Friedrich Hayek: diferenças entre revisões

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== Principais ideias ==
Em [[filosofia política]], Hayek se definia como um "[[Partido Whig (Reino Unido)|Old Whig]]" - inspirado em Burke em seu ''An Appeal from the New to the Old Whigs'' - referindo-se ao partido liberal britânico responsável pela Revolução Gloriosa, do qual o próprio Burke fazia parte, e que se opunha ao [[Partido Tory]] da época, conservador (tal como Lord Acton, Hayek considerava Burke um liberal). Ele buscou uma unidade entre as obras de [[Adam Smith]], [[John Locke]], [[David Hume]], [[Edmund Burke]], [[Alexis de Tocqueville]] e tantos outros. Esse era o liberalismo clássico de raiz britânica. Segundo Hayek, se não fosse a influência no liberalismo das ideias construtivistas francesas de autores como [[Jean-Jacques Rousseau|Rousseau]] - e o significado que o termo passou a ter nos EUA -, ele se sentiria bastante confortável em se denominar um liberal. O liberalismo Whig que ele defendia representava as ideias constitucionalistas britânicas e norte-americanas, responsáveis pela [[Revolução Gloriosa]] e [[Revolução Americana]]. Outra referência histórica de liberal, para Hayek, era [[William Ewart Gladstone|William Gladstone]]. Os "liberais gladstonianos" - como [[John Dalberg-Acton, 1.º Barão Acton|Lord Acton]], Maitland, Maucalay e Bryce -, segundo Hayek, foi a última geração, até a sua época, em que o "objetivo era a liberdade, e não a igualdade ou a democracia". Esse liberalismo, ou whiggismo segundo Acton, tem por base a existência de uma lei maior que é independente de e limita todo o governo. Por isso segundo Acton e o próprio Hayek, [[Cícero]] e os [[Estoicismo|estoicos]] também eram importantes bases para o liberalismo. Essa lei, para Hayek, surgia por meio de um processo evolucionário de articulação de práticas cristalizadas cujos princípios constituem o senso moral da população, ou seja, era "resultado da ação, mas não do desenho humano". Era um direito que tem por base, mas não se restringe, às "três leis fundamentais da natureza" de Hume, a saber: "a da estabilidade da propriedade, a de sua transferência por consentimento e a do cumprimento das promessas." Esse direito é responsável por gerar uma ordem espontânea na sociedade e é precondição para o funcionamento de um mercado livre. O Estado de Direito, cujas leis são gerais e se aplicam igualmente a todos é também a base para a aplicação desse direito e por isso é um dos grandes princípios liberais. Esse "direito natural", segundo Hayek, não se pode confundir com o tipo de direito natural construtivista ou racionalista de [[Hugo Grócio|Grócio]] e seus sucessores. Historicamente, Hayek via a [[common law]] inglesa - que "não foi o produto de um legislador mas emergiu com base numa busca persistente de justiça imparcial" - e o direito romano - que "até a codificação sob Justiniano, a legislação interferiu muito pouco e que era, em consequência, considerada mais uma restrição sobre, do que um exercício, dos poderes do governo" - como maiores exemplos desse tipo de lei. A aplicação desse direito, portanto, elimina a arbitrariedade, seja do individuo com seus semelhantes, seja dos indivíduos em relação ao governo, restringindo qualquer poder absoluto e, por isso, é responsável pela liberdade em sociedade. Proporciona também uma infraestrutura de regras dentro das quais os indivíduos têm maiores expectativas de cumprir seus objetivos e, por isso, aproveita do conhecimento amplamente disperso na sociedade e é responsável, onde aplicado, pela prosperidade das nações.<ref name=":0">{{citar web|url=http://www.angelfire.com/rebellion/oldwhig4ever/historical.html|titulo=Liberalism - F. A. Hayek|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
Hayek procurou, assim, uma unidade entre as ideias de "liberdade econômica" e "liberdade política" (rule of law), que, segundo ele, já era implícita em toda a tradição liberal britânica. A aplicação desse direito, porém, não implica que essa seja a única função do Estado, embora seja, ao lado da cobrança de impostos, a única função coercitiva. O Estado poderia fornecer serviços "extra-mercado" (que não violasse as regras do jogo do mercado), desde que respeitasse o conteúdo desse direito, não arrogasse um monopólio, não tenha o objetivo de redistribuir renda com base em justiça social, e de preferência a nível local. Como exemplo pode-se citar o fornecimento de estradas, canais, educação básica, combate a epidemias, etc, função essa que já era defendida também por Hume e Smith.<ref>{{citar web|url=http://ordemlivre.org/posts/por-que-nao-sou-conservador|titulo=Por que não sou um conservador - Hayek|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1725|titulo=Dois tipos de individualismo|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref name=":0" />
 
Quando na Universidade de Viena, Hayek se dedica à observação de células neurais, e desenvolve um pequeno rascunho desse trabalho. Mais tarde, depois de revisões e ampliações, o livro '''''The Sensory Order: An Inquiry into The Foundations of Theoretical Psychology''''' (1952), viria a ser publicado. Nele, Hayek argumenta sobre a tese que viria a se chamar "conexionismo", em que a mente é vista como um sistema adaptativo. Segundo Pinker, essa tese antecipou vários trabalhos posteriores em teoria da mente e psicologia.<ref>{{Citar web|url=http://archive.boston.com/news/globe/ideas/articles/2004/01/11/friedrich_the_great/|titulo=Friedrich the Great|data=11 de janeiro de 2014|acessodata=20 de julho de 2016|obra=|publicado=|ultimo=Postrel|primeiro=Virginia|citacao="Hayek posited spontaneous order in the brain arising out of distributed networks of simple units (neurons) exchanging local signals," says Harvard psychologist Steven Pinker. "Hayek was way ahead of his time in pushing this idea. It became popular in cognitive science, beginning in the mid-1980s, under the names `connectionism' and `parallel distributed processing.'}}</ref>
 
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Em '''''The Fatal Conceit''' (1988),'' publicado quando Hayek já estava com saúde debilitada, há a exposição de algumas ideias sobre evolução social ou cultural. As regras morais e a cultura seriam resultado de um processo evolucionário que se dá, principalmente, por aprendizado de práticas sociais por imitação, e posteriormente seleção do grupo com práticas sociais mais capazes de levá-lo à prosperidade e aumento do número de indivíduos.<ref>{{Citar web|url=http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=122|titulo=Economia do Indivíduo: O Legado da Escola Austríaca|data=|acessodata=20 de julho de 2016|obra=mises.org.br|publicado=|ultimo=Constantino|primeiro=Rodrigo|citacao=A capacidade de aprendermos uns com os outros por imitação foi fundamental. A competição foi crucial para o processo de novas descobertas. A evolução se deu através de um processo de tentativa e erro, por experimentações constantes nas diferentes áreas. Logo, por esta visão de evolução cultural defendida por Hayek, foram as regras bem sucedidas que nos selecionaram, e não o contrário.}}</ref><ref>{{citar livro|url=http://www.libertarianismo.org/livros/fahtfc.pdf|titulo=The Fatal Conceit|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=21 e 25|citacao=We have mentioned the capacity to learn by imitation as one of the prime benefits conferred during our long instinctual development. Indeed, perhaps the most important capacity with which the human individual is genetically endowed, beyond innate responses, is his ability to acquire skills by largely imitative learning. [...] Finally, cultural evolution operates largely through group selection [...]|acessodata=20 de julho de 2016}}</ref> A linguagem, a cultura, a moral, o direito, o comércio, a propriedade privada, etc, todos seriam exemplos de instituições que resultaram da evolução de práticas sociais, que não acontece por decisão das pessoas diretamente a construírem tais instituições, sendo elas resultados não planejados ou não desenhados, porém que usam de um conhecimento que nenhum indivíduo sozinho é capaz de centralizar.<ref>{{citar livro|url=http://www.libertarianismo.org/livros/fahtfc.pdf|titulo=The Fatal Conceit|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|paginas=25|citacao=To label `biological' the formation of the tradition of language, morals, law, money, even of the mind, abuses language and misunderstands theory. Our genetic inheritance may determine what we are capable of learning but certainly not what tradition is there to learn. What is there to learn is not even the product of the human brain. What is not transmitted by genes is not a biological phenomenon.[...] Despite such differences, all evolution, cultural as well as biological, is a process of continuous adaptation to unforeseeable events, to contingent circumstances which could not have been forecast. This is another reason why evolutionary theory can never put us in the position of rationally predicting and controlling future evolution.|acessodata=20 de julho de 2016}}</ref> A "arrogância fatal" seria tentar desenhar essas instituições sem se dar conta da limitação do nosso conhecimento.<ref>{{Citar web|url=http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=122|titulo=Economia do Indivíduo: O Legado da Escola Austríaca|data=|acessodata=20 de julho de 2016|obra=mises.org.br|publicado=|ultimo=Constantino|primeiro=Rodrigo|citacao=Em The Fatal Conceit, ele mostra que a arrogante ideia de que os homens podem moldar o mundo de acordo com suas vontades levou a experimentos sociais catastróficos. Hayek sustenta que nossa civilização depende de uma extensa ordem de cooperação humana voluntária para preservar-se e avançar.}}</ref>
 
Em [[filosofia política]], Hayek se definia como um "[[Partido Whig (Reino Unido)|Old Whig]]" - inspirado em Burke em seu ''An Appeal from the New to the Old Whigs'' - referindo-se ao partido liberal britânico responsável pela Revolução Gloriosa, do qual o próprio Burke fazia parte, e que se opunha ao [[Partido Tory]] da época, conservador (tal como Lord Acton, Hayek considerava Burke um liberal). Ele buscou uma unidade entre as obras de [[Adam Smith]], [[John Locke]], [[David Hume]], [[Edmund Burke]], [[Alexis de Tocqueville]] e tantos outros. Esse era o liberalismo clássico de raiz britânica. Segundo Hayek, se não fosse a influência no liberalismo das ideias construtivistas francesas de autores como [[Jean-Jacques Rousseau|Rousseau]] - e o significado que o termo passou a ter nos EUA -, ele se sentiria bastante confortável em se denominar um liberal. O liberalismo Whig que ele defendia representava as ideias constitucionalistas britânicas e norte-americanas, responsáveis pela [[Revolução Gloriosa]] e [[Revolução Americana]]. Outra referência histórica de liberal, para Hayek, era [[William Ewart Gladstone|William Gladstone]]. Os "liberais gladstonianos" - como [[John Dalberg-Acton, 1.º Barão Acton|Lord Acton]], Maitland, Maucalay e Bryce -, segundo Hayek, foi a última geração, até a sua época, em que o "objetivo era a liberdade, e não a igualdade ou a democracia". Esse liberalismo, ou whiggismo segundo Acton, tem por base a existência de uma lei maior que é independente de e limita todo o governo. Por isso segundo Acton e o próprio Hayek, [[Cícero]] e os [[Estoicismo|estoicos]] também eram importantes bases para o liberalismo. Essa lei, para Hayek, surgia por meio de um processo evolucionário de articulação de práticas cristalizadas cujos princípios constituem o senso moral da população, ou seja, era "resultado da ação, mas não do desenho humano". Era um direito que tem por base, mas não se restringe, às "três leis fundamentais da natureza" de Hume, a saber: "a da estabilidade da propriedade, a de sua transferência por consentimento e a do cumprimento das promessas." Esse direito é responsável por gerar uma ordem espontânea na sociedade e é precondição para o funcionamento de um mercado livre. O Estado de Direito, cujas leis são gerais e se aplicam igualmente a todos é também a base para a aplicação desse direito e por isso é um dos grandes princípios liberais. Esse "direito natural", segundo Hayek, não se pode confundir com o tipo de direito natural construtivista ou racionalista de [[Hugo Grócio|Grócio]] e seus sucessores. Historicamente, Hayek via a [[common law]] inglesa - que "não foi o produto de um legislador mas emergiu com base numa busca persistente de justiça imparcial" - e o direito romano - que "até a codificação sob Justiniano, a legislação interferiu muito pouco e que era, em consequência, considerada mais uma restrição sobre, do que um exercício, dos poderes do governo" - como maiores exemplos desse tipo de lei. A aplicação desse direito, portanto, elimina a arbitrariedade, seja do individuo com seus semelhantes, seja dos indivíduos em relação ao governo, restringindo qualquer poder absoluto e, por isso, é responsável pela liberdade em sociedade. Proporciona também uma infraestrutura de regras dentro das quais os indivíduos têm maiores expectativas de cumprir seus objetivos e, por isso, aproveita do conhecimento amplamente disperso na sociedade e é responsável, onde aplicado, pela prosperidade das nações.<ref name=":0">{{citar web|url=http://www.angelfire.com/rebellion/oldwhig4ever/historical.html|titulo=Liberalism - F. A. Hayek|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
Hayek procurou, assim, uma unidade entre as ideias de "liberdade econômica" e "liberdade política" (rule of law), que, segundo ele, já era implícita em toda a tradição liberal britânica. A aplicação desse direito, porém, não implica que essa seja a única função do Estado, embora seja, ao lado da cobrança de impostos, a única função coercitiva. O Estado poderia fornecer serviços "extra-mercado" (que não violasse as regras do jogo do mercado), desde que respeitasse o conteúdo desse direito, não arrogasse um monopólio, não tenha o objetivo de redistribuir renda com base em justiça social, e de preferência a nível local. Como exemplo pode-se citar o fornecimento de estradas, canais, educação básica, combate a epidemias, etc, função essa que já era defendida também por Hume e Smith.<ref>{{citar web|url=http://ordemlivre.org/posts/por-que-nao-sou-conservador|titulo=Por que não sou um conservador - Hayek|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1725|titulo=Dois tipos de individualismo|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref name=":0" />
 
== Influência pelo mundo ==