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[[Imagem:Zentralbibliothek Solothurn - Luther in Worms - aa0470.tif|thumb|direita|upright=1.3|Lutero na Dieta de Worms.]]
A '''Dieta de Worms''' ({{lang-de|''Reichstag zu Worms''}}), de 1521, foi uma [[dieta imperial]] (uma assembleia) do [[Sacro Império Romano Germânico]] realizada no em [[Worms]], que na época era uma [[cidade livre imperial|cidade livre]] do império. Este tipo de assembleia era um órgão deliberativo formal e suas decisões valiam para todo o império. Seu resultado mais importante e memorável foi o '''Édito de Worms''' ({{lang-de|''Wormser Edikt''}}), que endereçou especificamente as ideias de [[Martinho Lutero]] e os efeitos da [[Reforma Protestante]].
A dieta se reuniu de 28 de janeiro até 26 de maio de 1521 sob a presidência do [[imperador do Sacro Império Romano Germânico|imperador]] [[Carlos V do Sacro Império Romano Germânico|Carlos V]]<ref>[https://web.archive.org/web/20130102175338/http://www.worms.de/downloads/Chronik.pdf Chronik der Stadt Worms] Internet Archive</ref>.
Outras dietas imperiais foram realizadas em Worms nos anos de 829, 926, 1076, 1122, [[Dieta de Worms (1495)|1495]] e 1545, mas, exceto quando claramente indicado, o termo "Dieta de Worms" geralmente é uma referência a esta assembleia de 1521.
== A Dieta ==▼
Em junho do ano anterior, 1520, o [[papa Leão X]] publicou a [[bula papal|bula]] ''"[[Exsurge Domine]]"'' ("Erguei-vos, Senhor") expondo quarenta e um supostos erros encontrados nas [[95 teses]] de [[Martinho Lutero]] e em outras obras relacionadas ao tema ou escritas por ele. Para a assembleia em 1521, o próprio Lutero foi convocado pelo imperador e, para que pudesse comparecer, o príncipe [[Frederico III, Eleitor da Saxônia]], concedeu-lhe um [[salvo-conduto]]. Esta garantia era essencial, especialmente por causa do tratamento dispensado ao reformista [[Jan Hus]], que foi julgado e condenado no [[Concílio de Constança]], em 1415, apesar de ter recebido uma promessa de salvo-conduto da [[Igreja Católica]].
O imperador [[Carlos V do Sacro Império Romano Germânico|Carlos V]] deu início aos trabalhos da Dieta de Worms em 23 de janeiro de 1521. Esperava-se de Lutero que ele [[:wikt:abjurar|abjurasse]] ou reafirmasse suas ideias. Quando ele apareceu diante da assembleia, em 16 de abril, [[Johann Eck]] um assistente de [[Richard von Greiffenklau zu Vollrads]], [[príncipe-arcebispo]] de [[Eleitorado de Tréveris|Tréveris]], atuou como porta-voz do imperador.
[[Imagem:Eisenach Germany Lutherdenkmal-Eisenach-01.jpg|thumb|upright=1.3|direita|Estátua de [[Martinho Lutero]] em [[Eisenach]].]]
Os principais eventos relativos a Lutero na Dieta Worms ocorreram entre 16 e 18 de abril de 1521. Ao chegar, no dia 16, Lutero foi convocado a aparecer diante da assembleia no dia seguinte às 4 horas da tarde. Jeromee Schurff, um professor de [[direito canônico]] da [[Universidade de Wittenberg]], seria o seu advogado.
No dia 17, dois oficiais imperiais, Ulrich von Pappenheim e Caspar Sturm, foram buscar Lutero<ref>{{cite book |title=History of the Christian Church |last= Schaff|first= Philip|year=2015 |publisher=Arkrose Press |isbn= 1346209650 |page=145}}</ref>. Pappenheim lembrou a Lutero que ele só deveria falar para responder aos questionamentos do oficial que presidia a sessão, [[Johann Eck]]. Ao chegar, Eck perguntou-lhe se a coleção de livros apresentada era obra de Lutero e se ele estava pronto para renunciar às suas [[heresia]]s. Schurff, o advogado de Lutero, pediu que os títulos das obras fossem lidos. Era vinte e cinco livros e entre elas provavelmente estavam "95 Teses", "Resoluções Sobre as 95 Teses", "Sobre o Papado de Roma", "Discurso à Nobreza Cristã", "O Cativeiro Babilônico da Igreja" e "Sobre a Liberdade de um Cristão". Logo em seguida, Lutero foi novamente instado a responder. Ele pediu mais tempo para formular uma resposta apropriada e recebeu ordem de comparecer novamente no dia seguinte no mesmo horário.
Em 18 de abril, Lutero, depois de ter orado por um longo tempo e se consultado com amigos e mediadores, apresentou-se novamente na Dieta. Quando o oficial refez as perguntas, Lutero primeiro se desculpou por desconhecer a [[etiqueta]] apropriada para a corte. E em seguida respondeu: ''"São todos meus, mas, no caso da segunda questão, não são todos do mesmo tipo"''. Ele prosseguiu dividindo suas obras em três categorias:
# Obras que foram bem recebidas até pelos seus inimigos: estas ele não rejeitaria.
# Obras que atacavam os abusos, mentiras e infâmias do mundo cristão e do papado: estas, segundo ele, não poderiam ser rejeitadas sem que isto fosse visto como um encorajamento a estes mesmos abusos. Rejeitá-las abriria as portas para ainda mais opressão<ref name="Oberman">Oberman, Heiko, ''Luther: Man Between God and the Devil'', New Haven: Yale University Press, 2006, {{ISBN|0-300-10313-1}}.</ref>. ''"Se eu agora renegá-las então estaria fazendo nada além de reforçar a tirania"''<ref name="Oberman"/>.
# Obras que atacavam indivíduos: ele se desculpou pelo tom duro destas obras, mas não rejeitou a substância do que propôs nelas. E afirmou que se lhe fosse mostrado com base nas [[Bíblia|Escrituras]] que ele havia incorrido em erro ele as renegaria.
Lutero terminou sua resposta afirmando<ref name=Brecht>[[Martin Brecht|Brecht, Martin]]. ''Martin Luther''. tr. James L. Schaaf, Philadelphia: Fortress Press, 1985–93, 1:460.</ref>:
{{citação2|A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão clara (pois não confio nem no papa ou em concílios por si sós, pois é bem sabido que eles frequentemente erraram e se contradisseram) sou obrigado pelas Escrituras que citei e minha consciência é prisioneira da palavra de Deus. Não posso e não irei renegar nada, pois não é nem seguro e nem correto agir contra a consciência. Que Deus me ajude. Amém.}}
Segundo a tradição, Lutero teria declarado ''"Aqui estou e não posso ser diferente"'' antes de concluir com um ''"Que Deus me ajude"''<ref name="christiainitytodayHIS">{{cite web|url=http://www.christianitytoday.com/ct/2002/aprilweb-only/4-8-52.0.html|title='Hier Stehe Ich!'|author=Elesha Coffman|work=ChristianityToday.com| language = inglês}}</ref>. Porém, não há indicação nem nos transcritos da Dieta e nem nos relatos de testemunhas oculares de que ele tenha dito isto e, por isto, muitos estudiosos modernos duvidam que ele tenha dito essas palavras.
A resposta de Eck deixou claro para Lutero que ele estava agindo como um [[herege]]<ref>{{cite web|url=http://law2.umkc.edu/faculty/projects/ftrials/luther/lutherbyluther.html#secondnarrative|title=Life of Luther (Luther by Martin Luther)|author=Martin Luther|publisher=}}</ref>:
{{Citação2|Martinho, não há nenhuma das heresias em particular que tenha despedaçado o seio da igreja, que não seja derivada em sua origem das várias interpretações das Escrituras. A própria Bíblia é o arsenal no qual cada inovador se baseou para seus argumentos enganadores. Foi com textos bíblicos que [[Pelágio da Bretanha|Pelágio]] e [[Ário]] defenderam suas doutrinas. Ário, por exemplo, encontrou a negação da eternidade do [[Verbo divino|Verbo]] — uma eternidade que você admite — neste [[versículo]] do Novo Testamento: «José não conheceu sua esposa até que ela deu à luz seu filho, o primogênito» [Mateus 1:25]; e ele disse, assim como você diz, que esta passagem o aprisionou. Quando os padres do [[concílio de Constança]] condenaram esta proposição de [[Jan Hus]] — «A igreja de Jesus Cristo é apenas a comunidade dos eleitos» — eles condenaram um erro, pois a igreja, como uma boa mãe, engloba em seus braços todos os que são chamados cristãos, todos os que foram chamados a gozar da beatitude celeste.}}
Diversas conferências privadas foram realizadas para determinar o destino de Lutero, mas, antes que uma decisão fosse tomada, ele fugiu. Em sua viagem de volta para [[Wittenberg]], Lutero desapareceu.
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[[Imagem:Carlos V en Mühlberg, by Titian, from Prado in Google Earth.jpg|thumb|direita|[[Carlos V do Sacro Império Romano Germânico|Carlos V]], o [[imperador do Sacro Império Romano Germânico]] que outorgou o Édito de Worms.<br><small>1548. Por [[Ticiano]], atualmente no [[Museu do Prado]], em [[Madrid]].</small>]]
O Édito de Worms, escrito com a ajuda do [[núncio apostólico|núncio papal]] na dieta, [[Girolamo Aleandro]], foi o decreto outorgado em 26 de maio de 1521 pelo imperador Carlos V que declarou criminosos todos os que ''"seja por atos ou palavras, defendessem, sustentasse ou favorecessem o que foi dito por Martinho Lutero"''. O édito determinou ainda que Lutero fosse preso e levado até o imperador para ser punido como [[herege]] e estipulou uma generosa recompensa aos que ajudassem neste intento.
▲* [[Martinho Lutero]]
Esta decisão foi ápice do conflito crescente entre Martinho Lutero e a [[Igreja Católica]] sobre as reformas propostas por ele. No campo da teologia, Lutero havia desafiado a autoridade absoluta do [[papa]] sobre a igreja ao defender que a doutrina das [[indulgência]]s era errônea<ref name=Noll>{{cite book|last=Noll|first=Mark A.|title=Turning Points: Decisive Moments in the History of Christianity|origyear=1997|year=2000|publisher=Baker Academic|location=Grand Rapids, MI|isbn=978-0-8010-1159-7 |page=160}}</ref>. Lutero defendia também que a salvação se dava apenas pela fé (''"[[sola fide]]"''), sem referência às boas ações, esmolas, penitências ou aos [[sacramentos católicos|sacramentos]]. Estes eram, segundo Lutero, "meios da graça", o que significa que eles concediam a graça a quem os realizasse, mas que o crédito todo pela ação era de Deus e não do indivíduo<ref>{{cite web|last=Graebner |first=Augustus Lawrence |title=Outlines of Doctrinal Theology |url=http://www.ctsfw.edu/etext/graebneral/soteriology.txt |publisher=Saint Louis, MO: Concordia Publishing House. p. 161. |accessdate= |deadurl=yes |archiveurl=https://web.archive.org/web/20120121113340/http://www.ctsfw.edu/etext/graebneral/soteriology.txt |archivedate=21 de janeiro de 2012 |df=dmy }}</ref>. Finalmente, Lutero também desafiou a autoridade da igreja ao defender que todas as doutrinas e [[dogma]]s sem base nas [[Bíblia|Escrituras]] deveriam ser descartados (''"[[sola scriptura]]"'').
Para proteger a autoridade do papa e da Igreja Católica e também para a manter a prática do recebimento de doações em troca de indulgências, os oficiais eclesiásticos presentes na dieta convenceram Carlos V que Lutero era uma ameaça e o persuadiram a autorizar que ele fosse condenado pelo [[Sacro Império Romano Germânico]]. Lutero escapou da prisão e permaneceu escondido no [[Castelo de Wartburg]] por muitos meses, período no qual ele terminou sua [[Bíblia de Lutero|tradução do Novo Testamento para o alemão]].
== Eventos posteriores ==
Apesar de ter recebido promessas de que poderia voltar para casa em segurança, Lutero sabia que seria preso e punido. Para protegê-lo deste destino, o [[Frederico III, Eleitor da Saxônia|príncipe Frederico]] o capturou durante sua viagem de volta a Wittenberg e o escondeu no [[Castelo de Wartburg]]. Foi neste período que Lutero começou sua famosa tradução da Bíblia para o alemão. O poderoso testemunho de fé de Lutero diante da assembleia em Worms impressionou [[Jorge, Margrave de Brandenburgo-Ansbach]], que se converteu para a nova fé antes de qualquer outro príncipe alemão e de qualquer outro membro da [[Casa de Hohenzollern]]. Além disto, Lutero passou a se corresponder com ele para discutir os mais prementes problemas da fé.
O Édito de Worms foi temporariamente suspenso na [[Dieta de Speyer (1526)]], mas foi reinstalado na [[Dieta de Speyer (1529)]].
Quando Lutero finalmente saiu de sua reclusão em Wartburg, o imperador, distraído por outros assuntos políticos, não pressionou para que ele fosse preso. No fim, por conta do crescente apoio a Lutero entre os alemães e da proteção de alguns príncipes imperiais, o Édito de Worms jamais foi aplicado na Alemanha. Porém, nos [[Países Baixos]] (uma região que abrangia os modernos estados da [[Bélgica]], [[Holanda]] e [[Luxemburgo]]), o Édito foi inicialmente aplicado contra os mais ativos defensores de Lutero. Isto se deu porque a região estava sob o comando direto do imperador Carlos V e de seu regente, [[Margarida da Áustria, Duquesa de Saboia]] (tia de Carlos). Em dezembro de 1521, Jacob Probst, [[prior]] do mosteiro agostiniano em [[Antuérpia]], foi o primeiro clérigo defensor de Lutero a ser preso e processado sob os termos do Édito de Worms. Em fevereiro de 1522, Probst foi compelido a [[:wikt:abjurar|abjurar]] publicamente os ensinamentos de Lutero. Mais tarde, novas prisões foram realizadas entre os agostinianos de Antuérpia e dois monges, [[Johann Esch e Heinrich Voes]], se recusaram a abjurar e, em 1 de julho de 1523, foram [[queimado vivo|queimados vivos]] em [[Bruxelas]]<ref>Brecht, Martin. Martin Luther. tr. James L. Schaaf, Philadelphia: Fortress Press, 1985–93, 2:102ff.</ref>.
{{referências|col=2}}
== Ligações externas ==
{{refbegin}}
* {{citar web|url = http://www.bartleby.com/268/7/8.html | título = Luther's Statement at Worms| publicado = Bartleby| língua = inglês}}
* {{citar web|url = https://archive.org/stream/martinlutherand00beargoog#page/n425/mode/1up| título = The Diet of Worms| autor = Charles Beard| publicado = Chapter IX of ''Luther and the Reformation in Germany''| ano = 1896| língua = inglês}}
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