Mycobacterium leprae: diferenças entre revisões

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diagnóstico - inoculaçao - sistema nergvoso - genoma - celulas indiferenciadas
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O [[sistema imunitário]] reage eficazmente às micobactérias pela formação de [[granuloma]]s. O tipo de reação imunitária ao ''M. leprae'' é extremamente importante na progressão da lepra. Esta bactéria sobrevive à [[fagocitose]] e multiplica-se inclusivamente dentro dos macrófagos. Se houver uma reacção [[TH1]], citotóxica, com formação de granulomas sequestradores da bactéria e com destruição dos macrófagos infectados, a doença torna-se quase benigna e não é capaz de progredir: é a lepra tuberculóide. Se no entanto for ativada uma resposta [[TH2]], com produção de anticorpos, não há formação de granulomas e a bactéria dissemina-se, surgindo a lepra típica, ou lepra lepromatosa. Quando isso ocorre, as bactérias passam a atuar no sistema nervoso central.
 
== Diagnóstico ==
O diagnóstico da Hanseníase (Lepra) é feito observando os sintomas físicos, que muito característicos, raramente sendo preciso realizar outros exames. São feitas analises das lesões cutâneas, palpações dos nervos, avaliações da sensibilidade superficial e da força muscular dos membros superiores e inferiores. <ref>{{citar web|url=http://www.sbd.org.br/doencas/hanseniase/|titulo=Portal da sociedade de dermatologia - Hanseníase|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
Em casos de dúvida, pode ser feito uma biópsia da área ou exames laboratoriais para medir a quantidade de bacilos presentes na amostra.
 
== Inoculação ==
A ''Mycobacterium leprae'' foi descoberta por Gerhard Armauer Hansen e foi a primeira bactéria a ser relacionada a uma doença humana. Embora tenha sido descoberta em 1873, até hoje não é possível cultivá-la em laboratório e esse fator é considerado como um dos principais empecilhos para a erradicação da hanseníase.
 
O melhor método já desenvolvido para tentar demonstrar a multiplicação da ''M. leprae'' em laboratório é a técnica de Shepard, desenvolvida em 1960: para realização desta técnica bacilos de pacientes com hanseníase não-tratados são inoculados na pata de camundongos imunocompetentes. A partir dos resultados observados, chegou-se ao consenso de que a melhor temperatura para o crescimento do bacilo possa ser entre 27°C e 30°C, suportando a hipótese de que os bacilos tenham predileção por temperaturas abaixo da média corporal humana de 37°C uma vez que as lesões dos pacientes acometidos pela hanseníase geralmente são localizadas na pele, mucosa nasal e nervos periféricos.<ref>{{citar livro|titulo=Aspectos microbiológicos e moleculares do Mycobacterium leprae|ultimo=Diório|primeiro=Suzana Madeira|editora=|ano=|local=|paginas=Hanseníase - Avanços e Desafios|acessodata=}}</ref>
 
== Genoma ==
<ref>{{citar web|url=http://www.nature.com/nature/journal/v409/n6823/abs/4091007a0.html|titulo=Massive gene decay in the leprosy bacillus|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>Apenas 49,5% dos genes da ''M. leprae'' são ativos, sendo que o restante se divide em pseudogenes (genes teoricamente normais, mas não funcionais – 27%) e genes não codificantes (23,5%). Quando comparado ao genoma da ''M. tuberculosis'', que apresenta aproximadamente 90% de genes funcionais, percebe-se que a ''M. leprae'' sofreu uma redução gênica, fruto de um processo de evolução redutiva. Por ter muitos genes em comum com a ''M. tuberculosis'' (por volta de 1400), presume-se que o genoma da ''M. leprae'' já foi muito semelhante ao das outras micobactérias.
 
Esse tipo de processo evolutivo é comum em parasitas celulares obrigatórios: os genes são desativados, pois suas funções não são mais necessárias à sobrevivência de tais seres. Isso pode ter feito com que a ''M. leprae'' perdesse diversas vias metabólicas essenciais a sua sobrevivência fora do hospedeiro, explicando então porque ainda não foi possível cultivar a bactéria in vitro.
 
== Sistema Nervoso ==
A ''M. leprae'' tem a habilidade de invadir o sistema nervoso periférico (SNP) causando diversas neuropatias, sendo seu principal alvo as células de Schwann (células que constroem mielina dos axônios).
 
Embora não sejam muito claros os mecanismos pelos quais a ''M. leprae'' se aloja nas células de Schwann, estudos indicam que a bactéria é ingerida assim que se adere à tais células, no entanto estas não são capazes de digerir o parasita. Então dentro da célula a ''M. leprae'' pode alterar a expressão de genes das células de Schwann, alterando a produção de mielina. Além de servir como hospedeira para o parasita as células de Schwann também o protege das respostas imunes encadeadas pela sua presença.
 
Sendo que a bainha de mielina é responsável pelo chamado impulso saltatório, quando os nervos são lesados há o retardamento da transmissão dos impulsos nervosos, especialmente os de sensibilidade. Isso caracteriza uma das principais características da hanseníase. <ref>{{citar web|url=http://jid.oxfordjournals.org/content/186/9/1283.full|titulo=A New Model for Studying the Effects of Mycobacterium leprae on Schwann Cell and Neuron Interactions|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
== Produção de células indiferenciadas ==
Para analisar melhor como a bactéria afeta as células de Schwann, foram feitos estudos com células de Schwann de ratos adultos infectadas com ''M. leprae'' e isoladas in vitro. Foi observada a mudança na regulação de diversos genes em resposta à infecção: houve maior expressão dos genes relacionados ao desenvolvimento embrionário e menor expressão daqueles relacionados à diferenciação celular. Mais especificamente, a célula se mostrou capaz de exportar para fora do núcleo o principal fator de transcrição regulador da diferenciação das células Schwann, o SOX10, indicando que a infecção pela bactéria desequilibra eventos de transcrição específicos das células de Schwann.
 
Isso mostra que a ''M. leprae'' desencadeia a plasticidade das células de Schwann, ou seja, reverte-as ao seu estado imaturo.  Como as células indiferenciadas são capazes de migrar para diferentes áreas do corpo, a bactéria vai junto com elas. Isso possibilita a infecção de diferentes tecidos, como o músculo esquelético por exemplo.
 
Os mecanismos que desencadeiam esta reprogramação celular ainda não foram elucidados, mas acredita-se que isso possa acontecer em outras doenças infecciosas. Novas descobertas nessa área podem melhorar não só o tratamento da hanseníase, permitindo o diagnóstico nos estados iniciais da doença, mas também possibilitar o uso da ''M. leprae'' para transformar células diferenciadas em células tronco, e isso poderia revolucionar o tratamento de doenças degenerativas como Alzheimer. <ref>{{citar livro|titulo=Reprogramming adult Schwann cells to stem celllike cells by leprosy bacilli promotes dissemination of infection|ultimo=Masaki|primeiro=T.|editora=|ano=2013|local=|paginas=51-67|acessodata=}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.nature.com/nrm/journal/v14/n3/full/nrm3526.html|titulo=Cellular microbiology: Mycobacterium leprae turns back the clock|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
[[Categoria:Mycobacterium]]
[[Categoria:Espécies descritas em 1874]]