Guerra Mauritânia-Senegal: diferenças entre revisões

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|parte_dos =
|imagem = [[Ficheiro:ISS002-E-5456 2.JPG|250px|centro]]
|legenda = Imagem da NASA do [[rio Senegal]]; o [[Senegal]] está ao sul, e a [[Mauritânia]] ao norte.
|data_início = {{dtlink|9|4|1989}}
|data_fim = {{dtlink|18|7|1991}}
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Durante séculos, a região do rio é habitada tanto pelas populações negras autóctones [[Fulani]]s, [[Wolof (povo)|Wolofs]], [[Bambaras]] e [[Soninquês]] como por populações [[árabes]] - [[berberes]] do norte. Secas sucessivas exacerbam essas migrações e os [[mouros]] nômades tendem a se sedentarizar, especialmente nas cidades. A [[Organização para o desenvolvimento do vale do rio Senegal]] (OMVS), incluiu a construção de barragens, como a [[Barragem de Diama]], inclusive alterando o delicado equilíbrio entre pastores e agricultores. A Mauritânia fez sua [[reforma agrária]] em [[1983]] reforçando o papel do Estado e distanciando de regimes alimentares tradicionais, aumentando de forma mais aguda o problema de muitos agricultores através de fronteiras. Em paralelo, o país, ansioso para reforçar a sua identidade após a independência, fortaleceu seus laços com o [[mundo árabe]], enquanto o Senegal esteveligado à [[francofonia]].
 
Assim, o peso da história e especialmente a sua [[colonização]] pelas fronteiras artificiais, os confrontos inter-étnicos, a degradação do ambiente físico e econômico, levaram em [[1988]] a uma deterioração das relações entre os dois estados, que de incidente a incidente, endurecem as suas posições. Uma situação explosiva é criada, que certamente incitou os meios de comunicação a enfatizar a dimensão étnica do conflito .<ref>Institut Panos,''Journalisme et conflits dans la vallée du fleuve Sénégal'', 1996</ref>.
 
== O conflito ==
Em [[9 de abril]] de 1989, em [[Diawara]], uma cidade do leste do Senegal, é o cenário de um novo choque entre pastores [[fulani]]s mauritanos e camponeses [[soninquês]] senegaleses. Com a intervenção do exército da Mauritânia, dois senegaleses foram mortos e vários feridos gravemente e uma dezena mantidos como reféns.<ref name=ow>{{citecitar web |url=http://www.onwar.com/aced/nation/sat/senegal/fsenegalmauritania1989.htm |titletítulo= Mauitanian-Senegalese Border War 1989-1991 |accessdateacessodata=November 23, de novembro de 2007 |workobra=OnWar.com |datedata=December 16, de dezembro de 2000}}</ref>
 
Durante o resto do mês, centenas de senegaleses são mortos ou mutilados em [[Nouakchott]] e várias outras cidades mauritanas, e quando as repatriações começaram, os mouros sofreram várias represálias a partir do dia 28 de abril. Até então, as cifras oficiais eram de 60 vítimas. Um [[toque de recolher]], seguido de um [[estado de emergência]], foi decretado na região de [[Dacar]]. A partir daí, cada país começou a repatriar seus habitantes, graças a uma ponte aérea feita por [[França]], [[Argélia]], [[Espanha]] e [[Marrocos]]. Como resultado, a população da margem sul do Senegal se revoltou. No [[Senegal]], onde muitos comerciantes eram mauritanos, lojas foram saqueadas e mais mauritanos foram expulsos para a Mauritânia. Na [[Mauritânia]], linchamentos e violência policial terminaram com o exílio forçado de cerca de 70 mil sulistas para o Senegal, apesar de a maioria delas sem ligações ao país.
 
Cerca de 250.000 pessoas fugiram de suas casas como ambos os lados envolvidos em ataques transfronteiriços.<ref name=ow/> Centenas de pessoas morreram nos dois países..<ref>{{cite newscitar jornal|titletítulo= New cattle migration accord cools long-standing flashpoint |url=http://www.irinnews.org/report.aspx?reportid=58931 |workobra=IRIN news |publisherpublicado=[[IRIN]] |datedata=May 5, de maio de 2006 |accessdateacessodata=November 23, de novembro de 2007 }}</ref> A [[Organização da Unidade Africana]] tentou negociar um acordo para reabrir a fronteira, mas acabou por ser um iniciativa do presidente senegalês [[Abdou Diouf]], que levou a assinatura de um tratado em [[18 de julho]] de [[1991]].
 
É neste momento que [[Abdou Diouf]], [[presidente do Senegal]], ordena ao exército que proteja os mauritanos, enviando-os ao batalhão de trens para que sejam repatriados à [[Mauritânia]]. Até então, cerca de 160.000 mauritanos e 70.000 senegaleses são repatriados. As [[Relações entre Mauritânia e Senegal|relações diplomáticas entre os dois países]] são rompidas no dia [[21 de agosto de 1989]], e só serão relatadas em abril de [[1992]]. A fronteira mauritano-senegalesa foi reaberta no dia 2 de maio de [[1992]].
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O conflito trouxe várias consequências ambientais, entre as quais uma baixa da produção agrícola e o aumento do [[desmatamento]]. O setor de pesca da [[Mauritânia]] sofre com as expulsões, porque ele foi em grande parte exercido por senegaleses. O retorno dos refugiados (cerca de 250.000) no lado esquerdo do [[rio Senegal|rio]] leva à uma menor disponibilidade de recursos naturais e equipamentos sanitários, e os departamentos do norte do [[Senegal]] tiveram um aumento populacional que osciou entre 12~14%.
 
Várias associações e partidos políticos foram criados para ajudar os refugiados, mas duraram pouco. A ajuda internacional diminui cada vez mais, e seu destino é desconhecido. De acordo com o [[ACNUR]] — o organismo internacional que mais ajudou os refugiados —, as populações refugiadas ainda habitam o [[rio Senegal]].<ref>« HCR : La Mauritanie prête à autoriser 20 000 réfugiés à rentrer du Mali et du Sénégal »[http://www.unhcr.fr/cgi-bin/texis/vtx/news/opendoc.htm?tbl=NEWS&page=home&id=467bdcda4]</ref> Em 2007, o Presidente da Mauritânia, quando ainda candidato, discursou a favor do retirno de seus compatriotas vivendo no Senegal e no Mali, ainda que contra sua vontade.<ref>
« Retour des réfugiés mauritaniens » [http://www.africain.biz/spip.php?article329&debut_articles_rubrique=18]</ref>.
 
Em junho de 2007, o governo da Mauritânia, sob o presidente [[Sidi Ould Cheikh Abdallahi]] pediu ao [[ACNUR]] que o ajudasse a repatriar os negros mauritanos que tinham sido forçados para fora do país na guerra, e estavam vivendo em campos de refugiados no [[Mali]] e no [[Senegal]]. O [[ACNUR]] ajudou a repatriar mais de 24.000 mauritanos vivendo no Senegal, entre janeiro de 2008 e março de 2012, quando o programa terminou.<ref>[http://www.unhcr.org/4f71f54c6.html "UNHCR completes repatriation of more than 24,000 Mauritanians", UNHCR: The UN Refugee Agency, 27 March 2012]</ref>
 
=== Senegal ===
O conflito ajudou na ascensão do PDS (Partido Democrata Senegalês, ''Parti démocratique sénégalais''), do político [[Abdoulaye Wade]], que serviu para revelar as dificuldades do afluxo de refugiados. Desde o final do conflito, o [[Senegal]] tem sido fragilizado pelos países vizinhos, em especial a [[Mauritânia]].
 
O problema da demarcação de territórios com a [[Guiné-Bissau]] foi retomado após o final do conflito, e outras dificuldades com a [[Gâmbia]] levaram à dissolução da [[Senegâmbia|Confederação da Senegâmbia]] em [[1989]]. No fim, este episódio da história contemporânea marcou duramente os espíritos e alimentou alguns ressentimentos em ambos os lados.
 
{{referências}}