da corrente política do governo norte-americano que advogava o livre-cambismo como solução para a recuperação econômica dos Estados Unidos no plano internacional.<ref>[http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca Anos de Incerteza (1930 - 1937) Política de boa vizinhança]</ref>
 
Terminada a guerra, o governo dos [[Estados Unidos]] encerrou as atividades da agência, deixando a cargo embaixada americana no Brasil a condução de algumas de suas atividades.<ref>[http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/um_pouco_de_malandragem.html Um pouco de malandragem]</ref> Porém, ela nunca foi simétrica: enquanto na América Latina propagavam-se as qualidades da cultura norte-americana, como os valores democráticos e o industrialismo, nos EUA caracterizava-se a cultura Latina pelas belezas naturais e o exotismo.<ref>[http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/AGuerraNoBrasil/TioSam# Tio Sam chega ao Brasil]</ref>
 
A campanha de propaganda iniciada aí, junto com as alianças estratégicas firmadas durante a [[Segunda Guerra Mundial]] - como a que deu ao [[Brasil]] a [[CSN]] -, garantiu o domínio norte-americano nas Américas, permitindo que os EUA partissem para disputar a influência sobre a Europa com a União Soviética durante a Guerra-Fria.
 
A grande quantidade de vocábulos em inglês que vemos por todo o lado no Brasil - na publicidade e na moda, principalmente - e a influência da Pop Music - [[MTV]] - e do cinema [[Hollywood]]iano, são facetas da penetração cultural norte-americana no Brasil, que data desse período.
 
{{Referências}}
 
* MOURA, G. Tio Sam chega ao Brasil, a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1985. 92 p. Tudo é História.