Nuvens (álbum): diferenças entre revisões

Tim havia tido passagens turbulentas pelas cinco principais gravadoras do mercado fonográfico brasileiro ([[PolyGram]], [[Sony Music Entertainment|CBS]], [[Sony Music Entertainment|RCA]], [[Warner Music Brasil|Warner]] e [[EMI-Odeon|Odeon]]),<ref name="Motta2006Motta2007">MOTTA, Nelson. ''Vale Tudo: O som e a fúria de Tim Maia''. [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]: [[Objetiva (editora)|Objetiva]], 20062007.</ref> com histórico de brigas com produtores, executivos e técnicos,<ref name="ColeçãoAbril"/> e, portanto, nenhuma gravadora estava interessada em lhe oferecer um contrato e a oportunidade de lançar um disco. Com a sua situação financeira se agravando<ref name="Motta2006Motta2007"/> e, também, a necessidade musical de lançar um novo disco, Tim Maia decide lançar o álbum de maneira independente utilizando-se novamente de sua gravadora, a Seroma (epíteto de '''Se'''bastião '''Ro'''drigues '''Ma'''ia),<ref name="Motta2006Motta2007"/> para realizar o lançamento, assim como tinha feito com os discos da sua fase racional e com o seu [[Tim Maia em Inglês|álbum em inglês]] de 1976.

Entretanto, Tim ainda tinha o problema de como financiar a produção do álbum, isto é, os gastos com estúdio, músicos, prensagem e distribuição do disco.<ref name="Motta2006Motta2007"/> Ao contrário do álbum em inglês para o qual Maia teve o adiantamento da gravadora para gravar seu [[Tim Maia (álbum de 1976)|álbum de 1976]] ajudando a bancar os custos do disco independente,<ref name="Motta2006Motta2007"/> agora o artista não poderia fazer o mesmo, devido as brigas. Tim, então, teve a idéia de produzir e lançar um compacto que, tendo a produção mais rápida, necessitaria de menos capital para custeá-lo e, se fosse um sucesso, poderia render dinheiro para bancar o álbum.<ref name="Motta2006Motta2007"/><ref name="ColeçãoAbril"/>

Escolheu para o [[lado A]] uma música de seu amigo [[Edson Trindade]], compositor de [[Gostava Tanto de Você]], e Cleonice, muito romântica,<ref name="Motta2006Motta2007"/> chamada "Amiga". Acreditou que era sucesso certo e colocou uma composição sua como [[lado B]], "Do Leme ao Pontal".<ref name="Motta2006Motta2007"/> O lançamento se deu no final de 1981 e, ao contrário das previsões de Tim, foi o lado B que emplacou fortemente nas rádios, tornando-se um forte sucesso do verão e alçou as vendas do compacto a 20 mil cópias,<ref name="ColeçãoAbril"/> mesmo com os problemas de distribuição da gravadora independente de Tim.<ref name="Motta2006Motta2007"/>

Tim reuniu uma banda com Luiz Carlos na bateria, Rubens Sabino no baixo, Pedro Carlos Fernandes nos pianos e teclados e Beto Cajueiro na guitarra, além do trio de metais formado por Paulo no trompete, Marcelo no sax e Simões no trombone<ref name="Motta2006Motta2007"/> para ensaiar, compor e trabalhar nos arranjos das músicas em sua casa antes de entrar em estúdio, de modo a economizar nas gravações que são pagas por hora.<ref name="Motta2006Motta2007"/> Maia, que não sabia ler nem escrever partituras,<ref name="Motta2006Motta2007"/> nem tinha dinheiro para pagar um maestro como [[Lincoln Olivetti]] (que havia trabalhado nessa função nos seus discos anteriores: fazendo arranjos e passando para a pauta arranjos passados por Tim<ref name="Motta2006Motta2007"/>), passava os arranjos para a banda, e especialmente o naipe de metais, através da boca, cantarolando as notas que deviam ser feitas.<ref name="Motta2006Motta2007"/>

O álbum abre com o [[soul]] romântico de "Nuvens", de [[Cassiano (músico)|Cassiano]] e Deny King, com harmônia complexa em estilo bossa-nova e melodia bela e sinuosa, pontuada por guitarras [[funk]] e frases dos metais.<ref name="Motta2006Motta2007"/> Na sequência vem a maior surpresa do disco, um samba clássico sem frases de soul, com música e letra de Tim Maia. A inovação é o uso de guitarras e dos metais da Vitória Régia, misturando funk e gafieira.<ref name="Motta2006Motta2007"/> A terceira é uma parceria de Tim com [[Robson Jorge]], um funk-soul muito suingado e dançante, com letra ecologista numa época em que poucos falavam disso.<ref name="Motta2006Motta2007"/> Em seguida temos "A Festa", um funk dançante no qual Tim utilizou o pessoal do estúdio e da banda para simular uma festa, com direito a risadas e palmas, e uma letra com forte tom de malandragem na qual o refrão é entremeado por pequenos raps executados em tom jocoso por Tim.<ref name="Motta2006Motta2007"/>

No lado B, Tim canta uma das músicas mais tristes de sua carreira, o soul confessional "Ninguém Gosta de se Sentir Só".<ref name="Motta2006Motta2007"/> Logo depois, a tristeza é substituída pela alegria de "Hadock Lobo Esquina com Matoso", um de seus maiores clássicos,<ref name="Motta2006Motta2007"/> na qual ele conta a história da lanchonete do Divino onde ele, [[Erasmo Carlos]], [[Roberto Carlos]] e [[Jorge Ben Jor]] se conheceram, quando eram apenas adolescentes pobres que gostavam de música na Tijuca.<ref name="Motta2006Motta2007"/> Além disso, o álbum contava com a regravação do grande clássico do seu amigo [[Hyldon]].<ref name="ColeçãoAbril"/>

O álbum é considerado pela crítica como um dos melhores do artista, rivalizando com seu [[Tim Maia (álbum)|álbum de estréia]], o [[Tim Maia (álbum de 1971)|homônimo de 1971]], o [[Tim Maia Racional, Vol. 1|primeiro racional]] e o [[Tim Maia Disco Club]],<ref name="Motta2006Motta2007"/> sendo considerado uma "obra-prima da música popular brasileira".<ref name="ColeçãoAbril"/>

Entretanto, com a distribuição errática da gravadora independente de Tim Maia, muitas vezes feita de mão em mão,<ref name="Motta2006Motta2007"/> e como a idéia inicial já era de produzir um disco sem os costumes das grandes gravadoras, isto é, nada de "jabá" para as rádios, marketing ou festas para imprensa, deixando o álbum entregue à própria sorte e ao talento dos músicos,<ref name="Motta2006Motta2007"/> o que é considerado como um dos seus melhores trabalhos é, também, um dos menos vendidos e menos conhecidos pelo grande público.<ref name="Motta2006Motta2007"/>