Ciência de má qualidade: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Aspargos (discussão | contribs)
m Aspargos moveu Ciência Lixo para Ciência lixo: maiusculite
ajustando referencias.
Linha 1:
A expressão '''ciência lixo''', ou ainda '''''junk science''''', é usada para descrever [[Método científico|pesquisas, análises, dados e teorias científicos]] que se considera falsos ou fraudulentos. Embora não se restrinja a eles, o conceito é frequentemente invocado nos contextos [[Política|político]] e [[Jurisdição|jurídico]], onde fatos e dados científicos têm um grande peso na tomada de uma decisão. Geralmente transmite a conotação pejorativa de que o dado, pesquisa ou análise em questão foi produzido por motivos políticos, ideológicos, financeiros ou simplesmente não-científicos.
 
O conceito se popularizou na década de 1990, em relação à [[Perito criminal|prova pericial]] no [[Direito civil|processo civil]]. Mais recentemente, este conceito tem sido utilizado para criticar investigações sobre consequências [[Ambientalismo|ambientais]] ou de [[saúde pública]] de determinadas [[Empreendedorismo|atividades empresariais]], e em resposta a tais críticas. Dan Agin, por exemplo, em seu livro <span>''Junk Science'',</span> criticou duramente aqueles que [[Negacionismo climático|negam a ocorrência do aquecimento global]],<ref>LaFee,{{citar periódico|ultimo=LaFee|primeiro=Scott (|data=22-10- de outubro de 2006). [|titulo='Junk' food for thought|jornal=San Diego Union Tribune|url=http://wwwlegacy.sandiegouniontribune.com/uniontrib/20061022/news_lz1v22junk.html|acessadoem=29 Junk'de foodjulho forde thought]. ''San Diego Union Tribune''. Acesso em 14-02-2016.2017|idioma=en}}</ref> enquanto o ex-comentarista da [[Fox News Channel|Fox News]], Steven Milloy, tem denunciado pesquisas vinculando a indústria de combustíveis fósseis às mudanças climáticas.<ref>{{citar periódico|ultimo=DeMelle, |primeiro=Brendan|data=6 (06-03-2014). [http://www.huffingtonpost.com/brendan-demelle/climate-denier-steve-mill_b_4914442.htmlde maio de 2014|titulo=Climate Denier Steve Milloy Now Director at Coal Giant Murray Energy, On CPAC Global Warming Panel Today]. ''|jornal=Huffington Post''|url=http://www. Acesso em 14huffingtonpost.com/brendan-02demelle/climate-2016denier-steve-mill_b_4914442.html|acessadoem=29 de julho de 2017|idioma=en}}</ref>
 
Em alguns contextos, o termo ciência lixo é usado em contraposição à dita "ciência sólida".<ref name="Neff2005">{{citeCitar journalperiódico|vauthorsultimo=Neff|primeiro=Roni RA, A.|ultimo2=Goldman|primeiro2=Lynn LRR.|data=2005-07-01|titletitulo=Regulatory parallelsParallels to Daubert: stakeholderStakeholder influenceInfluence, "sound“Sound scienceScience," and the delayedDelayed adoptionAdoption of healthHealth-protectiveProtective standardsStandards|journaljornal=AmAmerican JJournal of Public Health|volume=95 Suppl 1|issuenumero=S1|pagespaginas=S81–91S81–S91|yearissn=2005|pmid=160303440090-0036|doi=10.2105/AJPHajph.2004.044818|url=http://ajph.aphapublications.org/doi/10.2105/AJPH.2004.044818}}</ref> Esta dicotomia tem sido promovida principalmente por Steven Milloy e seu ''Advancement of Sound Science Center'', mas essa acepção tem é criticada por apresentar pouca diferença em relação às noções de [[pseudociência]] e [[ciência marginal]].
 
== História ==
A expressão <span>ciência lixo</span> parece ter sido usada antes de 1985, ano em que um relatório apresentado ao [[Departamento de Justiça dos Estados Unidos]] observa que:<blockquote class="">"O uso de tais evidências científicas inválidas (comumente referidas como "''junk science''"), resultou em conclusões de nexo de causalidade que simplesmente não podem ser justificadas ou entendidas do ponto de vista do estado atual do conhecimento científico e médico confiável".<ref>[http{{citar livro|url=https://www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/contentdelivery/servlet/ERICServlet?accnoid=ED274437 "|título=Report of the Tort Policy Working Group on the causesCauses, extentExtent and policyPolicy implicationsImplications of the currentCurrent crisisCrisis in insuranceInsurance availabilityAvailability and affordability"]Affordability|ultimo=Department (Rep.of n.Justice 027-000-01251-5).of (Fevereirothe deUnited States|primeiro=|editora=ERIC|ano=1986). |local=Washington:|páginas=39|acessodata=29 Superintendentde ofjulho Documents, U.S. Government Printing Office. (ERIC Document Reproduction Service No. ED274437) p. 39de 2017}}</ref></blockquote>Em 1989, o climatólogo Jerry Mahlman, diretor do [[Laboratório Geofísico de Dinâmica dos Fluidos|''Geophysical Fluid Dynamics Laboratory'']], caracterizou a teoria de que o [[aquecimento global]] resulta de [[Ciclo solar|ciclos solares]] (apresentada em ''Scientific Perspectives on the Greenhouse Problem'' por Frederick Seitz e outros autores) como um exemplo notório de ciência lixo.<ref>{{citeCitar journalperiódico|last1ultimo=Roberts|first1primeiro=L.Leslie|yeardata=1989-11-24|titletitulo=Global warmingWarming: Blaming the sunSun|url=|journaljornal=Science|volume=246|issuenumero=4933|pagespaginas=992–993|issn=0036-8075|doi=10.1126/science.246.4933.992|pmidurl=http://science.sciencemag.org/content/246/4933/992|acessadoem=29 de julho de 2017|idioma=17806372en}}</ref>
 
Peter W. Huber popularizou o termo em relação ao seu uso em tribunais em seu livro de 1991, ''Galileo's Revenge: Junk Science in the Courtroom.'' Essa obra foi citada em mais de 100 livros e referências jurídicas, e como consequência algumas fontes citam Huber como o primeiro a utilizar o termo. Em 1997, a expressão havia efetivamente entrado no léxico jurídico americano, como se observa em um parecer de autoria de [[John Paul Stevens]] endereçado à [[Suprema Corte dos Estados Unidos]]: <blockquote class="" style="">"Um exemplo de "ciência lixo", que deve ser excluído [...] como muito duvidoso, seria o testemunho de um [[Frenologia|frenologista]] que pretenda provar a futura periculosidade de um réu com base no contornos do crânio do mesmo".<ref>{{citar web|url=https://www.law.cornell.edu/supct/html/96-188.ZO.html|titulo=General Electric Company v. Robert K. Joiner, No(96-188) 78 F.3d 96–188,524 slip op.reversed atand 4remanded|data=1997|acessodata=29 (U.S.de Decemberjulho 15,de 1997).2017|publicado=Cornell University Law School|ultimo=United States|primeiro=Supreme Court of the United States|lingua=en}}</ref></blockquote> Os tribunais americanos de instâncias inferiores têm, posteriormente, definido diretrizes para a identificação da ciência lixo, como no caso de um parecer de 2005 das Cortes de Apelação dos Estados Unidos para o Sétimo Circuito:<blockquote>"Relatos positivos sobre tratamentos com água magnética não podem ser replicados; isso, mais a falta de uma explicação física para seus efeitos, são marcas típicas da ciência lixo".<ref>Huber,{{Citar Plivro|url=https://www. Wworldcat. (2001). org/oclc/23767354|título=Galileo's revenge: Junkjunk science in the courtroom. New York:|ultimo=Huber|primeiro=Peter William|data=|editora=Basic Books. (Original work published |ano=1991),|local=New York|página=191.|páginas=|lingua=en|isbn=9780465026234|acessodata=}}</ref></blockquote>Como sugere o subtítulo do livre de Huber, ''Junk Science in the Courtroom'', sua ênfase reside no uso e no mal uso de prova pericial no processo civil. Um exemplo importante citado no livro trata de um litígio relacionado à disseminação da [[Síndrome da imunodeficiência adquirida|AIDS]], em que uma escola da [[Califórnia]] procurou impedir que um menino com AIDS frequentasse o [[jardim de infância]]. Essa escola contratou um perito, que declarou que existia a possibilidade de a AIDS ser transmitida aos colegas de escola do garoto, através de "vetores" ainda não descobertos. Por outro lado, cinco especialistas testemunharam em nome do garoto, afirmando que a AIDS não é transmitida através de contato casual. Nesse caso, o tribunal acabou por rejeitar o argumento do perito contratado pela escola.<ref>{{citar web|url=http://law.justia.com/cases/federal/appellate-courts/F3/415/620/524906/|titulo=Charles H. Sanderson, Plaintiff-appellant, v. Culligan International Company, No. 04Defendant-3253appellee, slip415 opF.3d at 3620 (7th Cir. July 11, 2005)|data=2005|acessodata=29 de julho de 2017|publicado=Justia|ultimo=United States|primeiro=U.S. Court of Appeals for the Seventh Circuit}}</ref>
 
Em 1999, [[Paul Ehrlich]] e outros defendiam políticas públicas para melhorar a divulgação de conhecimento científico ambiental válido e desencorajar a difusão de ciência lixo: <blockquote class="">"Os relatórios do [[Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]] oferecem um antídoto para ciência lixo, articulando o consenso atual sobre as perspectivas para as alterações climáticas, descrevendo o grau de incertezas, e precisando os potenciais benefícios e custos das políticas para enfrentar a mudança climática".<ref>{{citar periódico|ultimo=Ehrlich, |primeiro=P. R., |ultimo2=Wolff, |primeiro2=G., |ultimo3=Daily, |primeiro3=G. C., |ultimo4=Hughes, |primeiro4=J. B., |ultimo5=Daily, |primeiro5=S., |ultimo6=Dalton, |primeiro6=M., et al. (|data=1999). |titulo=Knowledge and the environment. |jornal=Ecological economics, |volume=30, |numero=|paginas=267-284|doi=|url=http://econpapers.repec.org/article/eeeecolec/v_3a30_3ay_3a1999_3ai_3a2_3ap_3a267-284.htm|acessadoem=20 de julho de 2017|idioma=en}}</ref></blockquote>Em um estudo de 2003 sobre alterações na militância ambiental relacionada ao [[Parque Nacional Glacier|''Glacier National Park'']], Pedynowski observou que a ciência lixo pode minar a credibilidade da ciência em ampla escala, uma vez que sua deturpação por interesses particulares põe em dúvida argumentos efetivamente científicos e mina a credibilidade de toda uma investigação.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Pedynowski, D. (|primeiro=Dena|data=2003). -10-01|titulo=Toward a moreMore '"Reflexive Environmentalism'": Ecological knowledgeKnowledge and advocacyAdvocacy in the Crown of the Continent Ecosystem. |jornal=Society and& Natural Resources, |volume=16, |numero=9|paginas=807–825|issn=0894-1920|doi=10.1080/08941920309168|url=http://dx.doi.org/10.1080/08941920309168|acessadoem=29 de julho de 2017|lingua2=en}}</ref>
 
Em seu livro 2006 ''J<span>unk Science</span>'',<ref>Agin, Dan (2006). [https://books.google.com/books?id=I4VzaPjTnxUC ''Junk Science - How Politicians, Corporations, and Other Hucksters Betray Us''] (reprint ed.). St. Martin's Griffin (published December 2007). [[International Standard Book Number|ISBN]] [[Especial:BookSources/978-0-312-37480-8|978-0-312-37480-8]].</ref> Dan Agin enfatizou duas principais causas de ciência lixo: a fraude e a ignorância. No primeiro caso, Agin discute resultados fabricados em pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de transistores orgânicos: <blockquote>"Quanto à ciência lixo, o aspecto importante é que ambos os Laboratórios Bell e a comunidade internacional de física foram enganados, até que alguém notou que o ruído dos registros publicados por Jan Hendrik Schön em diversos trabalhos eram idênticos—o que significa fisicamente impossível".<ref>Agin 2006, p. 39.</ref></blockquote>No segundo caso, ele cita um exemplo que demonstra a ignorância de princípios estatísticos pela imprensa leiga: <blockquote>"Uma vez que uma tal prova é impossível [que [[Organismos geneticamente modificados|alimentos geneticamente modificados]] sejam inofensivos], o artigo no [[The New York Times|New York Times]] foi má propaganda para o [[Departamento de Agricultura dos Estados Unidos|Departamento de Agricultura dos EUA]]—uma má propaganda baseado em uma crença ciência-lixo de que é possível provar uma [[hipótese nula]]".<ref>Agin 2006, p. 63.</ref></blockquote>Segundo Agin, a ciência lixo é, em última análise, motivada pelo desejo de ocultar do público verdades indesejáveis.<ref>Agin 2006, p. 249.</ref>
Linha 17:
John Stauber e Sheldon Rampton, do grupo ''PR Watch'', dizem que o conceito de ciência lixo passou a ser invocado em tentativas de negar as descobertas científicas que se interpõem no caminho de lucros corporativos de curto prazo. Em seu livro ''Trust Us, We're Experts'' (2001), eles dizem que as indústrias lançaram campanhas multimilionárias com o objetivo de associar na mente popular certas teorias como ciência lixo, muitas vezes não empregando elas mesmas o [[método científico]]. Por exemplo, a indústria do tabaco tem descrito pesquisas mostrando os efeitos nocivos do tabaco e do [[Tabagismo passivo|fumo passivo]] como ciência lixo, por meio de [[astroturfing]].
 
Contrariamente, teorias mais favorável para atividades empresarial são costumeiramente retratadas como "ciência sólida", independentemente de sua qualidade. Exemplos passados incluem a investigação sobre a toxicidade do [[fitormônio]] Alar, que foi fortemente criticada por defensores anti-regulamentação, e as pesquisas de Herbert Needleman sobre envenenamento por baixas doses de chumbo. Needleman foi acusado de fraude e pessoalmente atacado.<ref name="Neff2005">{{cite journal|vauthors=Neff RA, Goldman LR|title=Regulatory parallels to Daubert: stakeholder influence, "sound science," and the delayed adoption of health-protective standards|journal=Am J Public Health|volume=95 Suppl 1|issue=|pages=S81–91|year=2005|pmid=16030344|doi=10.2105/AJPH.2004.044818|url=}}</ref>
 
O comentarista da [[Fox News Channel|Fox News]] Steven Milloy muitas vezes invoca o conceito de ciência lixo para atacar os resultados credíveis de investigação científica sobre temas como o [[aquecimento global]], a [[Buraco na camada de ozônio|destruição da camada de ozônio]], e o tabagismo passivo. A credibilidade de Milloy e de seu website ''junkscience.com'' tem sido questionada por Paul D. Thacker, um escritor da'' [[The New Republic]]'', na sequência de provas de que Milloy havia recebido pagamentos da [[Philip Morris International|Philip Morris]], da [[RJR Tobacco]], e da [[ExxonMobil|Exxon Mobil]].<ref>[http://www.tnr.com/article/pundit-hire Smoked Out: Pundit For Hire], ''The New Republic''. Acesso em 24 de novembro de 2010.</ref><ref>Rampton, Sheldon; Stauber, John (2000). [http://www.prwatch.org/files/pdfs/prwatch/prwv7n3.pdf How Big Tobacco Helped Create 'the Junkman]. ''PR Watch''. '''7''' (3). Center for Media and Democracy.</ref><ref>[http://legacy.library.ucsf.edu/tid/syq70d00 Activity Report, R.J. Reynolds Tobacco Co., December 1996, describing R.J.R. Tobacco's direct input into Milloy's junkscience website]. From the [http://legacy.library.ucsf.edu/ Legacy Tobacco Documents Library] at the University of California, San Francisco. Acesso em 5 de outubro de 2006.</ref> Thacker também observou que enquanto Milloy classificava evidências sobre os perigos do tabagismo passivo como ciência lixo, ele recebia da Philip Morris quase US$100.000,00 por ano em honorários de consultoria. Após a publicação desse artigo, o [[Cato Institute]], que hospedava o website ''junkscience.com'', cessou a sua associação com o site e removeu Milloy da sua lista de acadêmicos.
Linha 26:
Em 1995, a [[Union of Concerned Scientists|''Union of Concerned Scientists'']] lançou iniciativa que reúne uma rede de cientistas empenhados em desmistificar a ciência lixo, através de divulgação na mídia, [[lobby]] e o desenvolvimento de estratégias conjuntas para participar em reuniões e audiências públicas.<ref>Union of Concerned Scientists. (1998, Winter). Sound science initiative. ASLO bulletin, 7(1), 13. </ref> A [[Associação Americana para o Avanço da Ciência]] também reconheceu a necessidade de um maior entendimento entre cientistas e legisladores, afirmando que "embora a maioria das pessoas concorde que uma ciência sólida é preferível à ciência lixo, poucos sabem reconhecer o que torna um estudo científico "bom" ou "ruim"".<ref>Sound Science for Endangered Species. (2002, September). In Science and Technology in Congress. American Association for the Advancement of Science. Acesso em 12 de novembro de 2006 em http://www.aaas.org/spp/cstc/pne/pubs/stc/stc02-09.pdf </ref> Cientistas individuais também têm utilizado este conceito.<ref>Merrow, J. (2005, February 23). Unlearning Bad Science. Education Week. Retrieved November 3, 2006, from Public Broadcasting Service Web site: http://www.pbs.org/merrow/news/edweek4.html</ref><ref>Merrow, J. (2005, February 23). Unlearning Bad Science. Education Week. Retrieved November 3, 2006, from Public Broadcasting Service Web site: http://www.pbs.org/merrow/news/edweek4.html</ref><ref>Merrow, J. (2005, February 23). Unlearning Bad Science. Education Week. Retrieved November 3, 2006, from Public Broadcasting Service Web site: http://www.pbs.org/merrow/news/edweek4.html</ref>
 
{{Referências|col=2}}
 
== Ligações externas ==