Ascese: diferenças entre revisões

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{{Fusão|1=Ascética|data=maio de 2017}}
{{revisão-sobre|História e sociedade|data=junho de 2015}}
[[Imagem:Hieronymus Bosch 090.jpg|thumb|180px|"São João Batista no agreste", pintura de [[Hieronymus Bosch]]. [[João Baptista]] épode tidoser comoassociado a um exemplo de asceta, pois procurouviveu aem [[santidade]]renúncia atravésde daalguns renúnciaprazeres aofísicos alimentopara eo cumprimento de àsua [[sexualidade]]missão.]]
{{Ver desambig|prefixo=se procura|o conceito filosófico|Ascetismo (filosofia)}}
 
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Segundo as interpretações mais correntes, alguns dos fenómenos [[religião|religiosos]] e [[misticismo|místicos]] envolvendo [[Visão (espiritualidade)|visões]] ou estados de [[êxtase]] resultam do enfraquecimento do corpo e da alteração do equilíbrio [[Órgãos dos sentidos|sensorial]]. Segundo o [[idealismo]] [[Platão|platónico]], a ascese servirá, exactamente, para aproximar a pessoa (o ''asceta'') da verdadeira realidade espiritual e ideal, ao desligar-se da imperfeição e [[matéria|materialidade]] do corpo.
==No cristianismo==
A ideia de que a [[religião cristã]] liga os desejos corporais à ideia de [[pecado]] foi amplamente divulgada ao longo dos anos, e esta poderia ser associada à prática asceta . No entanto, a teologia cristã possui o grande consenso de que a matéria e o corpo são valorizados no cristianismo, foram criações divinas e possuem seus propósitos divinos, como em Gênesis 1 e em I Coríntios 15, respectivamente: "e viu Deus que era bom" a sua criação material ali expressa e "Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção." onde Paulo demonstra valores à criações materiais, incluindo o corpo humano, que será também redimido na glorificação, o processo final da redenção de Cristo.
A [[cristianismo|religião cristã]] ligará os desejos corporais à ideia de [[pecado]], que deve ser refreado a todo o custo, caso se pretenda atingir a santidade e os dons divinos, que, ainda assim, são concedidos pela [[graça]] de [[Deus]] e não pela [[virtude]] do asceta.
 
Os desejos corporais também são legitimados pela teologia cristã, no entanto, a prática deles foram desvirtuadas pelos vários pecados cometidos pelo homem. Mas o valor dos prazeres físicos quando dentro da forma divina é assegurado por serem igualmente criação divina com um bom propósito, quando Deus se refere à união do homem e mulher no casamento, que incluiria o sexo, por exemplo, ou quando fala da comunhão dos santos através da ceia, onde se come e se partilha comidas e bebidas [Ver Gênesis e Atos, respectivamente], e ainda quando Deus demonstra sua avaliação de "bom" da sua criação, o que pode ser associado à um prazer estético. Portanto, quando realizado da forma correta, de acordo com as motivações corretas ligas a Deus e não a idolatria e nem ao vício, o prazer físico é legitimado no cristianismo.
Para a [[teologia cristã]], há uma [[ascética]], com um sentido amplo, e uma ascese, com sentido mais restrito. A ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da [[graça]], para favorecer o pleno desenvolvimento da [[vida espiritual]], aplicando meios e superando obstáculos. Aqui, actuam e organizam-se os grandes meios e práticas da vida espiritual: [[oração]], [[penitência]], [[retiro]], [[exame de consciência]], [[direcção espiritual]], [[sacramentos]]. Como também uso de métodos, projectos, [[disciplina (controle)|disciplina]] interior, para um maior aproveitamento da graça e dos meios. Este sentido amplo é o que normalmente tem a palavra, quando se encontra em títulos de [[Manual de instruções|manuais]], ou se contrapõe à [[misticismo|mística]].
 
A prática de um asceta pode ser associada à prática cristã à medida em que o cristianismo rejeita os prazeres corporais quando são praticados de forma contrária à forma correta estabelecida por Deus e portanto, contrária ao propósito divino. Nesse sentido é que o cristianismo prega a negação da própria "carne", no sentido de o homem caído e afastado de Deus desejar de forma destrutiva prazeres físicos quando os pratica fora dos propósitos divinos como já dito acima, e isto é o que deve ser negado.
Ascese, em sentido mais restrito, é o conjunto dos exercícios mortificantes, aplicados directamente a eliminar [[vício]]s, dominar e reorientar tendências desordenadas, robustecer a liberdade. É o que normalmente se expressa em termos como abnegação, [[mortificação]], [[penitência]], renúncia.
 
Para a [[teologia cristã]], há uma [[ascética]], com um sentido amplo, e uma ascese, com sentido mais restrito. A ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da [[graça]], para favorecer o pleno desenvolvimento da [[vida espiritual]], aplicando meios e superando obstáculos. Aqui, actuam e organizam-se os grandes meios e práticas da vida espiritual: [[oração]], [[penitência]]arrependimento, [[retiro]],busca [[examepelo deconhecimento consciência]],e [[direcçãotransformação espiritual]]através da bíblia, [[sacramentos]]palavra divinamente inspirada. Como também uso de métodos, projectos, [[disciplina (controle)|disciplina]] interior, para um maior aproveitamento da graça e dos meios. Este sentido amplo é o que normalmente tem a palavra, quando se encontra em títulos de [[Manual de instruções|manuais]], ou se contrapõe à [[misticismo|mística]].
 
Ascese, em sentido mais restrito, é o conjunto dos exercícios mortificantes, aplicados directamente a eliminar [[vício]]s, dominar e reorientar tendências desordenadas, robustecer a liberdade. É oalgo que normalmentepode seestar expressaassociado ema termos como abnegação, [[mortificação]], [[penitência]], renúncia.
 
Concretamente, como se deve configurar este caminho de ascese e purificação? Como deve ser vivido o [[amor]], para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina? Uma primeira indicação importante, podemos encontrá-la no [[Cântico dos Cânticos]], um livro do [[Antigo Testamento]] bem conhecido dos [[misticismo|místicos]]. Segundo a interpretação hoje predominante, as [[poesia]]s contidas neste livro são, originalmente, cânticos de amor, talvez previstos para uma festa [[Reino de Israel|israelita]] de núpcias, na qual deviam exaltar o amor conjugal. Neste contexto, é muito elucidativo o facto de, ao longo do livro, se encontrarem duas palavras distintas para designar o "amor". Primeiro, aparece a palavra ''dodim'', um plural que exprime o amor ainda inseguro, numa situação de procura indeterminada. Depois, esta palavra é substituída por ''ahabà'', que, na versão grega do [[Antigo Testamento]], é [[tradução|traduzida]] pelo termo de som semelhante ''agape'', que se tornou, como vimos, o termo característico para a concepção [[bíblia|bíblica]] do amor.
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Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações, que ele procure agora o carácter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — "apenas esta única pessoa" — e no sentido de ser "para sempre". O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa ao definitivo: o amor visa à eternidade. Sim, o amor é "êxtase"; êxtase, não no sentido de um instante de inebriação, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de [[Deus]]: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á" ([[Evangelho segundo Lucas]], capítulo 17, versículo 33) — disse Jesus; afirmação esta que se encontra nos [[Evangelho]]s com diversas variantes ([[Evangelho segundo Mateus]], capítulo 10, versículo 39; capítulo 16, versículo 25; [[Evangelho segundo Marcos]], capítulo 8, versículo 35; [[Evangelho segundo Lucas]], capítulo 9, versículo 24; [[Evangelho segundo João]], capítulo 12, versículo 25).
 
Assim descreve [[Jesus]] o seu caminho pessoal, que o conduz, através da [[Crucificação de Jesus|cruz]], à [[Ressurreição de Jesus|ressurreição]]: o caminho do grão de [[trigo]] que cai na terra e morre e, assim, dá muito [[fruto]]. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral de amar a Deus acima de tudo e ao próximo.<ref>Trecho da Carta Encíclica - ''[[Deus caritas est]]'' - do sumo pontífice [[Bento XVI]] aos bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos, versando sobre o amor cristão.</ref>
{{Commons|Category:Asceticism}}
{{Referências}}