Pedro, o Eremita: diferenças entre revisões

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'''Pedro, o Eremita''' ou '''Pedro de Amiens''' ([[Amiens]], [[1053]] - [[Abadia]] de Neufmoutier, [[Huy]], [[8 de Julho]]julho de [[1115]]<ref name="wikisource">{{ws|[[s:en:Catholic Encyclopedia (1913)/Peter the Hermit|Artigo sobre Pedro, o Eremita]] na ''[[Enciclopédia Católica]] de [[1913]]''}} ([[língua inglesa|em inglês]])</ref>), chamado ''Pierre l'Ermite'' ou ''Pierre d’Amiens'' [[língua francesa|em francês]] e ''Petrus Eremita'' em [[latim]], foi um [[monge]] [[França|francês]] e um dos principais pregadores da [[Primeira Cruzada]].
 
Liderou a componente não-oficial desta expedição, a malograda [[Cruzada Popular]] ou [[Cruzada dos Mendigos]], e foi um dos seus poucos sobreviventes. Depois de se juntar à [[Primeira Cruzada#Cruzada dos Nobres|Cruzada dos Nobres]], conseguiu cumprir o seu voto de cruzado de visitar o [[Santo Sepulcro]] em [[Jerusalém]]. Morreria somente alguns anos mais tarde, em solo [[Europa|europeu]].
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| volume =
| id = }}
</ref>, seria filho de Renauld L'Hermite (Reinaldo o Eremita) de [[Auvérnia]] com Alide de Montaigu da [[Picardia]]. Teria sido casado com Beatriz de Roussy da [[Normandia]], com a qual teve dois filhos: Pedro e Ailide. Ao enviuvar, teria tomado o hábito de religioso. Estaria assim na origem da família ''L'Hermite'' (literalmente ''os Eremita'' em [[língua portuguesa|português]]), da qual também foram membros Tristan L’Hermite, [[ministro]] do rei [[Luís XI de França]], Jacques L'Hermite ([[1582]]-[[1624]]), [[navegador]] que deu o seu nome às [[Ilhas Eremita]] junto ao [[Cabo Horn|Cabo de Hornos]] na [[Terra do Fogo]], e François Tristan L'Hermite ([[1601]]-[[1655]]), [[escrivão]] e membro da [[Academia Francesa]], continuando a haver seus descendentes com este sobrenome na actualidade.
 
Outra versão foi descrita no [[século XIV]] pelo [[trovador]] francês Jehan-le-Bouteiller, que cantava a memória «''de um chamado Pedro o Eremita, descendente de um conde de Clairmont por um senhor de Herrymont''», e que se casou com uma mulher da família Montagut. Estes seriam os pais de Pedro: Renauld d'Hérimont e Aleïdis de Montaigu. O nome de Aleïdis encontra-se no [[obituário]] da Abadia de Neufmoustier em [[Huy]] como a «''mãe de Dom Pedro, possuidora de uma casa em Huy''». É então provável que Pedro tivesse nascido em Hérimont, no [[vale]] do [[rio Lesse]] (nas [[Ardenas]]), região naquela época (c. [[1050]]) sob a [[suserania]] do poderoso senhorio de Montaigu<ref name="Daele">
{{Referência a livro
| autor = Freddy Van Daele
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</ref>.
 
As fontes diferem quanto à sua presença ou não no Concílio de Clermont, mas é consensual que Pedro foi um dos mais populares pregadores da cruzada, juntando multidões em [[Província de Berry|Berry]], [[Orleães|Orléanais]], [[Champagne (província)|Champagne]], [[Lorena (França)|Lorena]] e [[Renânia]]. Em pouco tempo passou para a [[história]] como um orador apaixonado, e a vasta maioria dos [[historiador]]es, [[cronista]]scronistas e autores de outros escritos concordam que foi pela sua influência que milhares de [[povo|plebeus]] tomaram a [[cruz]].
 
[[Imagem:PetrPoustevník.jpg|thumb|250px|Pedro ''o Eremita'' prega a [[cruzada]] ao povo ([[ilustração]] de [[Gustave Doré]], [[século XIX]])]]
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[[Imagem:Gustave Doré - Peter the Hermit.jpg|thumb|left|200px|Pedro prega aos [[cruzada|cruzados]], inspirando reverência e maravilhamento ([[ilustração]] de [[Gustave Doré]], [[século XIX|séc. XIX]])]]
 
Para estes plebeus, Pedro naturalmente se tornou no instigador da cruzada, que pela mesma visão simplista tornou Godofredo no fundador do [[Reino Latino de Jerusalém]] e o legislador dos [[Assizes de Jerusalém]]. Esta versão será tão antiga quanto a ''Chanson des chétifs'', um [[poema]] que o príncipe [[Raimundo de Antioquia]] mandou compor em honra de ''o Eremita'' e dos seus seguidores pouco depois de [[1130]], que depois passou para a ''Chanson d'Antioche'' e agora faz parte do conjunto de [[canções de gesta]] chamado ''[[Ciclo das Cruzadas]]''. Também surge nas crónicas de [[Alberto de Aquisgrão]], escritas em cerca de [[1130]] e usadas como referência para a obra de Guilherme de Tiro. A maioria dos escritores contemporâneos da Primeira Cruzada concordam assim que Pedro foi o seu verdadeiro instigador, que os seus objectivos teriam sido corrompidos e servido para a prática de violência, em contraste com a natureza mais pura e essencialmente não-violenta da Cruzada Popular.
 
Historiadores [[catolicismo|católicos]] e académicos modernos desmentem esta versão dos acontecimentos<ref name="Riley-Smith" />, considerando tais histórias como um caso de amplificação lendária da Primeira Cruzada - que tendo começado durante a própria expedição, na idealização dos cruzados, em pouco tempo se desenvolveu em uma [[Saga (literatura)|saga]]. São consideradas autoridades sobre a história de Pedro ''o Eremita'': ''Gesta Francorum'' e [[Ana Comnena]] na ''Alexíada''; para o personagem lendário, [[Alberto de Aquisgrão]].
 
Pedro juntou o seu exército em [[Colônia (Alemanha)|Colónia]] a [[12 de Abril]]abril de [[1096]], planeando parar nessa cidade para pregar aos [[germânicos]] e obter mais cruzados. Mas o contingente [[francos|franco]] não estava disposto a aguardar pela chegada destes, pelo que alguns milhares partiram em direcção a [[Constantinopla]] sob a liderança de [[Gualtério Sem-Haveres]]<ref name=Grousset77>René Grousset, ''Histoire des croisades'', p.77</ref>.
 
Simultaneamente nesta região estava a ocorrer a violência [[anti-semitismo|anti-semítica]] pregada por padres como Volkmar e Gottschalk. Pedro ''o Eremita'' não terá apelado à perseguição dos [[judeu]]s, mas terá usado o terror criado pelos [[assassínio em massa|massacres]] cometidos contra esta minoria para obter, das suas comunidades ameaçadas, o financiamento e os mantimentos necessários à expedição.
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[[Imagem:Peter the Hermit.jpg|thumb|left|200px|Pedro ''o Eremita'' a liderar os [[cruzada|cruzados]] ([[iluminura]] [[Idade média|medieval]])]]
 
Ao fugirem, atravessando o rio Sava, os ocidentais chegaram a [[Belgrado]], lutando contra as tropas da cidade. Os residentes fugiram e os cruzados pilharam e [[incêndio|incendiaram]] Belgrado, e depois marcharam durante sete dias até chegar a [[Niš]], a [[3 de Julho]]julho. O comandante desta cidade prometeu fornecer alimentos e uma escolta para os peregrinos até [[Constantinopla]], se estes partissem imediatamente.
 
Pedro ''o Eremita'' partiu na manhã seguinte, mas alguns germânicos entraram em uma nova disputa com os locais na estrada e incendiaram um [[moinho]]. O conflito escalou até ao ponto de Niš enviar toda a sua [[Guarnição (força militar)|guarnição]] contra os cruzados. O resultado foi a completa derrota do exército peregrino, que perdeu cerca de 10.000 cruzados, cerca de um quarto do seu total<ref name="Norwich" />. Depois de se reagruparem em [[Bela Palanka]] (na [[Sérvia]]), chegaram a [[Sófia]] a [[12 de Julho]]julho. Lá encontraram a escolta bizantina que os conduziria em segurança até Constantinopla, onde chegaram a [[1° de Agosto]]agosto para se reunirem com o contingente de Gualtério.
 
O imperador [[Aleixo I Comneno]] viu-se a braços com uma expedição de peregrinos desordeiros, cujos próprios líderes não conseguiam controlar. Temendo mais tumultos e com mais cruzados a chegar ou a caminho da sua capital, apressou-se a transportar os 30.000 [[Cristianismo ocidental|cristãos latinos]] pelo [[Bósforo]]<ref name="Norwich" /><ref>
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Aleixo avisou ''o Eremita'' para não dar [[batalha (guerra)|batalha]] aos turcos, que o bizantino acreditava serem guerreiros superiores a este exército desorganizado, e para aguardarem a chegada das tropas mais bem equipadas que estavam para chegar na [[Primeira Cruzada#Cruzada dos Nobres|Cruzada dos Nobres]]. Tem sido debatido se foi de propósito que o imperador não lhes forneceu guias bizantinos, que conheciam a [[Anatólia]], sabendo que sem guias os cruzados seriam chacinados pelos turcos; ou se pelo contrário teriam sido os cruzados que insistiram em prosseguir a viagem pela [[Ásia Menor]] apesar dos seus avisos.
 
[[Imagem:Peter the Hermit 2.jpg|thumb|200px|Pedro ''o Eremita'' a ser recebido na [[Corte (realeza)|corte]] de [[Aleixo I Comneno]] ([[pintura]] do [[século XIX]])]]
 
Os cruzados estabeleceram uma base temporária em acampamento usado por mercenários ao serviço do Império Bizantino, chamado Civitot<ref>René Grousset, ''Histoire des croisades'', p.77-79</ref>. Entretanto as tensões entre [[francos]] de um lado, e [[germânicos]] e [[italianos]] do outro, resultaram em uma diferença de opiniões sobre como continuar. O exército separou-se em dois contingentes, o franco liderado por Godofredo Burel e o germânico/italiano por um italiano chamado Reinaldo.
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Os sobreviventes da [[Cruzada Popular]] passaram o [[Inverno]] em [[Constantinopla]], com pouca assistência dos bizantinos. Aguardavam a chegada da [[Primeira Cruzada#Cruzada dos Nobres|Cruzada dos Nobres]] para, sob escolta destes, poderem concluir a [[peregrinação]] a [[Jerusalém]].
 
Os barões chegaram durante a [[Primavera]] de [[1097]] e ''o Eremita'' juntou-se a esta expedição como um membro do conselho. Apesar de os seus números nunca mais atingirem os 40.000 de 1096, os [[mendigos]] sob a sua responsabilidade foram aumentando durante a Cruzada dos Nobres com os cruzados entretanto desarmados, feridos ou falidos. Pedro apenas atraiu atenção ao proferir alguns discursos para motivar os companheiros. Ficou limitado a um papel subordinado durante o resto da expedição, que entretanto se tornara claramente em uma campanha militar e contava com o seu próprio líder espiritual, o [[legado papal]] [[Ademar de Monteil]].
 
No entanto, a sua presença é referida no início de [[1098]], durante o [[cerco de Antioquia]]. Esta acção militar foi talvez a mais dura da Primeira Cruzada devido à sua longa duração (cerca de oito meses) e às dificuldades de abastecimento que os cruzados enfrentaram, sofrendo [[Fome (crise humanitária)|fome]] e [[doença]]s. Muitos plebeus e nobres, como o conde [[Estêvão II, Conde de Blois|Estêvão de Blois]], desesperaram e abandonaram a expedição nesta altura.
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Descrito por [[Guiberto de Nogent]] como uma "estrela caída", ''o Eremita'' também tentaria desertar, juntamente com Guilherme le Charpentier, [[visconde]] de [[Melun]]. [[Tancredo da Galileia|Tancredo de Altavila]], temendo uma [[deserção]] generalizada, perseguiu os dois fugitivos e levou-os à força junto para junto do seu tio [[Boemundo I de Antioquia|Boemundo de Tarento]], que os repreendeu severamente<ref>{{link|en|http://www.fordham.edu/halsall/source/gesta-cde.html#antioch2|Medieval Sourcebook: Gesta Francorum - 11. The Sufferings of the Crusaders at Antioch}}</ref>.
 
No entanto, Guibert e outras fontes referem que, quando foi a vez de os cruzados ficarem cercados em Antioquia pelo exército de [[Kerbogha]], Pedro foi escolhido para parlamentar com o líder [[muçulmano]] e solicitar-lhe que levantasse o cerco<ref>{{link|en|http://www.fordham.edu/halsall/source/gesta-cde.html#antioch6|Medieval Sourcebook: Gesta Francorum - 15. The Defeat of Kerbogha}}</ref>. A [[27 de Junho]]junho, acompanhado de um [[intérprete]] chamado Herluin que falava a [[língua árabe]], terá sugerido que a posse da cidade fosse decidida em [[duelo]], mas Kerbogha teria recusado e posteriormente seria derrotado na [[Cerco de Antioquia#Batalha de Antioquia|batalha de Antioquia]].
 
[[Imagem:Peter the Hermit praying at the Holy Sepulchre.jpg|thumb|150px|Pedro a rezar no [[Santo Sepulcro]] ([[iluminura]] [[Idade Média|medieval]] na ''Histoire d'Outreme'' de [[Guilherme de Tiro]])]]
 
Pedro volta a surgir nas crónicas como [[tesoureiro]] das [[esmola]]s no [[Cerco de Jerusalém (1099)#Cerco de Arqa|Cerco de Arqa]] em Marçomarço de [[1099]], e no [[Monte das Oliveiras]] a [[8 de Julho]]julho, no [[Cerco de Jerusalém]]. Durante esta acção militar os cruzados marcharam em [[procissão]], pretendendo que as [[muralha]]s desta cidade caíssem da mesma forma que a [[Bíblia]] relata ter acontecido com [[Josué]] no cerco de [[Jericó]]. Pedro ''o Eremita'' foi um dos oradores dos [[sermão|sermões]] que suplicavam a intervenção divina. Posteriormente é descrita a sua presença em [[Jerusalém]], depois da conquista desta cidade e antes da [[batalha de Ascalão]]. No final de [[1099]] foi para [[Lataquia]] e de lá apanhou uma embarcação para o ocidente, desaparecendo das [[crónicaCrónica (historiografia)|crónicas]]s.
 
==Regresso à Europa==
Os últimos anos da vida de Pedro ''o Eremita'' ainda são assunto de debate. [[Alberto de Aquisgrão]] registrou a morte de Pedro em [[1131]], como [[prior]] de uma Igreja do Santo Sepulcro que fundara na [[França]]. Uma [[lenda]] conta que e [[1100]] estava em [[Huy]], onde fundou o [[mosteiro]] de Neufmoustier e morreu em [[1115]]. Esta parece ter origem nos escritos do [[teólogo]] Jacques de [[Vitry-en-Perthois|Vitry]] que, para ganhar adesão à [[Cruzada albigense]], teria manipulado a história para alegar a ligação de algumas figuras heróicas a [[Pas-de-Calais]] e junto ao curso do [[rio Mosa]]<ref>
{{Referência a livro
| autor = Paul de Saint-Hilaire
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</ref>.
 
No entanto, o [[obituário]] da Abadia de Neufmoustier em [[Huy]] parece confirmar estas informações. Na página de [[8 de Julho]]julho de [[1115]], afirma que neste dia ocorreu «''a morte de Dom Pedro, de piedosa memória, venerável padre e eremita, que merece ser designado pelo Senhor por anunciar a primeira, Santa Cruz'' [...] ''após a conquista da Terra Santa, Pedro voltou ao país natal'' [...] ''fundou esta igreja'' [...] ''e aqui escolheu uma sepultura adequada''»<ref name="Daele" />.
 
{{referênciasReferências|col=2}}
{{commonscat|Peter the Hermit}}
 
Linha 328:
| id = ISBN 2-213-59787-1}}
 
{{Portal3|França|Biografias|História|Religião|Guerra}}
{{biografias}}
 
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[[Categoria:Cristãos da Primeira Cruzada]]