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[[File:Bentinho e Topázio.jpg|thumb|Um criador e seu cavalo [[mangalarga marchador]]. O mangalarga marchador é considerado uma raça de [[cavalo]]s.]]
A '''raça''' (do [[língua italiana|italiano]] ''razza'') é um [[conceito]] que obedece a diversos parâmetros para [[classificação|classificar]] diferentes [[população|populações]] de uma mesma [[espécie
Os [[antropologia|antropólogos]],
A partir do resultado O vocábulo ''raça'' aparecia normalmente nos textos científicos (como os livros de geografia de [[Aroldo de Azevedo]] e a coleção "''História das Raças Humanas''", de Gilberto Galvão, que detalha todas as raças, com fotografias) até a [[década de 1970]], quando começou a ser questionado como racismo, especialmente com o advento do [[politicamente correto]] na década de 1980. {{carece de fontes}}. Do ponto de vista científico, como já demonstrou o [[Projeto Genoma]], o conceito de raça não pode ser aplicado a seres humanos por não existirem genes raciais na nossa espécie; isso corrobora teses anteriores, que negavam a existência de isolamento genético dentre as populações. Assim, para a espécie humana "raça" corresponde a um conceito social, não a conceito científico.
Uma pesquisa do [[
O termo "raça" ainda é aceito normalmente para designar as variedades de [[animal doméstico|animais domésticos]] e animais de criação como o gado ([[nelore]], [[gir]] e [[zebu]]).
Abaixo, discutem-se os conceitos biológicos de raça, várias definições históricas destes conceitos e um resumo da [[história]] e utilização das classificações de raças humanas.
== Raça em biologia ==
Os [[zoologia|zoólogos]] geralmente consideram a ''raça'' um sinónimo das [[subespécie]]s, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das [[espécie]]s, portanto, para a delimitação de subespécies ou raças a [[diferenciação genética]] é uma condição essencial, ainda que não suficiente. Na espécie ''[[Homo sapiens]]'' - a espécie humana - a variabilidade genética representa 3 a 5% da variabilidade total, nos sub-grupos continentais, o que caracteriza, definitivamente, a ausência de diferenciação genética. Portanto, inexistem raças humanas do ponto de vista biológico. No "Código Internacional de Nomenclatura Zoológica" (4ª edição, 2000), não existe nenhuma norma para considerar categorias [[sistemática]]s abaixo da subespécie.
Para os [[botânica|botânicos]] – de acordo com o "Código Internacional de Nomenclatura Botânica" - as variantes duma espécie são explicitamente denominadas "subespécies" (subsp.), variedades (var.) e formas (f.) que na verdade são matrizes das espécies. Por exemplo, para o [[pinheiro]] negro europeu, ''Pinus nigra'', é aceite uma subespécie - ''Pinus nigra'' subsp. ''nigra'' na região oriental da sua área de distribuição, desde a [[Áustria]] e nordeste da [[Itália]] até à [[Crimeia]] e [[Turquia]], com as seguintes variedades:
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{{Artigo principal|[[Raças humanas]]}}
Já os egípcios classificavam os seres humanos com base na cor de pele: vermelho-
O conceito de [[raças humanas]] foi usado pelos regimes [[colonialismo|coloniais]] e pelo ''[[apartheid]]'' (na [[África do Sul]]), para perpetuar a submissão dos colonizados; actualmente, só nos [[Estados Unidos]] se usa uma classificação da sua população em raças, alegadamente para proteger os direitos das [[minoria]]s.<ref>[http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&file=index&pa=showpage&pid=1598 Classificação racial na pauta de discussões do movimento negro]. Em IBASE. Acessado em [[15 de outubro]] de [[2007]].</ref>
A definição de ''raças humanas'' é principalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganham, graças a uma cultura [[racismo|racista]], sentidos, [[valor (ética)|valores]] e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de [[pele]], tipo de cabelo, conformação facial e [[crânio|cranial]], ancestralidade e, em algumas culturas, [[genética]]. O conceito de raça humana não se confunde com o de sub-espécie e com o de variedade, aplicados a outros seres vivos que não o homem(embora humanos e animais estejam exatamente sobre o mesmo tipo de seleção genética, apesar das pomposas fachadas
Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como [[população]], [[etnia]], ou mesmo [[cultura]].
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Como qualquer classificação, esta é imperfeita e, por isso, ao longo do tempo, foram sendo usados outros termos, principalmente para grupos cujas características não se ajustavam aos grupos "definidos", como é o caso dos [[pardo]]s para indicar os [[indígena]]s do sub-continente [[Índia|indiano]], entre outros. De notar que, a par desta classificação baseada em características físicas, houve sempre outras, mais relacionadas com a [[cultura]], principalmente a [[religião]] dos "outros", como os [[mouro]]s ou "infiéis", como os cristãos de [[Mundo Ocidental|cultura ocidental]] denominavam os [[Árabes|árabes]] [[Muçulmano|muçulmanos]] e os [[judeu]]s, este último imigrou para as [[Colonialismo|colônias]] [[Império Espanhol|espanholas]], [[Império Português|portuguesas]], [[Império colonial francês|francesas]], [[Império Colonial Holandês|holandesas]] e [[Império Britânico|inglesas]] estabelecidas nos Novos Continentes como a [[África]], a [[América]] e a [[Oceania]] a partir do Século XVI para fugir da intolerâcia religiosa praticada pelos [[Reis católicos|reis católicos]] existente nas metrópoles<ref>http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/judeus_sem_saber.html</ref>.
Ainda no
Existem também estudos que procuram mostrar que a percepção social da cor como definidora de uma divisão humana em raças não é mais do que uma construção
Análises [[genética]]s recentes permitem que a [[evolução]] e [[migração humana|migrações
==Raças no Brasil==
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*cabra: oriundo do cruzamento do mulato com o negro.
Alguns autores da historiografia luso-brasileira são importantes para compreendermos as interpretações em torno do conceito de raça no Brasil. Essa revisão também contribui para que possamos vislumbrar as transformações e as continuidades
Na primeira metade do século XIX, [[José Bonifácio de Andrada e Silva]] demonstrou, em seu trabalho, uma preocupação referente
Na obra "Representação", publicada em 1825, José Bonifácio evidenciou uma proposta que previa a cessação gradual do [[comércio atlântico de escravos|tráfico negreiro]] e da escravidão, visto que a proliferação de panfletos
Em 1840, o rótulo
▲Na obra "Representação", publicada em 1825, José Bonifácio evidenciou uma proposta que previa a cessação gradual do tráfico negreiro e da escravidão, visto que a proliferação de panfletos alertavam a possibilidade de uma revolta de escravos ou a eclosão de uma onda denominada “Haitismo”, devido ao episódio da [[ilha de São Domingos]]. Assim, Bonifácio argumentou que a escravidão tiranizava e reduzia os negros à condição de “brutos animais” e “inoculavam toda a sua imoralidade e todos os seus vícios”<ref>ANDRADA E SILVA, J. B. de (1965). “Representação à Assembléia Constituinte sobre a Escravatura”. In: FALCÃO, E. C. (org.). Obras científicas, políticas e sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. P.130.</ref>Bonifácio concluiu que a nação brasileira teria na sua constituição a marca da heterogeneidade física e civil, já que a população era composta por negros, índios, mestiços e brancos. Logo, seu entendimento em torno do conceito raça destacava estas quatro classificações étnicas, sendo a mestiçagem um produto da relação entre as mesmas.
Em 1850, foi publicada a tese determinista do conde [[Arthur de Gobineau]], que defendia as virtudes civilizatórias do branco europeu. Em 1853, Gobineau publicou o Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças (1853-1855). Nesta obra, justificou as diferenças sociais entre negros e brancos pela inferioridade biológica do africano. A partir desta
▲Em 1840 o rótulo “miscigenação racial” apareceu em um concurso promovido pelo [[Instituto de História e Geografia Brasileira – IHGB]]. Neste momento, destacou-se a tese “Como se escrever a história do Brasil” do naturalista alemão [[Karl Friedrich Philipp von Martius]]. Este afirmou que para compreender a história brasileira era necessário levar em conta e estudar a mistura das três raças o que seria um dos constituintes da identidade nacional e o alicerce para a construção do mito da democracia racial proferido por [[Gilberto Freyre]] no século XX. Como naturalista ilustrado, Martius priorizou a contribuição portuguesa apontando o branco como o civilizador. O indígena teve atenção, pois se considerava a possibilidade de utilizá-lo como representante da nacionalidade brasileira na construção de um mito nacional. Quanto ao negro, Martius chegou a citar sua influência na formação cultural brasileira, todavia, destacando-o como um empecilho no processo de civilização.
No estatuto de 1851, foi lançada a proposta de incorporar, aos estudos desenvolvidos pelo IHGB, linhas de pesquisas nos campos da [[etnografia]] e da [[arqueologia]], em específico que tratassem da cultura indígena brasileira. Assim, através de uma argumentação científica, poderia
▲Em 1850 foi publicada a tese determinista do conde [[Arthur de Gobineau]] que defendia as virtudes civilizatórias do branco europeu. Em 1853 Gobineau publicou o Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças (1853-1855). Nesta obra, justificou as diferenças sociais entre negros e brancos pela inferioridade biológica do africano. A partir desta contestação, sua tese alega que a desigualdade seria superada com o branqueamento dos negros que dessa forma assimilariam a cultura européia, logo se civilizando. Gobineau esteve no Brasil como embaixador francês. Foi amigo pessoal de [[D. Pedro II]] e desembarcou na ex-colônia portuguesa em 1869.
A publicação "História Geral do Brasil", de [[Francisco
▲No estatuto de 1851 foi lançada a proposta de incorporar aos estudos desenvolvidos pelo IHGB linhas de pesquisas nos campos da etnografia e da arqueologia, em específico que tratassem da cultura indígena brasileira. Assim, através de uma argumentação científica poderia se’ explicar a inferioridade desta cultura frente a cultura civilizatória. No, entanto nota-se também um movimento na literatura que busca demonstrar o indígena como ícone da essência nacional brasileira.
▲A publicação História Geral do Brasil de [[Francisco Adolpho de Varnhagen]] em 1854 com o patrocínio imperial, não priorizou o estudo em torno das raças, nem mesmo se fundamentou na tese de Gobineau. Nota-se apenas a contribuição do autor ao informar sobre os costumes e sobre as crenças dos tupis, identificando-os como bárbaros e selvagens e se opondo ao projeto romântico que visava transformar o índio em ícone nacional. O negro, assim como, os aspectos de suas culturas não foram mencionados. A idéia de miscigenação permanece oculta na obra de Varnhagen.
[[Joaquim Nabuco]] também foi outro autor que problematizou a questão da raça no Brasil. Afirmou que a atribuição negativa a raça negra se justificou pela [[escravidão
Todavia, em seu discurso, também se destacou o tom pejorativo em relação
Dentro da concepção difundida pela teoria das raças, destacam-se, também, os trabalhos de [[Nina Rodrigues]]. Este afirmou que o povo brasileiro seria formado pela junção entre [[Povos indígenas do Brasil|indígenas]], [[brancos]] e [[negros]]. Fundamentando-se na linha [[evolucionismo|evolucionista]] da escola histórica protagonizada pelo conde [[Arthur de Gobineau]], que defendeu a raça como fator determinante na história humana. Assim como Nabuco, Rodrigues percebeu os sinais de africanização na constituição da [[cultura do Brasil|cultura brasileira]], ou seja, uma explícita influência negra na língua, na educação, nas maneiras sociais e nas práticas religiosas, entendidos como
O trabalho de [[Capistrano de Abreu]], que marcou o início do século XX na produção historiográfica brasileira, não se diferenciou muito dos trabalhos citados no que diz respeito
[[Gilberto Freyre]], cujo trabalho possui direta influência de Capistrano, confronta os pressupostos da raciologia predominante em vários pensadores do século XIX, quando sugere a fusão também no sentido cultural, não somente a genética com o propósito de branqueamento. Esse argumento se apresenta diretamente influenciado pela sua formação na antropologia culturalista de [[Franz Boas]] da escola norte-americana. Portanto, essa visão que destaca a mescla entre a miscigenação e a cultura, tentando destacar aspectos também civilizatórios das culturas indígenas e africana, fica evidenciada na sua publicação [[Casa-grande e senzala]] (1933) a qual apresenta os cenários desta miscigenação racial e cultural, segundo Vainfas. Em 1934, Freyre organiza, no Recife, o 1° Congresso de Estudos Afro-Brasileiros.
Neste momento, entre as décadas de
▲Neste momento, entre as décadas de 20 e de 30, na Europa despertava o movimento de intelectuais negros, como [[Leopold Sedar Senhgor, Aimé Cesaire]], que reivindicavam a dissolução dessa concepção que prorrogava a superioridade da raça branca em relação as demais, difundida pelas escolas de teorias raciais no século XIX, conforme Skidmore, e mesmo antes disso, em alguns registros historiográficos. Estes africanos e afro-descendentes se mobilizaram no sentido combater os propósitos racistas do processo de colonização, assim como, de resgatar a integridade e a identidade negra, levando em conta suas matrizes sócio-culturais na defesa de um [[Pan africanismo]].
Retomando as primeiras organizações destes intelectuais, Diouf salienta que o Congresso Pan-Africano ocorrido em 1919 em Londres, sob a iniciativa do advogado
▲Retomando as primeiras organizações destes intelectuais, Diouf salienta que o Congresso Pan-Africano ocorrido em 1919 em Londres, sob a iniciativa do advogado da Trinidade, [[Henry Sylvestre Williams]], teve a participação de negros provenientes da África, dos Estados Unidos e das Antilhas.<ref>Diouf sustenta que desde o inicio até o Congresso de 1956, sempre notou-se a ausência dos negros da América Latina. Em 1956, o Brasil é representado por Jorge Amado. In. DIOUF, Mamadou. L’Afrique au 21eme. siècle: Integration et renaissance. Les intellectuels africains et de la diaspora sur l’unité de l’Afrique. Conference. dakar, 6-9 Octobre de 2004.</ref>
A partir disso, tornou-se viável o surgimento dos [[
Em 2001, foi articulado o plano de ação contra o racismo, [[preconceito social|discriminação social]] e [[xenofobia]], articulado em [[Durban]], na [[África do Sul
▲Em 2001 foi articulado o plano de ação contra o racismo, discriminação social e xenofobia, articulado na África do Sul, Durbam, que teve suma importância na difusão de propostas afirmativas em outros países. No Brasil em 2003, foi sancionada a [[lei 10.639]] com o caráter de política de educação. Esta vincula a rede de ensino a abordagem da História da África e da Cultura afro-brasileira, a fim de desmistificar as abordagens eurocêntricas sobre o negro africano e sobre o afro-brasileiro.<ref>LOPES, Ana Mônica. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. p. 98.</ref>Em 2011 a lei foi modificada incluindo o ensino das culturas indígenas brasileiras.
{{Referências}}
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