Transexualidade: diferenças entre revisões

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Com isso, o tratamento dos transexuais masculinos se ampliou e o dos transexuais femininos continua em pesquisa.<ref name="Saadeh 2004"/>
 
A partir da Resolução de [[1997]] osas pessoas transexuais vêm tendo maior visibilidade e suas questões, maior transparência social, seja em matérias de [[revistas]], [[jornais]], [[televisão]], [[novela]] e até em [[política]]. No início, por conta das primeiras cirurgias realizadas; depois, por questões de cidadania.<ref name="Saadeh 2004"/>
 
Bianca Magro, registrada como Edilson, foi a primeira transexual a ser operada gratuitamente, no [[Hospital de Clínicas da Unicamp|Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas]] ([[UNICAMP]]), em [[8 de abril]] de [[1998]], depois que a cirurgia foi autorizada pelo CFM.<ref name="COUTO 1999"/>
 
Em [[São José do Rio Preto]], no [[Hospital de Base]] e na [[Faculdade de Medicina]], desde [[dezembro]] de [[1998]] são realizadas cirurgias de reatribuição sexual.<ref name="Saadeh 2004"/>
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Nos dias atuais, em que a realização das cirurgias de reatribuição sexual parece algo irrevogável, o grande problema se situa na condição legal e jurídica da pessoa operada. Apesar de não existir decisão formal, muitos pacientes têm conseguido, ainda que de forma isolada, a mudança de nome e sexo no [[registro civil]], o que leva à alteração de toda a documentação e a uma diminuição do [[constrangimento]] cotidiano a que eram expostos.<ref name="Saadeh 2004"/><ref name="ARAUJO 2000">Araujo LAD. A proteção constitucional do transexual. São Paulo: Saraiva; 2000.</ref>
 
== OutrasTermos questões relevantesrelacionados ==
Alguns outros pontos importantes relacionados aos [[transtornos de identidade de gênero]] merecem destaque. De certa maneira, estão ligados ao transtorno e influenciam, especialmente em relação à transexualidade, a qualidade de vida e o sentido de realização desses indivíduos.
 
* [[Androginia]]: característica da pessoa que tem aoexpressões mesmoambíguas tempoquanto traços de ambos osao sexosgênero, não parecendo nem só masculina ou feminina.
As atitudes das pessoas em relação à transexualidade é um aspecto importante, tendo sido analisado de maneira complexa por LANDÉN e INNALA (2000)<ref name="LANDÉN INNALA 2000">Landén M, Innala S. Attitudes toward transsexualism in a swedish national survey. Arch Sex Behav. 2000;29(4):375-88.</ref> em amplo estudo realizado na [[Suécia]]. Os resultados obtidos podem ser assim resumidos:
* [[Crossdressing]]: expressão de gênero caracterizada por roupas e comportamentos do sexo oposto.
* a grande maioria aceita a possibilidade dos transexuais poderem ter seu sexo reatribuído;
* [[Drag queen]]: pessoaexpressão queartística secom travesteironias doem sexorelação opostoa estereótipos femininos para fins geralmente humorísticos ou profissionais.
* 63% acreditam que a própria pessoa deva pagar por isso e não o Estado;
* a grande maioria acredita que eles possam se casar e trabalhar com crianças após a mudança;
* 43% apóiam a adoção de crianças por transexuais operados e 41% são contra;
* homens e o grupo com idade mais alta apresentam visão mais restritiva, que os grupos de mulheres e os de idade mais jovem.
 
Outra questão que desperta interesse científico é a dos parceiros. Quem são essas pessoas que se interessam e têm desejo por transexuais, ou, em sentido mais amplo, por quem sofre de transtorno de identidade de gênero?
 
BLANCHARD e COLLINS (1993)<ref name="BLANCHARD COLLINS 1993">Blanchard R, Collins PI. Men with sexual interest in transvestites, transsexuals, and she-males. J Nerv Ment Dis. 1993;181(9):570-5.</ref> realizam estudo a respeito de [[homens]] que se interessam por [[travestis]], transexuais e homens feminilizados. Dão a esse desejo o nome de [[ginandromorfofilia]]. Afirmam que essa população é muito maior do que se imagina em função do mercado voltado para eles: publicações, [[revistas pornográficas]], [[prostituição]] específica em ruas e em anúncios publicados em [[jornais]] diários.
 
Encontram três padrões de comportamento.
 
# primeiro grupo, ou padrão comportamental, refere-se a homens que buscam essa população com fins românticos, de se relacionar afetivamente com eles. Não se travestem, isso é não são transexuais, travestis ou transgêneros e não fazem diferenciação de termos entre transexuais, travestis ou qualquer outro tipo; são masculinos e vivem como tal.
# segundo grupo é aquele que se reconhece como com atividades de travestis, seja ao se vestir, seja no estilo de vida. Procuram outros para encontros sexuais ou ligações afetivas.
# terceiro e último grupo, residual, é aquele em que se encaixam os travestis e transexuais, que não buscam alguém parecido com eles mas, sim, homens masculinos, de preferência, hipermasculinos.
 
Os pesquisadores ressaltam que nenhum dos integrantes das três categorias se definiu como “gay” ou [[homossexual]]. Apenas poucos se definiram como [[bissexuais]]. A grande maioria não fez referência ao seu [[estado civil]], poucos assumiram que eram casados.
 
As conclusões finais são de que a grande maioria desses homens não é composta de pessoas com atividades ou comportamentos travésticos. Os ginandromorfófilos “puros” se diferenciam dos travestis “puros” por vários motivos, desde a forma como se reconhecem, esperam ser tratados (como [[homem]] ou [[mulher]]) até pela preferência de papel dominante na interação sexual. Para esses estudiosos, todas essas evidências constituem a base para a afirmação de que a ginandromorfofilia se constitui como interesse erótico separado e particular.
 
As expressões “maioria” e “poucos” encontradas no parágrafo anterior são do texto pesquisado. Os autores não fazem referência à porcentagem ou números absolutos e optam pelo uso desses termos.
 
Já entre transexuais femininos, STEINER e BERNSTEIN (1981)<ref name="STEINER BERNSTEIN 1981">Steiner BW, Bernstein SM. Female-to-male transsexuals and their partners. Can J Psychiatry. 1981;26(3):178-82.</ref> direcionam a pesquisa mais para as características da relação estabelecida do que meramente do parceiro. Encontram, em relação às parceiras, que:
 
* 95% tiveram previamente coito com parceiros homens;
* 10% tiveram relações homossexuais ( com mulheres), enquanto 90% negam esse tipo de relação;
* 73% relatam orgasmo com homem, 27% negam;
* 100% relatam orgasmo no sexo com parceiro transexual;
* 95% se vê como mulher durante a relação sexual, 5% como homem e como mulher em tempos alternados;
* 91% reconhece seu parceiro como homem durante fantasias sexuais, 9% o vê nos dois papéis (masculino e feminino).
 
Em relação aos transexuais masculinos:
* 100% preferem parceiras mulheres;
* 41% já tiveram intercurso sexual com homens;
* 85% já tinham tido relação sexual com mulheres;
* 23% revelam orgasmo durante a atividade sexual com homens;
* 85% dizem ter orgasmo durante intercurso sexual com mulheres;
* 100% quer ter um pênis;
* 100% se vê como homem durante o sexo e vê a parceira como mulher.
 
Concluem afirmando que os transexuais querem exercer o papel de [[pai]] e muitas vezes escolhem parceiras que já tenham [[filhos]]; além disso, as companheiras contribuem para sua estabilidade na fase de [[transformação]]. Já as parceiras relatam casamentos infelizes prévios e vêem a atual relação com esse “homem sem pênis” como segura, sem riscos de [[gravidez]] e estável. O somatório dessas buscas faz desse tipo de relacionamento um espaço sexual e emocionalmente gratificante, o que favorece que a parceria dure muitos anos.
 
As questões legais envolvendo os transexuais também formam tópico importante e que determina inclusão social e afetiva após a cirurgia.
 
RENDLEMAN (1998)<ref name="RENDLEMAN 1998">Rendleman N. False names. West J Med. 1998;169(5):318-21.</ref> expressa a dificuldade da equipe médica em lidar com transexuais pré-cirúrgicos que utilizam nome fictício.
 
ALTHOF (1980)<ref name="ALTHOF 1980">Althof SE. Name change: its significance among patients with gender dysphoria. Bull Menninger Clin. 1980;44(6):617-27.</ref> analisa a importância da mudança de nome para essa população e as dificuldades encontradas.
 
No Brasil, ARAUJO (2000)<ref name="ARAUJO 2000"/> trata em termos jurídicos dos direitos constitucionais que um transexual se faz merecedor após a cirurgia de reatribuição sexual. Atualmente, muitos pacientes têm conseguido a mudança de nome e sexo em registro civil ([[certidão de nascimento]]), mas ainda na dependência de decisão judicial favorável. A resolução do [[Conselho Federal de Medicina]] contribuiu muito para essa mudança jurídica nos últimos anos.
 
Em outros países, os problemas não se atêm à questão do nome. Em muitos lugares existe a discriminação legal<ref name="COSTA-SANTOS MADEIRA 1996">Costa-Santos J, Madeira R. Transsexualism in Portugal: the legal framework and procedure, and its consequences for transsexuals. Med Sci Law. 1996;36(3):221-5.</ref><ref name="GROMB 1997">Gromb S, Chanseau B, Lazarini HJ. Judicial problems related to transsexualism in France. Med Sci Law. 1997;37(1):27-31.</ref>) e até perseguição policial.<ref name="YUZGUN 1993">Yuzgun A. Homosexuality and police terror in Turkey. J Homosex. 1993;24(3-4):159-69.</ref>
 
Por fim, relacionada às questões legais, existe, pelo menos nos [[EUA]], preocupação com o acesso e as necessidades específicas dessa população no tocante à [[saúde pública]].
 
LEE (2000),<ref name="LEE 2000">Lee R. Health care problems of lesbian, gay, bisexual, and transgender patients. West J Med. 2000;172(6):403-8.</ref> CLARK et al. (2001),<ref name="CLARK 2001">Clark ME, Landers S, Linde R, Sperber J. The GLBT health access project: a state-funded effort to improve access to care. Am J Public Health. 2001;91(6):895-6.</ref> GREEN (2000),<ref name="GREEN 2000"/> LOMBARDI (2001)<ref name="LOMBARDI 2001">Lombardi E. Enhancing transgender healthcare. Am J Public Health. 2001;91(6):869-72.</ref> e MEYER (2001)<ref name="MEYER 2001">Meyer IH. Why lesbian, gay, bisexual, and transgender public health? Am J Public Health. 2001;91(6):856-9.</ref> discutem, avaliam e propõem a urgência de um programa de saúde voltado para a população GLBT (“gays”, lésbicas, bissexuais e transgêneros) em que sejam discutidas questões relevantes de cidadania e saúde específicas para eles.
 
Já WIESSING et al. (1999)<ref name="WIESSING 1999">Wiessing LG, Van Roosmalen MS, Koedijk P, Bieleman B, Houweling H. Silicones, hormones and HIV in transgender street prostitutes. AIDS. 1999;13(16):2315-6.</ref> e CLEMENTS-NOLLE et al. (2001)<ref name="CLEMENTS-NOLLE 2001">Clements-Nolle K, Marx R, Guzman R, Katz M. HIV prevalence, risk behaviors, health care use, and mental health status of transgender persons: implications for public health intervention. Am J Public Health. 2001;91(6):915-21.</ref> discutem a necessidade de um programa específico em relação à [[AIDS]], infecção por [[HIV]] e uso de [[silicone]] para a população transexual.
 
Em relação à mídia escrita, o tema, além de importante e vendável, desperta a curiosidade das pessoas, servindo como meio de dissolução de preconceitos e ignorância, mas também oferecendo a questão como algo sensacionalista. Nos [[EUA]], a [[revista GQ]], na edição de agosto de [[2001]], publica matéria interessante sobre uma jornalista vivendo como homem (My Life as a Man). A mesma revista, em maio de [[2002]], revela a história de um [[professor]] de inglês, [[casado]] e transexual (From a Man to a Woman).
 
No [[Brasil]] são comuns matérias sensacionalistas ou pornográficas. Contudo, a [[revista Época]], na edição de número 236 de novembro de 2002, publica reportagem esclarecedora sobre o assunto, além de na edição número 295 de [[12 de janeiro]] de [[2004]] tornar público o trabalho da pesquisadora da [[Universidade de Stanford]], Joan Roughgarden, uma mulher transexual, que “afirma que as identidades homossexuais e transexuais são abundantes em várias espécies de [[vertebrados]]”.
 
O jornal “[[Folha de S.Paulo]]”, nas edições de 14 e 15 de novembro de [[2003]], publica importante informação e comentário sobre a participação de transexuais na [[Olimpíadas de Atenas]] em 2004. Nas edições de 5 e 6 de março de 2004, noticia a presença da mulher transexual, [[Mianne Bagger]], competindo no torneio de tênis Aberto da [[Austrália]].
 
A maior visibilidade dos transexuais pode contribuir para a diminuição do preconceito e da discriminação, o cuidado deve centrar no sensacionalismo e na [[exploração sexual]] e [[pornográfica]] do tema.
 
Os transexuais estarão expostos à [[discriminação]], chacota e [[humilhação]] alimentadas pela [[ignorância]] e [[preconceito]], enquanto não for adotada uma postura de [[legalização]], legitimização, reconhecimento e repeito. Cabe também aos profissionais de saúde fomentar e defender essa mudança de atitude e cuidado em relação a esses indivíduos que buscam na Medicina ajuda para resolução de seus problemas.
 
Em verdade, essa é uma história que está longe do término. A questão transexual é recente dentro da [[Medicina]] e mesmo de outras áreas de pesquisa. Só nos últimos 40 anos é que algum conhecimento se estruturou, há muito para ser discutido, revelado, conhecido, e em trabalho integrado.
 
Esse tema e essa [[população]] necessitam de diversas equipes calcadas em princípios sólidos de respeito e atenção à saúde e à [[cidadania]]. As questões legais não são específicas desse processo médico, mas a interligação é evidente e necessária, e o distanciamento representaria uma fuga de responsabilidades éticas e sociais.
 
Tudo isso encontra respaldo na bibliografia pesquisada e adquire caráter de urgência na realidade cotidiana dos transexuais e também daqueles que se dispõem a trabalhar com eles.
 
== Termos relacionados ==
* [[Androginia]]: característica da pessoa que tem ao mesmo tempo traços de ambos os sexos, não parecendo nem só masculina ou feminina.
* [[Crossdressing]]: necessidade fetichista de se vestir com roupas do sexo oposto para obter satisfação sexual.
* [[Drag queen]]: pessoa que se traveste do sexo oposto para fins geralmente humorísticos ou profissionais.
* [[Gay]]: atração erótica e afetiva de um homem por outro.
* [[Homossexualidade]]: o homem ou a mulher cujo desejo erótico e afetivo é voltado a indivíduos do mesmo sexo ou gênero.
* [[Identidade de gênero]] (também identidade sexual): identificação com os elementos social e culturalmente delimitadores do que é típico do comportamento masculino ou feminino.
* [[Intersexual]]idade: indivíduo quecom possuiambiguidades ogenitais, sexo externo (pênisgonadais, vagina)hormonais e/ou interno (óvulos, testículos) indefinidos ou de ambos os sexoscromossômicas.
* [[Lesbianismo|Lesbianidade]]: atração erótica e afetiva de uma mulher por outra mulher, nessesendo caso[[cisgênero]] relacionadoou à transexualidade, a pessoa transexual e a pessoa travesti se vê como mulher e sente atração sexual por mulheres (ela tem a identidade de gênero feminina e a orientação sexual como lésbica)[[transgênero]].
* [[Orientação sexual]]: refere-se à capacidade de atração sexual ou romântica que uma pessoa pode sentir por outra do gênero oposto ou, do mesmo gênero, de ambos ou de nenhum.
* [[TransgenerismoTransgeneridade]]: termo que inclui pessoas transexuais, travestis, intersexuais e todas as outras cujo comportamento social seja incongruente com o sexo designado no nascimento.
* [[Travestilidade]]: identidade latina com reivindicações sociais, legais e políticas a respeito do espectro feminino.
* [[travestilidade]]: necessidade fetichista de transformar o corpo (com hormônios e cirurgias) e se vestir com roupas do sexo oposto para satisfação pessoal e sexual. Contudo, não há necessidade de readequação genital (fazer a [[cirurgia de redesignação sexual]], vulgarmente conhecida como “mudança de sexo”), como no caso dos transexuais.
 
== Ver também ==