Linhas de Torres Vedras: diferenças entre revisões

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m Organização.
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O oficial do exército de Wellington responsável pelos trabalhos de engenharia era o Coronel [[Richard Fletcher]]. No dia [[20 de Outubro]] de 1809, Wellington entregou-lhe um memorando em que especificava a estrutura das Linhas de Torres Vedras.
 
= O estudo do terreno em volta de Lisboa, com a finalidade de organizar posições defensivas que protegessem a capital do Reino e seus arredores, remonta, pelo menos, ao início do [[século XVII]]. Num trabalho publicado em [[1608]] considerava-se necessário implementar o sistema de defesa afastada de Lisboa interceptando as estradas que passavam em [[Cabeço de Montachique]] e em [[Mafra]]. Em [[1807]], [[Jean-Andoche Junot]] encarregou o coronel de engenharia Vincent de estudar a defesa de Lisboa e, na execução dessa tarefa, esteve presente o major de engenharia [[José Maria das Neves Costa]], do [[Exército Português]]. Após a expulsão das tropas francesas foram feitas diligências pelas autoridades portuguesas no sentido de fazer o levantamento topográfico que servisse de base aos trabalhos da defesa de Lisboa. Nesta comissão estava novamente o major Neves e Costa<ref>[{{Citation | url = http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p66.html | place = [[Portugal |PT]] | title = José Maria das Neves Costa (1774-1841), | first = Maria Helena | last = Dias] | publisher = Instituto Camões}}.</ref>. Estes trabalhos, ainda muito incompletos, foram consultados por Wellington<ref>CÉSAR, p. 136 a 138.</ref>. =
 
Após a Batalha de Talavera, Wellington examinou com o coronel Fletcher os documentos que já existiam sobre a defesa de Lisboa e percorreu as principais posições que eram indicadas para a sua defesa. Após este reconhecimento escolheu a linha principal de defesa, como sendo a que passa por [[Vialonga]] (do lado do Tejo), [[Serra de Serves]], [[Cabeço de Montachique]], [[Mafra]] e foz do [[rio Safarujo]] (do lado do [[oceano Atlântico]]). Ficava assim definida uma linha de defesa com cerca de 40 [[quilómetro]]s. Além desta linha foram organizadas posições à volta da [[Fortaleza de São Julião da Barra]], com o objectivo de, guarnecidas por tropas portuguesas, protegerem o embarque das tropas britânicas no caso de não conseguirem deter as tropas francesas. Esta linha tinha cerca de 2.700 metros de comprimento<ref>CÉSAR, p. 138 e 139</ref>.
 
Além destas duas linhas defensivas, foram construídas obras avançadas que possibilitavam o controlo das principais vias de comunicação que conduziam a Lisboa: as posições de Castanheira, as de [[Monte Agraço]] e as de [[Torres Vedras]]. Estas obras apoiavam a entrada do exército de Wellington na linha de defesa que passava em Mafra e Montachique. O memorando de 20 de Outubro previa ainda a colocação de efectivos elevados naquelas posições (4.000 homens em Monte Agraço, 5.000 em Torres Vedras) assim como a colocação de forças em apoio da retirada destas tropas <ref>NORRIS & BREMNER, p. 31 a 33.</ref>. Aquele memorando continha também referências à distribuição das forças, das linhas de retirada, prioridades de construção, criação de obstáculos, pontos de sinalização (para as comunicações), e outras. Wellington marcou um certo número de posições, deixando ao critério de Fletcher a escolha das demais<ref>CÉSAR, p. 140.</ref>.
 
Como o exército francês demorou mais tempo que o previsto a iniciar e executar a invasão, Welligton mandou construir mais obras entre as que se destinavam a formar apenas os postos avançados, de forma que acabou por se constituir uma nova linha de defesa. Assim, a primeira linha de defesa tinha início em [[Alhandra]], passava por Monte Agraço, Torres Vedras e terminava na foz do [[rio Sizandro]]. A segunda linha, que inicialmente tinha sido pensada como linha principal, era a que nascia em Vialonga e se estendia, passando por Montachique e Mafra, até à foz do [[rio Safarujo]]. Manteve-se a linha à volta do Forte de São Julião e considera-se também como fazendo parte deste dispositivo, um conjunto de obras ao sul do Tejo, redutos e linhas de defesa contínuas, com cerca de 1.300 metros de comprimento, destinadas a evitar que forças inimigas que conseguissem posicionar bocas de fogo de artilharia na margem sul pudessem prejudicar o embarque das forças britânicas.
 
Em primeiro lugar, iniciaram-se as obras que deviam proteger o embarque das tropas britânicas. A seguir, tiveram início as obras de Torres Vedras e as de Monte Agraço. Outras, como a de Castanheira, só foram iniciadas em Janeiro de 1810. À medida que se iam construindo, as obras eram numeradas, o que nos permite conhecer a sequência da sua construção. Milhares de trabalhadores portugueses, de milícias e ordenanças, esforçaram-se para completarem estas obras. Este trabalho foi pago: os camponeses chegaram a receber, na altura de maior trabalho, 10 vinténs por dia e as milícias recebiam um terço deste valor<ref>FLETCHER, p. 28</ref>.
 
Este sistema defensivo tem sido descrito como um dos mais baratos investimentos e um dos segredos mais bem guardados na [[História Militar]]<ref>FLETCHER, p. 6.</ref>. As construções eram conhecidas não apenas pelos militares que se encontravam por perto como por todos os que colaboraram na sua construção. O que quase ninguém tinha era a noção da dimensão do conjunto. O tenente Rice Jones, um dos engenheiros de Fletcher, numa carta dirigida ao pai, fala das obras a Norte de Lisboa mas a leitura da carta demonstra que ele não tinha ideia da extensão que as linhas viriam a ter<ref>FLETCHER, p. 14</ref>.
 
==Descrição das Linhas de Torres Vedras==
A norte do Tejo foram, portanto, organizadas três linhas defensivas. Não se tratava de uma barreira contínua como a [[Muralha de Adriano]] ou a [[Grande Muralha da China]]. Era, antes, um misto de obras defensivas e de formações naturais do terreno. Ao todo eram 153 fortificações que, estando completamente guarnecidas, implicavam a utilização de 39.475 homens e 628 bocas de fogo de [[artilharia]]. Este conjunto de três linhas estava dividido em 8 distritos, cada um com o seu comando militar<ref>NORRIS & BREMNER, p. 97 a 113.</ref>:
 
* A '''Primeira Linha''' era guarnecida por 18.683 homens e 319 bocas de fogo. Estava dividida em quatro distritos:
A norte do Tejo foram, portanto, organizadas três linhas defensivas. Não se tratava de uma barreira contínua como a [[Muralha de Adriano]] ou a [[Grande Muralha da China]]. Era, antes, um misto de obras defensivas e de formações naturais do terreno. Ao todo eram 153 fortificações que, estando completamente guarnecidas, implicavam a utilização de 39.475 homens e 628 bocas de fogo de [[artilharia]]. Este conjunto de três linhas estava dividido em 8 distritos, cada um com o seu comando militar<ref>NORRIS & BREMNER, p. 97 a 113.</ref>:
 
*A '''Primeira Linha''' era guarnecida por 18.683 homens e 319 bocas de fogo. Estava dividida em quatro distritos:
 
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="10" align="center"
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* as tropas espanholas de La Romana (cerca de 8.000 homens) foram colocadas na região a sul da [[Enxara do Bispo]].
 
Estas tropas, as que ocupavam as obras defensivas, a população de Lisboa e arredores e toda uma multidão que tinha sido transferida da região a sul do [[Mondego]], viviam agora neste espaço da península de Lisboa. Não era possível, num espaço tão pequeno, obter alimentação para tanta gente e os abastecimentos que chegavam a Lisboa, por mar, iam essencialmente para as tropas. Estima-se que 2% da população portuguesa (de 40.000 a 50.000 pessoas) tenha perdido a vida devido à fome e às doenças<ref>FLETCHER, p. 25.</ref>. Esta situação prolongou-se até Fevereiro de [[1811]], quando os Franceses começaram a retirar.
 
==As fortificações a sul do Tejo==
 
Na margem esquerda do Tejo foi criada uma linha de redutos que ia da [[Costa da Caparica]] a [[Almada]]. Esta linha de defesa foi concebida com o objectivo de impedir que uma força francesa, que eventualmente atingisse aquela região, tivesse a possibilidade de, com a sua artilharia, ameaçar Lisboa ou a armada ancorada no rio. Esta linha destinava-se a ser guarnecida com marinheiros e fuzileiros navais britânicos, milícias e corpo de voluntários de Lisboa, um total de 7.500 homens. Dispunha também de 86 peças de artilharia. Perto da actual localização do monumento a [[Cristo-Rei]] foi montado um posto de sinais, para comunicar facilmente com Lisboa.
 
{{Referências|col =32}}
 
=={{Bibliografia}}==
* CÉSAR, Victoriano José, ''Invasões Francesas em Portugal, 3ª parte, Invasão Francesa de 1810'', Lisboa, Tipografia da Cooperativa Militar, 1910.
 
* {{Citation | last = FLETCHER | first = Ian | title = The Lines of Torres Vedras, 1809–1811 | trans_title = As linhas de Torres Vedras, 1809–11 | language = inglês | publisher = Osprey | series = Fortress | number = 7 | year = 2003}}.
*CÉSAR, Victoriano José, ''Invasões Francesas em Portugal, 3ª parte, Invasão Francesa de 1810'', Lisboa, Tipografia da Cooperativa Militar, 1910.
* {{Citation | last = HUGHES, | first = Quentin, ''| title = Military Architecture: the art of defense from earliest times to the Atlantic wall'', | language = inglês | publisher = Beaufort Publishing Ltd,| place = Great Britain, | year = 1991}}.
 
* {{Citation | last = JONES, | first = Colonel John Thomas, ''| title = Memoranda relative to the lines thrown up to cover Lisbon in 1810'', | language = inglês | place = Londres, | year = 1829}}.
*FLETCHER, Ian, ''The Lines of Torres Vedras, 1809-1811'', Osprey Publishing, Fortress 007, 2003.
* NORRIS, A. H.AH & BREMNER, R. W.RW, ''As Linhas de Torres Vedras, as três primeiras linhas e as fortificações ao sul do Tejo'', Câmara Municipal de Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, Outubro de 2001.
 
* {{Citation | last = OMAN, | first = Sir Charles Chadwick, ''| title = A History of the Peninsular War, Volume| language = inglês | volume = III'', | publisher = Greenhill Books, | year = 2004}}.
*HUGHES, Quentin, ''Military Architecture: the art of defense from earliest times to the Atlantic wall'', Beaufort Publishing Ltd, Great Britain, 1991.
 
*JONES, Colonel John Thomas, ''Memoranda relative to the lines thrown up to cover Lisbon in 1810'', Londres, 1829.
 
*NORRIS, A. H. & BREMNER, R. W., ''As Linhas de Torres Vedras, as três primeiras linhas e as fortificações ao sul do Tejo'', Câmara Municipal de Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, Outubro de 2001.
 
*OMAN, Sir Charles Chadwick, ''A History of the Peninsular War, Volume III'', Greenhill Books, 2004.
 
== {{Ver também}} ==
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=={{Ligações externas}}==
* [http://historiasdetorresvedras.wordpress.com/2010/06/20/linhas-de-torres-vedras/ Linhas de Torres Vedras]
* [http://www.rhlt.com.pt/ Rota Histórica das Linhas de Torres]
* [http://historiasdetorresvedras.wordpress.com/2011/01/23/fortificacoes-das-linhas-de-torres-no-googleearth/ As Linhas de Torres no GoogleEarthGoogle Earth]
* [http://www.linhasdetorresvedras.com/ Linhas de Torres Vedras - Bicentenário]
* [http://linhasdetorres.blogspot.com/ Linhas de Torres Vedras]
* [http://linhasdetorres.wordpress.com/ Mafra e as Linhas de Torres]
* [http://torresvedrasweb.com/ Torres Vedras Web]
* [http://www.torresvedraslines.com/ Torres Vedras Lines]♙