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{{Em tradução|data=Dezembro de 2011}}
{{Em tradução|data=Dezembro de 2011}}<!--Esta última frase está descontextualizada e poderia ser desenvolvida, podendo até ampliar o objeto - e o título - desta subseção.--><!--* [[Predictability]] – [[standardization|standardized]] and uniform services. "Predictability" means that no matter where a person goes, they will receive the same service and receive the same product at every interaction with the corporation. This also applies to the workers in those organizations; their tasks are highly repetitive and predictable routines.<ref name="book"/>
 
Na [[sociologia]], '''racionalização''' se refere a um processo no qual um número crescente de [[ação social|ações sociais]] se baseia em considerações de eficiência teleológica ou de cálculo, em vez de motivações derivadas da [[moral]], da [[emoção]], do [[costume]] ou da [[tradição]]. Muitos sociólogos consideram a racionalização como um aspecto central da [[modernidade]], que se manifesta especialmente na [[sociedade ocidental]], em aspectos como o comportamento no mercado capitalista, a administração racional do Estado e a expansão da ciência e tecnologia modernas.
 
Muitos sociólogos, [[Teoria crítica da sociedade|teóricos críticos]] e [[filósofos]] contemporâneos têm argumentado que a racionalização, falsamente assumida como progresso, tem um impacto negativo de desumanização da sociedade, distanciando a modernidade dos princípios centrais do [[Iluminismo]].<ref name="Habermas, Jürgen 1985 p2">Habermas, Jürgen. ''The Philosophical Discourse of Modernity'', Polity Press (1985), ISBN 0-7456-0830-2, p. 2.</ref> Os fundadores da sociologia atuavam como uma reação crítica à racionalização:
 
{{Quotation|Marx e Engels associavam o surgimento da sociedade moderna, sobretudo, com o desenvolvimento do capitalismo; para Durkheim, estava conectado em particular com a industrialização e com a nova divisão social do trabalho que ela trouxe; para Weber, tinha a ver com o surgimento de uma distinta maneira de pensar, o cálculo racional que ele associou com a ética protestante (mais ou menos o que Marx e Engels falam em termos da "água gelada do cálculo egoísta"<ref group="nota">A expressão "água gelada do cálculo egoísta", mencionada por John Harris, foi extraída do ''[[Manifesto Comunista|Manifesto do Partido Comunista]]'', de 1848.</ref>).|John Harriss ''The Second Great Transformation? Capitalism at the End of the Twentieth Century'' 1992<ref>Harriss, John. ''The Second Great Transformation? Capitalism at the End of the Twentieth Century'' in Allen, T. and Thomas, Alan (eds). ''Poverty and Development in the 21st Century'', Oxford University Press, Oxford, p. 325.</ref>}}
 
==Racionalização e capitalismo==
A racionalização formou um conceito central na fundação da sociologia clássica, especialmente no que diz respeito à ênfase que a disciplina colocou - por contraste com a [[antropologia]] - sobre a natureza das sociedades ocidentais modernas. O termo foi apresentado pelo influente [[antipositivismo|antipositivista]] alemão, [[Max Weber]], e seus temas tiveram paralelo nas críticas da modernidade estabelecidas por numerosos estudiosos. Uma rejeição da [[materialismo dialético|filosofia dialética da história]] e do [[evolucionismo social|evolucionismo sociocultural]] informa o conceito.
 
Weber demonstrou um exemplo de racionalização em ''[[A ética protestante e o espírito do capitalismo|A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo]]'', obra na qual aponta que certas [[denominação religiosa|denominações]] [[Protestantismo|protestantes]], principalmente o [[calvinismo]], adotaram uma forma de lidar com a "ansiedade de salvação" através de meios racionais de ganho econômico. As conseqüências racionais dessa doutrina, segundo o autor, logo se tornaram incompatíveis com suas raízes religiosas, e assim estas últimas acabaram por ser descartadas. Weber continua sua investigação sobre esse assunto em trabalhos posteriores, nomeadamente nos seus estudos sobre a [[burocracia]] e as classificações de [[autoridade]] (ou dominação). Nesses trabalhos, ele faz alusão a um movimento inevitável para a racionalização.
 
Weber acreditava que um movimento no sentido da [[autoridade racional-legal]] era inevitável. Na [[autoridade carismática]], a morte de um líder encerra o poder dessa autoridade e só através de uma base racionalizada e burocrática pode essa autoridade ser passada adiante. As [[Autoridade tradicional|autoridades tradicionais]], nas sociedades racionalizadas, também tendem a desenvolver uma base racional-legal para melhor garantir uma adesão estável.
 
{{Quotation|O que Weber retratou não foi apenas a secularização da ''cultura'' ocidental, mas também e sobretudo o desenvolvimento das ''sociedades'' modernas do ponto de vista da racionalização. As novas estruturas da sociedade foram marcados pela diferenciação dos dois sistemas funcionalmente entrelaçados que tinham tomado forma em torno dos núcleos organizacionais da empresa capitalista e do aparelho burocrático estatal. Weber entendeu este processo como a institucionalização da ação racional quanto a fins nas esferas econômica e administrativa. Na medida em que a vida cotidiana foi afetada por essa racionalização cultural e social, as formas tradicionais de vida - que no início do período moderno foram diferenciadas principalmente de acordo com as ocupações - foram dissolvidas.|[[Jürgen Habermas]] ''Modernity's Consciousness of Time''<ref name="Habermas, Jürgen 1985 p2"/>}}
 
Enquanto em [[sociedade tradicional|sociedades tradicionais]], como o [[feudalismo]], o governo é gerido sob a [[autoridade tradicional|liderança tradicional]], por exemplo, de uma [[rainha]] ou de um [[chefe tribal]], as sociedades modernas funcionam sob [[autoridade racional-legal|sistemas racionais-legais]]. Uma característica positiva em tais sistemas, representados pelos contemporâneos [[democracia|sistemas democráticos]], é que tentam remediar as questões qualitativas (como a [[racismo|discriminação racial]]) com meios quantitativos racionalizados (no caso, a [[Direito positivo|positivação]] dos [[direitos civis]]).<!--A frase anterior não tem referência, mas é uma tradução adaptada do texto inserido na edição da wikipédia em inglês de 17:11, 27 April 2005.--> Por outro lado, em sua obra ''[[Economia e sociedade]]'', Weber descreveu os efeitos últimos da racionalização como levando a uma "noite polar de gélida escuridão", em que a crescente racionalização da vida humana encarcera os indivíduos em uma "[[jaula de ferro]]" (ou "rija crosta de aço", "carapaça rígida como aço"<ref group="nota">Acerca da discussão que recobre as possíveis traduções da expressão weberiana ''stahlhartes Gehäuse'', encontrada em ''A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo'' pode-se consultar a extensa nota quatro do artigo [http://www.fafich.ufmg.br/~revistasociedade/edicoes/artigos/16_1/O_CONCEITO_DE_RACIONALIZA%C3%87%C3%83O.pdf ''O Conceito de Racionalização no Pensamento Social de Max Weber: Entre a Ambiguidade e a Dualidade''], de Luís Antônio Cardoso. Acessado em 14 de dezembro de 2011.</ref>) de controle racional baseado em regras.
 
[[Jürgen Habermas]] argumenta que, para entender a racionalização corretamente, deve-se ir além da noção de racionalização de Weber, distinguindo entre a ''[[racionalidade instrumental]]'', que envolve cálculo e eficiência (isto é, que reduz todas as relações a relações entre meios e fins), e a ''racionalidade comunicativa'', que implica o alargamento do alcance da compreensão mútua na comunicação, a capacidade de expandir esse entendimento por meio do discurso reflexivo sobre a comunicação e a subordinação da vida social e política a esse entendimento ampliado.
 
{{Quotation|Está claro que, em ''A Teoria da Ação Comunicativa''<ref group="nota">''A Teoria da Ação Comunicativa'' é uma obra de [[Jürgen Habermas]], datada de 1981, não possuindo tradução em português. Verificado em dezembro de 2011.</ref>, Weber figura em algo parecido com o papel que Hegel desempenhou para Marx. Weber, para Habermas, não deve tanto ser virado de ponta-cabeça (ou colocado de pé) como persuadido a ficar sobre duas pernas, em vez de uma, a sustentar sua teoria da modernidade com análises mais sistemáticas e estruturais do que as da racionalização (quanto a fins) da ação ... Weber "se desvia de uma teoria da ação comunicativa", quando ele define a ação em termos do sentido subjetivo a esta atribuído pelo ator. Ele não elucida "sentido" em conexão com o modelo do discurso, ele não o relaciona ao meio lingüístico do entendimento possível, mas às crenças e intenções de um sujeito que age, tomado de forma isolada. Isso o leva a sua conhecida distinção entre ação racional quanto a valores, racional quanto a fins, tradicional e afetiva. O que Weber deveria ter feito, em vez disso, era ter se concentrado não sobre as orientações de ação, mas nas estruturas gerais do mundo da vida a que pertencem os sujeitos atuantes. |[[William Outhwaite]] ''Habermas: Key Contemporary Thinkers'' 1988<ref>Outhwaite, William. 1988, ''Habermas: Key Contemporary Thinkers'', Polity Press (Second Edition 2009), ISBN 978-0-7456-4328-1, p. 76.</ref>}}
 
===O Holocausto: modernidade e ambivalência===
[[Image:Rail leading to Auschwitz II (Birkenau).jpg|thumb|A linha de trem que conduzia ao campo de extermínio de [[Auschwitz]] II (Birkenau).]]
Para [[Zygmunt Bauman]], a racionalização como uma manifestação da modernidade pode estar intimamente associada com os acontecimentos do [[Holocausto]]. Em ''Modernidade e Ambivalência'', Bauman objetivou oferecer uma exposição das diferentes abordagens que a sociedade moderna adota em face do estrangeiro. Ele argumentou que, por um lado, em uma economia orientada para o consumidor, o estranho e o desconhecido são sempre sedutores. Em diferentes estilos de comida, diferentes modas e no turismo, é possível experimentar o fascínio do que é desconhecido. No entanto, esse fato de ser estranho também tem um lado mais negativo. O estranho ou estrangeiro, por não poder ser controlado e ordenado, é sempre objeto de temor. Ele é o assaltante em potencial, a pessoa fora das fronteiras da sociedade que está constantemente ameaçando.
 
O famoso livro de Bauman, ''Modernidade e Holocausto'', é uma tentativa de dar um relato completo sobre os perigos que se originam desses tipos de temor. Com base nos livros de [[Hannah Arendt]] e [[Theodor Adorno]] sobre o totalitarismo e o Iluminismo, Bauman desenvolveu o argumento de que o Holocausto não deve simplesmente ser considerado um evento na história judaica, nem uma regressão à barbárie pré-moderna. Em vez disso, ele argumentou, o Holocausto deve ser visto como profundamente ligado à modernidade e seus esforços de criação de ordem. A racionalidade procedimental, a divisão do trabalho em tarefas cada vez menores, a categorização taxonômica de diferentes espécies e a tendência a considerar moralmente bom o cumprimento de regras foram todos fatores que desempenharam o seu papel na ocorrência do Holocausto.
 
Bauman argumentou que, por essa razão, as sociedades modernas não aceitaram plenamente as lições do Holocausto, sendo este geralmente visto - para usar a metáfora de Bauman - como um quadro pendurado na parede, que oferece poucas lições. Na análise de Bauman, os judeus se tornaram "estranhos" por excelência na Europa<ref>''Modernity and the Holocaust'', p. 53.</ref>; a Solução Final foi retratada por ele como um exemplo extremo das tentativas feitas pelas sociedades para extirpar os elementos desconfortáveis ​​e indeterminados existentes dentro delas.
 
Bauman, como o filósofo [[Giorgio Agamben]], sustentou que os mesmos processos de exclusão que operaram no Holocausto poderiam atuar ainda hoje. E até certo ponto efetivamente atuam.
 
===A definição de Iluminismo em Adorno e Horkheimer===
 
Em sua análise da sociedade contemporânea ocidental, na obra ''[[Dialética do Esclarecimento]]'' (de 1944, revisada em 1947), Theodor Adorno e [[Max Horkheimer]] desenvolveram um conceito amplo e pessimista de Iluminismo. Nessa análise, apresentaram o lado sombrio do Iluminismo ou Esclarecimento<ref group="nota">"Iluminismo" e "Esclarecimento" são duas traduções possíveis para a mesma expressão alemã - "''Aufklärung''"</ref>. Ao tentar abolir a superstição e os mitos através da filosofia "[[Fundacionalismo|fundacionalista]]", o Iluminismo ignorou sua própria base "mítica" e, por outro lado, seus esforços no sentido da totalidade e da certeza levaram a uma crescente instrumentalização da razão. Na opinião deles, o Esclarecimento em si deve ainda ser esclarecido e não ser mostrado como uma visão do mundo "livre de mitos".
 
Para a [[filosofia marxista]], em geral, a racionalização está intimamente associada com o conceito de "[[fetichismo da mercadoria]]". <!--Esta última frase está descontextualizada e poderia ser desenvolvida, podendo até ampliar o objeto - e o título - desta subseção.-->
 
==Consumo==
[[Image:Harlem Micky Dz.jpg|thumb|Letreiro em um [[McDonald's]] "drive-thru". A afirmação "mais de 99 bilhões servidos" ilustra a ideia de Ritzer de calculabilidade.]]
O consumo moderno de alimentos é uma representação típica do processo de racionalização. Enquanto a preparação de alimentos nas sociedades tradicionais é mais trabalhosa e tecnicamente ineficiente, a sociedade moderna tem se esforçado para garantir-lhe velocidade e precisão. Restaurantes ''[[fast-food]]'', projetados para maximizar o lucro, adotam uma série de técnicas visando à eficiência, tais como: um controle rigoroso das ações dos empregados; a substituição de sistemas mais complexos por outros mais simples e rápidos, como sistemas numéricos de refeições promocionais; a venda através de ''[[Drive-Thru]]''; o uso de mobiliário desconfortável para desencorajar a vadiagem.{{Citation needed|date=novembro de 2011}}
 
A racionalização é um processo que também pode ser observado na substituição de lojas mais tradicionais, que podem oferecer vantagens subjetivas para os consumidores (como um ambiente com menos regulações, ou mais "natural"), por lojas modernas que oferecem a vantagem objetiva de preços mais baixos para os consumidores.
 
O caso da [[Walmart]], rede varejista multinacional, é um exemplo que demonstra fortemente essa transição. Apesar de as lojas da Walmart atraírem críticas por estarem deslocando lojas mais tradicionais, o ponto de vista das vantagens subjetivas e do valor social destas últimas lojas obteve efeitos irrisórios no sentido de limitar a expansão daquela empresa, devido às preferências do público por preços mais baixos em detrimento das vantagens subjetivas mencionadas.<ref>Boaz, David. 8 de novembro de 1996, ''[http://www.cato.org/dailys/11-08-96.html Chrysler, Microsoft, and Industrial Policy]'', Cato Institute. Acessado em 17 de agosto de 2006.</ref>
 
O sociólogo [[George Ritzer]] tem usado o termo [[McDonaldização]] para se referir não apenas às ações observadas nos restaurantes fast-food, mas também ao processo geral de racionalização. Ritzer distingue quatro componentes primários de McDonaldização:<ref name="book">{{cite book
| last = Ritzer
| first = George
| title = The McDonaldization of Society
| publisher = Pine Forge Press
| year = 2008
| location = Los Angeles
| isbn = 0-7619-8812-2}}</ref>
 
* [[Eficiência]] - o melhor método para realizar uma tarefa, o método mais rápido para ir do ponto A ao ponto B. Em outras palavras, a eficiência, no que toca à McDonaldização, significa que todos os aspectos de determinada organização se voltam para a minimização do tempo empregado em uma tarefa.<ref name="book"/>
* [[Medição]] – metas são quantificáveis (vendas, lucro, etc.) ao invés de subjetivas (sabor, trabalho, etc.). A McDonaldização desenvolveu a noção de que "quantidade gera qualidade" e que a venda de uma grande quantidade de produtos aos consumidores significa alta qualidade do produto.<ref name="book"/>
<!--* [[Predictability]] – [[standardization|standardized]] and uniform services. "Predictability" means that no matter where a person goes, they will receive the same service and receive the same product at every interaction with the corporation. This also applies to the workers in those organizations; their tasks are highly repetitive and predictable routines.<ref name="book"/>
* [[Social control|Control]] – standardized and uniform employees, replacement of human by non-human technologies.{{Citation needed|date=novembro de 2011}}-->
<!-- Do verbete George Ritzer, para consulta:
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As [[capitalism]] itself is a rationalized economic policy, so is the process of [[commercialization]] it utilizes in order to increase sales. Most holidays, for instance, were created out of a religious context or in celebration of some past event. However, in rationalized societies these traditional values are increasingly diminished and the aim shifts from the qualitative aim of a meaningful celebration to the more quantitative aim of increasing sales.
 
In the [[United States]], for example, most major holidays now are represented by rationalized, [[secularism|secularized]] figures which serve as a corporate [[totem]]. In more traditional environments, [[gift]]s are more often hand-crafted works which hold some symbolic meaning. This qualitative value of gifts diminishes in rationalized societies, where individuals often offer hints or speak directly about what present they are interested in receiving. In these societies, the value of a gift is more likely to be weighed by objective measures (i.e. monetary value) than subjective (i.e. symbolism).--><!--Antes de traduzir os dois parágrafos seguintes, verificar versão atual da wiki em inglês quanto a suprimento ou não das fontes necessárias:
 
== Racionalização de outros campos da vida humana ==
 
=== Corpo humano ===
 
Uma tendência de racionalização é no sentido da eficiência e do rendimento do corpo humano. Vários meios servem a tal finalidade, tais como a adoção de [[Exercício físico|exercícios]] regulares, [[dieta]]s planejadas, intensificação da [[higiene]] e uso de [[medicamento]]s. Assim como trazem um aumento da [[Esperança de vida|expectativa de vida]], essas práticas produzem corpos mais fortes e preparados para completar tarefas mais rapidamente, permitindo que suportem os rigores do mercado de trabalho no contexto histórico do capitalismo.<ref>Vide a obra de [[Michel Foucault]], ''The History of Sexuality'' (subtítulo: ''The Care of the Self, vol. 3''), que identifica essa racionalização como emergente de ideologias capitalistas quanto ao controle de trabalhadores (especificamente, neste caso, quanto ao controle de seus corpos) para os rigores do comércio e do mercado.</ref>
 
<!--Antes de traduzir os dois parágrafos seguintes, verificar versão atual da wiki em inglês quanto a suprimento ou não das fontes necessárias:
Another aspect of this is maintaining a certain level of [[Physical_attractiveness|physical attraction]]. Processes such as the [[comb]]ing of hair, use of a fragrance, having an appropriate [[haircut]], and wearing certain [[Clothing|clothes]] receive [[calculation|calculated]] use, that of giving off a certain impression to other individuals.{{Citation needed|date=novembro de 2011}}
 
Another trend is in the [[bureaucratization]] of processes that formerly might have been done through the home. This includes the use of [[hospital]]s for childbirth and the use of [[Physician|doctor]]s to identify symptoms of an illness and to prescribe treatment.{{Citation needed|date=novembro de 2011}}-->
=== Educação ===
 
O foco da educação racionalizada tende a se deslocar de assuntos que envolvem o discurso crítico (por exemplo, a [[filosofia]]) para outros que contribuem para o funcionamento calculado da sociedade (como a [[administração]]). Outra característica da racionalização no campo educacional é a utilização de exames padronizados e testes de [[múltipla escolha]], que avaliam os estudantes com base em respostas numeradas e contra padrões uniformes.{{Carece de fontes|data=novembro de 2011}}
{{Em tradução|data=Dezembro de 2011}}
<!--
==See also==
Linha 30 ⟶ 100:
* [[Rationality and power]]-->
 
== Notas ==
[[Categoria:Sociologia]]
<references group="nota"/>
 
==Referências==
Racionalizar é :
<references/>
 
==Bibliografia==
Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
*Adorno, Theodor. ''Negative Dialectics''. Translated by E.B. Ashton, London: Routledge, 1973
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
*Bauman, Zygmunt. ''Modernity and The Holocaust.'' Ithaca, N.Y.: Cornell University Press 1989. ISBN 0-8014-2397-X
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
*Green, Robert W. (ed.). ''Protestantism, Capitalism, and Social Science.'' Lexington, MA: Heath, 1973.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.
 
{{Sociologia}}
Professor vai se fuder.
 
[[Categoria:Sociologia]]
Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.
 
Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem<br>
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.<br>
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.<br>
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,<br>
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,<br>
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a<br>
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.<br>
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.<br>
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.<br>
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele<br>
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela<br>
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as<br>
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.<br>
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia<br>
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha<br>
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não<br>
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…<br>
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.<br>
Quando em certo período o destino havia aparentemente<br>
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.<br>
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.<br>
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,<br>
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.<br>
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,<br>
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
 
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem<br>
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.<br>
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.<br>
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,<br>
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,<br>
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a<br>
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.<br>
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.<br>
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.<br>
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele<br>
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela<br>
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as<br>
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.<br>
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia<br>
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha<br>
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não<br>
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…<br>
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.<br>
Quando em certo período o destino havia aparentemente<br>
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.<br>
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.<br>
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,<br>
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.<br>
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,<br>
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
 
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de “minha
gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não
nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…
amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.
 
Fiz na wikipedia
 
{{Bom interwiki|ar}}
Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com
quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem
jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento,
mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas,
mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a
família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.
Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.
Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele
mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela
vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as
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Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
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Quando em certo período o destino havia aparentemente
tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.
E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.
Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas,
aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.