Mos maiorum: diferenças entre revisões

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== Tradição e evolução ==
O conservadorismo romano encontra uma clara expressão em um edito dos [[Censor romano|censores]] do ano [[92 a.C.]], conservado na obra do historiador Suetônio, do século II: "Todo o novo, que é feito contrariando o uso e os costumes dos nossos antepassados, parece não estar certo".<ref>{{citar livro|titulo=De Claris Rhetoribus, I|ultimo=Suetonius|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref> Mas como o ''mos maiorum'' era uma questão de costume, e não de leis escritas, as normas complexas que incorporavam evoluíram ao longo do tempo. A capacidade de preservar um forte sentimento de identidade centralizada junto com a adaptação a novas circunstâncias, permitiram o expansionismo que levou Roma, uma cidade-estado, a se tornar uma potência mundial.<ref>{{citar livro|titulo=Ver, por exemplo, a referência de Hölkeskamp à "capacidade de autorregulação" da República" Reconstructing the Roman Republic, p. 18. Erich S. Gruen, The Last Generation of the Roman Republic (University of California Press, 1974), p. 535.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref> A preservação dos ''mos maiorum'' dependia de consenso e moderação por parte da elite no poder, cuja competição por poder e status sempre ameaçava a manutenção do mos<ref>{{citar livro|titulo=Hölkeskamp, Reconstructing the Roman Republic, pp. 29, 41–42 et passim.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref>.
 
As políticas democráticas impulsionadas pela força carismática de que gozavam os elementos populares do povo romano (''pupulus'') minaram de certa forma o princípio conservador do mos.<ref>{{citar livro|titulo=Hölkeskamp, Reconstructing the Roman Republic, p. 42|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref> Dado que as altas magistraturas e o sacerdócio eram originalmente uma prerrogativa dos patrícios, os esforços de ascensão dos plebeus (a ''plebs'') podiam ser vistos como uma ameaça à tradição (ver Conflito das Ordines). A reforma se efetuou por meio da legislação, e a lei escrita substituiu as regras consensuais.<ref>{{citar livro|titulo=Gruen, The Last Generation of the Roman Republic, pp. 258, 498, 507–508.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref> Quando os plebeus obtiveram uma ascenção a quase todas as altas magistraturas, com exceção de alguns poucos tipos de sacerdócios, os interesses das famílias plebeias que ascenderam à elite começaram a alinhar-se àqueles dos patrícios, criando o grupo dos nobiles de Roma, um status de elite social com uma definição difusa durante a República.<ref>{{citar livro|titulo=O período da segunda guerra samnita foi crucial para a formação desta nova elite; ver E.T. Salmon, Samnium and the Samnites (Cambridge University Press, 1967), p. 217, y Erich S. Gruen, "Patrocinium and Clientela," en The Hellenistic World and the Coming of Rome (University of California Press, 1984), p. 163.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref> A plebs e seu apoio aos políticos populares continuou constituindo uma ameaça para o mos e pra o consenso das elites durante a República tardia, tal como se refletia na retórica de Cícero.<ref>{{citar livro|titulo=T.P. Wiseman, Clio's Cosmetics (Leicester University Press, 1979), pp. 67–69, 85, et passim.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</ref>
 
A ''auctoritas maiorum'' ("autoridade ancestral") podia ser evocada para justificar progressos sociai em nome da tradição. Com o colapso da República depois da morte de Júlio César, Augusto baseiou seu programa radical no respeito ao ''mos maiorum''.<supref>14{{citar livro|titulo=Sobre os estudos das estratégias políticas de Augusto, consultar por exemplo M.K. Thornton y R.L. Thornton, Julio-Claudian Building Programs: A Quantitative Study in Political Management (Bolchazy-Carducci, 1989), p. 106 online; E.J. Kenney, The Age of Augustus (Cambridge University Press, 1982), p. 42; The World of Rome (Cambridge University Press, 1997), p. 132|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref>
 
Durante a transição para o Império cristão, Símaco assegurou que a continua estabilidade e prosperidade de Roma dependia da preservação dos ''mos maiorum'', enquanto que o poeta paleocristão Prudêncio rejeitou a busca cega da tradição considerando-a como "a superstição dos velhos avós" ''(superstitio veterum avorum)'' e inferior à nova verdade revelada pelo cristianismo.<supref>15{{citar livro|titulo=Clifford Ando, "The Palladium and the Pentateuch: Towards a Sacred Topography of the Later Roman Empire," Phoenix 55 (2001), p. 388.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref>
 
'''Valores'''
 
Artigo principal: ''Virtudes romanas''
* '''''Fides.''''' A palavra latina ''fides'' abarca algumas palavras como boa fé/lealdade, confiança, confiabilidade e credibilidade.<supref>16{{citar livro|titulo=Hölkeskamp, Reconstructing the Roman Republic, p. 34|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Constituiu um importante conceito no direito romano, dado que os acordos verbais eram frequentes.<supref>17{{citar livro|titulo=“Bona fides,” Berger. pg 374|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> O conceito de ''fides'' foi personificado pela deusa Fides, cujo papel no ''mos maiorum'' é atestado pela antiguidade de seu culto.<supref>18{{citar livro|titulo=Adkins. pg 78|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Seu templo é datado por volta de 254 a.C.<supref>19{{citar livro|titulo=Ziolkowski, “Temples”|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> e estava localizado na Colina Capitolina em Roma, próximo ao Templo de Júpiter.
* '''''Pietas.''''' A atitude romana de forte respeito aos deuses, à pátria, aos pais e à família era expressa pela palavra ''pietas'', que exigia que as relações fossem permeadas pela diligência e moralidade.<supref>20{{citar livro|titulo=Adkins. p. 180|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Cícero definiu a ''pietas'' como "justiça para com os deuses."<supref>21{{citar livro|titulo=De Natura Deorum. 1.116|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Ia além do sacrifício e da execução corretas do ritual, incluindo a entrega pessoal e a retidão do indivíduo, e era aaa virtude cardinal do héroiherói romano EneasEnéas na ''Eneida'' de Virgílio. O uso da forma adjetivada ''Pius'' como cognome refletia sua importância como um traço de identidade. Como a ''Fides'', a ''Pietas'' foi venerada como uma deusa, com um templo consagrado em 191 a.C.<supref>22{{citar livro|titulo=Según Tito Livio, Ab urbe condita. xxxx. 34|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> e a ela dedicado dez anos mais tarde.
* '''''Religio''''' e '''''Cultus'''''. Vinculados ao verbo latino ''religare'', “atar”, ''religio'' é a união entre deuses e mortais, tal como acontece nas práticas religiosas tradicionais<supref>23{{citar livro|titulo=Adkins. pg 190|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> para preservar a ''pax deorum'' (“paz dos deuses”). ''Cultus'' era a observância constante e a realização correta dos rituais.<supref>24{{citar livro|titulo=Adkins. pg 55|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> A prática religiosa neste sentido deve se distinguir da ''pietas'' e moralidade a ela inerente. Ver Religião na  Roma antiga e Culto imperial (Roma Antiga).
* '''''Disciplina'''''. O carácter militar da sociedade romana sugere a importância da ''disciplina'' e sua relação com a educação, treinamento, disciplina e autocontrole. Sobre a divindade homônima ver Disciplina (mitologia).
* '''''Gravitas''''' e '''''Constantia'''''. ''Gravitas'' foi reverenciada como autodominioautodomínio.<supref>25{{citar livro|titulo=Ward. p. 58|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> ''Constantia'' pode ser traduzida como constância ou perseverância.<supref>26{{citar livro|titulo=Ab urbe condita. xxii. 58. Ver também o Comentário sobre Livio de Ogilvie 1-5.|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Frente à  adversidade, exigia-se que um "bom" romano mantivesse um semblante sereno. A mitologia e a história romanas destacaram este valor por meio do relato de contos de autores como Mucio Escévola,<supref>27{{citar livro|titulo=Ab urbe condita. ii. 12|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> que numa lenda fundadora da República demostrou sua responsabilidade e determinação frente ao rei etrusco Lars Porsenna pondo sua mão direita sobre o fogo.
* '''''Virtus'''''. Derivada da palavra latina ''vir'' (“homem”), ''virtus'' constituía o ideal de um verdadeiro varão romano.<supref>28{{citar livro|titulo=Ward. p. 57|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Lucilio analisa a ''virtus'' em algumas de suas obras, dizendo que para um homem a ''virtus'' é saber o que é bom, mau, inútil, vergonhos, ou desonroso.<supref>29{{citar livro|titulo=Ward. p. 57|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref> Sobre a divindade homônima ver Virtus (mitologia).
* '''''Dignitas''''' e '''''auctoritas'''''. ''Dignitas'' e ''auctoritas'' constituíam o resultado final do quadro de valores do romano ideal e do serviço ao estado por meio de  sacerdócios, cargos militares e magistraturas. ''Dignitas'' era conseguida por  mérito, honra e apreço. Assim, um romano que demostrava sua ''gravitas'', ''constantia'', ''fides'', ''pietas'' e outros valores apropriados a um romano possuía ''dignitas'' entre seus iguais. De forma semelhante, através desta via, um romano podia obter ''auctoritas'' (“prestigio e respeito”).<supref>30{{citar livro|titulo=Ward. p. 58|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=|acessodata=}}</supref>{{Referências|col=2}}
 
REFERÊNCIAS
 
1.
 
·  ''Cives'' = ciudadano.
 
·  ·  Hölkeskamp, ''Reconstructing the Roman Republic'', p. 33.
 
·  ·  Carlin A. Barton, ''The Sorrows of the Ancient Romans: The Gladiator and the Monster'' (Princeton University Press, 1993), pp. 176–177.
 
·  ·  Hölkeskamp, ''Reconstructing the Roman Republic'', pp. 33–35.
 
·  ·  Cicero, ''De officiis'' 1.35.
 
·  ·  Erich S. Gruen, "''Patrocinium'' and ''clientela''," in ''The Hellenistic World and the Coming of Rome'' (University of California Press, 1986), vol. 1, pp. 162–163.
 
·  ·  Suetonius, De Claris Rhetoribus'','' i.
 
·  ·  Ver, por ejemplo, la referencia de Hölkeskamp a la "capacidad para autorregularse" de la República" ''Reconstructing the Roman Republic'', p. 18. Erich S. Gruen, ''The Last Generation of the Roman Republic'' (University of California Press, 1974), p. 535.
 
·  ·  Hölkeskamp, ''Reconstructing the Roman Republic'', pp. 29, 41–42 ''et passim''.
 
·  ·  Hölkeskamp, ''Reconstructing the Roman Republic'', p. 42.
 
·  ·  Gruen, ''The Last Generation of the Roman Republic'', pp. 258, 498, 507–508.
 
·  ·  La Segunda guerra samnita fue un periodo crucial en la formación de esta nueva élite; ver E.T. Salmon, ''Samnium and the Samnites'' (Cambridge University Press, 1967), p. 217, y Erich S. Gruen, "''Patrocinium'' and ''Clientela''," en ''The Hellenistic World and the Coming of Rome'' (University of California Press, 1984), p. 163 online.
 
·  ·  T.P. Wiseman, ''Clio's Cosmetics'' (Leicester University Press, 1979), pp. 67–69, 85, ''et passim''.
 
·  ·  Para este tema generalizado sobre los estudios de las estrategias políticas de Augusto, consultar por ejemplo M.K. Thornton y R.L. Thornton, ''Julio-Claudian Building Programs: A Quantitative Study in Political Management'' (Bolchazy-Carducci, 1989), p. 106 online; E.J. Kenney, ''The Age of Augustus'' (Cambridge University Press, 1982), p. 42; ''The World of Rome'' (Cambridge University Press, 1997), p. 132 online.
 
·  ·  Clifford Ando, "The Palladium and the Pentateuch: Towards a Sacred Topography of the Later Roman Empire," ''Phoenix'' 55 (2001), p. 388.
 
·  ·  Hölkeskamp, ''Reconstructing the Roman Republic'', p. 34.
 
·  ·  “Bona fides,” Berger. pg 374
 
·  ·  Adkins. pg 78
 
·  ·  Ziolkowski, “Temples”
 
·  ·  Adkins. p. 180
 
·  ·  ''De Natura Deorum''. 1.116
 
·  ·  Según Tito Livio, ''Ab urbe condita''. xxxx. 34
 
·  ·  Adkins. pg 190
 
·  ·  Adkins. pg 55
 
·  ·  Ward. p. 58
 
·  ·  ''Ab urbe condita''. xxii. 58. Ver también el Comentario sobre Livio de Ogilvie 1-5.
 
·  ·  ''Ab urbe condita''. ii. 12
 
·  ·  ''Ward. p. 57''
 
·  ·  ''Ward. p. 57''
 
30.  ·  ''Ward. p. 58''
 
'''Bibliografía'''
* Adkins, L. and Adkins, R. ''Dictionary of Roman Religion''. New York: Oxford University Press, 2000.
* Berger, Adolph. ''Encyclopedic Dictionary of Roman Law''. Philadelphia: The American Philosophical Society, 1991.
* ''Brill’s New Pauly''. Antiquity volumes edited by: Huber Cancik and Helmuth Schneider. Brill, 2008 Brill Online.
* Oxford Classical Dictionary. 3rd Revised Ed. New York: Oxford University Press, 2003.
* Stambaugh, John E. ''The Ancient Roman City''. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1988.
* Ward, A., Heichelheim, F., Yeo, C. ''A History of the Roman People''. 4th Ed. New Jersey: Prentice Hall, 2003{{Referências|col=2}}
 
== Bibliografia ==