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Outra característica desses novos nobres que vinham de camadas mais inferiores era sua ambição em criar uma literatura genealógica que não possuíam, e fizeram isso através de casamentos com a velha nobreza ou através da invenção de mitos que justificassem suas novas posições na sociedade. Vale ressaltar que o matrimônio na [[Idade Média]] desempenhava um papel fundamental, visto que era umas das estratégias de conservação do patrimônio. Ademais “um bom casamento”, poderia trazer mais riqueza e prestígio social. A título de exemplo, Ferreira <ref name=Ferreira>{{citar livro|autor= FERREIRA, Sérgio Carlos|título= Trutesendo Guterres, um infanção portucalense do século XI|local=Porto|editora=|ano=2008}}</ref> relata sobre dois casamentos do infanção Trutesendo Guterres com duas famílias nobres do reino, a Riba Douro e Garcia. Constata-se, dessa forma, que com esses casamentos Trutesendo Guterres pôde continuamente adquirir mais terras. Verifica-se, portanto, nesse período, o grande furor dos livros de linhagens que legitimavam o sangue limpo da nova nobreza. Afinal ser nobre significa ter “o sangue, as armas e o poder”. Segundo Mattoso <ref name=Mattoso>{{citar livro|autor= MATTOSO, José|título= Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros. A Nobreza Medieval Portuguesa nos Séculos XI e XII|local=Lisboa|editora=Guimarães Editores (col. História e Ensaios, nº 2)|ano=1985}}</ref> “as principais famílias de infanções que aparecem no território portucalense (condados de [[Condado Portucalense|Portucale]] e [[Coimbra]]) durante o século XI [são]: Sousãos, Bragançãos, senhores da Maia, de Baião e de Riba Douro”.
 
Os infanções ganharam destaque com o vazio deixado após a extinção da linhagem sucessória dos antigos condes portucalenses, sendo o último desses [[Nuno Mendes]], que se revoltara contra Garcia, filho de [[Fernando I]] e então rei de [[Galiza]], vindo a ser morto no encontro militar em [[Pedroso]], próximo de [[Braga]], no ano de [[1071]]. Essa nobreza deixou de estar dependente dos condes, assumindo a autoridade sobre os habitantes das regiões, em que garantiam a defesa, aplicavam a justiça e eram os depositários do que restava da autoridade pública. E faziam-no cada vez mais em seu próprio nome e já não como detentores de poderes delegados. A sua relação com as populações e com os territórios em que exerciam tais funções era mais forte e personalizada do que a que tinha existido entre as comunidades locais e os antigos condes. A alteração assim operada nas relações políticas e sociais, com a parcelarização e privatização dos poderes que eram exercidos à escala local ou regional, configura o que costuma ser designado por revolução feudal. Esta nova realidade e a consolidação da importância política e do peso social dos infanções, que passaram a depender diretamente do rei sem o intermédio dos condes, iriam conferir-lhes um decisivo papel na evolução dos acontecimentos da região portucalense, no início do [[século XII]].
 
O enriquecimento inicial dos infanções se deu por motivos diferentes, contudo posteriormente eles acumularam riqueza devido o uso das armas, fazendo pilhagem fronteiriça, conquistando as “terras de ninguém” (após as razzias de Alçamor na margem esquerda do [[Rio Douro]]) e cobrando multas seja para si ou a serviços de condes e delegados. Não obstante, os infanções ocuparam cargos relevantes, principalmente devido o apoio prestado aos condes D. Henrique e Dona Teresa que desde a fundação do [[Condado Portucalense]] em 1096 estiveram muitos próximos e estabeleceram laços de solidariedade entre si.
 
Outra razão pela qual os infanções conseguiram ascender socialmente foi através do patrocínio monástico. Investir na fundação de mosteiros era também uma estratégia dessas famílias para conseguir mais afirmação social e adquirir cargos relevantes no reino. Desse modo, é importante ressaltar que praticamente todas as famílias de infanções optaram por fundar ou patrocinar mosteiros durante os séculos X e XI. Podemos citar como exemplos Trutesendo Guterres que funda o [[mosteiro de Paço de Sousa|mosteiro de Paço de Sousa]] em 904, a família Maia, que fundou o [[mosteiro de Santo Tirso]] em 978 e [[Munio Viegas]] (1044-1081), fundador do mosteiro Vila Boa de Quires. De acordo com Ferreira <ref name=Ferreira>{{citar livro|autor= FERREIRA, Sérgio Carlos|título= Trutesendo Guterres, um infanção portucalense do século XI|local=Porto|editora=|ano=2008}}</ref>, esse investimento significava para essas famílias apoio espiritual e material, além de claro, ser patrono ou fundador de um mosteiro trazia prestígio (afirmação política) e valor simbólico. Além disso, para a mentalidade medieval, investir em mosteiros e igrejas era uma maneira de libertar a alma, buscar salvação. Não somente os mosteiros, mas bastantes igrejas foram construídas nas propriedades dos infanções. Embora fossem instituições eclesiásticas, não deixavam de ser propriedade particular. Sendo donos dessas igrejas, esses homens tinham direitos patronais que iam desde a nomeação dos clérigos à administração dos bens gerados por estas. Também era justamente nessas igrejas e mosteiros que protegiam, que essas famílias exerciam sua fé cristã, casando e batizando seus filhos.
 
Os membros mais influentes das famílias de infanções executaram cargos como de curiais de mordomos e alferes, além disso, percebia-se uma crescente entrega de terras para que fossem governadas por esses. Tomando como referência Sottomayor-Pizarro <ref name=José>{{citar livro|autor= SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto|título= O nascimento do reino de Portugal: uma perspectiva nobiliárquica (1096-1157/1300)|local=Coimbra|editora=Universidade de Coimbra|ano=2013}}</ref>, ele atenta para o fato de que muitos infanções receberem prestígios que os colocaram páreo aos ricos-homens, e isto criava um forte pacto de lealdade entre os dirigentes e a nobreza em ascensão. Isto mostra também porquê quando da morte de D. Afonso Henrique, os nobres rejeitaram amplamente os planos de Dona Tereza de anexar o condado portucalense ao reino de [[Galiza]] sob o regime dos Travas, visto que eles haviam angariado com o regime de [[Dom Afonso Henriques|D. Afonso Henrique]] significativa participação política e uma sólida autonomia.
 
Segundo José Mattoso, o Rei [[Fernando Magno]] estabelece uma série de contatos diretos com esses nobres portugueses e, a partir desse momento, os ''filii bane notorum'' começam a desempenhar o papel de representantes do Rei, “não sabemos exatamente se como governadores da região, se como administradores do domínio régio da mesma área”.
 
Ainda de acordo com o autor, esse movimento foi sendo repetido em uma série de regiões, onde esses infanções ou ''filii bane notorum'' tinham-se tornados ricos-homens e passaram a constituir um grupo regional de nobres semelhantes a outros grupos de outras regiões, porém, da mesma categoria social em [[Castela]], [[Galícia]] ou [[Leão]], sendo esses ricos-homens descendentes diretos dos infanções.
 
==Evolução do termo==