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{{Multitag|1=fref|2=rev|data=julho de 2015}}
[[Ficheiro:Cultura Santarém - Muiraquitã MN 01.jpg|250px|thumb|right|Muiraquitã em forma de rã. Acervo do [[Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro|Museu Nacional]], [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]].]]
*'''Muiraquitãs''' ou '''muyrakytãs''' (do [[Língua tupi|tupi]]) são [[artefato]]s talhados em [[pedra]], usualmente [[jade]], representando [[Animalia|animais]] (especialmente [[sapo]]s, mas também [[tartaruga]]s ou [[serpente]]s). Teriam sido usados pelos [[povos indígenas]] [[Tapajós]] e Konduri, que habitavam o [[Baixo Amazonas]] até a chegada do colonizador europeu, como amuletos, símbolos de poder, e ainda como material para compra e troca de objetos valiosos. Há muitas lendas e mitos sobre eles, sempre envolvidos com as índias [[Amazonas (mitologia)|Amazonas]], extintas ou lendárias.<ref name="Costa">{{Cite journal| doi = 10.1590/1809-43922002323490| issn = 1809-4392| volume = 32| issue = 3| pages = 467–490| author = Costa, Marcondes Lima da et al| last2 = Silva| first2 = Anna Cristina Resque Lopes da| last3 = AngéLicaAngélica| first3 = Rômulo Simões| title = Muyrakytã ou muiraquitã, um talismã arqueológico em jade procedente da Amazônia: uma revisão histórica e considerações antropogeológicas| journal = Acta Amazonica| accessdate = 25 de julho de 2015| date = 2002| url = http://ref.scielo.org/bq6t8n}}</ref>
'''Muiraquitã''' ou '''muyrakytã''' (do [[Língua tupi|tupi]] ''ybyrakytã''<ref>{{citar livro|nome = Eduardo de Almeida|sobrenome = Navarro|título = Dicionário Tupi Antigo|ano = 2013|isbn = 978-85-260-1933-1|editora = Global Editora|local = São Paulo|subtítulo = A língua indígena clássica do Brasil}}</ref>, pelo [[nheengatu]] ''mirakitã''<ref>{{citar livro|nome = Ermano|sobrenome = Stradelli|título = Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez|ano = 1929|subtítulo = precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e
seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua|url = http://www.etnolinguistica.org/local--files/biblio:stradelli-1929-vocabularios/stradelli_1929_vocabularios.pdf|local = Rio de Janeiro|acessadoem = 29 de outubro de 2015|notas = Pode ser observada, na página 271, a entrada na grafia antiga "myrakytan", já em desuso.|volume = 158|editora = Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro}}</ref>), para os [[índios brasileiros]] do [[Baixo Amazonas]], é um [[artefato]] talhado em [[pedra]] (na maior parte das vezes feito a partir do [[jade]], pela cor [[verde|esverdeada]]) ou [[madeira]], representando [[pessoa]]s ou [[Animalia|animais]] (uma [[rã]], [[peixe]], [[tartaruga]], por exemplo), ao qual são atribuídas as qualidades sobrenaturais de amuleto, sendo presenteado aos visitantes.<ref>[http://www.abrasoffa.org.br/folclore/artesanato/estatuetas.htm ABrasOFFA] - Folclore brasileiro {{ligação inativa}}</ref> Também é conhecido pelos nomes de pedra-das-amazonas e pedra-verde.
 
==Etimologia==
== Muiraquitãs na ficção ==
O termo pode ter origem do tupi ''pu'ir-a(w)ki-(i)tã'' ou ''mu'ir-a(w)ki-(i)tã'' (''pu'ir'' ou ''mu'ir'' = "missangas", "contas", "enfeites", etc; ''a(w)ki'' = "mexer", "usar", "tocar"; ''itã'' = espécie de sapo ou rã).<ref name="Costa"></ref> Outros autores interpretam a etimologia a partir de ''mbïraki'tã'' como "nó das árvores", "nó das madeiras" (de ''muyrá'' ou ''mbyra'' = "árvore", "pau", "madeira"; ''quitã'', "nó", "verruga", "objeto de forma arredondada".<ref name="Houaiss">[[Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa]], entrada "muiraquitã".</ref>
Conforme o livro ''[[Macunaíma]]'', de [[Mário de Andrade]], as índias [[icamiabas]], mulheres guerreiras que habitavam o baixo [[Amazonas]], ofertavam o muiraquitã aos índios da tribo mais próxima, os [[guacaris]], depois do acasalamento, na [[Festa de Iaci]], divindade-mãe do muiraquitã. A mística do presente oferecido aos índios visava a encorajar a fidelidade a elas e para que, ao exibirem-no, fossem respeitados, pois presentear um índio com um muiraquitã representava o ato sexual consumado entre uma Icamiaba e um índio. As icamiabas compunham uma [[sociedade matriarcal|sociedade rigorosamente matriarcal]] e se dessa união nascessem filhos masculinos, estes seriam sacrificados, deixando sobreviver somente os de sexo feminino.<ref>[[Mário de Andrade|Andrade, M. de]]. ''[[Macunaíma]]''.</ref>
 
Também são conhecidas as grafias ''ybyrakytã''<ref>{{citar livro|nome = Eduardo de Almeida|sobrenome = Navarro|título = Dicionário Tupi Antigo: A língua indígena clássica do Brasil|ano = 2013|isbn = 978-85-260-1933-1|editora = Global Editora|local = São Paulo|}}</ref> (em tupi), ''mirakitã'' (em [[nheengatu]]),<ref>{{citar livro|nome = Ermano|sobrenome = Stradelli|título = Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua|ano = 1929|url = http://www.etnolinguistica.org/local--files/biblio:stradelli-1929-vocabularios/stradelli_1929_vocabularios.pdf|local = Rio de Janeiro|acessadoem = 29 de outubro de 2015|notas = Entrada "Myrakytan", p. 569.|volume = 158|editora = Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro}}</ref> baraquitãs, buraquitãs, puúraquitan, uuraquitan e mueraquitan (provavelmente formas aportuguesadas).<ref name="Costa"></ref> Outros termos também usados para o artefato são "pedra-das-amazonas" e "pedra-verde".{{carece de fontes}}
Em ''[[As Aventuras de Benjamim: o Muiraquitã]]'', de Camila Franco, Marcela Catunda e Blantina Franco, Benjamim usa um muiraquitã (um fruto de guaraná) que concede desejos para encontrar seu pai perdido, e depois encontra uma Iara que distribui pedras de jade no formato de bichos para índias. Ao receber um muiraquitã, Benjamim se transforma em um guerreiro.{{carece de fontes}}
 
==Histórico==
No jogo eletrônico brasileiro ''[[Aritana e a Pena da Harpia]]'' do estúdio ''[[Duaik]]'', baseado na mitologia indígena brasileira os muiraquitãs são itens coletáveis que concedem acesso às fases bônus do jogo<ref>http://en.duaik.com/press.html</ref>.
As primeiras documentações sobre os muiraquitãs, ainda que indiretas, surgem com [[Orellana]], que entre 1540 e 1542 desceu o rio Amazonas em toda sua extensão. Embora não mencione o objeto, através de Frei [[Gaspar de Carvajal]], seu cronista, relata ter encontrado índias guerreiras, sem maridos, por ele denominadas [[Amazonas (mitologia)|Amazonas]], mas chamadas pelos índios de [[Icamiabas]], as quais possuem lendas relacionadas ao artefato.<ref name="Costa"></ref>
 
Em sua viagem ao longo deste rio, em 1735, [[Charles Marie de La Condamine|La Condamine]] escreve sobre amuletos batraquianos em pedras verdes semelhantes a jade.<ref name="Costa"></ref>
 
[[Spix]] e [[Martius]], entre 1817 e 1820, relatam ''pierres divines'' ("pedras divinas") na forma de pingente e batraquianos em madrepérola e com o nome de "muraquêitã".<ref name="Costa"></ref>
 
Uma questão importante, surgida no século XVIII e ainda discutida, é sobre a origem do jade utilizado na confecção dos muiraquitãs. Alguns autores cogitaram que o material teria vindo da Ásia, hipótese hoje descartada.<ref name="Costa"></ref>
==Lendas==
===Segundo as índias Icamiabas===
As índias [[Icamiabas]], ou Amazonas de Orellana, eram mulheres guerreiras, sem maridos, que habitavam o [[Baixo Amazonas]]. Uma vez ao ano, nas fontes do [[rio Jamundá]], na serra ''Yacy-taperê'', onde havia um lago (''Yacy-uaruá'', espelho da lua), faziam uma festa em nome de Iacinará ou [[Festa de Iaci|Iaci]], a lua. Após dormirem com os [[Guacaris]], homens de outra tribo especialmente convidados para a festividade, as índias mergulhavam no lago e traziam um barro esverdeado com o qual modelavam muiraquitãs, que eram oferecidos como amuletos aos guacaris.<ref name="Costa"></ref>
 
===Segundo os índios Uaupés ===
No rio Uaupés, havia um lago onde morava uma anciã, a mãe do muiraquitã. Certa manhã, ela se transformou numa serpente, e foi morta por um homem. O rio imediatamente inundou, afogando toda a tribo, restando apenas a marca da anciã, o muiraquitã.<ref name="Costa"></ref>
 
== Literatura ==
A trama de ''[[Macunaíma]]'' (1928), de [[Mário de Andrade]], gira entorno do resgate de um muiraquitã.<ref>Andrade, M. de. ''Macunaíma'', 1928. Disponível em: [http://download.baixatudo.globo.com/docs/Macunaima.pdf].</ref>
 
Em ''[[As Aventuras de Benjamim: o Muiraquitã]]'', de Camila Franco, Marcela Catunda e Blantina Franco, o personagem Benjamim usausam um muiraquitã (um fruto de guaraná) que concede desejos para encontrar seu pai perdido, e depois encontra uma Iara que distribui pedras de jade no formato de bichos para índias. Ao receber um muiraquitã, Benjamim se transforma em um guerreiro.{{carece de fontes}}
 
==Games==
No jogo eletrônico brasileiro ''[[Aritana e a Pena da Harpia]]'' do estúdio ''[[Duaik]]'', baseado na mitologia indígena brasileira, os muiraquitãs são itens coletáveis que concedem acesso às fases bônus do jogo<ref>Duaik. ''Aritana and the Harpy's Feather'', 2014. Disponível em [http://en.duaik.com/press.html].</ref>.
 
{{Referências}}
 
== Bibliografia ==
* Associação Brasileira dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares. ''Estatuetas'', [https://web.archive.org/web/20120425135550/http://www.abrasoffa.org.br/folclore/artesanato/estatuetas.htm]. ''Muiraquitã'', [https://web.archive.org/web/20121024034930/http://www.abrasoffa.org.br/folclore/lendas/muiraquita.htm].
* {{Cite journal| doi = 10.1590/1809-43922002323490| issn = 1809-4392| volume = 32| issue = 3| pages = 467–490| author = Costa, Marcondes Lima da et al| last2 = Silva| first2 = Anna Cristina Resque Lopes da| last3 = AngéLica| first3 = Rômulo Simões| title = Muyrakytã ou muiraquitã, um talismã arqueológico em jade procedente da Amazônia: uma revisão histórica e considerações antropogeológicas| journal = Acta Amazonica| accessdate = 25 de julho de 2015| date = 2002| url = http://ref.scielo.org/bq6t8n}}
* {{Citar tese|titulo =Muiraquitã e contas do Tapajós no imaginário indígena: uma análise químico - mineralógica dos artefatos dos povos pré - históricos da Amazônia |url =http://www.ppgg.ufpa.br/arquivos/resumos/teses/2011_tese_Anna_Meirelles.pdf |ultimo =Meirelles |primeiro =Anna Cristina Resque |grau =Tese (de Doutorado em Geoquímica e Petrologia) |acessadoem =28 de julho de 2015 |local =Belém |universidade = Universidade Federal do Pará |ano =2011 |páginas =102}}
* {{Cite journal| volume = 65| issue = 1| pages=59-64 |last1 = Resque Meirelles| first1 = Anna Cristina| last2 = da Costa| first2 = Marcondes Lima| title = Mineralogy and chemistry of the green stone artifacts (muiraquitãs) of the museums of the Brazilian State of Pará| journal = Rem: Revista Escola de Minas| accessedaccessdate = 2015-07-28| date = 2012| url = http://ref.scielo.org/f39vxd |doi=10.1590/S0370-44672012000100008 |issn=0370-4467}}
* {{Cite webjournal| volume = 20| issue = 21| pages=89-119|last1 = Torres| first1 = M.| title = A pedra muiraquitã: O caso do rio Uruará no enfrentamento dos povos da floresta às madeireiras na Amazônia.| páginasjournal 89-119= Revista de Direito Agrário | accessdate = 2015-07-28| date = 2007| url = http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arquivos_64/pageflip-4001789-74145-lt_Revista_de_Direito_Ag-1610914-2.pdf#page=90}}
* {{Cite web| title = Acta Amazonica - Muyrakytã or muiraquitã, an archcological jade talisman from amazonia: physical aspects, mineralogy, chemistry and its etnographic and geological importance| accessdate = 2015-07-28| url = http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672002000300431&lng=en&nrm=iso&tlng=pt}}
* {{Cite web| title = A pedra muiraquitã: O caso do rio Uruará no enfrentamento dos povos da floresta às madeireiras na Amazônia. páginas 89-119 | accessdate = 2015-07-28| url = http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arquivos_64/pageflip-4001789-74145-lt_Revista_de_Direito_Ag-1610914-2.pdf#page=90}}
 
{{Esboço-arqueologia}}