Rotavirus: diferenças entre revisões

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== Prevenção ==
[[Imagem:Rotavirus.jpg|miniatura|direita|Os rotavírus têm uma característica forma arredondada.]]
Como a melhoria das medidas higiénicas não diminui a prevalência das doenças retrovirais, e a frequência de hospitalizações se mantém alta apesar do uso de terapia de reidratação oral, a principal intervenção sanitária que se pode aplicar é a vacinação.<ref name="pmid19252423">{{Cite journal |author=Bernstein DI |title=Rotavirus overview |journal=The Pediatric Infectious Disease Journal |volume=28 |issue=3 Suppl |pages=S50–3 |year=2009 |pmid=19252423 |doi=10.1097/INF.0b013e3181967bee |url=http://meta.wkhealth.com/pt/pt-core/template-journal/lwwgateway/media/landingpage.htm?issn=0891-3668&volume=28&issue=3&spage=S50}}</ref> Foram elaboradas duas vacinas contra as infeções de rotavírus A que são seguras e efectivas em crianças:<ref name="pmid20622508">{{Cite journal|author=Jiang V, Jiang B, Tate J, Parashar UD, Patel MM |title=Performance of rotavirus vaccines in developed and developing countries |journal=Human Vaccines |volume=6 |issue=7 |pages=532–42 |year=2010 |pmid=20622508 |doi=10.4161/hv.6.7.11278 |url=http://www.landesbioscience.com/journals/hv/abstract.php?id=11278 |pmc=3322519}}</ref> Rotarix da [[GlaxoSmithKline]]<ref>{{Cite journal|author=O'Ryan M |title=Rotarix (RIX4414): An oral human rotavirus vaccine |journal=Expert review of vaccines |volume=6 |issue=1 |pages=11–9 |year=2007 |pmid=17280473 |doi=10.1586/14760584.6.1.11}}</ref> e RotaTeq da [[Merck &Sharp Co.,& Inc.Dohme|Merck]], com estruturas e esquemas posológicos diferentes.<ref name="pmid17055370">{{Cite journal |author=Matson DO |title=The pentavalent rotavirus vaccine, RotaTeq |journal=Seminars in paediatric infectious diseases |volume=17 |issue=4 |pages=195–9 |year=2006 |pmid=17055370 |doi=10.1053/j.spid.2006.08.005}}</ref> Ambas são administradas por via oral e contêm vírus atenuados vivos.<ref name="pmid20622508"/> Estas vacinas foram estudadas de uma forma extensa, incluindo países europeus, antes do seu lançamento, evidenciando um bom perfil de eficácia e segurança. Em 2009, a [[OMS]] recomendou que se incluísse uma vacina contra os rotavírus em todos os programas nacionais de imunização.<ref name="pmid20370550">{{Cite journal|author=Tate JE, Patel MM, Steele AD, Gentsch JR, Payne DC, Cortese MM, Nakagomi O, Cunliffe NA, Jiang B, Neuzil KM, de Oliveira LH, Glass RI, Parashar UD |title=Global impact of rotavirus vaccines |journal=Expert Review of Vaccines |volume=9 |issue=4 |pages=395–407 |year=2010|pmid=20370550 |doi=10.1586/erv.10.17}}</ref> A incidência e gravidade das infeções por rotavírus diminuiu significativamente nos países que aplicaram esta recomendação.<ref name="pmid21734466">{{Cite journal |author=Giaquinto C, Dominiak-Felden G, Van Damme P, Myint TT, Maldonado YA, Spoulou V, Mast TC, Staat MA |title=Summary of effectiveness and impact of rotavirus vaccination with the oral pentavalent rotavirus vaccine: a systematic review of the experience in industrialized countries |journal=Human Vaccines |volume=7 |issue=7 |pages=734–48 |year=2011 |pmid=21734466 |doi=10.4161/hv.7.7.15511 |url=http://www.landesbioscience.com/journals/hv/abstract.php?id=15511}}</ref><ref name="pmid20622508"/> Por exemplo, no México, que em 2006 estava entre os primeiros países do mundo em que a vacinação contra o rotavírus foi introduzida, as taxas de doenças diarreicas caíram durante o episódio de rotavírus de 2009 em mais do 65% entre as crianças com idades inferiores 2 anos.<ref>{{Cite journal|last=Richardson|first=V|coauthors=Hernandez-Pichardo J, Quintanar-Solares M, et al.|title=Effect of Rotavirus Vaccination on Death From Childhood Diarrhea in Mexico|journal=The New England Journal of Medicine|year=2010|volume=362|issue=4|pages=299–305|url=http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0905211|accessdate=8 May 2012|doi=10.1056/NEJMoa0905211|pmid=20107215}}</ref> Em Nicarágua, que em 2006 se converteu no primeiro país em vias de desenvolvimento a introduzir a vacina do rotavírus, as infeções graves de rotavírus foram reduzidas em 40% e o ingresso nos cuidados intensivos para metade.<ref name="pmid22753550">{{Cite journal |author=Patel M, Pedreira C, De Oliveira LH, ''et al.'' |title=Duration of protection of pentavalent rotavirus vaccination in Nicaragua |journal=Pediatrics |volume=130 |issue=2 |pages=e365–72 |year=2012 |pmid=22753550 |doi=10.1542/peds.2011-3478}}</ref> Nos Estados Unidos a vacinação contra os rotavírus desde 2006 tem reduzido as hospitalizações relacionadas com o rotavírus em 86%. As vacinas puderam também contribuir para a prevenção da doença em crianças não vacinadas ao limitar o número de infeções circulantes.<ref>{{Cite journal|last=Patel|first=MM|coauthors=Parashar UD, eds.|title=Real World Impact of Rotavirus Vaccination|journal=Pediatric Infectious Disease Journal|year=2011|volume=30|issue=Supplement|url=http://journals.lww.com/pidj/toc/2011/01001|accessdate=8 de maio de 2012}}</ref>
 
Existem licenças de vacinas contra o rotavírus em mais de 100 países, mas apenas 28 países introduziram nos seus planos de vacinação rotineiros a vacinação contra o rotavírus.<ref name="WHO GID">{{Citar web|último=World Health Organization|título=Global Immunization Data, March 2012|url=http://www.who.int/immunization_monitoring/Global_Immunization_Data.pdf|acessodata=3 May 2012}}</ref><ref name="pmid19817589">{{Cite journal |author=Widdowson MA, Steele D, Vojdani J, Wecker J, Parashar U |title=Global rotavirus surveillance: determining the need and measuring the impact of rotavirus vaccines |journal=The Journal of Infectious Diseases |volume=200 |issue=Suppl 1 |pages=S1–8 |year=2009 |pmid=19817589 |doi=10.1086/605061}}</ref><ref name="pmid21183842">{{Cite journal |author=Tate JE, Cortese MM, Payne DC, Curns AT, Yen C, Esposito DH, Cortes JE, Lopman BA, Patel MM, Gentsch JR, Parashar UD |title=Uptake, impact, and effectiveness of rotavirus vaccination in the United States: review of the first 3 years of postlicensure data |journal=The Pediatric Infectious Disease Journal |volume=30 |issue=1 Suppl |pages=S56–60 |year=2011 |pmid=21183842 |doi=10.1097/INF.0b013e3181fefdc0}}</ref><ref name="pmid20684708">{{Cite journal|author=Waggie Z, Hawkridge A, Hussey GD |title=Review of rotavirus studies in Africa: 1976–2006 |journal=The Journal of Infectious Diseases |volume=202 |issue=Suppl |pages=S23–33 |year=2010 |pmid=20684708 |doi=10.1086/653554 |url=http://www.jid.oxfordjournals.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=20684708}}</ref> Os ensaios sobre a segurança e eficácia das vacinas Rotarix e RotaTeq na África e Ásia concluíram que as vacinas reduziam drasticamente as diarreias graves entre crianças nos países em vias de desenvolvimento, nos quais ocorria a maioria das mortes por rotavírus.<ref>{{Cite journal|last=World Health Organization|title=Rotavirus vaccines: an update|journal=Weekly Epidemiological Record|year=2009|volume=51–52|issue=84|pages=533–540|url=http://www.who.int/wer/2009/wer8451_52.pdf|accessdate=8 May 2012}}</ref> Em 2012 a revisão Cochrane de 41 ensaios clínicos. em que participaram 186.263 pessoas, concluiu que o Rotarix e o RotaTeq são vacinas efectivas.<ref>{{Cite journal |author=Soares-Weiser K, Maclehose H, Bergman H, ''et al.'' |title=Vaccines for preventing rotavirus diarrhoea: vaccines in use |journal=Cochrane Database Syst Rev |volume=11 |issue= |pages=CD008521 |year=2012 |pmid=23152260 |doi=10.1002/14651858.CD008521.pub3}}</ref> Estão a ser desenvolvidas outras vacinas contra os rotavírus.<ref name="pmid20684721">{{Cite journal|author=Ward RL, Clark HF, Offit PA |title=Influence of potential protective mechanisms on the development of live rotavirus vaccines |journal=The Journal of Infectious Diseases |volume=202 |issue=Suppl |pages=S72–9 |year=2010 |pmid=20684721 |doi=10.1086/653549 |url=http://www.jid.oxfordjournals.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=20684721}}</ref> A partir de setembro de 2013, a vacina foi oferecida a todas as crianças no Reino Unido entre os dois e três meses de idade.<ref>[http://www.dh.gov.uk/health/2012/11/rotavirus/ UK Department of Health: New vaccine to help protect babies against rotavirus. Consultado a 10 de novembro de 2012]</ref> No estado espanhol a vacinação por rotavírus não constitui parte do programa geral de vacinação nem está financiada pela saúde pública, mas é recomendada pelo Comité Assessor de Vacinas da Associação Espanhola de Pediatria e pela Sociedade Europeia de Gastroenterologia,<ref>CAV-AEP El Portal de las vacunas de la Asociación Española de Pediatría [http://vacunasaep.org/familias/vacunas-una-a-una/rotavirus]</ref> Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) e pela Sociedade Europeia de Infetologia Pediátrica (ESPID) e [[Organização Mundial da Saúde]] (OMS). Em Portugal, as vacinas contra o rotavírus são comercializadas desde 2006. Os estudos realizados noutros países demonstram que os benefícios da vacinação compensam os custos, mas até que a relação custo-eficácia em Portugal seja apurada, a SPP não tem base para defender a inclusão no Plano Nacional de Saúde.
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==== Proteínas estruturais ====
A VP1 está localizada na parte central (núcleo) do vírus e é uma [[enzima]] [[RNA polimerase]].<ref name="pmid17657346">{{Cite journal|author=Vásquez-del Carpió R, Morales JL, Barro M, Ricardo A, Spencer E |title=Bioinformatic prediction of polymerase elements in the rotavirus VP1 protein |journal=Biol. Res. |volume=39 |issue=4 |pages=649–59 |year=2006 |pmid=17657346 |doi=10.4067/S0716-97602006000500008 |url=http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0716-97602006000500008&tlng=en&lng=en&nrm=iso}}</ref> Numa célula infectada esta enzima produz transcrições de RNAm para a síntese de proteínas virais e produz cópias dos segmentos de ARNRNA que formam o genoma do rotavírus para a produção de novas partículas víricas.
[[Imagem:Rotavirus with gold- labelled monoclonal antibody.jpg|direita|miniatura|Micrografia electrónica de nanopartículas de ouro ligadas a um rotavírus. Os objectos circulares pequenos escuros são nanopartículas de ouro cobertas com um [[anticorpo monoclonal]] específico para a proteína VP6 do rotavírus.]]
 
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Os rotavírus replicam-se principalmente no trato gastrointestinal<ref name="pmid19457420">{{Cite journal |author=Greenberg HB, Estes MK |title=Rotaviruses: from pathogenesis to vaccination |journal=Gastroenterology |volume=136 |issue=6 |pages=1939–51 |year=2009 |pmid=19457420 |doi=10.1053/j.gastro.2009.02.076}}</ref> e infectam os [[enterócito]]s das vilosidades (''[[Vilosidade intestinal|villi]]'') do [[intestino delgado]], provocando mudanças estruturais e funcionais no [[epitélio]].<ref name="pmid8050281">{{Cite journal|author=Greenberg HB, Clark HF, Offit PA|title=Rotavirus pathology and pathophysiology|journal=Curr. Top. Microbiol. Immunol.|volume=185|pages=255–83|year=1994|pmid=8050281}}</ref> O triplo recobrimento proteico do vírus torna-o resistente ao [[pH]] ácido do [[estômago]] e ás [[enzima digestiva|enzimas digestivas]] do trato gastrointestinal.
 
O vírus entra nas células por [[Endocitose|endocitose mediada por receptores]] e forma uma [[vesícula]] chamada [[endossoma]]. As proteínas da terceira camada (a VP7 e a espícula VP4) rompem a membrana do endossoma, criando uma diferença na concentração do [[cálcio]]. Isto provoca a rotura dos trímeros da VP7 em subunidades proteicas separadas, deixando as VP2 e VP6 em volta do ARNRNA bicatenário viral, formando uma partícula de dupla camada (DLP).<ref name="pmid20397068">{{Cite journal |author=Baker M, Prasad BV |title=Rotavirus cell entry |journal=Current Topics in Microbiology and Immunology |volume=343|pages=121–48 |year=2010 |pmid=20397068 |doi=10.1007/82_2010_34}}</ref>
 
As onze moléculas de ARNRNA bicatenário permanecem dentro das duas camadas proteicas protectoras e a [[RNA polimerase DNA-dependente]] viral gera transcritos de RNAm do genoma viral bicatenário. Ao permanecer dentro do núcleo, o RNA viral consegue evadir as respostas imunitárias do hóspede que utilizam o [[RNA de interferência]], que são ativadas pela presença do RNA bicatenário na célula.
 
Durante a infecção, o rotavírus produz ARNmRNAm tanto para a [[síntese de proteínas]] como para a replicação génica. A maioria das proteínas do rotavírus acumula-se no viroplasma, onde se replica o RNA e se aglomeram as partículas de dupla camada (DLPs). O viroplasma forma-se ao redor do núcleo celular apenas duas horas depois da infecção vírica, e consiste de fábricas virais que se pensa serem formadas por duas proteínas víricas não estruturais: NSP5 e NSP2. A inibição da NSP5 por interferência de RNA dá lugar a uma forte diminuição na replicação dos rotavírus. As partículas de dupla camada migram para o [[retículo endoplasmático]], onde adquirem a sua terceira camada, a mais externa, formada por VP7 e VP4. Os vírus ''filhos'' liberam-se da célula por [[lise celular|lise]].<ref name="pmid15010218" /><ref name="pmid15579070">{{Cite journal|author=Patton JT, Vasquez-Del Carpio R, Spencer E|title=Replication and transcription of the rotavirus genome|journal=Curr. Pharm. Des.|volume=10|issue=30|pages=3769–77|year=2004|pmid=15579070|doi=10.2174/1381612043382620}}</ref><ref name="pmid20024520">{{Cite journal|author=Ruiz MC, Leon T, Diaz Y, Michelangeli F |title=Molecular biology of rotavirus entry and replication |journal=TheScientificWorldJournal |volume=9|pages=1476–97 |year=2009 |pmid=20024520 |doi=10.1100/tsw.2009.158}}</ref>
 
== História ==