Doutrina católica sobre os Dez Mandamentos: diferenças entre revisões

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Enquanto os católicos são por vezes acusados ​​de adorar imagens, em violação do primeiro mandamento,<ref name="Kreeft209">Kreeft, p. 209</ref> a Igreja Católica defende-se dizendo que é um mal-entendido. Segundo a Igreja, "«a honra prestada a uma imagem remonta<ref>São Basílio Magno, ''Liber de Spiritu Sancto'', 18, 45: SC 17bis. 406 (PG 32, 149).</ref> ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada»<ref>II Concílio de Niceia, ''Definitio de sacris imaginibus'': DS 601; cf. Concílio de Trento, Sess. 25ª, ''Decretum de invocatione, veneratione et reliquiis sanctorum, et sacris imaginibus'': DS 1821-1825: II Concílio do Vaticano, Const. ''Sacrosanctum Concilium'', 125: AAS 56 (1964) 132: Id., Const. dogm. ''Lumen Gentium'', 67: AAS 57 (1965) 65-66.</ref>. A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve".<ref name="Kreeft209"/><ref name="Cat2132">{{cite web | last =números 2129–2132 | title =Catecismo da Igreja Católica | publisher = [[Livraria Editora Vaticana]]| year = 1994| url = http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html|accessdate=28 de Agosto de 2011}}</ref> No [[século VIII]], discussões sobre se os [[ícone]]s religiosos (neste contexto pinturas) foram proibidos ou não pelo primeiro mandamento. A disputa foi quase totalmente restrita às [[Igrejas orientais]]; os [[Iconoclastia|iconoclastas]] queriam proibir os ícones, enquanto que os [[Dulia|Iconódulos]] apoiavam a sua veneração, uma posição consistentemente apoiada pela Igreja Ocidental. O [[Segundo Concílio de Niceia]], em 787, determinou que a [[veneração de imagens|veneração de ícones e imagens]] não é uma violação do mandamento e afirma que "quem venera uma imagem venera a pessoa retratada nela."<ref name="schreck305">Schreck, p. 305</ref>{{#tag:ref|A Igreja Católica acredita que está guiada continuamente pelo [[Espírito Santo]] e, por isso, não pode cometer nenhum erro doutrinário.<ref name="Schreck16">Schreck, p. 16</ref> A mais alta autoridade doutrinária da Igreja repousa nas decisões dos [[concílio ecumênico|concílios ecumênicos]], que são chefiados pelo [[Papa]].<ref name="schreck305"/>|group=note}} Na época da controvérsia sobre a [[iconoclastia]], a Igreja Ocidental passou a usar esculturas monumentais, que pela [[arte românica]] tornaram-se numa das principais características da [[arte cristã]] ocidental, que se manteve parte da tradição católica, em contraste com o [[cristianismo oriental]], que evita grandes esculturas religiosas. O ''Catecismo'' postula que Deus deu permissão para imagens que simbolizam a [[salvação]] cristã por símbolos, tais como a [[Serpente (simbologia)|Serpente de Bronze]] e o [[Querubim]] na [[Arca da Aliança]]. O ''Catecismo'' afirma também que, "[[encarnação (religião)|encarnando]], o [[Filho de Deus]] inaugurou uma nova «economia» das imagens.".<ref name="Kreeft209"/><ref name="Cat2132"/>
 
A [[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos]] (USCCB) explica o ''Catecismo'' em seu livro intitulado ''United States Catechism for Adults'' (em português: ''Catecismo para adultos dos Estados Unidos''), publicado em 2006, que a idolatria nos tempos antigos expressou-se na adoração de coisas tais como o "sol, lua, estrelas, árvores, touros, águias e serpentes", bem como "imperadores e reis". Este catecismo norte-americano explica que hoje a idolatria manifesta-se na adoração de outras coisas e lista algumas como "poder, dinheiro, bens materiais e desportos."<ref>[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], pp. 343–344.</ref>
 
==Segundo mandamento==
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De acordo com a USCCB, este mandamento "foi concretizado pelos católicos" como o primeiro dos [[Igreja Católica#Cinco Mandamentos da Igreja Católica|cinco mandamentos da Igreja]]. Esta [[conferência episcopal]] cita a encíclica papal ''Dies Domini'' (1998) de [[João Paulo II]]:
<blockquote>"Uma vez que a participação na Missa é uma obrigação dos fiéis, a não ser que tenham um impedimento grave, impõe-se aos [[sacerdote|Pastores]] o relativo dever de oferecer a todos a possibilidade efectiva de satisfazer o preceito. [...] Mas, uma tal observância [do dia do Senhor], antes ainda de ser sentida como preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente na existência cristã. É de importância verdadeiramente capital que cada fiel se convença de que não pode viver a sua fé, na plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical."<ref>[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], pp. 366–367</ref><ref>{{citar web | autor= [[Papa João Paulo II|João Paulo II]] | titulo= Dies Domini | publicado = Santa Sé | url=http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini_po.html | ano= 1998 | acessodata= [[28 de Agosto]] de [[2011]]}}; números 49 e 81.</ref></blockquote>
 
==Quarto mandamento==
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====Uso de embriões para investigação ou fertilização====
O ''Catecismo para adultos dos Estados Unidos'' dedica uma seção para a [[reprodução medicamente assistida]], [[Célula-tronco|células-tronco embrionárias]] e [[clonagem]] na sua explicação do quinto mandamento, porque essas técnicas muitas vezes envolvem a destruição de embriões humanos, considerado uma forma de assassinato gravemente pecaminoso pela Igreja.<ref name="USCat392"/> Investigações científicas com células-tronco embrionárias são consideradas "um meio imoral para um bom fim" e "moralmente inaceitável."<ref name="USCat392"/> Citando a ''Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação'' da [[Congregação para a Doutrina da Fé]], a [[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos]] (USCCB) afirma que "o objetivo, apesar de nobre, como uma vantagem previsível para a ciência, a outros seres humanos, ou para a sociedade, não pode de forma alguma justificar a experimentação em embriões humanos vivos ou fetos, viáveis ​​ou não, dentro ou fora do corpo da mãe." Ela observa também que o uso das [[célula-tronco|células-tronco adultas]], que são células obtidas com o consentimento de alguém e sem pôr em causa a vida do doador, é um campo promissor de pesquisa e moralmente aceitável.<ref name="USCat392">[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], pp. 392–393</ref>
 
Ainda em relação à [[reprodução medicamente assistida]] que implica a "[[inseminação artificial|inseminação]] e fecundação artificial", o ''Catecismo da Igreja Católica'' declara<ref>número 2377. [http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html Catecismo da Igreja Católica]. Livraria Editora Vaticana. Página visitada em 6 de Outubro de 2011.</ref> que estas técnicas, mesmo se praticadas no seio do casal (ou seja, "fecundação artificial homóloga"), "continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos»"<ref>Congregação da Doutrina da Fé, Instrução [http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html ''Donum vitae''], 2, 5: AAS 80 (1988) 93. Página visitada a 6 de Outubro de 2011</ref>; e que "só o respeito pelo laço que existe entre os significados do acto conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa"<ref>Congregação da Doutrina da Fé, Instrução [http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html ''Donum vitae''], 2, 4: AAS 80 (1988) 91. Página visitada a 6 de Outubro de 2011</ref>.
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===Vocação para a castidade===
{{AP|Castidade}}
Os ensinamento da Igreja sobre o sexto mandamento inclui uma discussão aprofundada sobre a [[castidade]]. O ''Catecismo'' descreve a castidade como uma "uma virtude moral, [...] um dom de Deus, uma [[graça]], um fruto do trabalho espiritual".<ref name="castCat">{{cite web | last =número 2345 | title =Catecismo da Igreja Católica | publisher = Livraria Editora Vaticana| year = 1994| url = http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html|accessdate=29 de Agosto de 2011}}</ref><ref name="USCAT405">[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], pp. 405–406</ref> A Igreja vê o sexo como mais do que um ato físico; também afeta o corpo e a alma, por isso a Igreja ensina que a castidade é uma virtude que todas as pessoas são chamadas para conquistar e adquirir.<ref name="USCAT405"/> É definida como "a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual" que integra com sucesso a sexualidade humana na pessoa, com a sua "natureza humana inteira."<ref name="castCat"/><ref name="USCAT405"/> Para adquirir esta virtude, os católicos são incentivados a entrar no "trabalho longo e exigente" do autodomínio, que é ajudado pelos amigos, graça de Deus, maturidade e educação "que respeite as dimensões morais e espirituais da vida humana."<ref name="USCAT405"/> O ''Catecismo'' categoriza as violações do sexto mandamento em duas categorias: "crimes contra a castidade" e "crimes contra a dignidade do [[casamento]]".<ref name="Cat2331"/>
 
====Crimes contra a castidade====
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===Amor de marido e esposa===
{{AP|Casamento religioso}}
[[Ficheiro:Weddingring-JH.jpg|thumb|O sexto mandamento, de acordo com a [[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos]] (USCCB), convida os casais a viverem mutuamente uma fidelidade emocional e sexual que é "essencial" ao casamento e um reflexo da fidelidade de Deus aos homens.<ref>[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], p. 405</ref>]]
 
De acordo com os ensinamentos da Igreja, o amor conjugal está destinado a atingir um fim duplo e indissociável: a união de marido e mulher, para "o bem dos próprios esposos", e a transmissão da vida. Sendo assim, "o amor conjugal do homem e da mulher está, assim, colocado sob a dupla exigência da fidelidade e da fecundidade".<ref name="Cat2351"/><ref name="USCAT408"/> O aspecto unitivo inclui a doação mútua do ser de cada parceiro, de modo que "assim já não são dois, mas uma só carne."<ref name="USCAT408"/><ref name="casamentomateus">{{citar bíblia|livro=Mateus|capítulo=19|verso=6}}</ref> O [[Casamento religioso|sacramento do Matrimônio]] é visto como Deus selando o consentimento que une os parceiros. Este consentimento incluiu a aceitação de fracassos e erros do outro cônjuge e o reconhecimento da "chamada à santidade no casamento", que exige a ambos um processo de crescimento espiritual e de conversão que pode durar a vida toda.<ref name="USCAT408">[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], p. 408</ref>
 
====Fecundidade do casamento, o prazer sexual e o controle de natalidade====
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O desapego das riquezas é o objetivo do décimo mandamento e da primeira [[Bem-Aventuranças|bem-aventurança]] ("bem-aventurados os pobres de espírito"), pois, de acordo com o ''Catecismo'', este preceito é necessário para a entrada no [[Reino de Deus|Reino dos céus]].<ref name="Cat2534"/><ref name="Kreeft266">Kreeft, pp. 266–267</ref> A cobiça é proibida pelo décimo mandamento, pois é considerado a "raiz de onde procede o roubo, a rapina e a fraude, proibidos pelo sétimo mandamento" e que podem levar à violência e à injustiça.<ref>Schreck, p. 321</ref> A Igreja define a cobiça como um "desejo desordenado" que pode assumir diferentes formas:
#Cobiça é o desejo imoderado e excessivo de querer tudo aquilo que não é preciso.
#A inveja, um dos [[sete pecados capitais]], é o desejo imoderado de querer apropriar-se do bem alheio.<ref name="Kreeft266"/> A [[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]] define-a como "uma atitude que nos enche de tristeza ao ver a prosperidade do outro."<ref name="USCAT450">[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], p. 450</ref> Santo [[Agostinho de Hipona]] afirmou que a inveja é "o pecado diabólico por excelência. Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pelo mal do próximo e o desgosto causado pela sua prosperidade".<ref name="Cat2534"/>
 
Explicando o ensinamento da Igreja sobre este mandamento, Kreeft cita [[Santo|São]] [[Tomás de Aquino]], que escreveu que "um desejo mal só pode ser superado por um desejo bom mais forte."<ref name="Kreeft266"/> A [[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]] sugere que isto pode ser conseguido através do cultivo da boa vontade, humildade, gratidão e confiança na graça de Deus.<ref name="USCAT450"/> Na sua [[Epístola aos Filipenses|carta aos Filipenses]], [[Paulo de Tarso|São Paulo de Tarso]], depois de listar as suas qualificações pessoais e feitos terrenos como judeu respeitado, considerou tudo aquilo "como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele".<ref>{{citar bíblia|livro=Filipenses|capítulo=3|verso=4-9}}</ref> Kreeft explica que o ensinamento da Igreja sobre o décimo mandamento é direcionado para essa atitude de São Paulo para com os bens materiais, denominada de "pobreza de espírito". Esta atitude humilde e desapegada é uma bem-aventurança a ser vivida, porque, como afirmou Jesus, o "que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"<ref>{{citar bíblia|livro=Marcos|capítulo=8|verso=36}}</ref><ref name="USCAT449">[[Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos|USCCB]], p. 449</ref><ref>Kreeft, p. 268</ref>
 
==Notas de rodapé==