Revolução Industrial: diferenças entre revisões

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A Revolução Industrial é um divisor de águas na história e quase todos os aspectos da vida cotidiana da época foram influenciados de alguma forma por esse processo. A população começou a experimentar um crescimento sustentado sem precedentes históricos, com uma boa renda média. Nas palavras de [[Robert E. Lucas Jr.]], ganhador do [[Prêmio Nobel]]: "Pela primeira vez na história o padrão de vida das pessoas comuns começou a se submeter a um crescimento sustentado ... Nada remotamente parecido com este comportamento econômico é mencionado por economistas clássicos, até mesmo como uma possibilidade teórica."<ref name="Lectures on Economic Growth">{{citar livro|sobrenome= Lucas |nome= Robert E., Jr. |título= Lectures on Economic Growth|língua=Inglês |editora= Harvard University Press |ano= 2002 |local= [[Cambridge]] |páginas= 109–10|isbn= 978-0-674-01601-9}}</ref>
 
O início e a duração da Revolução Industrial variam de acordo com diferentes historiadores. [[Eric Hobsbawm]] considera que a revolução "explodiu" na [[Grã-Bretanha]] na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830 ou de 1840,<ref name="revolution">Eric Hobsbawm, ''The Age of Revolution: Europe 1789–1848'', Weidenfeld & Nicolson Ltd. ISBN 0-349-10484-0</ref> enquanto [[T. S. Ashton]] considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830.<ref name="google1">Joseph E Inikori. ''Africans and the Industrial Revolution in England'', Cambridge University Press. ISBN 0-521-01079-9 [http://books.google.com/books?ie=UTF-8&vid=ISBN0521010799&id=y7rhKYWhCyIC&pg=PA102&lpg=PA102&sig=zOPr9UkQv258KyhCkuFM0abERnI Read it]</ref> Alguns historiadores do século XX, como John Clapham e Nicholas Crafts, têm argumentado que o processo de mudança econômica e social ocorreu de forma gradual e que o termo "revolução" é equivocado. Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores.<ref name="Rehabilitating the Industrial Revolution">{{cite journalcitar periódico|doi=10.2307/2598327 |titletítulo=Rehabilitating the Industrial Revolution |yearano=1992 |authorautor =Berg, Maxine |journalperiódico=The Economic History Review |volume=45 |author2autor2 =Hudson, Pat |issuenúmero=1 |publisherpublicado=The Economic History Review, Vol. 45, No. 1 |jstor=2598327 |pagespáginas=24–50 |authorlink2=Pat Hudson}}</ref><ref name="lorenzen">[http://www.julielorenzen.net/berg.html Rehabilitating the Industrial Revolution] by Julie Lorenzen, Central Michigan University. Acessado em 15 de julho de 2013.</ref>
 
O [[PIB per capita]] manteve-se praticamente estável antes da Revolução Industrial e do surgimento da economia [[Capitalismo|capitalista]] moderna.<ref name="The Industrial Revolution">{{citar web |publisherpublicado= Federal Reserve Bank of Minneapolis |url= http://www.minneapolisfed.org/pubs/region/04-05/essay.cfm |titletítulo= The Industrial Revolution |accessdateacessodata= 14 de novembro de 2007 |authorautor = [[Robert Lucas, Jr.]] |yearano= 2003}}</ref> A revolução impulsionou uma era de forte [[crescimento econômico]] nas economias capitalistas<ref name="The Industrial Revolution ''Past and Future''">{{citar web |url= http://www.minneapolisfed.org/pubs/region/04-05/essay.cfm |titletítulo= The Industrial Revolution ''Past and Future'' |firstprimeiro = Robert |lastúltimo = Lucas |yearano= 2003}}</ref> e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na [[história da humanidade]] desde a [[domesticação]] de animais e a agricultura.<ref name="ReviewOfCambridge">{{citar web |url= http://deirdremccloskey.org/articles/floud.php |titletítulo= Review of The Cambridge Economic History of Modern Britain (edited by Roderick Floud and Paul Johnson), Times Higher Education Supplement, 15 de janeiro de 2004 |firstprimeiro = Deidre |lastúltimo = McCloskey |yearano= 2004}}</ref> A Primeira Revolução Industrial evoluiu para a [[Segunda Revolução Industrial]], nos anos de transição entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico e econômico ganhou força com a adoção crescente de [[Barco a vapor|barcos a vapor]], navios, [[ferrovia]]s, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor.<ref name="Taylor 1951">
{{citar livro |titletítulo=The Transportation Revolution, 1815-1860 |lastúltimo =Taylor |firstprimeiro = George Rogers |isbn= 978-0873321013|pagespáginas=}}</ref><ref>{{Harvnb|Hunter|1985|pp=}}</ref>
 
== Contexto histórico ==
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* [[1865]] - O primeiro [[cabo telegráfico submarino]] é estendido através do leito do [[oceano Atlântico]], entre a [[Grã-Bretanha]] e os [[Estados Unidos]].
* [[1869]] - A abertura do [[Canal de Suez]] reduziu a viagem marítima entre a [[Europa]] e a [[Ásia]] para apenas seis semanas.
* [[1876]] - [[Alexander Graham Bell]] inventou o [[telefone]] nos Estados Unidos (em 2002 o congresso norte-americano reconheceu postumamente o italiano [[Antonio Meucci]] como legítimo invetor do telefone)<ref name="WDL">{{citar web |url = http://www.wdl.org/pt/item/11375/ |title título= Caderno do laboratório de Alexander Graham Bell, 1875 a 1876 |website = [[World Digital Library]] |date data= 1875-1876 |accessdate acessodata= 2013-07-23 }}</ref>
* [[1877]] - [[Thomas Alva Edison]] inventou o [[fonógrafo]] nos Estados Unidos.
* [[1879]] - A iluminação elétrica foi inaugurada em Mento Park, [[New Jersey]], nos Estados Unidos.
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==== Movimento Ludista (1811-1812) ====
{{Artigo principal|Ludismo}}
Reclamações contra as [[máquinas]] inventadas após a revolução para poupar a mão-de-obra já eram normais. Mas foi em [[1811]] que o estopim estourou e surgiu o movimento ludista, ''uma forma mais radical de protesto''. O nome deriva de [[Ned Ludd]], um dos líderes do movimento. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à [[forca]]. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas".<ref>{{citar web|url=http://libcom.org/history/machine-breakers-eric-hobsbawm |titletítulo=Hobsbawm, Eric, 'The Machine Breakers', Past and Present 1 (1952), 57-70 |publisherpublicado=Libcom.org |datedata=2009-07-04 |accessdateacessodata=2013-10-04}}</ref><ref name="econ-www.mit.edu">Autor, Frank; Levy, David and Murnane, Richard J. [http://econ-www.mit.edu/files/569 "The Skill Content of Recent Technological Change: An Empirical Exploration"] ''Quarterly Journal of Economics'' (2003)</ref> Anos depois os operários ingleses mais experientes adotaram métodos mais eficientes de luta, como a [[greve]] e o movimento sindical.
 
==== Movimento Cartista (1837-1848) ====
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== Consequências ==
{{mais fontesnotas|Esta seção|data=julho de 2013}}
 
[[Imagem:World GDP Capita 1-2003 A.D.png|thumb|esquerda|300px|O [[PIB per capita]] mudou muito pouco durante a parte da história da [[humanidade]] anterior a Revolução Industrial. (As áreas vazias significam ausência de dados, e não de níveis muito baixos. Não há dados para os anos 1, 1000, 1500, 1600, 1700, 1820, 1900 e 2003).]]
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Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido [[crescimento]] [[economia|econômico]]. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a ''[[renda per capita]]'' aumentasse sensivelmente), e após, a ''renda per capita'' e a [[população]] começaram a [[Crescimento populacional|crescer]] de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre [[1500]] e [[1780]] a população da [[Inglaterra]] aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e [[1880]] ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da [[mortalidade infantil]].
 
Para [[E. P. Thompson]], o incremento da população nesse período se sustentou principalmente por uma longa série de boas colheitas e numa melhora do padrão de vida desenvolvido nos primeiros momentos da Revolução Industrial; com o avanço da industrialização na primeira metade do século, no entanto, a saúde da população urbana começou a deteriorar, principalmente devido à imensa concentração populacional nas cidades que sofreria com as epidemias, péssimas condições de habitação, deformações e estafa causadas pelo trabalho e a alimentação insuficiente e inadequada. A medicina, nesse momento, parece ter sido pouco eficaz no combate a esses problemas.<ref>{{citar livro|título = A Formação da Classe Operária Inglesa|sobrenome = Thompson|nome = E. P.|local = São Paulo|editora = Paz e Terra|ano = 1987|página = 192-3}}</ref>.
 
A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se [[industrialização|industrializaram]]. As [[cidade]]s atraíram os camponeses e [[artesão]]s, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo.
 
Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em [[subúrbio]]s de [[casa]]s velhas e desconfortáveis, com condições horríveis de higiene e salubridade. Conviviam com a falta de [[água#Água da torneira (água canalizada)|água encanada]], com os [[rato]]s, o [[esgoto]] formando riachos nas ruas esburacadas. [[Friedrich Engels|Engels]] realizou um relato impressionantemente detalhado de cada região da Inglaterra em seu "''[[A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra]]"''. Apesar das especificidades de cada cidade, é possível encontrar diversos aspectos em comum. Em geral, os operários moravam em cortiços de um ou dois andares dispostos em fila, e quase sempre construídos irregularmente. As casas mais sofisticadas, as''cottages'', pertenciam aos setores superiores do operariado, e possuíam até quatro cômodos e cozinha. No entanto, os locais, geralmente, eram extremamente sujos, com ruas não pavimentadas, sem esgotos ou calçadas, repletos de detritos humanos e animais e poças lamacentas, que às vezes chegam a cobrir até os joelhos. As habitações quase sempre não possuíam ventilação, e a falta de espaços livres fazia com que a secagem das roupas fosse feita no meio das próprias ruas. O mau cheiro era praticamente insuportável; os muros dos bairros estavam destruídos, os vidros, inexistentes, as portas das casas eram feitas com pedaços de plantas. As casas não possuíam móveis: as mesas e cadeiras, quando existiam, eram feitas com caixas; aquelas se constituem, assim como as fábricas, como domicílios escuros, úmidos e apertados (algumas delas chegam a ser subterrâneas, em condições muito piores do que as similares encontradas no campo).<ref>{{citar web|url = http://chacombolachas.wordpress.com/2008/09/11/condicoes-e-modos-de-vida-do-operariado-ingles-da-primeira-revolucao-industrial-1780-1840/#sdfootnote58anc|título = Condições e Modos de Vida do Operariado Inglês da Primeira Revolução Industrial (1780-1840)|data = 11 de setembro de 2008|acessadoem = 05/06/2014|autor = Sérgio Roberto Guedes Reis|publicado = Chá com Bolachas}}</ref>.
 
[[Ficheiro:Graph rel share world manuf 1750 1900 02.png|thumb|300px|À medida que a Revolução Industrial se desenvolveu, a produção manufatureira britânica saltou à frente da de outras grandes economias.]]
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Estudos sobre as variações na altura média dos homens no norte da [[Europa]], sugerem que o progresso econômico gerado pela industrialização demorou varias décadas até beneficiar a população como um todo. Eles indicam que, em média, os homens do norte europeu durante o início da Revolução Industrial eram 7,6 centímetros ''mais baixos'' que os que viveram 700 anos antes, na [[Alta Idade Média]]. É estranho que a altura média dos ingleses tenha caído continuamente durante os anos de [[1100]] até o início da revolução industrial em 1780, quando a altura média começou a subir. Foi apenas no início do [[século XX]] que essas populações voltaram a ter altura semelhante às registradas entre os séculos [[século IX|IX]] e [[século XI|XI]].<ref>[http://www.nber.org/papers/w8542 Steckel, Richard H. 2001. Health and Nutrition in the Preindustrial Era: Insights from a Millennium of Average Heights in Northern Europe. NBER Working Paper No. 8542] {{en}}</ref> A variação da altura média de uma população ao longo do tempo é considerada um indicador de saúde e bem-estar econômico. Apesar destes dados à longo prazo, a afirmação de que a condição de vida dos trabalhadores melhorara é polêmica, principalmente se considerarmos as condições de moradia e trabalho, que inclusive incluía o trabalho infantil. Do mesmo modo,não se pode dizer que essa possível melhora da saúde e do bem-estar sejam frutos diretos da Revolução Industrial, também envolvendo a consolidação do Estado e dos serviços públicos prestados à população, como o saneamento básico, bem como a melhora das condições de alimentação.
 
Apesar do evidente desenvolvimento tecnológico e da relativa melhora de condições de vida, muitas críticas são realizadas ao tipo de produção que passou a ser desenvolvida a partir da Revolução Industrial -- àquela da produção em massa e em benefício do enriquecimento individual .<ref>{{citar web|url = http://www.goethe.de/ins/br/lp/kul/dub/umw/pt10282568.htm|título = Obsolescência programada: o consumo exacerbado e o esgotamento de fontes naturais|data = Dezembro de 2012|acessadoem = 05/06/2014|autor = Júlia Braga|publicado = Ghoete Institut}}</ref>. Alguns desses críticos defendem uma modificação da produção e do consumo de forma a se conquistar um [[desenvolvimento sustentável]], afirmando que essa forma de produção é danosa ao meio ambiente .<ref>{{citar web|url = http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=sl22|título = A PREDATÓRIA RACIONALIDADE ECONÔMICA|data = 08/04/2004|acessadoem = 05/06/2014|autor = Cândido Grzybowski|publicado = Geografia para todos}}</ref>. Outros, questionam a associação entre a vida urbana e industrializada com uma vida mais saudável e superior a do campo, denunciando os altos índices de depressão e suicídio na sociedade contemporânea. É o caso do filósofo [[Serge Latouche]], que busca romper com a ideologia do "crescimento pelo crescimento" e do desenvolvimento tecnológico sem reflexão .<ref>{{citar web|url = http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523299-serge-latouche-o-precursor-da-teoria-do-decrescimento-defende-uma-sociedade-que-produza-menos-e-consuma-menos|título = Serge Latouche, o precursor da teoria do decrescimento, defende uma sociedade que produza menos e consuma menos|data = 3 de setembro de 2013|acessadoem = 06/06/2014|autor = Unisinos|publicado = Instituto Humanitas Unisinos}}</ref>.
 
== Ver também ==