Dama dama: diferenças entre revisões

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| mapa_legenda = 1: Nativo<br />2: Possivelmente nativo<br />3: Introduzido pelo homem antes de 1900<br />4: Introduzido pelo homem recentemente
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O '''gamo''' (''Dama dama'') é um [[mamífero]] [[ruminante]] semelhante ao [[veado]], tendo, porém, a cauda comprida e a parte superior dos galhos achatada epertencente palmada.à família
Cervidae, apresentando características idênticas ao veado, tendo porém, a cauda
comprida e a parte superior das hastes achatadas e palmadas.
A espécie é nativa na Turquia, Irão e sul da Europa (Braza, 2010),
nomeadamente na Itália, Sicília e na Península Balcânica. Estes locais foram os refúgios
da espécie no tempo pós-glacial da história da Terra (Chapman e Chapman, 1980);
Masseti, 1996, 1999 e 2002). Actualmente, apenas se encontra uma população em
estado selvagem no Parque Nacional Termessos, no sul da Turquia.
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A espécie foi introduzida no Mediterrâneo Ocidental pelos fenícios e na Europa
Central e do Norte pelos romanos e normandos. No entanto, a maioria das populações
existentes actualmente na Europa resultam de introduções muito mais recentes.
Em Portugal, a maioria dos gamos encontram-se dentro de áreas limitadas, tais
como parques e zonas de caça privadas. Apesar de haver alguns animais dispersos, não
há registos de populações selvagens (Cabral et al., 2005).
==Descrição física==
O gamo anatomicamente possui um pescoço comprido e fino, com o focinho
longo e orelhas grandes (Palomo et al., 2007).
A pelagem do gamo é variável ao longo do ano. No Inverno, a pelagem é negra e
as manchas da pelagem dorsal são também escuras, sendo a região ventral a única parte
em que se encontra branca. No Verão, o pêlo é castanho-avermelhado com as manchas
dorsais brancas bem delineadas no dorso e nos lados. O ventre mantem-se branco ao
longo de todo o ano. Na linha mediada do dorso, existe uma linha de pêlo de coloração
castanha que vai escurecendo até à cauda (sendo que na cauda já é completamente
negra). A cabeça e a região do interior dos membros geralmente não possuem manchas
(Cabrera, 1994).
Esta espécie apresenta dimorfismo sexual evidente. Os machos apresentam
hastes, as quais aumentam na sua complexidade e tamanho durante o crescimento. Nos
jovens gamos machos (entre um e dois anos) as hastes são chamadas de varetos e têm
entre 5 a 13 cm de comprimento. Nos machos adultos as hastes têm um comprimento
total entre 50 a 70cm e 7 a 20 cm de largura (Blanco, 1998). Contrariamente, as fêmeas
não possuem hastes.
O desmogue, isto é, a queda das hastes, ocorre anualmente na Primavera, e estas
começam a crescer logo após a sua queda, estando no seu auge de crescimento no início
do Verão. Este fenómeno ocorre ao longo da vida do animal, no entanto, em idade mais
avançada, as hastes não crescem tão criteriosamente (Blanco, 1998).
A genitália, em ambos os sexos, é caracterizada por uma porção relevante de
pêlo que tem como principal função a protecção e a identificação do sexo entre os
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indivíduos. Os machos possuem glândula odorífera junto ao pénis (McElligott et al.,
2001).
A nível sensorial, o gamo possui a audição e o olfacto muito bem desenvolvidos,
bem como a sua visão, que é a cores. Geneticamente são seres diplóides (2n) com 68
cromossomas (McElligott et al., 2001).
==Ecologia e comportamento==
O gamo não é um animal territorial. Tendo abundância em alimento e se não for
perturbado, não se desloca grandes distâncias. Porém, os machos dispersam mais que as
fêmeas, variando a sua área de actividade ao longo do ano (consoante a vegetação
fornecida naquela região).
O gamo é um animal herbívoro, usando pastos e consumindo rebentos e frutos
de árvores na sua alimentação. No entanto, a sua dieta está dependente da estação do
ano em que se encontra e da disponibilidade alimentar, pelo que a sua alimentação no
Verão passa por arbustos, frutos e hortícolas e no Inverno passa essencialmente por
raízes e cereais (Reby et al., 1998).
O alimento é encontrado essencialmente em espaços abertos, o que conduz a
uma maior probabilidade de serem predados. Para contrariar este efeito, o gamo
alimenta-se em grupo, ao amanhecer ou ao anoitecer (Reby et al., 1998).
Os gamos são animais sociáveis e gregários, apresentando uma organização
social maleável, estando a maior parte do ano com indivíduos do mesmo sexo ou então
formando pequenos grupos com indivíduos dos dois géneros. A hierarquização é mais
evidente no grupo das fêmeas (que poderá ter crias de ambos os sexos), sendo este
normalmente dirigido por uma fêmea dominante. No grupo dos machos, que é
composto essencialmente por adultos e alguns juvenis, a hierarquização é menos
estruturada (Masseti, 1999).
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==Reprodução==
Os gamos são animais polígamos. Notoriamente, na época de reprodução são
formados grupos com machos e fêmeas, constituído em regra por várias fêmeas e um
único macho. Por vezes, o grupo poderá ter mais do que um macho, no entanto, um
deles é dominante (Braza, 2010).
O macho é sexualmente activo, em média, aos dez meses e as fêmeas aos
dezasseis meses. A época de reprodução ocorre essencialmente no Outono, no entanto,
os machos permanecem férteis durante seis meses, pelo que poderá atrasar a época
reprodutiva. Os gamos têm apenas uma ninhada por ano. Nesta época os machos são
mais territoriais, competindo com outros machos e emitindo vocalizações com o
objectivo de sinalizar a sua presença e atrair potenciais fêmeas.
A condição corporal, a destacar o tamanho das hastes, é um dos principais
factores de selecção das fêmeas para a procriação, pois um macho com hastes de maior
tamanho é o que geralmente apresenta uma maior força corporal e virilidade. Assim, a
selecção sexual actua no dimorfismo sexual da espécie (Masseti, 2002).
A cópula é muito rápida e a gestação dura cerca de oito meses, nascendo
normalmente apenas uma cria. Esta é mantida escondida nos primeiros dias de vida,
apenas estabelecendo relação com a progenitora para a alimentar. O desmame ocorre às
doze semanas de vida, sendo que a partir desse momento, a cria é integrada no grupo e
os cuidados parentais são realizados exclusivamente pela progenitora (McElligott et al.,
2001).
==Factores de Ameaça==
O gamo não apresenta grandes ameaças na Europa. Na área de distribuição onde
a espécie é nativa (Turquia, Irão e sul da Europa), a caça e a conversão do habitat para a
agricultura provocou quedas enormes no passado (Arslangündoğdu, 2010).
A mortalidade desta espécie em Portugal é caracterizada essencialmente pela
caça ou pela velhice (mortalidade natural), podendo também morrer de acidente ao
atravessar estradas (Maia, 2001).
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São animais resistentes a doenças e parasitas, no entanto, destacam-se os
helmintes que diminuem as funções vitais do hospedeiro (gamo), podendo provocar a
sua morte (Maia, 2001).
==Conservação==
O gamo está classificado com estatuto de conservação pouco preocupante (LC),
segundo a Lista Vermelha da IUCN (Masseti & Mertzanidou (2008), tanto em Portugal
como a nível internacional. O gamo encontra-se protegido em várias zonas de áreas
protegidas por toda a Europa.
O gamo faz parte da cadeia alimentar de vários predadores carnívoros,
nomeadamente o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) e o lince-ibérico (Lynx pardinus).
Importância cultural e económica
A relação que esta espécie tem com o homem é essencialmente cinegética, pois é
usada como troféu de caça. Os machos são mais caçados que as fêmeas por ostentarem
as hastes, existindo uma relação proporcional entre o tamanho das hastes e a posição de
classificação dos caçadores. Em Portugal, o gamo também tem importância cinegética,
pertencendo à lista de caça maior dos animais que se pode legalmente caçar.
 
{{referencias}}
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O gamo é comum no sul da Europa, nas regiões montanhosas circumediterrâneas, de [[Marrocos]], [[Argélia]], [[Ásia Menor]], [[Espanha]], [[Portugal]] e [[Grécia]]. Da Europa Central desapareceu há muito tempo e apenas é representado por indivíduos que formam imensos rebanhos quase domésticos, principalmente nos parques ingleses.
 
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