Cristóvão Colombo: diferenças entre revisões

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== Origem ==
{{Vertambém|Teorias sobre a origem de Cristóvão Colombo}}
 
A vida do navegador contém muitas incertezas e obscuridades, promovidas por ele próprio e pelo seu filho [[Fernando Colombo|Fernando]], que ocultou ou evitou certas passagens da vida de Colombo, e procurou realçar a figura do pai frente àqueles que o procuravam diminuir. Mas "''as regras do tempo mostram-nos que um plebeu nunca se casava com uma nobre, pelo que a origem de Colombo é assaz duvidosa''." <ref>Prof. João Paulo Oliveira e Costa, catedrático da Universidade Nova e Director do Centro de História Além-Mar, Prof. José Damião Rodrigues e Prof. Pedro Aires Oliveira; História da Expansão e do Império Português. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2014. ISBN 9789896266271, p. 78</ref> Apesar do esforço desenvolvido na investigação da vida do navegador, ainda restam algumas incertezas, ou fantasias nacionalistas ou ideológicas. Um dos principais problemas apresentados é o da pátria do navegador, e embora este assunto não seja de interesse primário, a importância que lhe tem sido dada e a sua constante actualidade obrigam a que se lhe faça menção. <ref name="Hist80"/>
 
Sempre existiu uma controvérsia sobre o local de origem do navegador já que um documento da corte de Castela de 1487 chama-lhe "''portugues''". Entre todas as teorias, a genovesa teve mais apoio até ao século XX quando tentou-se fazê-lo natural da [[Córsega]]. No final desse século, [[Garcia de la Riega]], de [[Pontevedra]], na [[Galiza]], publicou uma série de documentos que apresentavam nomes de pessoas da região e de origem [[judia]] da primeira metade do século XV com os mesmos nomes da família de Colombo - a despeito destes apenas serem conhecidos através da documentação genovesa - que supostamente teriam imigrado para Génova após o nascimento de Colombo. Durante muitos anos esta teoria obteve popularidade, já que satisfazia o nacionalismo espanhol, o judeu e o galego, até que em 1928 foi desclassificada como fonte histórica pela Academia de História espanhola, que comprovou os documentos como sendo autênticos, mas manipulados para apresentar aqueles nomes. <ref name="Hist81"/>
 
No mesmo ano em que a hipótese galega foi descredibilizada, o historiador peruano [[Luis Ulloa]] surgiu com um Colombo catalão, um nobre marinheiro que se chamaria Juan Colón e era inimigo de [[João II de Aragão]], e que seria um suposto "Scolvus" que chegou à América do Norte em 1476, elaborou um projecto de descobrimento e o ofereceu a Fernando o Católico em benefício da [[Catalunha]], mas acabou burlado por este, que conhecia a sua verdadeira identidade, e que para ocultá-la realizou uma série de falsificações de documentos e crónicas. Esta tese foi inicialmente recebida com entusiasmo na Catalunha, desvanecendo-se com o tempo na ausência de qualquer documento que a suportasse. <ref name="Hist81"/>
 
Desde 1915 que vem igualmente sendo apresentada uma panóplia de [[Teorias sobre a origem de Cristóvão Colombo#Hipótese portuguesa|hipóteses sobre a origem portuguesa de Cristóvão Colombo]]. As mais recentes são da autoria de [[Manuel da Silva Rosa]], tendo inspirado um livro de [[José Rodrigues dos Santos]] e um filme de [[Manoel de Oliveira]].
 
A versão normalmente tida como certa entre os historiadores mais acreditados dá-o como nascido em [[República de Génova|Génova]] em [[1451]], e como genovês foi reconhecido pelos seus contemporâneos, ao menos na [[Ligúria]]. <ref name="Hist80"/> Na biografia ''Historia del almirante Don Cristóbal Colón'' escrita pelo seu filho Fernando, este obscureceu a pátria e origem de Colombo, afirmando que o pai não queria que fossem conhecidas tais informações, <ref name="HernandoOrigenes">[[#HERNANDO|COLÓN, Hernando]]. [http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/97837350670968094163313/ima0019.htm Capítulo I, págs. 4-5.]</ref><ref>[[#DÍAZ-TR|DÍAZ-TRECHUELO, María Lourdes]] [http://books.google.com/books?id=drsM_sZPglQC&pg=PA25 pág.25.]</ref> enumerando várias cidades italianas, em especial ligures, que disputavam tal glória. <ref name="Hist80"/> Em Espanha Colombo sempre foi considerado como estrangeiro, lamentando-se inclusivamente de como essa situação o prejudicava em alguns dos documentos que escreveu. Esteve constantemente em contacto com italianos, e neles depositava a sua confiança.<ref name="Hist81">{{harvnb|Salmoral|1992|p=81}}</ref>
[[Imagem:Assereto 3.jpg|thumb|Página do ''Documento Assereto''. À direita, 8ª linha a contar do cimo, é possível ler ''Cristoforus Columbus civis janue'']]
Que se tenha conhecimento, Colombo apenas declarou a sua pátria uma única vez, no documento denominado "''Fundación de Mayorazgo''", de 1497, onde falando de Génova diz que "dela saí e nela nasci". <ref>''Testamento de don Cristóbal Colón en el que fundó mayorazgo en su hijo don Diego''. Archivo General de Indias. Signatura: PATRONATO, 295, N.101. [http://pares.mcucom/ PARES].</ref> <ref>{{Citar livro |título= Congreso de Historia del Descubrimiento (1492-1556): actas (ponencias y comunicaciones). Tomo III|url= http://books.google.com/books?id=lrSiIV46LCsC|páginas= [http://books.google.com/books?id=lrSiIV46LCsC&pg=PA477 Págs. 477-480]|editora= Real Academia de la Historia|data=1992|isbn= 9788460082033}}</ref> {{nota de rodapé|Sobre este documento, alguns autores e investigadores levantaram a hipótese de que possa ter sido sido motivado pelos [[Pleitos colombinos|pleitos]] que mantiveram seus descendentes com a coroa, <ref>[[#ARRANZ|ARRANZ MÁRQUEZ, Luis.]] [http://books.google.com/books?id=YerxcpDT_vsC&pg=PA104 Págs. 104-105.]</ref> e, consequentemente, o declaram como falso ou apócrifo, embora outros investigadores do início do século XX encontraram no [[Arquivo Geral de Simancas]] documentos que, segundo eles, mostravam a autenticidade deste documento. <ref>[[#SVET|SVET, Yakov]]. [http://books.google.com/books?id=1uv1KSM3lDkC&pg=PA26 pág. 26].</ref> <ref>{{citar web |url= http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/12368305409045940543091/p0000001.htm#I_0_|título= Declaraciones hechas por Don Cristóbal, Don Diego y Don Bartolomé Colón acerca de su nacionalidad |acessodata=25 de março de 2009 |autor= DE ALTOLAGUIRRE Y DUVALE, Ángel|publicación= Boletín de la Real Academia de la Historia, tomo 86 (1925), pp. 307-325|editora= www.cervantesvirtual.com}}</ref> Manuel Rosa apresentou evidências que, segundo ele, provariam que a "''Fundación de Mayorazgo''", com data inicial de 1598, sendo depois um 4 escrito por cima do 5 (ver imagem), fora inventada por Baltasar Colombo, litigante no Pleito do Ducado de Verágua, e que o registo no [[Arquivo Geral de Simancas]] referir-se-ia à autorização de 1497 para instituir morgado e não a nenhum documento de 1498.<ref>Manuel Rosa "Colón. La Historia Nunca Contada", (Esquilo Ediciones y Multimedia, Badajoz, 2010) ISBN 978-989-8092-66-3, p. 134</ref> Manuel Rosa apresenta ainda evidências que provariam que o documento sobre os Genoveses "Paolo di Negro e Lodovico Centurione" não fazia parte do testamentos de Colombo de 1506 e que fora escrito por outro notário, Pedro Azcoitia, anos após a morte de Colombo e que a autenticidade desse documento fora também contestada durante o Pleito do Ducado de Verágua por haver no documento "de Azcoitia uma falsidade manifesta."<ref>Alegacion en Derecho por Doña Francsica Colon de Toledo, sobre la sucession en possession del Estado y Ducado de Veragua. En Madrid, por Luis Sanchez. Año MDCVIII sobre el Almirantazgo de las Indias, Ducado de Veragua, y Marquesado de Jamaica</ref>}} Não obstante, em vários outros documentos é afirmada não só a nação genovesa, como a ligação entre o Colombo genovês e o Colombo almirante. Na documentação notarial genovesa de 1470 acha-se uma condenação a ''Domenicus de Columbo'' e ao seu filho ''Cristofforus'', para pagarem uma dívida a um certo ''Ieronimum de Porto''.<ref name="Hist82"/> Numa minuta datada de 25 de Agosto de 1479, vulgarmente cognominada ''documento Assereto'' em honra do homem que a encontrou, Colombo é referido como ''civis janue'', cidadão de Génova, num processo sobre uma quantia que supostamente não tinha recebido de Paolo di Negro, agente em Lisboa da casa comercial de Luigi Centurione.<ref name="Vig278"/> No [[codicilo]] de 1506, único testamento seguro de Colombo, são referidos tanto Jerónimo do Porto, pai de Benito do Porto, chanceler de Génova, a quem pede que paguem uma soma de 20 ducados; como os herdeiros de Paolo di Negro e Luigi Centurione, a quem pede que entreguem uma quantia em dinheiro para saldamento de uma dívida que atormenta a sua consciência.<ref name="Hist82"/> Em 1502, Colombo outorga ao Banco de São Jorge, em Génova, uma quantidade sobre as suas rendas, obtendo a resposta na qualidade de compatriota daquela cidade. Na restante documentação ainda existente sobre Colombo não é explícito o seu local de nascimento.<ref name="Hist81"/>
 
Além de ser tido no seu tempo por italiano, geralmente genovês, no início do século XVI três escritores de Génova afirmaram não somente a pátria de Colombo, como as suas origens humildes, para grande indignação do seu filho Fernando, que tratou logo de lhe arranjar uma origem nobre - embora caído em desgraça - na sua ''Historia'', pondo o pai a estudar na [[Universidade de Pavia]] e emparentando-o com dois famosos corsários contemporâneos. <ref name="Hist81"/>
 
No início do século XIX, a publicação da documentação dos cartórios notariais de Génova e Savona permitiu a obtenção de mais dados sobre a família e antecedentes familiares de Colombo, a qual foi recompilada na monumental obra ''Racolta Colombiana'', produzida no âmbito das comemorações em Itália do IV centenário da descoberta da América. A documentação sobrevivente sobre a família de Colombo é inclusivamente mais numerosa que a de muitos personagens de maior categoria social. Com base nessa documentação, hoje em dia, cientificamente, não resta qualquer dúvida sobre as informações que já antes se tinham como certas, embora de forma mais sucinta. <ref name="Hist82">{{harvnb|Salmoral|1992|p=82}}</ref>
 
A data de nascimento foi outro ponto de especulação, existindo hipóteses para um nascimento ocorrido entre [[1436]] e [[1456]]. <ref>ARRANZ MÁRQUEZ, Luis (2006). [http://books.google.com/books?id=YerxcpDT_vsC&pg=PA106 ''Cristóbal Colón: misterio y grandeza'']. Marcial Pons Historia. ISBN 978-84-96467-23-1, p.106</ref> Após a publicação do trabalho de Vignaud sobre o ''Documento Assereto'', esta data pôde ser fixada no ano de 1451, embora isso não tenha impedido que alguns continuassem a duvidar. <ref name="Hist82"/>
 
== Antecedentes familiares ==
[[Imagem:Genova-Quinto-IMG 1682.JPG|thumb|250px|Bairro de [[Quinto al Mare]], [[Génova]].]]