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O antropólogo Philippe Descola relata o caso dos achuar da Amazônia, por exemplo, que estabelecem uma diferença ontológica de grau, mas não de natureza entre plantas, homens e animais. Os habitantes dessa sociedade afirmam que plantas e animais possuem uma alma (wakan) semelhante à dos humanos, que conta com intencionalidade e reflexividade. Destarte, ambos são classificados como pessoas (aents), que inclusive têm sentimentos e comunicam-se – inclusive com os homens, através de mensagens que modificam o seu estado de espírito e comportamento.
Os ameríndios estabelecem ainda relações de reciprocidade e respeito com elementos como a água, animais de caça e plantas cultivadas. O mesmo antropólogo descreve o cultivo das roças que, nas tribos achuar, ficam sob o cuidado das mulheres que, por sua vez, recebem a proteção de Nunkui, mulher mítica cuja filha criou as plantas cultiváveis. Associadas a essa divindade estão as pedras nantar, que quando encontradas são prontamente enterradas na roça dentro de duas cuias de cerâmica emborcadas uma contra a outra. É um meio de tolher seus movimentos, pois, se de um lado promove o crescimento das plantas, por outro tende a sugar o sangue dos filhos da dona da roça. Por isso se derrama suco de urucu sobre o local onde a pedra está enterrada. Esse substituto do sangue também é oferecido à própria mandioca, que também suga o sangue de estranhos que passam pela roça.
 
Importa apreender aqui que se no multiculturalismo temos o corpo como um elemento universal e a cultura como um particular; no multinaturalismo a cultura converte-se num constante, enquanto que o corpo é diverso. Há também casos em que os homens, através de processos rituais, transformam-se em animais: passam a alimentar-se e, caminhar e portar-se como esses seres. Isso somente é possível porque os [[yaminawa]] acreditam numa essência que os unem com os animais, tendo como única diferença o corpo, que pode ser modificado por meio de intensos processos de metamorfose. Nesse contexto, não só os humanos vêem-se como humanos, mas os próprios animais e espíritos se veriam como tal.