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[[Imagem:Balboamurder.jpg|300px|thumb|Espanhóis e o [[genocídio]] dos "sodomitas". Gravura do período colonial das Américas.]]
'''Sodomia''' é uma palavra de origem hebráicabíblica usada para designar atos praticados pelos moradores da cidade de Sodoma. SodomiaPor émuitos aanos sodomia vem sendo interpretado por diversos segmentos religiosos como as [[perversão|perversãoperversões sexualsexuais]], com ênfase para o [[sexo anal]], que pode ser entre [[homossexual|homossexuais]] ou [[heterossexual|heterossexuais]], mas também pode designar [[sexo entre homens e anjos]], [[falta de hospitalidade]] e até [[estupro coletivo]].
 
== Origem ==
A palavra sodomia tem origem na descrição [[Bíblia|bíblica]] da destruição de [[Sodoma e Gomorra]]. A Bíblia, no livro do [[Gênesis]], narra que [[Deus]] enviou dois [[anjo]]s para analisarem tais cidades, que seriam origem de diversos pecados.
O termo sodomia vem do nome da antiga cidade de Sodoma (Sodom em hebraico, derivado da raiz sod = secret), que, segundo a Bíblia foi destruída por Deus por causa dos seus muitos pecados. No discurso de hoje ela é identificada com a prática de sexo anal, porque os sodomitas tentaram abusar sexualmente dos mensageiros enviados para resgatar Ló, quando a cidade já havia sido condenada pela gravidade de seus muitos pecados, que, neste caso particular dos mensageiros era sim uma violação das leis da hospitalidade, uma vez que o estupro físico era pecado e crime.
 
{{citar bíblia|Gênesis|19|1|11|citação = À tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Ló estava sentado à porta de Sodoma e, vendo-os, levantou-se para os receber; prostrou-se com o rosto em terra, e disse: Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos em casa de vosso servo, e passai nela a noite, e lavai os pés; de madrugada vos levantareis e ireis vosso caminho. Responderam eles: Não; antes na praça passaremos a noite. Entretanto, Ló insistiu muito com eles, pelo que foram com ele e entraram em sua casa; e ele lhes deu um banquete, assando-lhes pães ázimos, e eles comeram. Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e, chamando a Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite em tua casa? Traze-os cá fora a nós, para que os conheçamos. Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, e disse: Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente; eis aqui, tenho duas filhas que ainda não conheceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado. Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como estrangeiro veio aqui habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para arrombar a porta. Aqueles homens, porém, estendendo as mãos, fizeram Ló ir para dentro da casa, e fecharam a porta; e feriram de cegueira os que estavam do lado de fora, tanto pequenos como grandes, de maneira que cansaram de procurar a porta.}}
 
De acordo com a narrativa, as duas cidades foram destruídas depois do tumulto apresentado.
No mesmo sentido, Sodomia na Idade Média e nos tempos modernos envolvia vários “atos antinaturais”, mas era usado principalmente no caso do sexo anal. A origem do termo está na Bíblia, na história de Sodoma e Gomorra. A identificação do “pecado de Sodoma” com o sexo anal e com a falta de hospitalidade ou luxúria, em geral, é documentado pela primeira vez em St. Augustine (354-430).
 
== Interpretações ==
{{SexoC}}
A interpretação mais difundida do texto acima por parte de entidades religiosas é de que o pecado de Sodoma seria o sexo entre homens, e que com o tempo sodomia se tornou sinônimo de homossexualidade.
Podemos interpretar sodomia de vários sentidos, mas a sua essência não mudará, pois homens, novos e velhos, com sede de sexo perverso, ao ponto de desprezarem duas mulheres virgens para realizarem seus desejos com os dois anjos.
 
Porém, existem outras possíveis interpretações sobre o texto. Segundo o autor José Bortolini, o pecado de Sodoma não é a homossexualidade e sim a falta de hospitalidade, uma vez que os anjos são convidados da casa de Ló e os homens de Sodoma querem praticar maldades com eles.<ref>Bortolini, José; Tire suas dúvidas sobre a Bíblia, 1997</ref>
 
Outra interpretação é a que "sodomia" seria uma referência a um "estupro coletivo".<ref>____, Sodomia uma mancha no casamento, 2012.</ref> O texto bíblico não fala da "relação consensual entre duas pessoas" e sim de uma tentativa de realizar uma relação grupal (todos os homens da cidade) e à força. "Grupal" em ''...cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados...'' e "à força" em ''...Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente... somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado. Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como estrangeiro veio aqui habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para arrombar a porta...''.
 
== História ==
Nos séculos anteriores ao século XIX, não havia a categoria homossexual, que viria a surgir com o discurso médico. Até então, existia a figura do sodomita, que não era uma categoria identitária, mas alguém que cometia o ato da sodomia. Para compreender como e por que houve esta transição de concepção enquanto ato para identidade sexual, temos que percorrer o caminho da construção da categoria homossexualidade através da história.<ref>[http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/9085/9085_3.PDF]</ref>
 
Na Inglaterra, durante o governo de Henrique VIII, a bestialidade foi considerada crime passível de pena de morte, permanecendo assim até 1861. Bestialidade era definida como qualquer ato contra a natureza (sodomia), fosse entre homens e mulheres, homens e animais ou homens e homens.<ref>Weeks ([1996]1997: 45)</ref> coloca que o ponto importante desta lei é o de que ela fala de atos e não de pessoas, ou seja, a sodomia não estava vinculada a um determinado tipo de pessoa, mas era vista como um comportamento possível a qualquer indivíduo.
 
Fazia-se a distinção entre dois tipos de sodomia, a sodomia própria, praticada homem com homem ou homem com mulher e a sodomia imprópria, praticada entre duas mulheres. Se fosse provada a culpa do denunciado, prendia-se somente os que houvessem cometido a sodomia própria.
 
A sodomia brasileira na primeira visita no Santo Ofício no Brasil, foi realizada pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, que não o relaxava o braço secular para se executar a pena capital, já que a Santa Igreja não poderia manchar seu nome com sangue. Apenas a sodomia própria era castigada com a prisão e sobre a sodomia imprópria, não foi escrita uma só linha que mencionasse algum tipo de pena a ela, dando-se a entender que tanto o Santo Ofício, como os teólogos, padres e o próprio autor dessa obra, que baseou esse título nas Constituições do Santo Pio V, ignoraram e fizeram vista grossa a sodomia cometida entre mulheres. Diferentemente do que ocorre nas Ordenações Filipinas, nas quais a punição para o crime de sodomia se estendia tanto aos homens quanto às mulheres que o cometessem entre si, mesmo sendo prevista na teoria, na prática isso não ocorria. Também nas Ordenações se previam a morte dos culpados, fato esse que não ocorria as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, em que apenas o culpado de sodomia própria era preso.
 
Tanto nas Ordenações Filipinas como nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, não há nenhuma explicação que indique de que maneira poderia se dar a sodomia, seja entre homens, seja entre mulheres ou até mesmo entre um homem e uma mulher. Outro fato bastante notório é que já naquela época (séculos XVI, XVII e XVIII), existia uma grande preocupação em condenar as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Exemplo disso, são as previsões que as Ordenações Filipinas e as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia fazem ao pecado da molície, caracterizando-o como masturbação entre homens ou entre mulheres. E se existia tamanha preocupação é porque com certeza havia também uma enorme incidência desses casos.
 
A sodomia feminina sempre foi tratada como um tema ambíguo e os inquisidores nunca conseguiam chegar a um consenso sobre como ela poderia ser praticada entre mulheres. Por isso, em 1640 as relações sexuais entre mulheres passaram a não mais pertencer à alçada inquisitorial.<ref>[http://jornalggn.com.br/fora-pauta/a-sodomia-feminina-na-primeira-visitacao-do-santo-oficio]</ref>
 
No século XVIII, havia dois tipos de corpos (homem e mulher) e três tipos de gênero (masculino, feminino e sodomita), uma vez que o sodomita experienciava seus desejos como resultado de educação ou socialização corrompida, não devido a uma condição do corpo.<ref>Trumbach (1992: 96)</ref> Na sociedade burguesa emergente daquele século, o sodomita tinha importância, pois garantia a manutenção das relações de poder entre homens e mulheres, já que destacava o comportamento sexual (desejo por homens, sentido por sodomitas e mulheres) como marca de diferença de gênero (homens só desejavam mulheres). Isso nos remete a Laqueur (apud Nunan, 2001:8), que estabelece que a busca por estabelecer diferenças só ocorreu porque "essas diferenças se tornaram politicamente importantes."
 
Embora houvesse o sodomita, este era única e exclusivamente pautado no comportamento sexual, não existindo, ainda, a categoria homossexual. Esta só viria a surgir no século XIX, com o discurso médico. Foi depois do advento da separação da medicina geral do corpo da medicina do sexo, com a publicação, em 1846, da Psychopatia Sexualis, de Heinrich Kaan, que passou a vigorar "um domínio médico-psicológico das 'perversões', que viria a tomar o lugar das velhas categorias morais de devassidão e da extravagância"<ref>(Foucault, [1978]2005: 111)</ref>.
 
== Criminalização ==
As [[Ordenações Afonsinas]], primeira consolidação de leis em [[Portugal]], feita no [[século XV]], declaram que a sodomia é o mais torpe, sujo e desonesto pecado ante Deus e o mundo, impondo ao infrator que seja queimado até virar pó, para que não reste memória de seu corpo e sepultura:<ref>[http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/l5pg53.htm]</ref><ref>[http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/l5pg54.htm]</ref>
 
{{quote2|Sobre todos os pecados, bem parece ser o mais torpe, sujo e desonesto o pecado de Sodomia, e não é achado um outro tão aborrecido ante a Deus e o mundo, pois por ele não somente é feita ofensa ao Criador da natureza, que é Deus, mais ainda se pode dizer, que toda a natureza criada, assim celestial como humana, é grandemente ofendida: somente falando os homens neste pecado, sem outro ato algum, tão grande é o seu aborrecimento que o ar não o pode sofrer, mas naturalmente fica corrompido e perde sua natural virtude. Por este pecado lançou Deus o dilúvio sobre a terra, quando mandou a Noé fazer uma arca, em que escapasse ele e toda sua geração, porque reformou o mundo de novo; e por este pecado sorveu as cidades de Sodoma e Gomorra; por este pecado foi destruída a [[Ordem dos Templários]] por toda a Cristandade em um dia. E porque segundo a qualidade do pecado, assim deve ser punido: porém mandamos e pomos por lei geral, que todo homem que tal pecado fizer, por qualquer guisa que ser possa, seja queimado e feito pelo fogo em pó, por tal que já nunca de seu e corpo e sepultura possa ser ouvida memória.|Livro V, Título XVII - "Dos que cometem pecado de sodomia"}}
 
== Ver também ==