Lêdo Ivo: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 179:
* Pertence ao PEN Clube Internacional, sediado em Paris
<br />
 
== Manifesto ==
Durante a reunião da [[Academia Brasileira de Letras]] em 4 de agosto de 2011, Lêdo Ivo leu aos colegas um [[libelo]], um manifesto contra a inquietação na plateia promovida por seu desafeto, o também imortal [[Eduardo Portella]]<ref>[http://extra.globo.com/noticias/rio/cha-apimentado-na-academia-brasileira-de-letras-acaba-em-barraco-literario-2394664.html | Site do jornal "Extra". Acesso em: 6 de Agosto, 2011.]</ref> durante um discurso que fez dias antes, numa conferência em homenagem a [[Gonçalves de Magalhães]]. Eis o discurso na íntegra<ref>[http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5281192-EI6581,00-Ledo+Ivo+ataca+ganidos+gemidos+uivos+de+Eduardo+Portella.html | Portal "Terra Magazine". Acesso em 6 de agosto, 2011.]</ref>:
 
 
::''Sr. Presidente,
::''Senhoras Acadêmicas,
::''Senhores Acadêmicos,<br />
 
 
::''Nesta Academia, como em todas as corporações que se regem pelas normas da civilização, da boa educação, da polidez e da conviviabilidade, o silêncio do auditório, durante a fala de um dos seus integrantes, é um princípio pétreo.<br />
 
::''Esse princípio, Sr. Presidente, foi vulnerado quinta-feira última, quando eu estava falando sobre Gonçalves de Magalhães.<br />
 
::''Durante 25 minutos, este auditório ouviu, ininterruptamente, ganidos, gemidos, vagidos, coaxos, grasnidos, uivos, ladridos, miados, pipilos e arrulhos intoleráveis, senão obscenos, de um macilento boquirroto ostensivamente deliberado a tisnar e perturbar a minha exposição.<br />
 
::''Momentos antes, Sr. Presidente, V. Exa. exarava o seu zelo por esta Casa versando sobre a quilometragem exorbitante de um dos táxis que servem aos acadêmicos do plenário e que, em seu alto juízo, golpeava as burras fartas desta Academia, a mais rica do mundo.<br />
 
::''Esse zelo, que é louvável, ou extremamente louvável, se cingiu na sessão de quinta-feira última, a um inquietante item monetário, e não voltou a florescer quando um dos mais antigos integrantes desta Casa discorria sobre Gonçalves de Magalhães.<br />
 
::''Entendo que era dever inarredável de V. Exa. impor então ao auditório o silêncio de praxe, exercendo plenamente a sua Presidência. Esse entendimento, aliás, não é só meu -mas ainda o de outros companheiros que, finda a sessão, e ao longo da semana, estranharam a omissão, leniência ou tolerância de V. Exa.<br />
 
::''Houve até companheiros que me externaram a opinião de que eu deveria ter suspendido a minha palestra, já que ela fluía num ambiente toldado pela enxurrada de grasnidos a que já aludi. E não posso nem devo esconder que outros confrades, apreciadores das soluções surpreendentes ou belicosas que quebram a monotonia da vida e das instituições, me interpelaram, surpresos, desejosos de saber onde estava a minha alagoanidade, que não se manifestara.<br />
 
::''A todos esses companheiros fiéis à tradição de urbanidade e conviviabilidade desta Academia, onde estou há 25 anos, expliquei o ter lido o meu texto até o fim.<br />
 
::''Deus, em sua infinita generosidade, assegurou-me, aos 87 anos, o timbre de voz de minha juventude. Não pertenço à raça dos velhos trôpegos que, com voz de falsete, emitem arrulhos indecorosos em ocasiões em que a decência reclama o ritual do silêncio. Mas a razão decisiva que me levou a não suspender a minha palestra é outra. Além de ter mantido em mim a voz de minha juventude, Deus me aquinhoou com o sentimento da misericórdia -que é a compaixão suscitada pela miséria alheia - e da piedade, que é dó e comiseração.<br />
 
::''Confesso, Sr. Presidente, que me confrange o coração assistir ao penoso espetáculo dos que, alcançada a velhice, ostentam em seu trajeto os sinais indeléveis e quase póstumos da decadência física, mental e moral aceleradas, e mesmo amparados por bengalas astutas rastejam nos salões, corredores e auditórios tão lastimosamente, com os olhos mortiços fixados no chão, como se temessem resvalar em uma cova aberta.<br />
 
::''Há velhos que não sabem envelhecer e, desprovidos da alegria e do amor à vida, e do emblema do convívio, destilam ódio, inveja e despeito, porejam calúnias e intrigas, bebem o fel do ostracismo e da obscuridade.<br />
 
::''Há velhos que procuram enganar-se a si mesmos, pintando os cabelos, embora as florejantes e fartas cabeleiras antigas já tenham sido devastadas pela sabedoria ou impiedade dos tempo, que as converte em insidiosas relíquias capilares.<br />
 
::''Esses velhos enganosos e enganados, o padre Manuel Bernardes os estampilha de "tintureiros de si mesmo".<br />
 
::''No episódio em pauta, o uso imoderado dessa tintura, ou pintura, para esconder o inescondível e disfarçar o indisfarçável, casa-se com a boquirrotice provocadora.<br />
 
::''Mas, tintureiro de si mesmo e boquirroto, esse personagem bizarro merece e reclama, de nossa parte, não um ato agressivo ou belicoso, ou alagoano, mas a muda expressão dessa piedade e dessa misericórdia que devem habitar sempre os nossos corações.<br />
 
::''Encerro esta palesta com um verso de Lucrécio:
 
::''"É doce envelhecer de alma honesta".<br />
 
::''Deus guarde V. Exa., Senhor Presidente, e os demais integrantes desta Casa.<br />
 
::''Tenho dito
 
 
{{Começa caixa}}
Linha 249 ⟶ 201:
==Ligações externas==
{{Wikiquote|Lêdo Ivo}}
*{{Link||2=http://www.elfikurten.com.br/2013/04/ledo-ivo-uma-aventura-poetica.html |3=Lêdo Ivo – uma aventura poética}}
*{{Link||2=http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5213 |3=Enciclopédia Literatura Brasileira - Lêdo Ivo}}