Margarida de Valois: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 1:
{{Info/MonarcaNobre
|nome =Margarida de Valois
|título =[[Lista de condes e duques de Vendôme|Duquesa de Vendôme]]
Linha 7:
|sucessão1 =[[Lista de rainhas de Navarra|Rainha Consorte de Navarra]]
|reinado1 =[[18 de agosto]] de [[1572]] — [[17 de dezembro]] de [[1599]]
|cônjuge =[[Henrique IV da França|Henrique IV dade França]]
|casa =[[Casa de Valois|Valois]] {{small|(por nascimento)}}<br />[[Casa de Bourbon|Bourbon]] {{small|(por casamento)}}
|pai =[[Henrique II da França|Henrique II]]
Linha 25:
Como Rainha de Navarra, ela também desempenhou um papel de pacificação nas relações tempestuosas entre seu marido e a monarquia francesa. Dividindo-se entre as duas cortes, ela se esforçou para levar uma feliz vida conjugal, mas a esterilidade do casal e as tensões políticas inerentes nas [[Guerras religiosas na França|Guerras Religiosas da França]] causaram o fim de seu casamento. Maltratada por um sombrio irmão, rejeitada por um marido oportunista, ela escolheu o caminho da oposição em 1585. Ela tomou o lado da [[Liga católica|Liga Católica]] e foi forçada a viver em [[Auvérnia]] em um exílio que durou vinte anos.
 
Bem conhecida como uma mulher de letras, uma mente iluminada e uma patrona extremamente generosa, ela desempenhou um papel considerável na vida cultural da corte, especialmente após seu retorno do exílio em 1605. Ela foi um vetor do [[Neoplatonismo]], que pregava a supremacia do amor platônico sobre o amor físico. Enquanto estava aprisionada, aproveitou o tempo para escrever suas ''Memórias''. Ela foi a primeira mulher a ter feito isso.<ref>Craveri, &nbsp;''Amanti e regine'', pp. 81–82.</ref> Ela era, de fato, uma das mulheres mais elegantes da época, e influenciou muitas das [[Corte (realeza)|cortes reais]] da Europa com suas roupas.
 
Ela foi vítima de uma tradição historiográfica que demoliu a importância de suas ações na esfera política da época, ao fortalecer a transição dinástica do Valois para o Bourbon, dando crédito à difamação e calúnia distribuídas em sua conta que criou e transmitiu ao longo dos séculos o mito de uma mulher bonita, culta, [[Apetite sexual excessivo|ninfomaníaca]] e [[Incesto|incestuosa]]. Esta lenda enraizou-se em torno do famoso apelido '''Rainha Margot''' (''La Reine Margot''), inventado por [[Alexandre Dumas, pai]].
 
==Infância==
[[Ficheiro:Clouet Margerite of Valois.jpg|thumb|267x267px|left|Princesa Margarida de Valois. Retrato &nbsp;por [[François Clouet]], [[Século XVI]].]]
Margarida de [[Casa de Valois|Valois]] nasceu em [[14 de maio]] de [[1553]], no [[Castelo de Saint-Germain-en-Laye]]; foi a sétima criança e a terceira filha de [[Henrique II de França|Henrique II]] e de [[Catarina de Médici]].<ref>Wellman, &nbsp;''Queens and Mistresses of Renaissance France'', p. 277</ref> Seus irmãos a apelidaram de '''Margot'''. Três de seus irmãos se tornariam reis da França: [[Francisco II de França|Francisco II]], [[Carlos IX de França|Carlos IX]] e [[Henrique III de França|Henrique III]]. Sua irmã, [[Isabel de Valois, Rainha de Espanha|Isabel de Valois]], se tornaria a terceira esposa do rei [[Felipe II de Espanha]].
 
Sua infância foi passada no berçário real francês do Castelo de Saint-Germain-en-Laye com suas irmãs Elisabeth e Claude, sob o cuidado de Charlotte de Vienne, baronesa de Courton, "uma senhora sábia e virtuosa muito atada aos religião católica".<ref>Williams, &nbsp;''Queen Margot'', p. 3.</ref> Após os casamentos de suas irmãs, Margaret cresceu no [[Castelo de Amboise]] com seus irmãos [[Henrique III de França|Henrique]] e [[Francisco, Duque de Anjou|Francisco]].
 
Na corte francesa, ela estudou gramática, clássicos, história e Escritura Sagrada.<ref>Williams, p. 11.</ref> Margarida aprendeu a falar italiano, espanhol, latim e grego, além de seu francês nativo.<ref>Pidduck, &nbsp;''La Reine Margot'', p. 19.</ref> Ela também era competente em prosa, poesia, equitação e dança. Ela viajou com sua família e a corte na [[grande turnê da França]] (1564-1566). Durante esse período, Margarida teve experiência direta da perigosa e complexa situação política na França, e aprendeu com sua mãe a arte da mediação política.<ref>Moisan, &nbsp;''L'exil auvergnat de Marguerite de Valois (la reine Margot)'', pp. 14-17.</ref>
[[Ficheiro:Caterina e i figli.jpg|miniaturadaimagem|222x222px|
[[Catarina de Médici]] com seus filhos em 1561: &nbsp;[[Francisco, Duque de Anjou|Francisco]], &nbsp;[[Carlos IX de França|Carlos IX]], Margarida e [[Henrique III de França|Henrique]].
]]
Em 1565, Catarina encontrou-se com o ministro chefe de [[Filipe II de Espanha|Felipe II da Espanha]], o [[Fernando Álvarez de Toledo y Pimentel|Duque de Alba]], em [[Baiona (França)|Baiona]], na esperança de organizar um casamento entre Margarida e [[Carlos de Espanha, Príncipe das Astúrias|Carlos, Príncipe das Astúrias]]. No entanto, Alba recusou qualquer consideração de um casamento dinástico.<ref>Knecht, &nbsp;''The French Wars of Religion, 1559-1598'', p. 39.</ref> Outras negociações de casamento, uma conduzida pelo diplomata [[Jean Nicot]] para casá-la com o [[Sebastião I de Portugal|Rei Sebastião I de Portugal]] e outra para casá-la com o [[Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico|Arquiduque Rodolfo II]], também não obtiveram sucesso.
 
Durante a adolescência, ela e seu irmão Henrique eram amigos muito próximos. Em 1568, deixando a corte para comandar os exércitos reais, confiou a sua irmã de 15 anos a defesa de seus interesses com sua mãe.<ref name=":0">Moisan, p. 18.</ref><blockquote>Suas palavras me inspiraram resoluções e poderes que eu não pensava possuir antes. Eu tinha naturalmente um grau de coragem, e, assim que me recuperei do meu espanto, descobri que eu era uma pessoa bastante alterada. Seu discurso me agradou e me fez ter uma confiança em mim mesma; e eu descobri que eu era mais uma consequência do que eu já havia pensado que jamais seria.<ref>''His words inspired me with resolution and powers I did not think myself possessed of before. I had naturally a degree of courage, and, as soon as I recovered from my astonishment, I found I was quite an altered person. His address pleased me, and wrought in me a confidence in myself; and I found I was become of more consequence than I had ever conceived I had been.''</ref><ref>Moisan, p. 18.</ref></blockquote>Encantada com esta missão, ela a cumpriu conscienciosamente, mas Henrique não mostrou gratidão ao retornar, de acordo com suas ''Memórias''.<ref>Mourgue, p. 10; Williams, pp. 24–25.</ref> Ele descobriu o caso secreto de Margarida com [[Henrique I de Guise|Henrique de Guise]] - filho do falecido [[Francisco, Duque de Guise|Duque de Guise]] - e seu plano presuntivo de casamento (alguns historiadores sugeriram que o duque era o amante de Margarida, mas nada confirma essa teoria).<ref name=":0" /><ref name=":1">Williams, p. 39.</ref> Quando Catarina descobriu isso, ela arrancou sua filha da cama. Catarina e Carlos então a espancaram e enviaram Henrique de Guise para longe da corte.<ref name=":1" />
 
Este episódio talvez seja a raiz de um "ódio fraternal duradouro" entre Margarida e seu irmão Henrique, bem como o distanciamento igualmente duradouro das relações com sua mãe.<ref>Garrisson, &nbsp;''Marguerite de Valois'', p. 39–43.</ref>
 
==Casamento com Henrique III==
[[File:Henry&Margot.jpg|thumb|esquerda|Henrique III de Navarra e Margarida de Valois|333x333px]]
 
Em 1570, Catarina de Médici estava buscando um casamento entre Margarida e [[Henrique IV de França|Henrique de Navarra]], o jovem líder do [[Protestantismo|Partido Protestante]]. Esperava-se que esta união reunisse os laços familiares, já que os Bourbons faziam parte da família real francesa e eram os parentes mais próximos do raça reinante dos Valois, e, supostamente, determinar-se a reconciliação entre católicos e protestantes que estavam se enfrentando na [[Guerras religiosas na França|Terceira Guerra de Religião]].<ref>Frieda, &nbsp;''Catherine de' Medici'', p. 256.</ref>
 
As negociações são iniciadas entre [[Catarina de Médici]] e [[Joana III de Navarra|Joana D'Albret]], mãe de Henrique, rainha de Navarra e defensora ferrenha dos [[Huguenote|huguenotes]]. As negociações foram longas e difíceis. Joana D'Albret exige a conversão de Margarida ao protestantismo, mas esta não cede a sua exigência. No fim, Joana acaba dando consentimento para o casamento em troca de um considerável dote pago por sua nora. Em 11 de abril de 1572, Margarida estava noiva de Henrique de Navarra. Em uma de suas cartas a Henrique, sua mãe, Joana D'Albret, escreveu sobre Margarida: "Ela francamente me ganhou com a impressão favorável que ela formou de você. Com sua beleza e inteligência, ela exerce uma grande influência sobre a Rainha Mãe e o Rei e os Senhores seus irmãos mais novos".<ref>''"she has frankly owned to me the favourable impression which she has formed of you. With her beauty and wit, she exercises a great influence over the Queen-Mother and the King, and Messieurs her younger brothers."''</ref><ref>Quoted in Williams, p. 60.</ref> Com o falecimento da Rainha Joana, [[Henrique IV de França|Henrique]] torna-se o novo Rei de Navarra.
 
O casamento entre uma católica e um protestante foi controverso. O [[Papa Gregório XIII]] se recusou a conceder uma dispensa pontifical para o casamento,<ref>Boucher, &nbsp;''Deux épouses et reines à la fin du XVIe siècle'', p. 25.</ref> dada a diferença de religião do casal nupcial. Mesmo sem a dispensa, o casamento da Margarida, aos 19 anos, com Henrique, ocorreu em 18 de agosto de 1572 na [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Catedral de Notre Dame]], em [[Paris]], pouco tempo depois da morte de Joana.<ref>Pitts, &nbsp;''Henri IV of France: His Reign and Age'', p. 60.</ref> Margarida, obrigada por seu irmão, [[Carlos IX de França]], e por sua mãe, casa-se a contragosto com o soberano que considerava um herege de um reino residual. O Rei de Navarra teve que permanecer fora da catedral durante a missa, onde seu lugar foi ocupado pelo Duque de Anjou.<ref>R.J. Knecht, &nbsp;''Catherine de' Medici'', p. 153.</ref>
 
[[François Eudes de Mézeray]], historiador do século XVII, inventou a lenda de que Margarida foi forçada a casar com o rei de Navarra com um pequeno empurrão na parte de trás da cabeça por seu irmão Carlos IX.<ref>Viennot, &nbsp;''Marguerite de Valois. “La reine Margot”'', p. 357.</ref> Esta é uma das anedotas que criou o mito da "Reine Margot".
 
== A Noite de São Bartolomeu e o início das intrigas ==