Política (Aristóteles): diferenças entre revisões

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Adesão de uma seção quanto as fomas de governo que Aristóteles identificada no seu tratado homônimo ao artigo. Com destaque ao modelo democrático.
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Os livros ''I'', ''II'', e ''III'' são introdutórios e versam sobre temas como teoria do [[Estado]] e classificação das várias espécies de constituição; os livros ''IV'', ''V'' e ''VI'' tratam da prática política, da natureza das várias constituições e dos princípios que as regulam; os livros ''VII'' e ''VIII'' especulam sobre a política [[ideal]], analisando a estrutura da melhor [[cidade]].
 
== Formas de governo ==
Aristóteles, ao se debruçar sobre as formas de governo, identificou como três os diferentes tipos de boa governança possíveis – formas ditas “naturais” –, e três como as suas formas más, degenerações das primeiras, a saber: “Monarquia”, a qual teria como corrupção a “Tirania”; a “Aristocracia”, que ao se corromper da origem a chamada “Oligarquia”, e por fim a “Politia” ou “República”, cuja degradação origina a “Democracia”. As formas “boas” e “más” são caracterizadas pelo que Aristóteles define ser a finalidade dos seus soberanos. As boas são ditas tais porque os seus governantes tem como meta o bem da comunidade – da “''[[pólis]]''” –, e as más são delegadas assim pela gestão indevida dos seus governantes tendo em vista fins voltados para si, deixando de visar o bem comum e a manutenção do estado, para almejar a satisfação de suas vontades individuais.
 
=== Democracia ===
Ao tratar especificamente da democracia, Aristóteles analisa os diferentes modos como a mesma pode se apresentar, levando em consideração possíveis intersecções dela com outras formas de governo e o modo como o filósofo concebe a divisão social que constitui a ''pólis'', desde os "plebeus" até os "nobres" . Identifica, por fim quatro espécies de democracia, usando como parâmetro o quão abrangente é a admissão de indivíduos das diferentes classes:
* Na primeira espécie elege-se um valor mínimo para participação no governo, visto que se supõe que aqueles que detêm o mínimo de poder aquisitivo podem se dispuser de tempo livre para pensar a respeito da pólis; 
* Na segunda espécie o direito ao voto é expandido, é vedada a exigência de renda, no entanto, aqueles elegíveis para se ocupar do estado seriam unicamente aqueles que possuem condições de viver sem trabalhar;
* Na terceira espécie todos os homens livres podem participar de cargos do governo, mas, por outro lado, nada ganham ao exercerem suas funções;
* Na quarta espécie todos os cidadãos podem exercer cargos públicos e ganharem pelo cumprimento das atividades.
Entre as espécies de democracia o pensador elegeu a primeira como o melhor tipo, pois de modo geral ela restringe a oportunidade daqueles que Aristóteles considera menos adequados para gerir a coisa pública. Suas assembleias se formariam esporadicamente já que teriam como prioridade seu trabalho, a menos que possam ganhar bastante num cargo do estado, uma vez que, segundo Aristóteles, iriam preferir o lucro à honra. Caso ambições além dessas se manifestem, o filósofo afirma que com a adesão do direito ao voto elas já estariam satisfeitas. Os mais abastados e, segundo o povo, os mais honestos acabariam sendo eleitos aos cargos públicos, agradando assim tantos aos nobres como os “homens de bem”, em razão de não serem governados por aqueles que o Estagirita descreve como “baixos” e, ao chegar sua vez de tomar posse em cargos públicos teriam zelo ao exercitar suas funções, visto que teriam de prestar contas ao povo que os julgarão.  
 
Essas qualidades repetem-se nas outras espécies de democracia, no entanto perdem suas qualidades uma vez que se tornam cada vez mais semelhantes à quarta espécie de democracia, aquela exibe uma igualdade sem restrições. Não faz distinção entre os agentes admitidos no governo, se é mais ou menos capacitado para exercer tal função, sustentando qualquer um que se disponha a exercer alguma função no governo. Tudo é decidido pelo clamor popular, o estado fica a mercê da multidão. Aristóteles chega a descrever tal estado do estado como um “monstro de várias cabeças”, sendo bastante similar a democracia descrita na República de Platão, constituído por vários déspotas. Nessa espécie de democracia aqueles que se sobressaem são os demagogos, fazendo a vontade da maioria, de longe visando o bem do estado, mas cada um buscando vantagens para si; leis tornam-se referências dispensáveis, não sendo essencial respeitá-las caso seja a vontade do povo. Para Aristóteles um estado regido nessa forma governo torna-se inconstante, fluído e fadado à dissolução.
 
Um exemplo de quanto a democracia pode ser perigosa por sua liberdade exagerada é a frouxidão no respeito às leis, à hierarquia, ao tratamento dos mais velhos, o que, historicamente faz com que, revoltados, o próprio povo (ou uma parcela considerável) clame pelo oposto radical, a Tirania. O próprio filósofo relata que, em muitas cidades de regime democrático, o clamor por um Tirano era comum, sendo fato histórico que, em muitas dessas cidades a prática era costumeira (eleger um Tirano para recolocar a administração da Pólis em ordem novamente).
 
A patológica e frágil Democracia, segundo Aristóteles, não sendo capaz de proporcionar a felicidade e bem estar social, visto a exagerada igualdade e falta de ordem, se desmorona pela corrupção de seus cidadãos e a crescente falta de controle em relação à ordem social. Ao filósofo criticar a democracia usa de alguns argumentos similares aos de seu mestre ([[Platão]]), por exemplo, a fluidez e inconstância do governo sobre a autoridade de vários membros e o risco de que aquele que se sobressaiam se tornem demagogos e dominem as massas, tornando-se déspotas. O estagirita sugere que o melhor regime é sempre aquele em que são cultivadas as virtudes e que os governantes possuem não somente essas virtudes, mas também sabedoria e prudência, administrando a cidade respeitando o bem público e fomentando leis que conservem a boa saúde da Pólis.
 
==Natureza de escravo e escravidão==