Livro dos Números: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Figures.jpg|thumb|direita|400px|[[Cohen|Sacerdotes]] (''kohanim''), [[levitas]] e utensílios do templo.]]
{{mini-desambig|visão judaica do texto|Bamidbar}}
'''Livro dos Números''' (do [[grego koiné|grego]] {{politônico|Ἀριθμοί}}, ''"Arithmoi"''; {{lang-he-n|בְּמִדְבַּר}}, ''[[Bamidbar|Bəmiḏbar]]'', "No deserto [de]") é o quarto dos cinco livros da [[Torá]], a primeira seção da [[Bíblia hebraica]], e do [[Antigo Testamento]] cristão{{sfn|Ashley|1993|p=1}}. O nome em português é derivado do [[latim]] ''"Numeri"'' e é uma referência aos dois censos dos israelitas citados no texto. Este livro tem uma longa e complexa história, mas sua forma final provavelmente é resultado de uma edição [[fonte sacerdotal|sacerdotal]] de uma fonte [[javeísta]] realizada em algum momento no início do [[Yehud medinata|período persa]] (século V a.C.){{sfn|McDermott|2002|p=21}}.
[[Ficheiro:Korah Botticelli.jpg|260px|thumb|"A Punição de Corá" ([[Sandro Botticelli]])]]
'''Números''' (no [[latim]] da [[Vulgata]]: ''Numeri'', do [[grego bíblico]] Αριθμοί, ''Arithmoí''; {{lang-he|במדבר}}, ''Bəmidbar'', "no deserto [de]") é o quarto livro da [[Bíblia]], vem depois do livro de [[Levítico]] e antes de [[Deuteronômio]].<ref name="echegary">{{citar livro|autor=Echegary, J. González et al|título=A Bíblia e seu contexto|edição=2|local= São Paulo|editora=Edições Ave Maria|ano=2000|páginas=1133|volume=2|isbn = 978-85-276-0347-8}}</ref><ref name="pearlman">{{citar livro|autor=Pearlman, Myer|título=Através da Bíblia|subtítulo=Livro por Livro|edição=23|local=São Paulo|editora=Editora Vida|ano=2006|páginas=439|isbn = 978-85-7367-134-6}}</ref> Faz parte do [[Pentateuco]] (conhecida pelos [[judeus]] como [[Torá]]), os cinco primeiros livros bíblicos, cuja autoria é, tradicionalmente, atribuída ao patriarca [[Moisés]]. Um dos livros do [[Antigo Testamento]] da Bíblia, possui 36 capítulos e recebe esse nome por causa dos [[Censo demográfico|censo]]s relatados. A época da escrita, segundo a crença religiosa, seria por volta de [[1470 a.C.]]. Acadêmicos, no entanto, datam a escrita do livro bem mais recentemente. À luz da [[hipótese documental]], que aborda a Torá como o compilado de diversas narrativas paralelas e não-correlatas, [[Julius Wellhausen]] concluiu que os números tem origem predominante na fonte [[sacerdotal]] e que foi escrito durante o sexto século d.C. com material adicional (incluindo a história de Balaam) do documento [[eloísta]] datado de 850 d.C. e [[javista]] de 950 d.C. Acadêmicos posteriores, seguindo os pressupostos de Wellhausen, tendem a ver o íntegro texto do Pentateuco como feito da sedimentação de numerosos textos acrescentados ao longo do tempo de difícil datação. Eles concordam, no entanto, que o Pentateuco não recebeu sua redação final antes do século quinto d.C.<ref>Colin Humphreys, ''The Miracles of Exodus: A Scientist's Discovery of the Extraordinary Natural Causes of the Biblical Stories''. New York: HarperCollins (2004): 109. "Many scholars have come to believe that there are four underlying sources of the Pentateuch. These sources are called J, E, D, and P, and they are usually dated from the tenth to the fifth centuries B.C."</ref> Outros estudos modernos, no entanto, são cautelosos com a hipótese documental. Acadêmicos mais liberais afirmam que o livro possui muitos autores e é o produto dos períodos de exílio e do período persa (sexto e quinto século d.C.).<ref name="Rolf Rendtorff 1997 pp.43-65">Rolf Rendtorff, "Directions in Pentateuchal Studies", CR:BS5 (1997), pp.43-65; and David M. Carr, "Controversy and Convergence in Recent Studies of the Formation of the Pentateuch", RSR23 (1997), pp.22-29</ref> Acadêmicos mais conservadores, em contraste, tendem a aceitar a hipótese de que o livro foi escrito por um único autor, não necessariamente [[Moisés]], e que foi escrito não muito tempo depois dos tempos de Moisés. Eles concordam que o livro foi sujeito a alterações posteriores.<ref name=Longman&Dillard>"Introduction to the Old Testament", chapter on Numbers , by T. Longman and R. Dillard, Zondervan Books (2006)</ref>
 
Números começa no [[monte Sinai]], onde os [[Tribos de Israel|israelitas]] haviam recebido suas leis e renovado sua [[Aliança (Bíblia)|aliança]] com Deus, que passou a habitar entre eles no [[Tabernáculo]]{{sfn|Olson|1996|p=9}}. A próxima missão era tomar posse da [[Terra Prometida]]. A população é contada e preparativos são realizados para reassumir [[O Êxodo|a marcha]] até lá. Os israelitas reassumem a jornada, mas logo aparece um rumor sobre as dificuldades da viagem e questionamentos sobre a autoridade de [[Moisés]] e [[Aarão]]. Por causa disto, Deus destrói aproximadamente {{fmtn|15000}} deles através de formas variadas. Eles chegam até a fronteira de [[Canaã]] e enviam espiões para reconhecer o terreno. Ao ouvir o temeroso relato deles sobre as condições encontradas, os israelitas se apavoram e desistem de se apoderar do território. Deus condena-os todos à morte no deserto até que uma nova geração possa crescer para assumir a tarefa. O livro termina com a nova geração na planície de [[Moab]] pronta para cruzar o [[rio Jordão]]{{sfn|Stubbs|2009|p=19–20}}.
== Origem do nome ==
O quarto livro do Pentateuco deriva seu nome dos dois [[Censo demográfico|censo]]s de [[Israel]] mencionados no livro. Narra eventos que ocorreram na região do [[monte Sinai]], durante as peregrinações dos israelitas no ermo e [[Moabe]]. Este nome '''Números''' foi usado pela primeira vez na tradução grega da versão [[Septuaginta|LXX]], sendo bastante adequado, pois todo o livro esta repleto de números.
 
Este livro marca o final da história do [[O Êxodo|êxodo de Israel]] da opressão no [[Egito Antigo]] e sua viagem para [[conquista de Canaã|conquistar a terra]] prometida por Deus a [[Abraão]]. Por isso, Números conclui narrativas iniciadas no [[Gênesis]] e elaboradas no [[Livro do Êxodo]] e no [[Levítico]]: Deus havia prometido que os israelitas que eles seriam grandes (ou seja, seriam numerosos), que eles teriam uma relação especial com [[Javé]], seu Deus, que eles conquistariam a terra de Canaã. Números também demonstra a importância da santidade (tema fundamental do Levítico), fé e confiança: apesar da presença de Deus e de [[Cohen|seus sacerdotes]], Israel ainda não tem fé suficiente e, por isso, a conquista da terra prometida fica para uma nova geração{{sfn|McDermott|2002|p=21}}.
Mais de uma vez explica que Moisés se dedicou a registrar cada lugar onde os [[hebreus]] acampavam, todos os [[oásis]] e cada acampamento, e as palavras concludentes do livro também indicam ser ele o escritor do relato. — 36:13. Estas alusões explicam perfeitamente como estas antiquíssimas descrições puderam chegar a nós, intactas.
 
== ConteúdoEstrutura ==
A maior parte dos comentaristas divide Números em três seções com base no local onde os eventos se desenrolam ([[monte Sinai]], [[Cades Barneia]] e a planície de [[Moab]]) ligadas por duas seções de viagem{{sfn|Ashley|1993|p=2-3}}. Uma visão alternativa entende que Números está estruturado à volta das duas gerações da narrativa &mdash; a condenada à morte no deserto e a nova geração que entrará em Canaã &mdash; sublinhando a distinção entre a desobediência da primeira e a obediência da segunda{{sfn|Knierim|1995|p=381}}.
[[Ficheiro:Nicolas Poussin - Moïse faisant jaillir l'eau du rocher.jpg|thumb|200px|Moisés tira água da rocha (de [[Nicolas Poussin]])]]
A narrativa abrange um período de 38 anos, entre 1512 a 1473 [[a.C.]] (Números 1:1; Deuteronômio 1:3, 4) Estas descrições incluem os acampamentos das tribos (1:52, 53), a ordem de marcha (2:9, 16, 17, 24, 31) e os sinais de trombeta para a assembleia e o acampamento (10:2-6). A lei sobre a [[quarentena]]. (5:2-4) Diversas outras ordens são dadas: o uso de [[trombeta]]s (10:9), a separação das cidades para os [[levi]]tas (35:2-8), a ação contra a [[ídolo|idolatria]] e os [[Canaã|cananeus]] (33:50-56), a escolha das cidades de refúgio, instruções sobre como lidar com homicidas acidentais (35:9-33), e leis sobre heranças e o casamento. (27:8-11; 36:5-9).
 
== Sumário ==
O agrupamento dos elementos do livro foi elaborado em torno dos principais textos, tarefa esta extremamente difícil. Por isso historicamente tem-se buscado estabelecer uma divisão mais simples, como por exemplo, segundo a região onde sucederam os acontecimentos.
Deus ordena Moisés, ainda no deserto do Sinai, que conte todos os que podem lutar &mdash; todos os homens com mais de vinte anos &mdash; e que nomeie príncipes para comandar cada uma das [[Tribos de Israel|tribos]]. Um total de {{fmtn|603550}} estavam capacitados para o serviço militar. A [[levitas|tribo de Levi]] foi isentada e, portanto, ficou de fora do censo. Moisés consagrou os levitas para o serviço no [[Tabernáculo]] no lugar dos [[:wikt:primogênitos|primogênitos]], que, até então, eram os responsáveis pela tarefa. Os levitas foram então divididos em três famílias, de Gérson, Coate e Merari, cada uma com um líder. Os coatitas eram liderados por [[Eleazar (filho de Aarão)|Eleazar]] e as outras duas por [[Itamar (filho de Aarão)|Itamar]], os dois filhos de [[Aarão]]. Depois disto, preparativos para foram feitos para retomar a marcha para a [[Terra Prometida]] e várias leis e mandamentos foram decretados.
 
Os israelitas deixaram o Sinai. O povo começou a reclamar contra Deus e foi punido com fogo; Moisés reclama da teimosia dos israelitas e recebe a ordem de recrutar setenta anciãos para ajudá-lo no governo. [[Miriã]] e Aarão criticam Moisés em Hazerote, o que enfurece a Deus; Miriã é punida com a [[lepra]] e fica isolada do acampamento por sete dias, ao final dos quais os israelitas seguem para o [[deserto de Parã]], já na fronteira de Canaã. Os [[Doze Espiões|doze espiões]] são enviados e retornam com um relato a Moisés. [[Josué]] e [[Calebe]], dois deles, relatam que a terra é abundante e dela {{citar bíblia|Números|13|27|citação=mana leite e mel}}, mas os demais afirmam que a terra é habitada por gigantes e os israelitas se recusam a invadi-la. [[Javé]] decreta que os israelitas serão punidos por sua falta de fé e os condena a vagar pelo deserto por quarenta anos.
Assim, podem-se dividir Números em três partes principais:
# No [[Sinai]]: 1:1-10:10
# No [[deserto]] de Cades-Barneia: 10:11-22:1
# Nas planícies de [[Moabe]]: 22:2-36:13
 
Moisés recebe ordem de Deus de fabricar placas para cobrir o altar. Novamente os israelitas reclamam, desta vez contra Moisés e Aarão por causa da destruição dos seguidores de [[Coré]], e novamente são punidos: {{fmtn|14700}} morrem numa [[epidemia]]. Aarão e sua família são declarados por Deus como responsáveis por qualquer [[:wikt:iniquidade|iniquidade]] cometida em relação ao santuário e os levitas novamente são nomeados para ajudar a manter o Tabernáculo. Eles também recebem a ordem de entregar aos sacerdotes parte do [[dízimo]] que recebem.
== Natureza e organização ==
Como é habitual aos livros do [[Antigo Testamento]], que pertencem a série de [[Livros históricos do Antigo Testamento]], o tema principal é descrever os tempos passados e os atos do Deus de Israel e seu povo. A Respeito de Cades, nada se conta em Números sobre os 38 anos que passaram naquele lugar. Em todo o livro, Moisés mantém a narração, apenas a interrompendo-a para inserir textos jurídicos.
 
Mirião morre em Cades Barneia e os israelitas partem para Moabe, na fronteira oriental de Canaã. Eles culpam Moisés pela falta d'água. Moisés recebe a ordem de Deus de comandar que uma pedra verta água, mas ele desobedece e é punido por Deus, que anuncia que ele não entrará em Canaã. O [[Reino de Edom|rei de Edom]] não permite que os israelitas atravessem seu reino, o que os obriga a contorná-lo. No caminho, [[Aarão]] morre no [[monte Hor]]. Os israelitas mais uma vez reclamam de Deus e de Moisés e desta vez são punidos por ''"serpentes abrasadoras"'', o que provoca a morte de muitos. Uma [[serpente de bronze]] (''"Nehushtan"'') é criada, por ordem de Deus, para afastar o tormento.
== Sentido religioso ==
{{multiple image
O grande criador dos pesos e medidas é [[YHVH]]. Números conta como Deus organizou o seu povo nas [[Doze tribos de Israel]], descendentes dos doze filhos varões de [[Jacó]], e como este a transformou numa assembleia santificada.
| direction = vertical
| width = 300
| header = Eventos em Números
| footer =
| image1 = The return of the spies.jpg
| caption1 = Retorno dos [[doze espiões]] com as uvas de Canaã.
| image2 = Korah Botticelli.jpg
| caption2 = "Punição de [[Coré]]", de [[Sandro Botticelli]].
| image3 = Balaam i osioł.jpg
| caption3 = [[Balaão]] e sua mula com o anjo, de [[Pieter Lastman]].
| image4 = The-zeal-of-phinehas-15th-c.jpg
| caption4 = [[Fineias]] mata [[Zimri (filho de Salu)|Zimri]] quando ele toma para si uma mulher [[moabita]], [[iluminura]] do século XV.
}}
Finalmente os israelitas chegam à planície de Moabe. Um novo censo é realizado para contar os homens com mais de vinte anos e chega a um total de {{fmtn|601730}}; os levitas com um mês ou mais são outros {{fmtn|23000}}. A terra prometida será dividida por sorteio do qual as [[filhas de Zelofeade]], que não tinham irmãos homens, participarão. Moisés recebe a ordem de nomear [[Josué]] como seu sucessor e prescrições para a observância de festas e sacrifícios para várias ocasiões são enumeradas. Em seguida, Moisés ordena que os israelitas massacrem o povo de [[Midiã]]; os [[Tribo de Rúben|rubenitas]] os [[Tribo de Gade|gaditas]] solicitam a Moisés que lhes seja entregue esta terra, a leste do Jordão, e ele concorda depois de receber a promessa de que eles ajudarão na conquista das terras a oeste. Além das duas tribos, metade da [[tribo de Manassés|Manassés]] também é assentada ali. Moisés então relembra a posição na qual os israelitas hesitaram quarenta anos antes e instrui os israelitas a exterminarem os [[cananeus]] e a destruírem seus [[idolatria|ídolos]]. As fronteiras de Canaã são explicadas e a terra deverá ser dividida, sob o comando de [[Eleazar (filho de Aarão)|Eleazar]], Josué e os doze príncipes das tribos.
 
=== Seções segundo as porções semanais da Torá no judaísmo===
Com o tempo, seriam reconhecidos como "filhos de [[Abraão]]" pela religião e a espiritualidade. A sociedade israelita e o autor não faziam distinção entre os israelitas e imigrantes: todos os que viviam na [[Israel|Terra Prometida]] em obediência e observação das leis de Deus deviam ser irmãos entre si.
{{AP|Porção semanal da Torá|Bamidbar}}
As subdivisões são as seguintes:
* ''[[Bamidbar (Parashá)|Bamidbar]]'', sobre Números 1–4: Primeiro censo, deveres sacerdotais;
* ''[[Naso (Parashá)|Naso]]'', sobre Números 4–7: deveres sacerdotais, o acampamento, infidelidade e o [[nazirita]], consagração do Tabernáculo;
* ''[[Behaalotecha (parsha)|Behaalotecha]]'', sobre Números 8–12: levitas, atravessando nuvens e fogo, reclamações, questionamentos sobre a liderança de Moisés;
* ''[[Shlach (Parashá)|Shlach]]'', sobre Números 13–15: relato misto dos espiões e a resposta de Israel, [[libação|libações]], pão, [[idolatria]], fronteiras;
* ''[[Korach (Parashá)|Korach]]'', sobre Números 16–18: revolta de [[Coré]], epidemia, botões no cajado de Aarão, deveres dos levitas;
* ''[[Chukat (Parashá)|Chukat]]'', sobre Números 19–21: novilha vermelha, água vertendo da pedra, morte de Miriã e de Aarão, vitórias, serpentes;
* ''[[Balak (Parashá)|Balak]]'', sobre Números 22–25: mula de [[Balaão]] e a benção;
* ''[[Pinechas (Parashá)|Pinechas]]'', sobre Números 25–29: [[Fineias]], o segundo censo, herança, o sucessor de Moisés, oferendas e feriados;
* ''[[Matot (Parashá)|Matot]]'', sobre Números 30–32: Juramentos, [[Midiã]], dividindo os espólios, terra de [[Tribo de Rúben|Rúben]], [[Tribo de Gade|Gade]] e metade de [[Tribo de Manassés|Manassés]];
* ''[[Masei]]'', sobre Números 33–36: paradas na viagem dos israelitas, instruções para a conquista, cidades para os [[levitas]].
 
== Composição ==
As doze tribos de Israel são registradas e organizadas. Os israelitas recebem ordens relacionadas a sua adoração e seus tratos com outros, mas há falta de respeito para com os representantes Deus e desobedecem às suas ordens. YHVH abençoa Israel, mas insiste na adoração exclusiva ao passo que a nação se prepara para entrar em [[Canaã]].
A maioria dos estudiosos bíblicos modernos acreditam que a [[Torá]] (os cinco primeiros livros do [[Antigo Testamento]]) chegaram à sua forma presente no período pós-exílio (depois de 520 a.C.), quando tradições mais antigas, orais e escritas, ''"detalhes geográficos e demográficos contemporâneos, mas, ainda mais importante, as realidades políticas da época"'' foram levados em consideração{{sfn|Enns|2012|p=5}}<ref>Finkelstein, I., Silberman, NA., The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts, p.68-69</ref>. Os cinco livros são geralmente descritos na [[hipótese documental]] como se baseando em quatro "fontes" (entendidas como escolas literárias e não indivíduos): a [[javista]] e a [[eloista]] (frequentemente entendidas como uma única fonte), a [[fonte sacerdotal]] e a [[deuteronomista]]{{sfn|Coogan|Brettler|Newsom|2007|p=6}}. Ainda há discussões sobre a origem das fontes não-sacerdotais, mas há consenso que esta é pós-exílio{{sfn|Carr|2000|p=492}}:
* [[Gênesis]]: composto principalmente de material sacerdotal e não-sacerdotal{{sfn|Carr|2000|p=492}};
* [[Êxodo]]: uma antologia baseada em fontes de quase todos os períodos da história de Israel{{sfn|Dozeman|2000|p=443}};
* [[Levítico]]: inteiramente sacerdotal e do período do exílio ou posterior{{sfn|Houston|2003|p=102}};
* Números: uma edição sacerdotal de um original não-sacerdotal{{sfn|McDermott|2002|p=21}};
* [[Deuteronômio]]: originalmente um conjunto de leis religiosas, foi ampliado no início do século VI para servir de introdução para a [[história deuteromística]] (os livros de [[Livro de Josué|Josué]] e [[Livros de Reis|Reis]]) e, posteriormente, foi separado desta história, ampliado e editado novamente e anexado à Torá{{sfn|Van Seters|2004|p=93}}.
 
==Temas==
A [[Edição Pastoral|Edição Pastoral da Bíblia]] destaca que o tempo em que o povo de Deus esteve no deserto foi um tempo de grande disciplina e pedagogia para aquele povo aprender que não basta estar livre: é preciso aprender a viver a liberdade e conquistá-la continuamente, para não voltar a ser escravo outra vez, e, que, no deserto o povo teve que superar muitas tentações: acomodação, desânimo, vontade de voltar para trás, desconfiança de Javé e dos líderes. Foi no confronto com essas situações que ele descobriu o que significa ser livre para construir uma sociedade justa e fraterna, alicerçada na liberdade e voltada para a vida, portanto, o '''Livro dos Números''' nos ensina que qualquer transformação profunda exige um longo período de educação e amadurecimento<ref>[http://www.paulus.com.br/BP/_P3J.HTM Livro dos Números], acessado em 22 de julho de 2010</ref>.
David A. Clines identificou um tema mais amplo da Torá como sendo o cumprimento parcial da promessa feita por Deus aos [[patriarca (Bíblia)|patriarca]]s [[Abraão]], [[Isaac]] e [[Jacó]]. Esta promessa pode ser dividida em três elementos: posteridade (ou seja, uma linhagem de descendentes; no caso de Abraão, eles seriam incontáveis), a relação entre Deus e os homens (Israel é o povo escolhido por Deus) e terra ([[Canaã]], amaldiçoada por [[Noé]] logo depois do [[Dilúvio (Bíblia)|Dilúvio]]){{sfn|Clines|1997|p=29}}.
 
O tema da relação entre Deus e o home é expressado (ou organizado) através de uma série de [[Aliança (Bíblia)|alianças]], do Gênesis ao Deuteronômio e além. A primeira é a aliança entre Deus e Noé logo depois do Dilúvio, na qual Deus concorda em nunca mais destruir a terra com água. A próxima é entre Deus e Abraão e a terceira, entre Deus e os israelitas no [[monte Sinai]]. Nesta terceira aliança, ao contrário das primeiras duas, Deus entrega um elaborado conjunto de leis (descritas no Êxodo, Levítico e Números) que os israelitas devem observar; além disso eles devem permanecer fieis a Javé, o Deus de Israel, o que significa, entre outras coisas, que eles devem depositar sua confiança n'Ele{{sfn|Bandstra|2004|p=28-29}}.
== Ver também ==
* [[Antigo Testamento]]
* [[Aarão (Bíblia)|Arão]]
* [[Bamidbar]]
* [[Bíblia]]
* [[Jacó]]
* [[Josué]]
* [[Moisés]]
* [[Nazireu]]
* [[Pentateuco]]
* [[Rio Jordão]]
 
O tema dos descendentes é o primeiro em Números, justamente o censo dos homens em condições de lutar em Israel. O gigantesco número resultante (mais de {{fmtn|600000}}) demonstra o cumprimento da promessa de Deus a Abraão de incontáveis descendentes. O número também serve como uma garantia de Deus da vitória em Canaã{{sfn|Olson|1996|p=14}}. Conforme avançam os primeiros dez capítulos, o tema da presença de Deus entre os israelitas se torna proeminente: estes capítulos descrevem como Israel deve se organizar à volta do [[Tabernáculo]], a morada de Deus entre os homens deixada a cargo dos [[levitas]] e dos [[cohen|sacerdotes]], para a conquista da [[Terra Prometida]]{{sfn|Ska|2006|p=38}}.
{{referências}}
 
Os israelitas partem para conquistar a nova terra, mas quase que imediatamente se recusam a invadi-la e Javé condena a geração inteira que deixou o Egito a morrer no deserto. A mensagem é clara: o fracasso não se deu por causa de nenhuma falha nos preparativos, pois Javé já havia previsto tudo, mas sim por causa do pecado da falta de confiança de Israel. Na seção final, os israelitas da nova geração seguem as instruções de Javé entregues a Moisés e conseguem tudo o que queriam{{sfn|Ska|2006|p=38}}. Os cinco últimos capítulos tratam exclusivamente da terra: instruções para o extermínio dos cananeus, a demarcação das fronteiras, o procedimento para dividir as terras, as cidades sagradas para os levitas e as "cidades santuário", o problema da poluição da terra pelo sangue e regulamentos de herança quando falta um herdeiro do sexo masculino{{sfn|Clines|1997|p=62}}.
 
{{referências|col=2}}
 
== Bibliografia==
{{refbegin|2}}
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*{{Cite book|last=Bandstra|first=Barry L|title=Reading the Old Testament: an introduction to the Hebrew Bible|publisher=Wadsworth|year=2004|url=https://books.google.com/books?id=vRY9mTUZKJcC&pg=PA489&lpg=PA489&dq=Bandstra,+Barry+L+%282004%29.+Reading+the+Old+Testament:+an+introduction+to+the+Hebrew+Bible#v=onepage&q&f=false|isbn=9780495391050|ref=harv| language = inglês}}
*{{Cite book|last=Blenkinsopp|first=Joseph|title=Treasures old and new: essays in the theology of the Pentateuch|publisher=Eerdmans|year=2004|url=https://books.google.com/books?id=wq0YsOpTjKIC&printsec=frontcover&dq=Treasures+old+and+new:+essays+in+the+theology+of+the+Pentateuch#v=onepage&q&f=false|isbn=9780802826794|ref=harv| language = inglês}}
*{{Cite book|last=Brueggemann|first=Walter|title=Reverberations of faith: a theological handbook of Old Testament themes|publisher=Westminster John Knox|year=2002|url=https://books.google.com/books?id=dBJQ71RIpdMC&printsec=frontcover&dq=theological+handbook+of+Old+Testament+themes#v=onepage&q&f=false|isbn=9780664222314|ref=harv| language = inglês}}
*{{Cite book|last1=Campbell|first1=Antony F|last2=O'Brien|first2=Mark A|title=Sources of the Pentateuch: texts, introductions, annotations|publisher=Fortress Press|year=1993|url=https://books.google.com/?id=cwhICpcHBsQC&pg=PR3&dq=Sources+of+the+bible#v=onepage&q=Sources%20of%20the%20bible&f=false|isbn=9781451413670|ref=harv| language = inglês}}
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* {{cite book| last1 = Coogan| first1 = Michael David| last2 = Brettler| first2 = Marc Zvi| last3 = Newsom| first3 = Carol Ann| chapter = Editors' Introduction| editor1-last = Coogan| editor1-first = Michael David| editor2-last = Brettler| editor2-first = Marc Zvi| editor3-last = Newsom| editor3-first = Carol Ann| title = The New Oxford Annotated Bible with the Apocryphal/Deuterocanonical Books
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* {{citar livro| autorlink=Gunther Plaut| sobrenome = Plaut| nome = Gunther| título = The Torah: A Modern Commentary| ano = 1981|isbn = 0-8074-0055-6| language = inglês}}
*{{Cite book|last=Ska|first=Jean-Louis|title=Introduction to reading the Pentateuch|publisher=Eisenbrauns|year=2006|url=https://books.google.com/books?id=7cdy67ZvzdkC&printsec=frontcover&dq=Introduction+to+reading+the+Pentateuch+Jean+Louis+Ska#v=onepage&q&f=false|isbn=9781575061221|ref=harv| language = inglês}}
*{{Cite book|last=Stubbs|first=David L|title=Numbers|publisher=Brazos Press|year=2009|url=https://books.google.com/books?id=Rus0KUTNUg4C&printsec=frontcover&dq=Numbers+Dennis+T.+Olson#v=onepage&q&f=false|isbn=9780664237363|ref=harv| language = inglês}}
*{{Cite book|last=Van Seters|first=John|chapter=The Pentateuch|url=https://books.google.com/books?id=owwhpmIVgSAC&printsec=frontcover&dq=The+Hebrew+Bible+today:+an+introduction+to+critical+issues#v=onepage&q&f=false|editor=Steven L. McKenzie, Matt Patrick Graham|title=The Hebrew Bible today: an introduction to critical issues|publisher=Westminster John Knox Press|year=1998|isbn=9780664256524|ref=harv| language = inglês}}
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== Ligações externas ==
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* {{citar web|url = https://www.bibliaonline.com.br/acf/nm/1| título = Número em várias versões da Bíblia| publicado = Bíblia Online| língua = português}}
* {{citar web|url = http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_vt_numeri_lt.html| título=Livro dos Números| publicado=Vatican.va| língua = latim}}
* {{JewishEncyclopedia|url = http://jewishencyclopedia.com/articles/11617-numbers-book-of | artigo = Numbers, Book Of}}
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