Antônio Parreiras: diferenças entre revisões

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'''Antônio Diogo da Silva Parreiras''' ([[Niterói]], [[20 de janeiro]] de [[1860]] – Niterói, [[17 de outubro]] de [[1937]]<ref name="Parreiras1943">Antônio Parreiras. ''[http://books.google.com/books?id=IB5ZAAAAMAAJ História de um pintor]''. Diário oficial; 1943.</ref>) foi um [[pintor]], [[desenhista]], [[ilustraçãoIlustração|ilustrador]], [[escritor]] e [[professor]] [[brasilBrasil|brasileiro]]eiro.
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Suas pinturas paisagistas podem ser consideradas como representação de paisagens e momentos, acontecimentos considerados sublimes.<ref name=":0" /> Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata.<ref name=":4">{{citar livro|título=Notas e críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista.|ultimo=SALGUEIRO|primeiro=Valéria|editora=Eduff|ano=2000|local=Niterói|páginas=|acessodata=16 de novembro de 2017}}</ref> Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada.
'''Antônio Diogo da Silva Parreiras''' ([[Niterói]], [[20 de janeiro]] de [[1860]] – Niterói, [[17 de outubro]] de [[1937]]<ref name="Parreiras1943">Antônio Parreiras. ''[http://books.google.com/books?id=IB5ZAAAAMAAJ História de um pintor]''. Diário oficial; 1943.</ref>) foi um [[pintor]], [[desenhista]], [[ilustração|ilustrador]], [[escritor]] e [[professor]] [[brasil]]eiro.
 
Acredita-se que, para além de cumprir contratos - Parreiras tem obras espalhadas por importantíssimas edificações públicas -, o pintor tenha imprimido em seus quadros sua visão sobre a história nacional.<ref name=":6">{{citar periódico|ultimo=STUMPF|primeiro=Lúcia Klück|data=|titulo=A terceira margem do rio; Mercado e sujeitos na pintura de história de Antônio Parreiras|url=file:///Users/isa/Downloads/DissertacaoCorrigidaLuciaStumpfDIGITALbaixa.pdf|jornal=Universidade de São Paulo Instituto de Estudos Brasileiros Programa de Pós Graduação Cultura e Identidades Brasileiras|volume=|via=}}</ref> Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil a fora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país. Para São Paulo, foram duas as obras encomendadas. O Salão Nobre da Câmara Municipal da Cidade e o Gabinete do Prefeito da cidade têm obras de Antônio Parreiras como objetos decorativos.<ref>{{citar web|url=http://www.camara.sp.gov.br/memoria/wp-content/uploads/sites/20/2016/04/rev_parlamento_3_11_um_palacio_com_muitas_artes.pdf|titulo=Um Palácio com Muitas Artes|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
==Biografia==
Parreiras era filho de brasileiros natos, o Major Jacinto António Diogo Parreiras e de D. Maria Rosa da Silva Parreiras.<ref>''[http://books.google.com/books?id=hbhoAAAAMAAJ Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais]''. O Instituto; 1960.</ref>, sendo um dos nove filhos de uma família chefiada por pai ourives.<ref name="ParreirasSalgueiro2000">Antônio Parreiras; Valéria Salgueiro. ''[http://books.google.com/books?id=ZOZcAAAAMAAJ Antônio Parreiras: notas e críticas, discursos e contos : coletânea de textos de um pintor paisagista]''. Editoria da Universidade Federal Fluminense; 2000. ISBN 978-85-228-0303-3.</ref>
 
== Biografia ==
Ingressou em [[1882]], aos 22 anos de idade, na [[Academia Imperial de Belas Artes]] do [[Rio de Janeiro]], que abandonou em [[1884]] para frequentar o curso livre de pintura do professor [[Alemanha|alemão]] [[Georg Grimm]]. Com a viagem de seu mestre para o interior do Brasil, continuou os seus estudos de forma autodidata em [[1885]].
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus<ref>{{citar livro|título=Da Monarquia a republica. Momentos decisivos São Paulo:
Brasiliense, s.d., 5a Ed.|ultimo=COSTA|primeiro=Emília Viotti da|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heróico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência. Foram várias as experiências sem sucesso até que, em 1883, matriculou-se na Academia Imperial.<ref name=":0">{{citar periódico|ultimo=ÁLVAREZ|primeiro=José Maurício Saldanha|data=2005|titulo=“NÃO ME FIZ ARTISTA PARA GANHAR DINHEIRO”. SENTIMENTO, UMA
IDÉIA DE NAÇÃO E IDENTIDADE EM ANTÔNIO PARREIRAS|jornal=|doi=|url=http://apebfr.org/passagesdeparis/edition2/articles/p189-alvarez.pdf|acessadoem=03 de novembro de 2017}}</ref> Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época. Mas o artista não titubeou em abandonar o posto de escrituário na Companhia Leopoldina, em [[Nova Friburgo]]<ref name=":6" />, para fazer o que, desde a infância parecia ter sido direcionado pelo destino a fazer.<ref name="Parreiras1943" />
 
Em trechos de sua biografia, Antônio Parreiras seleciona muito bem as memórias que pretende contar a fim de construir uma lembrança ao leitor em que todas as suas vivências conspiram à elaboração de um futuro específico ao qual, por toda a vida, fora destinado. "Não parava em casa. Tinha horror aos livros e só me interessavam aqueles em que haviam gravuras"<ref name="Parreiras1943" /> e "Eis aí que conheci o primeiro pintor e o primeiro poeta. Eis como em minha alma, pela primeira vez, penetrou um raio de luz... a primeira emoção de Arte. Foi vendo um pintar, ouvindo o outro ler poesias, que deparei com a estrada ainda não vislumbrada, porem que devia trilhar em toda a minha longa existência. Abençoados sejam!"<ref name="Parreiras1943" /> são alguns exemplos.
 
=== Ruptura com a Academia ===
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar ''d'après nature'' na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como "''extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes".''<ref name="Parreiras1943" /> Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.<ref name=":6" />
 
Quando não mais fazia parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias,<ref name=":5">{{citar periódico|ultimo=Júnior|primeiro=Antonio Gaspareto|data=|titulo=A jornada de Parreiras: da pintura de paisagem aos mátires|url=http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/1596191.pdf|jornal=Iberica; Revista interdiciplinar de estudos ibéricos e ibero-americanos|volume=|via=}}</ref> grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói.<ref name=":6" /> Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. Foi sob a venda de suas pinturas e uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.<ref>{{citar livro|título=O Grupo Grimm|ultimo=LEVY|primeiro=Carlos Maciel|editora=Pinakotheke|ano=1980|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=16 de novembro de 2016}}</ref>
 
1886 foi um ano em que uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. [[Dom Pedro II]] não só visitou a exposição do paisagista carioca, mas também adquiriu duas obras do pintor.<ref name="Parreiras1943" /> Como lamenta em sua autobiografia, esta não era uma época em que o pintor tinha dinheiro, muito menos fama. Entretanto, permanecia com ambição de ir à Europa dar continuidade a seus estudos. Foi então que, com base em acordos, conseguiu a venda de algumas de suas obras à Academia, em troca de, quando retornasse ao Brasil, lecionasse algumas aulas sem a necessidade de receber salário.<ref name=":5" /> Já na França, Parreiras conseguiu montar seu próprio ateliê para divulgação de seu trabalho e, quando voltou, cumpriu o acordo e tornou-se professor de paisagem na Academia.
 
Após vários anos vividos entre Brasil e França, realizando exposições, executando encomendas oficiais para edifícios públicos e participando de salões de arte. Parreiras chegou a vender a tela Sertanejas para decorar o Palácio do Catete e, entre outros, também realizou painéis para ornar a sede do Supremo Tribunal Federal.<ref name=":6" /> Ganhando prêmios, Antônio Parreiras não só foi o segundo pintor brasileiro a expor no [[Salon de Paris|"Salon" de Paris]] e nomeado delegado da Societé Nationale dês Beaus Arts<ref name=":5" />, em 1911, mas também experimentou seus últimos anos de vida sendo reconhecido também no âmbito intelectual.<ref name=":3">{{citar web|url=http://www.redalyc.org/pdf/1670/167017772006.pdf|titulo=Entre a tradição acadêmica e o modernismo: a crítica de arte de Antônio Parreiras na Academia Fluminense de Letras|data=|acessodata=16 de novembro de 2017|publicado=|ultimo=Valéria Salgueiro e Lucas Travassos Telles|primeiro=}}</ref> Não só fez história e nome no mundo da pintura, mas também deixou sua marca no campo das letras. Pôde, então, experienciar diversos formatos de reconhecimento público.
 
=== Sucesso ===
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil.<ref name=":6" /> O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.<ref>{{citar livro|título=Arte, privilégio, distinção|ultimo=DURAND|primeiro=J.C|editora=Perspectiva|ano=1988|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Viajou para a [[Europa]] em [[1888]], aperfeiçoando suas técnicas na [[Accademia di Belle Arti di Venezia]], na [[Itália]].
[[Ficheiro:Parreiras-ventania-pinac.jpg|thumb|left|200px|''Ventania'', [[Pinacoteca do Estado de São Paulo]]]]
Em 1927 Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, que no início dos anos 2000 quase fora destruída pela prefeitura de Niterói a fim de transforma-la num estacionamento.
De volta ao Brasil em [[1890]], participou da ''Exposição Geral de Belas Artes'' no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. No mesmo ano tornou-se professor de pintura de paisagens na [[Escola Nacional de Belas Artes]]. Seguindo os ensinamentos de Grimm, levou os seus alunos para pintar ao ar livre, expondo esses trabalhos em [[1892]].
 
Em sua carreira, pode-se dizer que Antônio Parreiras expressou o romantismo, ainda que de forma tardia, em "sua forma de procurar um lugar no mundo".<ref name=":0" /> Considerava-se ser um indivíduo autônomo, que manifestava um forte desejo de mudança social no âmbito hierárquico, o que o impedia de ascender e ter reconhecimento como sujeito artista e criador.
Iniciou estudos ao ar livre nas matas de [[Teresópolis]], sintetizados na tela ''Sertanejas''. Tendo recebido encomendas para pintar episódios históricos, a partir de [[1899]] realizou vários trabalhos para palácios do governo, como a ''Alegoria a Apollo e às Deusas das Horas'' de [[1925]] no teto do salão nobre do [[Palácio da Liberdade]] em [[Belo Horizonte]]. Entre seus trabalhos históricos destacam-se a ''Conquista do Amazonas'' e ''Lembrança da visita de Oscar I, rei da Suécia e Noruega''. Além dessa vertente, dedicou-se paralelamente aos nus femininos, que pintava com grande sensualidade, como pode ser apreciado em ''Flor brasileira'', ''Fantasia'' e ''Frinéia''.
 
Grande parte de sua vida adulta foi passada num período de nacionalismo exacerbado e grande exaltação patriótica, o que explica um discurso abrangente em tais elementos e uma repercussão dele projetada no âmbito artístico de Antônio Parreiras.<ref name=":3" /> Em um de seus vários discursos na [[Academia Fluminense de Letras]], o pintor afirmava que o grande valor dado à arte européia pela academia e pelos poucos críticos, dificultou o desenvolvimento de uma arte nacional. O paisagista afirma ainda que, no período que circunda a década de 1880, artistas eram socialmente mal vistos, pois no Brasil a profissão era vista como "fator de civilização"<ref name="Parreiras1943" />, uma importante filosofia decorrida pelo [[iluminismo]], que prega a ideia de que a arte poderia melhorar a humanidade, civilizando-a.
Artista da ''[[belle époque]]'', em [[1925]] foi considerado o pintor mais popular do país. Publicou a sua autobiografia em [[1926]] (''História de um Pintor contada por ele mesmo''), com isso ingressando na [[Academia Fluminense de Letras]].
 
Segundo ele próprio, ao longo de aproximadamente 55 anos, realizou mais de 850 pinturas<ref name=":6" />, das quais 720 foram criadas em solo brasileiro, tendo feito 39 exposições no Rio de Janeiro e em vários outros estados do Brasil.<ref name="Parreiras1943" />
Participou em [[1933]] das exposições comemorativas do ''Jubileu Artístico'' em [[São Paulo]] e em Niterói, onde veio a falecer em [[1937]]. O seu ateliê foi transformado, em [[1941]], no [[Museu Antônio Parreiras]].
 
== Autobiografias ==
A primeira biografia de Antônio Parreiras foi publicada no ano de 1926 e financiada por ele próprio.<ref name=":1">{{citar web|url=http://www.memoriasocial.pro.br/documentos/Disserta%C3%A7%C3%B5es/Diss221.pdf|titulo=UMA CASA TRANSFORMADA EM MUSEU, O caso do Museu Antônio Parreiras|data=|acessodata=03 de novembro de 2017|publicado=|ultimo=Fernandez Furloni|primeiro=Mariana}}</ref> No exemplar disponível no museu do pintor , pode-se verificar que a obra conta com encadernação cuidadosa, possui capa em papel firme azulado de efeito mármore, sem identificação qualquer sobre o que trata. De acordo com a editora fluminense Tipografia Dias, Vasconcelos e C., pela qual a biografia fora publicada, são cento e trinta e uma páginas de texto escrito, vinte e uma ilustrações, uma fotografia da fachada de sua casa, uma fotografia de seu atelier.<ref name=":1" />
 
Pode-se afirmar que a grande maioria das críticas referentes ao livro foram positivas. A primeira delas aparece no [[Jornal do Brasil]], no dia 27 de novembro de 1926. Esta não só recomenda a leitura da autobiografia de Antônio Parreiras por seu conteúdo, mas também pela forma como foi estilosamente escrita, com fluidez. Em outro texto crítico sobre a obra, Mario Sette, para o [[Diario de Pernambuco|Diário de Pernambuco]], destacou, entre outros aspectos, a percepção do autor como artista que, embora tenha viajado com frequência, manteve-se consciente de seu lugar de origem. "''Não se tornou pedante, nem um derrotista. Ao contrário, aprendeu ainda mais a amar a sua pátria, reconhecendo-lhes os méritos em confronto com os alheios"''.<ref>Diário de Pernambuco, 5.7.1931</ref> Outros críticos optaram por traçar uma analogia entre o ato de pintar e o de escrever, enaltecendo as habilidades do artista em ambas as funções, principalmente em seu viés paisagista.
 
A segunda edição de sua história contada por ele mesmo fora publicada em 1943, após o seu falecimento, e financiada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, diferentemente do que propõe seu testamento, que os custos desta publicação fossem pagos pelo dinheiro arrecadado pela venda de suas medalhas de ouro e alguns quadros, caso houvesse necessidade.<ref name="Parreiras1943" />
 
Nela, o artista descreve algumas referências de exposições promovidas em sua homenagem, tal como a de comemoração pelos 50 anos de seu ingresso à [[Academia Imperial de Belas Artes]], em [[Niterói]]. "''Cerca de dez mil pessoas visitaram. Foi inaugurada por uma comissão eleita pela Sociedade Brasileira de Belas Artes que me fez a entrega de uma mensagem admiravelmente aquarelada pelo meu colega [[Armando Viana]] e assinada por diversos artistas''".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IB5ZAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=História de um pintor|ultimo=Parreiras|primeiro=Athayde|data=1943|editora=Diário oficial|ano=|local=|páginas=p.144|lingua=pt|acessodata=}}</ref> Parreiras conta também sobre a mudança do nome da rua Boa Viagem, onde chegou a morar com alguns colegas do grupo Grimm, para rua Antônio Parreiras, por sugestão dos membros do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga.
 
== Obras pictóricas ==
 
=== Jornada dos Mártires ===
[[File:Antônio Parreiras - Jornada dos Mártires.jpg|thumb|300px|''Jornada dos Mártires''.]]
Partindo do princípio em que "toda imagem conta uma história"<ref>{{citar livro|título=Testemunha Ocular: história e imagem|ultimo=BURKE|primeiro=Peter|editora=|ano=2004|local=Bauru|páginas=|acessodata=03 de novembro de 2017}}</ref>, estudiosos veem, em a Jornada dos Mártires, de Antônio Parreiras, referência à história da [[Inconfidência Mineira]]. O episódio foi marcado por um levante contra a ordem colonial, ameaçando o poder e a autoridade da Coroa Portuguesa. Quando descobertos, os inconfidentes foram presos em Vila Rica, no ano de 1789, e de lá seguiram para o Rio de Janeiro, onde posteriormente seriam julgados. Durante este trajeto, os prisioneiros pernoitaram na fazenda Soledade, do coronel Manuel do Valle Amado<ref>{{citar livro|título=A Inconfidência Mineira, uma síntese factual|ultimo=JARDIM|primeiro=Marcio|editora=|ano=1989|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=03 de novembro de 2017}}</ref>. O momento retratado por Parreiras nesta obra é justamente o da partida dos inconfidentes desta fazenda, rumo ao Rio de Janeiro.
 
Apesar de o quadro não fazer nenhuma menção direta à Inconfidência Mineira, o tema dificilmente seria identificado apenas sob a observação da tela, sem mais informações<ref name=":2">{{citar periódico|ultimo=SILVA|primeiro=Paloma|data=2007|titulo=A Inconfidência Revisitada: Antônio Parreiras e a Jornada dos
Mártires|jornal=Trabalho de conclusão da Especialização em História da Cultura e da Arte da Universidade Federal de Minas Gerais|doi=|url=|acessadoem=03 de novembro de 2017}}</ref>. O que pode ser visto na obra não são os inconfidentes como heróis ou homens valentes e vencedores, Parreiras representa apenas o fim de um movimento sem sucesso, cujos integrantes estão prestes a pagar o preço de sua revolta com sua liberdade.<ref>{{citar periódico|ultimo=SALGUEIRO|primeiro=Valéria|data=2002|titulo=A arte de construir a nação: pintura de história e a Primeira
República|jornal=Revista Estudos Históricos|doi=|url=|acessadoem=03 de novembro de 2017}}</ref> Ao mesmo tempo, faz questão de ressaltar a firmeza, a coragem e a convicção dos "revoltosos". Ainda que não os pinte como heróis, transmite, através deles, uma lição de patriotismo e civismo.<ref name=":2" />
 
Observando a obra sobre um viés crítico-artístico, apenas, é importante recordar que Antônio Parreiras é, principalmente, reconhecido por suas obras de paisagem, foi aluno de George Grimm, pintor alemão que fez escola no Brasil dentro do gênero.<ref>{{citar livro|título=O Grupo Grimm, paisagismo brasileiro no século
XIX|ultimo=LEVY|primeiro=Carlos Roberto Maciel|editora=|ano=1980|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=03 de novembro de 2017}}</ref> Portanto, não nos causa espanto observar que a paisagem da obra ocupa cerca de dois terços do espaço utilizado para retratar parte do percurso dos inconfidentes mineiros.
 
=== Sertanejas ===
Sob um desejo constante de interpretar a natureza de forma a sentir a emoção que ela causa,<ref name=":4" /> a obra Sertanejas resgata o sentido roussoniano de que a natureza é mais bela do que a paisagem, por ser livre de qualquer intervenção do homem. A paisagem, segundo Shamma, "é a cultura antes de ser natureza; um construto da imaginação projetado sobre a mata, rocha, água".<ref>{{citar livro|título=Paisagem e memória|ultimo=SCHAMA|primeiro=Simon|editora=Companhia das Letras|ano=1996|local=São Paulo|páginas=p. 70|acessodata=16 de novembro de 2017}}</ref> A obra retrata um túnel florestal primevo na serra do mar. Encerrado por um denso arvoredo, onde frestas de luz timidamente iluminam borboletas, que adejam sobre singelas flores tropicais que medram no chão úmido.<ref name=":0" />
=== Paisagem do Campo do Ipiranga ===
[[File:Antônio Diogo da Silva Parreiras - Paisagem do Campo do Ipiranga, Acervo do Museu Paulista da USP.jpg|thumb|250px|''Paisagem do Campo do Ipiranga''.]]O quadro intitulad''o Paisagem do Campo do Ipiranga'' foi pintado em óleo sobre tela por Antônio Parreiras no ano de 1893. Com dimensões de um metro de altura por um metro e quarenta e oito centímetros de largura, retrata uma paisagem que contém o antigo [[Museu do Ipiranga]] ao fundo.
 
Contrastando com o céu azul claro repleto de nuvens brancas esfumaçadas na diagonal, o quadro mostra, num primeiro plano, um grande campo de terra marrom avermelhada, em partes, desmatado. Há uma cerca que divide o território e segue em linha reta, dando noção de profundidade à imagem. Ao fundo, onde a cerca parece chegar ao fim, se aproxima das imediações de um grande casarão branco posicionado ao lado esquerdo do quadro. Próximo a ele, as vegetações são mais altas e têm coloração verde escura. É deste mesmo espaço do casarão branco que, ao lado direito da tela, um pequeno morro dá uma terceira dimensão à imagem. Neste pequeno morro está o monumento de cor bege clara, um pouco amarelada, antigamente denominado de Museu do Ipiranga.<ref>{{citar web|url=https://www.cartacapital.com.br/revista/887/a-criacao-da-paisagem|titulo=A criação da paisagem|data=13 de janeiro de 2016|acessodata=16 de novembro de 2017|publicado=Carta Capital|ultimo=Ferraz|primeiro=Ana}}</ref>
 
''Paisagem do Campo do Ipiranga'' é uma obra que foi executada na ocasião da primeira visita artística do pintor à cidade de São Paulo. Com ele, Parreiras teve a pretensão de ingressar na recém inaugurada galeria de arte do [[Museu do Ipiranga|Museu Paulista]].<ref name=":6" />
 
== Museu Antônio Parreiras ==
{{AP|nome=Museu Antônio Parreiras}}
[[File:Fachada da residência de Antônio Parreiras.jpg|thumb|Fachada do museu, em fotografia do início do século XX.]]
O Museu Antônio Parreiras é a antiga residência do pintor, trata-se de um casarão projetado por Ramos de Azevedo.<ref>{{citar web|url=https://oglobo.globo.com/rio/bairros/museu-antonio-parreiras-reabre-em-2016-18159180|titulo=Museu Antônio Parreiras Reabre em 2016|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> Inaugurado no dia 21 de janeiro de 1942, hoje pode ser considerada uma das mais importantes edificações históricas e culturais do Rio de Janeiro.
 
Embora Antônio Parreiras nunca tenha deixado explícito o desejo de ter sua própria casa transformada em museu, estudiosos veem preocupação breve em constituir e consolidar algo que remeta à sua memória no seguinte trecho de seu testamento:<ref name=":1" /><ref name="Parreiras1943" />
 
{{Citação2|ao meu querido amigo e afilhado Athayde Parreiras deixo o encargo de fazer publicar a segunda edição do meu livro Histórias de um pintor contada por ele mesmo. Para pagar as despesas desta publicação serão vendidas as minhas medalhas de ouro e alguns quadros se ainda for necessário. Esses livros serão distribuídos em primeiro lugar por todas as bibliotecas, arquivos e institutos públicos, o que restar vendidos e o produto desta venda será entregue à Sociedade de Cegos de Niterói, da qual sou sócio.}}
 
== Crítica a Aleijadinho ==
Em um de seus vários discursos na [[Academia Fluminense de Letras]], no Rio de Janeiro, Antônio Parreiras criticou a arte do escultor mineiro [[Aleijadinho]].<ref>Antônio Parreiras, “O Aleijadinho” – conferência lida na AFL, na solenidade de 30 de agosto de 1930 – Revista da Academia Fluminense de Letras, Rio de Janeiro, Jornal do Commercio, 1951.</ref> No início de seu discurso, publicado na revista da Academia, o pintor diz não aceitar o que é qualificado como "estilo colonial", por julgar impossível que, em um meio onde "predominavam a ignorância e as aspirações puramente materiais" dos tempos coloniais, "no meio de selvas", referindo-se à região de Minas Gerais, houvesse alguma preocupação de construção de um estilo arquitetônico.<ref name=":3" />
 
Sob uma perspectiva determinista, o acadêmico Parreiras encarna profunda descrença na capacidade de transcendência da obra de Aleijadinho. Para ele, tal artiste esteve preso demais às realidades de suas esculturas e, por tal motivo, não pôde transcendê-las, nem contextualiza-las no âmbito da divindade, quando se trata de criações de tema religiosos. <ref name=":3" /> Para o pintor, Aleijadinho fazia parte do grupo de artistas que não interpretava, mas simplesmente retratava tudo o que via na natureza. Antônio Parreiras nominou obras do escultor mineiro de tentativas de reprodução da realidade como inútil, pois lhe faltava técnica, estética e visão de arte; inata ao artista por viver em um meio que não favorecia o desenvolvimento de seu talento. <ref>Hippolyte Taine, “On the production of the work of art”, Joshua C. Taylor, op. cit., pp. 371-83</ref>
 
== Galeria ==
<center>
<gallery>
Imagem:Antônio Parreiras - Fantasia, 1909conquista.jpg|<!--Fantasia-->''A conquista do Amazonas'', (1909)1907
Imagem:Fim de romance by Antônio DiogoParreiras da- SilvaFantasia, Parreiras 19151909.jpg|<!--The End of Romance-->''Fantasia'', (1915)1909
Imagem:Fim de romance by Antônio Diogo da Silva Parreiras-conquista 1915.jpg|<!--Conquest of''Fim thede Amazon-->romance'', (1907)1912
Imagem:Antônio Parreiras - Agonia.jpg|<!--Agony-->''Agonia'', (1915)
</gallery>
</center>
 
 
==Prêmios recebidos==
Linha 42 ⟶ 93:
*Medalha de Honra (''Exposição do Centenário da Independência'', [[1918]])
*Grande Medalha (''Exposição do Centenário da Independência'', [[1922]])
*Medalha de Ouro (''Exposição Universal de Barcelona'', Espanha, [[1929]])<ref name=":5" />
 
{{referências|col=2}}
 
==Ver também==
Linha 50 ⟶ 101:
*[[Lista de pinturas de Antônio Parreiras]]
*[[O Primeiro Passo para a Independência da Bahia]], obra de Parreiras.
*[[Anexo:Lista de pintores do Brasil|Lista de pintores do Brasil]]
{{Controle de autoridade}}
 
{{Portal3|Arte|Brasil|Rio de Janeiro}}