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A '''Operação Mar Verde''' foi o nome dado para uma operação militar planeada pelas [[Estado-Maior General das Forças Armadas|Forças Armadas Portuguesas]] e realizada em [[22 de Novembro]] de [[1970]], no curso da [[Guerra Colonial Portuguesa]], pelo destacamento de fuzileiros especiais nº 21 destacado na [[Guiné-Bissau]] de [[1969]] a [[1971]], chefiada pelo Comandante [[Guilherme Almor de Alpoim Calvão|Alpoim Calvão]].
 
A '''Operação Mar Verde''' foi o nome dado paraa uma famosa e controversa operação militar planeada pelas [[Estado-Maior General das Forças Armadas|Forças Armadas Portuguesas]] e realizada em [[22 de Novembro]] de [[1970]], no curso da [[Guerra Colonial Portuguesa]], pelo destacamento de fuzileiros especiais nº 21 destacado na [[Guiné-Bissau]]. deFoi [[1969]]concebida ae [[1971]], chefiadaexecutada pelo Comandantefuzileiro capitão-tenente [[Guilherme Almor de Alpoim Calvão|Alpoim Calvão]] responsável pelo <i>Centro de Operações Especiais</i> da Guiné-Bissau com o apoio do brigadeiro [[António de Spínola]] que era o governante militar deste território.
O plano consistia no ataque anfíbio a [[Conacri]], [[Capital]] da [[República da Guiné]] com os objectivos de libertar [[prisioneiros de guerra]] portugueses, destruição das lanchas do [[PAIGC]] e eliminação física do Presidente [[Ahmed Sékou Touré|Sékou Touré]].
 
Esta operação era extremamente audaciosa e secreta porque envolvia o ataque com um pequeno número de homens à capital de um estado soberano, a [[República da Guiné]] que servia de santuário aos rebeldes do [[PAIGC]]. Mais melindrosa era pelo isolacionismo que Portugal tinha na comunidade internacional por querer manter as suas colónias a todo o preço.
 
Portanto uma das condições para o sucesso da operação era que não houvessem vestígios da participação de forças Portuguesas no golpe e para isso foram tomadas uma série de medidas como o uso de um uniforme indistinto e a utilização de armamento que teria de ser de uso corrente em África e que foi especialmente adquirido para o efeito no mercado paralelo (basicamente [[AK-47]] e [[Lança-granadas-foguete|RPG´s]]). Até os 6 navios que iriam transportar os homens não continham nenhuma informação exterior que os pudesse identificar e os poucos brancos teriam o rosto pintado de negro e perucas de carapinha. Todos os militares tiveram que posteriormente assinar um documento onde se comprometeram a nunca falar desta operação e ainda hoje esta não é reconhecida pelo estado Português.
 
 
== Objectivos ==
 
O plano consistia num ataque [[Guerra anfíbia|anfíbio]] a [[Conacri]], capital da [[República da Guiné]], com vários objectivos :
 
* destruir neste porto as lanchas rápidas fornecidas pela [[União Soviética]] ao [[PAIGC]] : suponha-se que seriam ao todo 6 a 7 unidades, todas eles com mais de 25 metros e possuindo [[lança-torpedos]] e [[Míssil|misseis]]. <small>Missão conseguida</small>
 
* libertar os prisioneiros de guerra portugueses (26) sendo um deles o famoso piloto da [[Força Aérea Portuguesa]], o tenente <i>António Lobato</i> que após uma aterragem de emergência no seu [[North-American T-6]] foi feito prisioneiro pelo [[PAIGC]] em 1963 . <small>Missão conseguida</small>
 
* atacar e destruir o quartel-general do [[PAIGC]] (havendo a hipótese de capturar [[Amílcar Cabral]]) . <small>Missão conseguida</small>
 
* necessidade imperiosa de destruir no aeroporto os caças [[Mikoyan-Gurevich MiG-15|Mig-15]] e [[Mikoyan-Gurevich MiG-17|Mig-17]] da [[República da Guiné]] para não serem atacados por estes durante a operação. <small>Missão não conseguida</small>
 
* proporcionar o desembarque de oposicionistas guineenses da <i>FLNG (Front de Libération Nationale Guinéen)</i> que foram previamente treinados pelos Portugueses na ilha de Songa, localizada no [[Arquipélago dos Bijagós]], durante 7 meses . Foi uma tarefa difícil porque foi necessário ultrapassar as rivalidades tribais e religiosas que existia entre eles. A instrução era igual à que os <i>Comandos Africanos</i> tinham tido. Esta acção tinha a finalidade de auxilia-los num golpe de estado e na captura ou eliminação física do Presidente [[Ahmed Sékou Touré|Sékou Touré]]. Inclusive ia a bordo dos navios um governo provisório. Um dos instrutores foi o furriel [[Comandos (Exército Português)|Comando]] Africano [[Marcelino da Mata]] que viria a destacar-se durante a operação em actos de grande heroísmo. <small>Missão não conseguida</small>
 
 
== Meios ==
 
Para o sucesso desta operação era necessário um grande número de <i>raides</i> de [[comandos]] em simultâneo e em que cada equipa atingia um objectivo específico como por exemplo ir à central eléctrica para colocar a cidade às escuras , tomar a emissora de rádio (não conseguiram) , eliminar [[Ahmed Sékou Touré|Sékou Touré]] na sua residência (não conseguiram) e destruir muitos edifícios relevantes . No total foram identificados 26 alvos e estes <i>raides</i> não tinham apoio aéreo nem uso de qualquer armamento sofisticado : tudo teria de ser feito com lanchas, barcos pneumáticos e [[arma ligeira|armamento ligeiro]].
 
Foi também necessário efectuar um reconhecimento a [[Conacri]], em Setembro de 1969 com uma lancha de fiscalização disfarçada. Caso algum barco se aproximasse o navio hastearia a bandeira do [[PAIGC]] e do exterior só se veriam marinheiros negros.
 
As forças portuguesas que participam são compostas maioritariamente por militares africanos: o destacamento de [[Corpo de Fuzileiros|Fuzileiros Especiais Africano 21]] (81 homens) , a Companhia de [[Comandos (Exército Português)|Comandos Africanos]] (150 homens) , um pequeno número de [[Tropas Paraquedistas de Portugal|Pára-quedistas]] , os militares do <i>FLNG</i> (aproximadamente 200 homens) e alguns homens recrutados pelos conhecimentos e /ou bravura para esta difícil missão.
 
Estes iriam provavelmente enfrentar milhares de homens e bem treinados : muitos guerrilheiros do [[PAIGC]] foram treinados pelos cubanos em [[Marrocos]] e [[Argélia]] e no ataque ao quartel da <i>Guarda Republicana<i> iriam combater a elite das Forças Armadas da [[República da Guiné]] que era treinada por conselheiros militares checoslovacos.
 
 
== Desfecho ==
 
Esta operação foi considerada um fracasso porque não foi obtido o desejado golpe de estado : a não presença dos <i>Mig’s</i> no aeroporto fez o comandante [[Guilherme Almor de Alpoim Calvão|Alpoim Calvão]] dar ordem de regresso às tropas , com receio de um ataque destes aviões para os quais não estavam preparados, sem dar apoio aos combatentes do <i>FLNG</i> . Ironicamente mais tarde soube-se que os seus pilotos ainda não estavam aptos para combates.
 
Os guerrilheiros do <i>FLNG</i> que apesar da falta de apoio quiseram à mesma avançar com a sua missão foram incapazes de derrubar o regime, devido a falta de apoio da população com que eles ingenuamente contavam e ao contra-ataque das forças fieis a [[Ahmed Sékou Touré|Sékou Touré]] apoiadas por um contingente de tropas cubanas . Os combates duraram vários dias, sofrendo o <i>FLNG</i> numerosos mortos e 100 dos seus membros são feitos prisioneiros, torturados e posteriormente executados assim como um grupo de vinte homens que desertaram durante a operação e que ainda foram à emissora de rádio transmitir que apoiavam o [[PAIGC]] e que queriam pertencer às suas fileiras (foram degolados).
 
Obviamente os prisioneiros relatam a operação e revelam os nomes dos seus mentores e segue-se o escândalo internacional, habilmente explorado pelo regime da [[República da Guiné]] que apresenta queixa na [[Conselho de Segurança das Nações Unidas]]. [[Ahmed Sékou Touré|Sékou Touré]] também aproveitou o episódio para liquidar milhares de adversários políticos.
 
No entanto esta extraordinária operação para muitos foi um sucesso porque sofrendo apenas 3 mortos e 3 feridos graves (forças Portuguesas) , a força de desembarque tinha destruído parte significativa do material bélico do [[PAIGC]] e da [[República da Guiné]] , libertado 26 prisioneiros de guerra portugueses e 400 prisioneiros políticos guineenses e infligido cerca de 500 mortos ao inimigo.
 
[[Marcelo Caetano]] tinha transmitido antes desta missão a [[Guilherme Almor de Alpoim Calvão|Alpoim Calvão]] que só a recuperação dos prisioneiros de guerra Portugueses justificaria esta operação. Na realidade o insucesso devido em grande parte ao facto dos <i>Mig’s</i> não se encontrarem no aeroporto porque tinham sido transferidos 2 dias antes para um <i>aeródromo</i> e o presidente não se encontrar na sua residência se deveram apenas a informação errónea facultada pelos [[Serviço de inteligência|serviços de informação]] ([[PIDE]]) .
 
 
Todos os objectivos foram alcançados com excepção da eliminação de Sékou Touré, que não se encontrava no país.
 
O palácio presidencial foi tomado e a maior parte da [[Força Aérea]] da [[Guiné-Conacri]] foi destruída.
 
== Referências ==
* Fórum da Armada, [http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html ''Operação Mar Verde'']
* MARINHO, António Luís, ''Operação Mar Verde - um documento para a história'', Lisboa: Temas e Debates, 2006. 8°. ISBN 972-759-817-X
* António Lobato (1995). ''Liberdade ou evasão : o mais longo cativeiro da guerra''. ISBN 972-8301-07-3.
* Fórum da Armada, [http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html ''Operação Mar Verde'']
* FREIRE, Manuel Carlos, [http://dn.sapo.pt/2006/04/17/nacional/mar_verde_revelados_documentos_sobre.html '''Mar Verde': revelados documentos sobre operação militar ainda secreta''], [[Diário de Notícias]], 17 de Abril de 2006.