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[[File:Bentinho e Topázio.jpg|thumb|Um criador e seu cavalo [[mangalarga marchador]]. O mangalarga marchador é considerado uma raça de [[cavalo]]s.]]
A '''raça''' (do [[língua italiana|italiano]] ''razza'') é um [[conceito]] que obedece a diversos parâmetros para [[classificação|classificar]] diferentes [[população|populações]] de uma mesma [[espécie]] [[(biologia)|espécie biológica]] de acordo com suas características [[genética]]s ou [[fenótipo|fenotípicas]];.<ref>FERREIRA, éA. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 442.</ref> É comum falar-se das [[Anexo:Lista de raças de cães|raças de cães]] ou de outros animais.<ref>[http://www.fci.be/nomenclature.aspx Fédération Cynologique Internationale – Nomenclature des races] {{fr}} acessado a 20 de maio de 2009</ref>
 
Os [[antropologia|antropólogos]], entredurante asa épocasépoca coloniais[[colonialismo|colonial]] do Século [[século XVI|XVI]] (após deos europeus terem notado a existênciasexistência de criaturasseres exóticashumanos bem diferentes dos europeus, como exemplo[[Povos ameríndios|índios]] ou [[Khoisan|bosquímanos]], nos Novosnovos Continentescontinentes recém-descobertos e terem começado a estudar essas criaturas selvagens e indígenas dos Novos Continentes) até o [[Século XX|Finalfinal do Século[[século XX]], acreditavam que existiam [[raças humanas]] e [[raças humanas|seres]] diferentes, mas, desde que o [[Projeto Genoma Humano]] analisou a genética de diferentes seres e pessoas de diferentes raças, os resultados acabarem dandoapontaram que as diferenças genéticas entre as raças diferentes eram muito pequenas, usareme aque o [[Determinismo geográfico|Determinismodeterminismo ambiental]] e o [[Síntese evolutiva moderna|Neodarwinismoneodarwinismo]], como a justificativajustificativas das diferenças genéticas entre asos criaturasseres doshumanos Novosdo ContinentesVelho eContinente, osdo humanosNovo normaisContinente oriundose do VelhoNovíssimo Continente, (reveladarevelaram-se como muito pequena e totalmente irrelevante)irrelevantes e mostraremmostraram que aas diferenças [[genética|genéticas]] entre uma [[Negros|pessoa negra]] e um [[Brancos|caucasiano]] não existe, a ideia de que existem. raças humanas e seres diferentes, oO próprio conceito biológico de raças humanas e o biologismo se tornaramtornou bastante desacreditadosdesacreditado e condenadoscondenado entre os [[biologia|biólogos]] e entre os [[antropologia|antropólogos,]]. que a

A partir do resultado que acabou dando nasdas pesquisas que ocorreram nos primeiros anos do Projeto Genoma Humano, passarampassou-se, apoiarentão, a causa Marxista Cultural e mostrar o biologismo econsiderar o conceito de raças humanas como "obsoleto", "perigoso" e "tóxico",<ref>[http://www.physanth.org/positions/race.html American Association of Physical Anthropologists – Declaração sobre os aspectos biológicos da raça] {{en}} acessado a 20 de maio de 2009</ref><ref>http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-humanas-nao-existem-como-entidades-biologicas-diz-geneticista.htm</ref>, persistindo o uso do termo apenas na política, quando se pede "igualdade racial" ou na legislação quando se fala em "preconceito de raça", como a [[lei]] nº 12.288<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=261827&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB</ref>, de [[20 de julho]] de [[2010]], que instituiu, no [[Brasil]], o “''"Estatuto da Igualdade Racial''”". Um conceito alternativo e sinônimo é o de "[[etnia]]".
 
O vocábulo ''raça'' aparecia normalmente nos textos científicos (como os livros de geografia de [[Aroldo de Azevedo]] e a coleção "''História das Raças Humanas''", de Gilberto Galvão, que detalha todas as raças, com fotografias) até a [[década de 1970]], quando começou a ser questionado como racismo, especialmente com o advento do [[politicamente correto]] na década de 1980. {{carece de fontes}}. Do ponto de vista científico, como já demonstrou o [[Projeto Genoma]], o conceito de raça não pode ser aplicado a seres humanos por não existirem genes raciais na nossa espécie; isso corrobora teses anteriores, que negavam a existência de isolamento genético dentre as populações. Assim, para a espécie humana "raça" corresponde a um conceito social, não a conceito científico.
 
Uma pesquisa do [[IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística]], divulgada em [[22 de julho]] de [[2011]], revelou que a maioria dos brasileiros acredita que a cor e a raça do indivíduo influenciam o trabalho e a vida cotidiana das pessoas.<ref>http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5255862-EI294,00-Maioria+dos+brasileiros+considera+que+cor+ou+raca+influencia+vida+cotidiana.html</ref>
 
O termo "raça" ainda é aceito normalmente para designar as variedades de [[animal doméstico|animais domésticos]] e animais de criação como o gado ([[nelore]], [[gir]] e [[zebu]]).
 
Abaixo, discutem-se os conceitos biológicos de raça, várias definições históricas destes conceitos e um resumo da [[história]] e utilização das classificações de raças humanas.
 
== Raça em biologia ==
Os [[zoologia|zoólogos]] geralmente consideram a ''raça'' um sinónimo das [[subespécie]]s, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das [[espécie]]s, portanto, para a delimitação de subespécies ou raças a [[diferenciação genética]] é uma condição essencial, ainda que não suficiente. Na espécie ''[[Homo sapiens]]'' - a espécie humana - a variabilidade genética representa 3 a 5% da variabilidade total, nos sub-grupos continentais, o que caracteriza, definitivamente, a ausência de diferenciação genética. Portanto, inexistem raças humanas do ponto de vista biológico. No "Código Internacional de Nomenclatura Zoológica" (4ª edição, 2000), não existe nenhuma norma para considerar categorias [[sistemática]]s abaixo da subespécie.
 
Para os [[botânica|botânicos]] – de acordo com o "Código Internacional de Nomenclatura Botânica" - as variantes duma espécie são explicitamente denominadas "subespécies" (subsp.), variedades (var.) e formas (f.) que na verdade são matrizes das espécies. Por exemplo, para o [[pinheiro]] negro europeu, ''Pinus nigra'', é aceite uma subespécie - ''Pinus nigra'' subsp. ''nigra'' na região oriental da sua área de distribuição, desde a [[Áustria]] e nordeste da [[Itália]] até à [[Crimeia]] e [[Turquia]], com as seguintes variedades:
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{{Artigo principal|[[Raças humanas]]}}
 
Já os egípcios classificavam os seres humanos com base na cor de pele: vermelho- egípcios, amarela- asiáticos, branca- populações do norte, preta- populações subsarianas, etc. Vários investigadores demonstraram que a distância genética é fortemente associada à distância geográfica entre as populações,. estaEsta associação torna-se mais forte se tivermos em conta as [[migração humana|migrações]] entre [[continentes]] ao longo de toda a história da humanidade<ref>Gravlee, C. C. (2009). "How race becomes biology: Embodiment of social inequality." American Journal of Physical Anthropology 139(1): 47-57.</ref>.
 
O conceito de [[raças humanas]] foi usado pelos regimes [[colonialismo|coloniais]] e pelo ''[[apartheid]]'' (na [[África do Sul]]), para perpetuar a submissão dos colonizados; actualmente, só nos [[Estados Unidos]] se usa uma classificação da sua população em raças, alegadamente para proteger os direitos das [[minoria]]s.<ref>[http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&file=index&pa=showpage&pid=1598 Classificação racial na pauta de discussões do movimento negro]. Em IBASE. Acessado em [[15 de outubro]] de [[2007]].</ref>
 
A definição de ''raças humanas'' é principalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganham, graças a uma cultura [[racismo|racista]], sentidos, [[valor (ética)|valores]] e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de [[pele]], tipo de cabelo, conformação facial e [[crânio|cranial]], ancestralidade e, em algumas culturas, [[genética]]. O conceito de raça humana não se confunde com o de sub-espécie e com o de variedade, aplicados a outros seres vivos que não o homem(embora humanos e animais estejam exatamente sobre o mesmo tipo de seleção genética, apesar das pomposas fachadas pseudo-civilizatóriaspseudocivilizatórias). Por seu caráter controverso (seu impacto na [[identidade social]] e [[política]]), o conceito de raça é questionado por alguns estudiosos como [[constructo social]]; entre os biológos, é um conceito com certo descrédito por não se conformar a normas [[taxonomia|taxonômicas]] aceites.
 
Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como [[população]], [[etnia]], ou mesmo [[cultura]].
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Como qualquer classificação, esta é imperfeita e, por isso, ao longo do tempo, foram sendo usados outros termos, principalmente para grupos cujas características não se ajustavam aos grupos "definidos", como é o caso dos [[pardo]]s para indicar os [[indígena]]s do sub-continente [[Índia|indiano]], entre outros. De notar que, a par desta classificação baseada em características físicas, houve sempre outras, mais relacionadas com a [[cultura]], principalmente a [[religião]] dos "outros", como os [[mouro]]s ou "infiéis", como os cristãos de [[Mundo Ocidental|cultura ocidental]] denominavam os [[Árabes|árabes]] [[Muçulmano|muçulmanos]] e os [[judeu]]s, este último imigrou para as [[Colonialismo|colônias]] [[Império Espanhol|espanholas]], [[Império Português|portuguesas]], [[Império colonial francês|francesas]], [[Império Colonial Holandês|holandesas]] e [[Império Britânico|inglesas]] estabelecidas nos Novos Continentes como a [[África]], a [[América]] e a [[Oceania]] a partir do Século XVI para fugir da intolerâcia religiosa praticada pelos [[Reis católicos|reis católicos]] existente nas metrópoles<ref>http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/judeus_sem_saber.html</ref>.
 
Ainda no Finalfinal do [[Século XIX]], quando as idéiasideias de [[Sigmund Freud]] estavam sendo desenvolvidas, [[Franz Boas]], que era bastante marxista cultural passou a condenar o biologismo e o racialismo e foi seguido por vários escritores do [[Século XX]] em que seus trabalhos eram relacionados comsobre raça, etnicidade e biologia, como [[Ashley Montagu]], [[Richard Lewontin]] e [[Stephen Jay Gould]]. Contudo, alguns poucos cientistas como [[J. Philippe Rushton]], [[Arthur Jensen]], [[Vincent Sarich]] e [[Frank Miele]] (autores de ''"Race: The Reality of Human Differences"'') proclamam que não só essa tese é falsa, mas que foi politicamente motivada e não tem bases científicas.
 
Existem também estudos que procuram mostrar que a percepção social da cor como definidora de uma divisão humana em raças não é mais do que uma construção sócio-culturalsociocultural. Assim, durante a montagem do sistema escravista moderno, no qual milhões de indígenas africanos foram transportados para a América durante o tráfico negreiro, fortaleceu-se o conceito de que existe uma raça negra, superpondo-se a toda uma grande quantidade de diferenças étnicas que existiam na África, e que ainda existem hoje, porém no Século XVI não se percebiampercebia a existência de milhares de [[Grupo étnico|grupos étnicos]] muito diferentes entre um grupo ou outro de [[Khoisan|bosquimanos]]. Os africanos nas sociedades que precederam o moderno sistema escravista, não se viam como "negros", tal como sustenta [[José D'Assunção Barros]] em seu livro "A Construção Social da Cor", lançado em [[2009]]. Na África, os africanos enxergavam-se a partir de identidades étnicas diferenciadas, e não de uma única "raça negra", um conceito que para eles não existia, assim como não existia o conceito de raça branca para os [[Portugueses|portugueses]] e [[Espanhóis|espanhóis]] pré-coloniais do periodoperíodo em que estavam dominados pelos [[mouros]] e "infiéis". Os interesses do tráfico levavam os comerciantes a motivar a diferença étnica na ponta africana do tráfico negreiro, pois os comerciantes de escravos conseguiam escravos das guerras intertribais, nas quais as tribos vencedoras vendiam os indivíduos pertencentes às tribos vencidas. Mas, ao mesmo tempo, na ponta final do processo de escravização, quando o escravo deveria ser vendido nas Américas e incorporado ao trabalho no sistema colonial, já interessava aos comerciantes e senhores de engenhos - ou ao sistema escravista, de modo geral - criar uma categoria única para os "negros" africanos, inclusive misturando africanos procedentes das várias etnias de modo a que não se concentrassem eemem um mesmo local indivíduos pertencentes a uma mesma etnia de origem na´´Africa África, pois os vínculos de identidade poderiam favorecer as revoltas. Percebe-se, portanto, que a construção da idéiaideia de "negro", à altura da montagem do sistema escravista, foi um processo complexo, que recobriu, embora sem eliminá-laseliminar totalmente, as etnias africanas de origem.
 
Análises [[genética]]s recentes permitem que a [[evolução]] e [[migração humana|migrações]] humanas]] sejasejam representadorepresentadas de uma forma [[cladística]]. Estes estudos indicam que, como pensam os que defendem a teoria da [[Hipótese da origem única|origem única]], a [[África]] foi o [[Berço da Humanidade|berço]] da humanidade, enquanto outros defendem a teoria da origem [[Evolução multirregional|multiregionalmultirregional]]<ref>http://www.sciencedaily.com/releases/2007/04/070423185434.htm The Emerging Fate Of The Neandertals</ref>. Verificou-se que os [[aborígene australiano|aborígenes australianos]] foram originados num grupo que se isolou dos restantes há muito tempo e que todos os outros grupos, incluindo "europeus", "asiáticos" e "nativos americanos", perfazem um único grupo [[monofilético]] resultante das migrações para fora do continente africano e que poderia dividir-se no equivalente aos "euroasiáticos" do leste e oeste, reconhecendo, sempre, haver muitos grupos intermédios.
. Verificou-se que os [[aborígene australiano|aborígenes australianos]] foram originados num grupo que se isolou dos restantes há muito tempo e que todos os outros grupos, incluindo "europeus", "asiáticos" e "nativos americanos" perfazem um único grupo [[monofilético]] resultante das migrações para fora do continente africano e que poderia dividir-se no equivalente aos oeste- e leste "euro-asiáticos", reconhecendo sempre haver muitos grupos intermédios.
 
==Raças no Brasil==
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*cabra: oriundo do cruzamento do mulato com o negro.
 
Alguns autores da historiografia luso-brasileira são importantes para compreendermos as interpretações em torno do conceito de raça no Brasil. Essa revisão também contribui para que possamos vislumbrar as transformações e as continuidades a cercaacerca das concepções e das classificações de raça articuladas por intelectuais de outras áreas, como a do geógrafo [[Aroldo de Azevedo]], demonstrada acima.
 
Na primeira metade do século XIX, [[José Bonifácio de Andrada e Silva]] demonstrou, em seu trabalho, uma preocupação referente aà diversidade de raças existentes no território brasileiro. Sobre isso, Lopes alega: "Diversas vezes ao longo de sua obra, Bonifácio manifestou a preocupação com a heterogeneidade da formação social no Brasil, produzindo inúmeras recomendações sobre como forjar o cidadão adequado asàs novas exigências do tempo".<ref>LOPES, Valdei. “José''José Bonifácio, Shakespeare e os gregos: a língua do Brasil e a imagem nacional”nacional''. In: Almanack braziliense, nº04, novembro de 2006. p.85</ref> Bonifácio destacou, em seu projeto, os sentidos atribuídos a noção de raça no Brasil e os lugares reservados aos [[grupo social|grupos sociais]] dentro desta tipologia na construção de um projeto nacional. Essa proposta foi desenvolvida tendo, como plano de fundo, os ideais de civilização e de nacionalidade difundidos por Bonifácio nos círculos institucionais e intelectuais no momento em que se destacava o [[despotismo esclarecido|reformismo ilustrado português]].
 
Na obra "Representação", publicada em 1825, José Bonifácio evidenciou uma proposta que previa a cessação gradual do [[comércio atlântico de escravos|tráfico negreiro]] e da escravidão, visto que a proliferação de panfletos alertavamalertava sobre a possibilidade de uma revolta de escravos ou a eclosão de uma onda denominada “Haitismo”"Haitismo", devido ao episódio da [[ilha de São Domingos]]. Assim, Bonifácio argumentou que a escravidão tiranizava e reduzia os negros à condição de “brutos"brutos animais”animais" e “inoculavam"inoculavam toda a sua imoralidade e todos os seus vícios”[[vício]]s"<ref>ANDRADA E SILVA, J. B. de (1965). “Representação"Representação à AssembléiaAssembleia Constituinte sobre a Escravatura”Escravatura". In: FALCÃO, E. C. (org.). Obras científicas, políticas e sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. P.130.</ref> Bonifácio concluiu que a nação brasileira teria, na sua constituição, a marca da heterogeneidade física e civil, já que a população era composta por negros, índios, mestiços e brancos. Logo, seu entendimento em torno do conceito raça destacava estas quatro classificações étnicas, sendo a mestiçagem um produto da relação entre as mesmas.
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[[imagem:upload.wikimedia.org/.../250px-Calixt33.jpg|frame|right|250 × 345 - 24k|José Bonifácio]]
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Em 1840, o rótulo “miscigenação"miscigenação racial”racial" apareceu em um concurso promovido pelo [[Instituto de HistóriaHistórico e GeografiaGeográfico BrasileiraBrasileiro]] – IHGB]]. Neste momento, destacou-se a [[tese]] “Como"Como se escrever a história do Brasil”Brasil", do naturalista alemão [[Karl Friedrich Philipp von Martius]]. Este afirmou que, para compreender a história brasileira, era necessário levar em conta e estudar a mistura das três raças, o que seria um dos constituintes da [[identidade cultural|identidade nacional]] e o alicerce para a construção do [[mito]] da [[democracia racial]] proferido por [[Gilberto Freyre]] no século XX. Como naturalista ilustrado, Martius priorizou a contribuição portuguesa, apontando o branco como o civilizador. O indígena teve atenção, pois se considerava a possibilidade de utilizá-lo como representante da nacionalidade brasileira na construção de um mito nacional. Quanto ao negro, Martius chegou a citar sua influência na formação cultural brasileira, todavia, destacando-o como um empecilho no processo de civilização.
Na obra "Representação", publicada em 1825, José Bonifácio evidenciou uma proposta que previa a cessação gradual do tráfico negreiro e da escravidão, visto que a proliferação de panfletos alertavam a possibilidade de uma revolta de escravos ou a eclosão de uma onda denominada “Haitismo”, devido ao episódio da [[ilha de São Domingos]]. Assim, Bonifácio argumentou que a escravidão tiranizava e reduzia os negros à condição de “brutos animais” e “inoculavam toda a sua imoralidade e todos os seus vícios”<ref>ANDRADA E SILVA, J. B. de (1965). “Representação à Assembléia Constituinte sobre a Escravatura”. In: FALCÃO, E. C. (org.). Obras científicas, políticas e sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. P.130.</ref>Bonifácio concluiu que a nação brasileira teria na sua constituição a marca da heterogeneidade física e civil, já que a população era composta por negros, índios, mestiços e brancos. Logo, seu entendimento em torno do conceito raça destacava estas quatro classificações étnicas, sendo a mestiçagem um produto da relação entre as mesmas.
 
Em 1850, foi publicada a tese determinista do conde [[Arthur de Gobineau]], que defendia as virtudes civilizatórias do branco europeu. Em 1853, Gobineau publicou o Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças (1853-1855). Nesta obra, justificou as diferenças sociais entre negros e brancos pela inferioridade biológica do africano. A partir desta contestaçãoconcepção, sua tese alega que a desigualdade seria superada com o branqueamento dos negros que, dessa forma, assimilariam a cultura européiaeuropeia, logo se civilizando. Gobineau esteve no Brasil como [[embaixador]] francês. Foi amigo pessoal de [[D. Pedro II]] e desembarcou na ex-colônia portuguesa em 1869.
Em 1840 o rótulo “miscigenação racial” apareceu em um concurso promovido pelo [[Instituto de História e Geografia Brasileira – IHGB]]. Neste momento, destacou-se a tese “Como se escrever a história do Brasil” do naturalista alemão [[Karl Friedrich Philipp von Martius]]. Este afirmou que para compreender a história brasileira era necessário levar em conta e estudar a mistura das três raças o que seria um dos constituintes da identidade nacional e o alicerce para a construção do mito da democracia racial proferido por [[Gilberto Freyre]] no século XX. Como naturalista ilustrado, Martius priorizou a contribuição portuguesa apontando o branco como o civilizador. O indígena teve atenção, pois se considerava a possibilidade de utilizá-lo como representante da nacionalidade brasileira na construção de um mito nacional. Quanto ao negro, Martius chegou a citar sua influência na formação cultural brasileira, todavia, destacando-o como um empecilho no processo de civilização.
 
No estatuto de 1851, foi lançada a proposta de incorporar, aos estudos desenvolvidos pelo IHGB, linhas de pesquisas nos campos da [[etnografia]] e da [[arqueologia]], em específico que tratassem da cultura indígena brasileira. Assim, através de uma argumentação científica, poderia se’ser explicar a inferioridade desta cultura frente aà cultura civilizatória. No, entanto, nota-se, também, um movimento na literatura que busca demonstrar o indígena como ícone da essência nacional brasileira.
Em 1850 foi publicada a tese determinista do conde [[Arthur de Gobineau]] que defendia as virtudes civilizatórias do branco europeu. Em 1853 Gobineau publicou o Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças (1853-1855). Nesta obra, justificou as diferenças sociais entre negros e brancos pela inferioridade biológica do africano. A partir desta contestação, sua tese alega que a desigualdade seria superada com o branqueamento dos negros que dessa forma assimilariam a cultura européia, logo se civilizando. Gobineau esteve no Brasil como embaixador francês. Foi amigo pessoal de [[D. Pedro II]] e desembarcou na ex-colônia portuguesa em 1869.
 
A publicação "História Geral do Brasil", de [[Francisco AdolphoAdolfo de Varnhagen]], em 1854, com o patrocínio imperial, não priorizou o estudo em torno das raças, nem mesmo se fundamentou na tese de Gobineau. Nota-se apenas a contribuição do autor ao informar sobre os costumes e sobre as crenças[[crença]]s dos [[tupis]], identificando-os como bárbaros e selvagens e se opondo ao projeto [[romantismo no Brasil|romântico]] que visava transformar o índio em [[ícone (semiótica)|ícone]] nacional. O negro, assim como, os aspectos de suassua culturascultura, não foram mencionados. A idéiaideia de miscigenação permanece oculta na obra de Varnhagen.
No estatuto de 1851 foi lançada a proposta de incorporar aos estudos desenvolvidos pelo IHGB linhas de pesquisas nos campos da etnografia e da arqueologia, em específico que tratassem da cultura indígena brasileira. Assim, através de uma argumentação científica poderia se’ explicar a inferioridade desta cultura frente a cultura civilizatória. No, entanto nota-se também um movimento na literatura que busca demonstrar o indígena como ícone da essência nacional brasileira.
 
A publicação História Geral do Brasil de [[Francisco Adolpho de Varnhagen]] em 1854 com o patrocínio imperial, não priorizou o estudo em torno das raças, nem mesmo se fundamentou na tese de Gobineau. Nota-se apenas a contribuição do autor ao informar sobre os costumes e sobre as crenças dos tupis, identificando-os como bárbaros e selvagens e se opondo ao projeto romântico que visava transformar o índio em ícone nacional. O negro, assim como, os aspectos de suas culturas não foram mencionados. A idéia de miscigenação permanece oculta na obra de Varnhagen.
[[Joaquim Nabuco]] também foi outro autor que problematizou a questão da raça no Brasil. Afirmou que a atribuição negativa a raça negra se justificou pela [[escravidão, dessano Brasil|escravidão]]. Dessa forma, não se podia alegar que os aspectos pejorativos eram inerentes aà raça. A redução dos negros ao cativeiro, logo, provocou uma [[mestiço|mestiçagem]] através de meios negativos, segundo Nabuco, como pela promiscuidade, pelo abuso nas senzalas[[senzala]]s e pelo [[concubinato]].
 
Todavia, em seu discurso, também se destacou o tom pejorativo em relação aà cultura negra: “O"O principal efeito da escravidão sobre a nossa população foi, assim, africanizá-la, saturá-la de sangue preto, como o principal efeito de qualquer empresa de [[imigração]] da [[China]] seria mongolizá-la, saturá-la de sangue amarelo”amarelo".<ref>NABUCO, J. (1988). O abolicionismo. Petrópolis: Vozes. p.104</ref> Essa afirmação demonstra uma concepção corrente no século XIX, a qual empregava generalizações visando a compreender as sociedades humanas divididas pela língua, pela raça e pela cor da pele, sendo a formação européiaeuropeia sobressalente asàs demais. Daí a idéiaideia de povos [[civilização|civilizados]] e de povos bárbaros e incultos disseminada pelo racismo cientificocientífico. A partir disso, Nabuco apresentou a seguinte concepção: “a"a história do mundo é a prova de que as raças mais inteligentes, mais brilhantes, postas em contato com raças inferiores, são muitas vezes vencidas e sucumbem". <ref>NABUCO, J.1949) “Discursos"Discursos parlamentares”parlamentares" (1879-1889). In: Obras Completas de Joaquim Nabuco, XI. São Paulo: Instituto Progresso Editorial S.A. p.63</ref>
 
Dentro da concepção difundida pela teoria das raças, destacam-se, também, os trabalhos de [[Nina Rodrigues]]. Este afirmou que o povo brasileiro seria formado pela junção entre [[Povos indígenas do Brasil|indígenas]], [[brancos]] e [[negros]]. Fundamentando-se na linha [[evolucionismo|evolucionista]] da escola histórica protagonizada pelo conde [[Arthur de Gobineau]], que defendeu a raça como fator determinante na história humana. Assim como Nabuco, Rodrigues percebeu os sinais de africanização na constituição da [[cultura do Brasil|cultura brasileira]], ou seja, uma explícita influência negra na língua, na educação, nas maneiras sociais e nas práticas religiosas, entendidos como sintomas[[sintoma]]s do atraso e da [[barbárie]]. Logo, destinou, aos africanos e aos seus descendentes, o patamar de atraso e de inferioridade. [[Euclides da Cunha]], [[Silvio Romero]] e [[Mello Moraes]] também são outros nomes da intelectualidade brasileira que se inspiraram na raciologia para compreender a relação entre civilização e mestiçagem no Brasil.
O trabalho de [[Capistrano de Abreu]], que marcou o início do século XX na produção historiográfica brasileira, não se diferenciou muito dos trabalhos citados no que diz respeito aà concepção de raça no Brasil. [[Ronaldo Vainfas]] alega que o historiador reproduziu estereótipos[[estereótipo]]s sobre os negros e sobre os mestiços[[mestiço]]s, por exemplo, afirmando que eram indóceis e abusados. Assim, Capistrano, em certa medida, também sofreu influências de uma raciologia cientificista despertada na Europa e interiorizada pela elite intelectual brasileira. No entanto, é possível observar uma abordagem mais cultural em sua obra, por exemplo, quando discute sobre a diversidade em torno dos costumes e das particularidades regionais do Brasil.
[[Gilberto Freyre]], cujo trabalho possui direta influência de Capistrano, confronta os pressupostos da raciologia predominante em vários pensadores do século XIX, quando sugere a fusão também no sentido cultural, não somente a genética com o propósito de branqueamento. Esse argumento se apresenta diretamente influenciado pela sua formação na antropologia culturalista de [[Franz Boas]] da escola norte-americana. Portanto, essa visão que destaca a mescla entre a miscigenação e a cultura, tentando destacar aspectos também civilizatórios das culturas indígenas e africana, fica evidenciada na sua publicação [[Casa-grande e senzala]] (1933) a qual apresenta os cenários desta miscigenação racial e cultural, segundo Vainfas. Em 1934, Freyre organiza, no Recife, o 1° Congresso de Estudos Afro-Brasileiros.
 
Neste momento, entre as décadas de 201920 e de 301930, na Europa, despertava o movimento de [[intelectual|intelectuais]] [[negros]], como [[LeopoldLéopold SedarSédar Senhgor,Senghor]] e [[Aimé CesaireCésaire]], que reivindicavam a dissolução dessa concepção que prorrogava a superioridade da raça branca em relação asàs demais, difundida pelas escolas de teorias raciais no século XIX, conforme [[Thomas Skidmore|Skidmore]], e mesmo antes disso, em alguns registros historiográficos. Estes africanos e afro-descendentes se mobilizaram no sentido combater os propósitos [[racismo|racistas]] do processo de colonização, assim como, de resgatar a integridade e a identidade negra, levando em conta suas matrizes sócio-culturaissocioculturais na defesa de um [[Pan pan-africanismo]].
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[[imagem:www.fundaj.gov.br/docs/freyre/tf23.jpg|frame|left|300 × 279 - 46k - jpg|Casa grande]]
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Neste momento, entre as décadas de 20 e de 30, na Europa despertava o movimento de intelectuais negros, como [[Leopold Sedar Senhgor, Aimé Cesaire]], que reivindicavam a dissolução dessa concepção que prorrogava a superioridade da raça branca em relação as demais, difundida pelas escolas de teorias raciais no século XIX, conforme Skidmore, e mesmo antes disso, em alguns registros historiográficos. Estes africanos e afro-descendentes se mobilizaram no sentido combater os propósitos racistas do processo de colonização, assim como, de resgatar a integridade e a identidade negra, levando em conta suas matrizes sócio-culturais na defesa de um [[Pan africanismo]].
Retomando as primeiras organizações destes intelectuais, Diouf salienta que o Congresso Pan-Africano ocorrido em 1919 em Londres, sob a iniciativa do advogado dade Trinidade[[Trindade e Tobago]], [[Henry Sylvestre Sylvester-Williams]], teve a participação de negros provenientes da África, dos Estados Unidos e das [[Antilhas]].<ref>Diouf sustenta que desde o inicio até o Congresso de 1956, sempre notou-se a ausência dos negros da América Latina. Em 1956, o Brasil é representado por [[Jorge Amado]]. In. DIOUF, Mamadou. L’Afrique''L'Afrique au 21eme. siècle: Integration et renaissance''. Les intellectuels africains et de la diaspora sur l’unitél'unité de l’Afriquel'Afrique. Conference. dakarDakar, 6-9 Octobre de 2004.</ref>
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[[imagem:www.geledes.org.br/.../panafricanismo.jpg|frame|right|348 × 421 - 22k|Pan-africansmo]]
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Retomando as primeiras organizações destes intelectuais, Diouf salienta que o Congresso Pan-Africano ocorrido em 1919 em Londres, sob a iniciativa do advogado da Trinidade, [[Henry Sylvestre Williams]], teve a participação de negros provenientes da África, dos Estados Unidos e das Antilhas.<ref>Diouf sustenta que desde o inicio até o Congresso de 1956, sempre notou-se a ausência dos negros da América Latina. Em 1956, o Brasil é representado por Jorge Amado. In. DIOUF, Mamadou. L’Afrique au 21eme. siècle: Integration et renaissance. Les intellectuels africains et de la diaspora sur l’unité de l’Afrique. Conference. dakar, 6-9 Octobre de 2004.</ref>
A partir disso, tornou-se viável o surgimento dos [[Movimentosmovimento negro|movimentos negros]] na segunda metade do século XX. O marco fundador destes foi atribuído ao movimento ''[[Black Power]]'' lançado nos EUAEstados Unidos em 1960, o qual difundiu o conceito de [[negritude]] à [[Diáspora africana|diáspora]] caribenha e sulamericanasul-americana. No Brasil, o [[movimento negro]] se revelou na década de 701970 com as iniciativas políticas e culturais as quaisque valorizavam a negritude e promoviam uma consciência negra.<ref>CÉSAIRE, Aimé. Discursos sobre Negritude./Aimé Césaire; Carlos Moore (Org.) – Belo Horizonte; Nandyala, 2010. ( Col. Vozes da Diáspora Negra, V.03)</ref> Neste momento, destaca-se o envolvimento político e cultural do [[Blocobloco Afroafro [[Ilê Aiyê]] em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], na [[Bahia]].
 
Em 2001, foi articulado o plano de ação contra o racismo, [[preconceito social|discriminação social]] e [[xenofobia]], articulado em [[Durban]], na [[África do Sul, Durbam]], que teve suma importância na difusão de propostas afirmativas em outros países. No Brasil, em 2003, foi sancionada a [[lei 10. 639]] com o caráter de política de educação. Esta vincula, aà rede de ensino, a abordagem da História[[história da África]] e da Cultura[[cultura afro-brasileira]], a fim de desmistificar as abordagens eurocêntricas sobre o negro africano e sobre o [[afro-brasileiros|afro-brasileiro]].<ref>LOPES, Ana Mônica. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. p. 98.</ref> Em 2011, a lei foi modificada, incluindo o ensino das culturas [[Povos indígenas do Brasil|indígenas brasileiras]].
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[[imagem:www.coisadenego.blogspot.com/2009/11/ile-aiye.html|frame|left|550 × 827 - 115k|Ilê Ayê]]
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Em 2001 foi articulado o plano de ação contra o racismo, discriminação social e xenofobia, articulado na África do Sul, Durbam, que teve suma importância na difusão de propostas afirmativas em outros países. No Brasil em 2003, foi sancionada a [[lei 10.639]] com o caráter de política de educação. Esta vincula a rede de ensino a abordagem da História da África e da Cultura afro-brasileira, a fim de desmistificar as abordagens eurocêntricas sobre o negro africano e sobre o afro-brasileiro.<ref>LOPES, Ana Mônica. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. p. 98.</ref>Em 2011 a lei foi modificada incluindo o ensino das culturas indígenas brasileiras.
 
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