Catarismo: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 59:
As mulheres que haviam sido acusadas de heresia no início da [[Idade Média]] haviam sido rotuladas de [[gnosticismo|gnósticas]], cátaras e [[beguina]]s, entre outros termos, e haviam sido ocasionalmente "[[tortura]]das e executadas".<ref>Clark, Elizabeth A. (2001), "Women, Gender, and the Study of Christian History", Church History, 70 (3), Cambridge University Press, p. 412.</ref> Os cátaros, como os gnósticos que os haviam precedido, conferiam maior importância a [[Maria Madalena]] para a difusão inicial do cristianismo do que a Igreja Católica o fazia. Seu papel como professora incentivou para que os cátaros acreditassem que as mulheres podiam ser líderes espirituais. Muitas mulheres foram admitidas como "perfeitas", sendo que muitas recebiam o ''consolamentum'' após a [[viuvez]].<ref>Ward, Jennifer (2002). ''Women in Medieval Europe'', 1200–1500. London: Longman. pp. 241–42.</ref> Tendo reverência pelo [[Evangelho segundo João]], os cátaros viam Maria Madalena como talvez tendo maior importância até mesmo que [[São Pedro]], o fundador da Igreja Católica.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. pp. 80–81.</ref>
 
O movimento cátaro provou ser extremamente bem-sucedido em conquistar seguidoras, tanto por causa de seus ensinamentos [[protofeminismo|protofeministas]] como por seu sentimento de afastamento em relação à Igreja Católica. O catarismo atraiu numerosas mulheres com a promessa de um papel [[sacerdote|sacerdotal]] que não lhes era permitido pela Igreja Católica.<ref>Schaus, Margaret (2006), ''Women And Gender in Medieval Europe: An Encyclopedia'', New York: Taylor and Francis Group. p. 114.</ref> O catarismo permitiu que as mulheres se tornassem "perfeitas", uma posição de maior prestígio do que qualquer papel a elas concedido pela Igreja Católica.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. pp. 40–43.</ref> As perfeitas eram obrigadas a seguir um [[estilo de vida]] [[ascetismo|ascético]], mas podiam possuir suas próprias casas.<ref>Kaelber, Lutz (1997). "Weavers into Heretics? The Social Organization of Early-Thirteenth-Century Catharism in Comparative Perspective". Social Science History, vol. 21, no. 1: 111–137. p. 120.</ref> Embora muitas mulheres achassem o catarismo atraente, nem todas, no entanto, acharam seus ensinamentos convincentes. Um exemplo notável foi [[Hildegarda de Bingen]], que, em 1163, pronunciou um [[sermão]] em [[Colônia (Alemanha)|Colônia]] contra os cátaros. Durante sua fala, Hildegarda previu eterna [[condenação]] a quem seguisse os ensinamentos cátaros.<ref>Newman, Barbara (1998). "Possessed by the Spirit: Devout Women, Demoniacs, and the Apostolic Life in the Thirteenth Century". Speculum. 73 (3): 733–770. pp. 753–755.</ref>
 
Embora mulheres perfeitas raramente viajassem para pregar a doutrina, elas tinham um papel vital na expansão da doutrina ao organizar grupos domésticos de mulheres.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. p. 41.</ref> Embora fosse extremamente incomum, no entanto, houve casos isolados de mulheres cátaras que viajaram para pregar a doutrina.<ref>Weis, René (2001). ''The Yellow Cross: The Story of the Last Cathars 1290–1329''. New York: Random House. p. 122.</ref> Nos grupos domésticos cátaros, as mulheres eram educadas na fé. Uma vez tendo filhos, estes também se tornariam cátaros. Através desse padrão, a fé cresceu [[Função exponencial natural|exponencialmente]] graças ao esforço de [[geração|gerações]] de mulheres.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. p. 41.</ref> Em alguns grupos cátaros, havia até mais mulheres do que homens.<ref>Walther, Daniel (1965), "A Survey of Recent Research on the Albigensian Cathari", Church History, 34 (2), Cambridge University Press, p. 167.</ref>
 
Apesar de as mulheres terem um papel instrumental na expansão da fé, a [[misoginia]], no entanto, não estava ausente no movimento. Uma das concepções misóginas cátaras era a de que era necessária uma última [[encarnação]] no corpo de um homem para quebrar o ciclo de renascimentos.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. p. 42.</ref> Esta crença foi inspirada pelos cátaros franceses posteriores, que acreditavam que as mulheres precisavam reencarnar no corpo de um homem para conseguir a [[salvação]].<ref>Schaus, Margaret (2006), Women And Gender in Medieval Europe: An Encyclopedia, New York: Taylor and Francis Group. p. 114.</ref> Uma outra crença misógina cátara era a de que a beleza das mulheres impediria que os homens conseguissem rejeitar o mundo material.<ref>O'Shea, Stephen (2000). ''The Perfect Heresy: The Revolutionary Life and Death of the Medieval Cathars''. New York: Walker & Company. p. 42.</ref> No final do movimento cátaro, o catarismo francês tornou-se mais misógino e começou a prática de excluir mulheres perfeitas.<ref>Schaus, Margaret (2006), Women And Gender in Medieval Europe: An Encyclopedia, New York: Taylor and Francis Group. p. 114.</ref> No entanto, todas essas práticas e crenças misóginas permaneceram restritas no movimento cátaro como um todo, e o catarismo italiano posterior continuou a aceitar mulheres perfeitas.<ref>Schaus, Margaret (2006), Women And Gender in Medieval Europe: An Encyclopedia, New York: Taylor and Francis Group. p. 114.</ref>
 
==Supressão==